Os campeonatos estaduais mais antigos do Brasil são os de São Paulo (1902), Bahia (1905) e Rio de Janeiro (1906), pela ordem. Depois vem o do Pará, que é disputado desde 1908. Os de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, duas das maiores forças do futebol brasileiro, vieram bem depois: o Mineiro em 1915 e o Gaúcho em 1919.
Uma curiosidade que é única do campeonato paraense, que está completando 100 anos: em 94 edições (1910, 1911, 1912, 1935 e 1946, não foi disputado), apenas quatro clubes foram campeões: o Payssandu, 42 vezes; Clube do Remo, 41; Tuna Luzo Brasileira, 10 e o extinto União Esportivo, duas vezes. Foi o primeiro campeão do Pará, em 1908.
Em julho a Federação paraense de Futebol (FPF) vai promover a “Copa dos Campeões do Centenário”, com os quatro campeões estaduais. O União Esportivo, já extinto, vai ressurgir, bancado pela FPF, apenas para a competição. Outra proposta interessante da FPF é a criação do Museu do Futebol Paraense, prevista para a segunda metade do ano, que vai resgatar parte da história secular do futebol do Pará.
A FPF precisava mesmo fazer alguma coisa, já que o futebol paraense vive momento muito ruim, sem nenhum representante nas Séries A e B, do Campeonato Brasileiro. O tradicional Paysandú está fora até da Série C, que tem o Clube do Remo, rebaixado da Série B de 2007, como único representante do Pará em uma competição nacional este ano.
O Paysandú é hoje o retrato vivo da decadência do futebol paraense. O clube, que foi o primeiro do Norte do país a disputar uma Libertadores da América, agora está longe dos holofotes, vivendo uma crise técnica sem precedentes e que parece não ter fim.
O Paysandu foi fundado em 2 de fevereiro de 1914, como resultado de um desentendimento entre o extinto Nort Club e a Liga Paraense de Foot-Ball. A briga aconteceu pela não anulação do jogo Nort Club 1 x 1 Guarany, realizado em 15 de novembro de 1913. O resultado deu o título ao Grupo do Remo (atual Clube do remo). O nome foi inspirado no episódio histórico "A Tomada de Paysandu", no Uruguai.
Primeiro, foi Paysandú Foot-Ball, e 17 dias depois mudou para Paysandú S.C. Hoje, além da denominação oficial é também conhecido como “Papão da Curuzu”, junção do seu mascote (bicho-papão) com o (Curuzu).O primeiro presidente foi Deodoro de Mendonça. O primeiro jogo contra o Clube do Remo, foi realizado em 10 de junho de 1914, válido pelo campeonato paraense e com vitória remista por 1 X 0.
Nessa trajetória de 94 anos, o Paysandú conquistou expressivos títulos: campeão paraense por 42 vezes; campeão brasileiro da Segunda Divisão em 2001; campeão da Copa dos Campeões em 2002, que deu o direito de disputar a Libertadores de 2003. O time ganhou projeção ao derrotar o Cerro Porteño do Paraguay, por 6 X 2 em Assunção e ao Boca Juniors, por 1 X 0, gol de Iarley, em plena La Bombonera”.
Em 2005 começou o inferno. Foi rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro. Em 2006, rebaixado à Série C. Em 2007, eliminado na primeira fase da competição. E este ano de 2008, o pior: está fora até da Série C.
A exemplo de outros clubes do futebol brasileiro, o Clube do Remo foi fundado em 28 de setembro de 1906, para a prática do remo, o esporte mais popular no Pará, ao início do século XX. Surgiu de uma cisão no Sport Club do Pará, com o nome de Grupo do Remo, passando a se chamar Clube do Remo só em 1911. Aderiu ao futebol em 1913. O primeiro jogo foi em 21 de abril do mesmo ano na praça Floriano Peixoto, contra o Guarani F.C., mas não há registro de quem venceu. O primeiro jogo oficial foi em 14 de julho, ainda em 1913, quando ganhou de 4 X 1 do União Esportiva.
O Clube do Remo é o único time paraense que jogou na Europa. Em maio de 1994 disputou um torneio internacional na França, com a seleção de Bucareste (Romênia) e o clube francês do Toulon empatou os dois jogos que fez. Com os romenos, 1 X 1 no tempo normal e vitória de 5 X 4 nos pênaltis. Frente os franceses, também 1 X 1 nos 90 minutos e derrota de 6 X 5 nos pênaltis.
Pelé, o maior jogador de todos os tempos, vestiu a camisa do Clube do Remo. Foi em 29 de abril de 1965, num amistoso entre Remo e Santos, no estádio Evandro Almeida, o “Baenão”. Pelé entrou em campo com o uniforme do Remo, em retribuição a um buquê de rosas que recebeu do clube paraense.
Ainda em 1965 o Clube do Remo jogou um jogo amistoso com o Benfica de Portugal, com Euzébio e tudo, na época um dos times mais fortes do mundo, e base da Seleção Portuguesa, terceiro lugar na Copa da Inglaterra, em 1966. O jogo foi no “Baenão”, lotado e terminou empatado em 1 X 1, com gols de Torres para o Benfica e Amoroso para o Remo.
Outros clubes do futebol paraense: Tuna Luso Brasileira (01-01-1903); Castanhal E.C. (07-09-1924); Pedreira E.C. (07-09-1925); Abaeté F.C. (05-08-1933); São Raimundo E.C. (09-01-1944); Vênus Atlético Clube (20-051949); S.C. Belém (01-12-1965); A.A. Tiradentes ( 21-04-1973); Bragantino Clube do Pará (06-03-1975); Clube Municipal Ananindeua (03-01-1978); Águia de Marabá F.C. (22-01-1982) e Clube Atlético Vila Rica (27-06-1987), todos integrantes da 1ª Divisão deste ano.
Independente Atlético Clube (28-11-1972); A.C. Izabelense (26-04-1924); Pinheirense Esporte Clube (08-12-19230; Redenção E.C.; Santa Rosa E.C. (06-10-1925);.Sport Belém (01-12-1965); C.A. Vila Rica (27-06-1987); São Francisco F.C. (20-10-1929, todos da 2ª Divisão de 2008.
E ainda Júlio César (extinto); Sport Club (extinto); Transviário (extinto); Sport Club do Pará (05-02-1905, extinto); Nort Club (extinto); União Sportiva (extinto); Time Negra Carajás Clube, ex-Carajás E.C. (27-06-1997, em atividade); Combatentes; E.C. Internacional (10-03-1956, em atividade); Aningal (em atividade); Elo Marítimo Recreativo Clube, E.C. Comercial e Marituba.
Se o futebol paraense vai mal na técnica, aparece bem no folclore. Nos anos 50, jogou no Paysandu um atacante com o sugestivo apelido de “Pau Preto”, goleador nato. Foi personagem de um episódio sui-generis, causado pela desatenção de um famoso locutor ao descrever um lance: “Partiu da intermediária, driblou meio time adversário, também o goleiro, chutou e é gooooooool de “Pau Preto”, que entrou com bola e tudo”.
Na década de 70 jogava no Clube do Remo um centroavante alto, forte e rápido chamado Alcino e apelidado de “Negão Motora”. Contam que num clássico frente o Paysandú sentou sobre a bola e fez um gol de bunda. A torcida do Paysandú passou a odiá-lo. E como represália, a cada gol feito no clássico “Negão Motora” baixava o calção e mostrava as partes baixas para desespero da galera adversária.
Mais recente foi Edil, que introduziu as comemorações irreverentes de gols, criando vários personagens. Em 1992, jogando no Paysandu, era o "Carrasco", levando sempre um capuz preso ao calção. Na hora do gol cobria o rosto e, com a ajuda de um companheiro, simulava a degola de um condenado com uma machadada imaginária.
Em 1996, quando jogou no Remo, criou o "Braddock", inspirado na série de filmes de Chuck Norris. A cada gol, dois ou três jogadores se alinhavam num paredão invisível e eram "metralhados" por Edil. Quando jogou no Castanhal, em 2000 inventou "Highlander, o goleador imortal". Ele deixava uma espada de plástico no banco de reservas, que depois de cada gol servia para hilariantes performances no gramado. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)