A Secretaria de Vigilância Sanitária do Rio Grande do Sul foi acionada pela direção do S.C. Internacional, de Porto Alegre para verificar a existência de um surto de Hepatite A, no Estádio Beira-Rio, na capital gaúcha. As suspeitas de que algo estranho estava ocorrendo começaram quinta-feira da semana passada, quando o jogador Maycon queixou-se de dores abdominais, febre, náuseas e falta de apetite, sintomas da Hepatite A. O clube mantinha as investigações sob sigilo, até que se confirmassem ou não as suspeitas. No entanto, a informação vazou através da Secretaria da Saúde na manhã de ontem segunda-feira.
Todos os jogadores do grupo fizeram exames de sangue, o que confirmou a presença do vírus no volante Maycon, que está internado no Hospital Mãe de Deus, e no fotógrafo do clube, Alexandre Lopes, que já recebeu alta. O goleiro titular Renan, é outro que deve ter confirmado o diagnóstico inicial de Hepatite A e está fora do jogo de sábado contra a Ulbra, pelo Campeonato Gaúcho. O jogador também corre o risco de não ser convocado para a Seleção Olímpica do Brasil, que vai a Pequim.
Já o terceiro goleiro, Muriel, o volante Edinho e o lateral-esquerdo Ramon estão sob suspeita e serão submetidos a exames de sangue a cada 48 horas nas próximas duas semanas para verificação do quadro. Se confirmada contaminação, esses jogadores não devem fazer nenhum esforço físico durante três semanas, o que deve deixá-los fora dos jogos restantes do “Gauchão”. Não está descartada a hipótese de que eles tenham de fazer uma nova pré-temporada com vistas ao campeonato Brasileiro.
Como a transmissão ocorre pela ingestão de água ou comida contaminadas por resíduos fecais, a Vigilância Sanitária e o Internacional começaram a revisar todo o sistema de abastecimento de água e de fornecimento de refeições do Beira-Rio. Mas o surto pode não ter origem no estádio. É possível que um ou mais jogadores ou funcionários tenham contraído o vírus em viagens ou em suas casas.
Além de investigar as origens da hepatite, o Internacional começou a vacinar os atletas que não foram infectados e nem possuem os anticorpos de defesa. Jonas, Gil, Adriano e familiares de Maycon e Renan foram ontem ao estádio receber a imunização. O médico Paulo Rabello disse que os jogadores que não estão em observação já se submeteram a exames e não correm perigo de contrair a doença. Também reiterou que o afastamento de Magrão e Iarley do jogo contra a Chapecoense, dia 19 de março, foi conseqüência de uma virose e não de hepatite.
A hepatite é uma inflamação do fígado. As dos tipos A, B, C, D e E são virais. A hepatite A é uma doença infecciosa aguda, transmitida por infecção oral ou fecal, e tem como sintomas febre, fadiga, mal-estar, perda do apetite, náuseas e vômitos. Pode ocorrer diarréia. É considerada uma hepatite branda, com baixa mortalidade.
As manifestações podem ocorrer cerca de 30 dias depois do contato com o vírus. É conhecida como a hepatite do viajante. Não existe tratamento específico, são usados apenas medicamentos para combater os sintomas. A recuperação leva no máximo dois meses e o vírus é eliminado do organismo.
Existem duas vacinas contra a hepatite A. Uma deve ser aplicada em duas doses com intervalo de seis meses e a outra, em três doses administradas nesses seis meses. A vacina contra a hepatite A não faz parte do programa oficial de vacinação oferecido pelo Ministério da Saúde, mas deve ser administrada a partir do primeiro ano de vida, porque sua eficácia é menor abaixo dessa faixa etária. Pessoas que pertençam ao grupo de risco ou que residam na mesma casa que o paciente infectado também devem ser vacinadas.
Muitos casos de viroses, algumas de causa conhecida, outras não, já foram registradas em equipes de futebol. Em fevereiro do ano passado sete jogadores do Nacional de Rolândia (PR), e integrantes da comissão técnica foram internados em hospitais devido a uma intoxicação alimentar. Em conseqüência não compareceram para um jogo com o Iguaçu, em União da Vitória pelo campeonato estadual.
Em maio do ano passado o Paulista de Jundiaí enfrentou um surto de gripe que atingiu o elenco, deixando sete jogadores doentes. O caso mais grave foi do volante Jairo, que nem viajou com a delegação. Os jogadores Rodrigo Fabri, Gilsinho, Dema, Tiago Vieira e Pedro Henrique também sofreram com tosses e espirros durante a semana.
Nos dias que antecederam a Copa do Mundo de 2006 a Seleção da Croácia, primeira adversária do Brasil na Copa do Mundo, passou por um sério problema que ninguém soube explicar. Um vírus desconhecido deixou diversos jogadores doentes. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
OBSERVAÇÃO -Após a publicação deste artigo novas informações divulgadas nesta terça-feira (01/04) dão conta de que mais quatro jogadores tiveram confirmados sinais da doença. Afastados preventivamente das atividades físicas desde o início da semana pelo departamento médico do Colorado, Renan, Muriel, Edinho e Ramon não poderão mais defender o Internacional no Campeonato Gaúcho de 2008.
O resultado dos exames médicos realizados no quarteto deu positivo para hepatite A e os atletas se juntarão ao volante Maycon, primeiro a apresentar sinais da doença, e ao fotógrafo do clube, Alexandre Lopes. Os cinco jogadores ficarão afastados de qualquer atividade física por um período mínimo de três semanas.
Detectado o problema, o técnico Abel Braga terá de se virar para dar prosseguimento ao trabalho, principalmente em relação à posição de goleiro. Sem Renan e Muriel, o treinador conta apenas com o experiente Clemer e com o júnior Agenor para a função, já que Alison (irmão de Muriel) tem apenas 16 anos e não possui contrato assinado com o clube gaúcho.
Segundo o médico Luciano Ramirez, o Internacional seguirá realizando exames médicos nos demais atletas do elenco para ter a certeza de que o surto de hepatite A não fará novos pacientes para o departamento médico.
Dos atletas contaminados, apenas o volante Edinho e o goleiro Renan eram titulares do time de Abel Braga. Renan, inclusive, também é o dono da posição na seleção brasileira sub-23, que disputará os Jogos Olímpicos de Pequim em agosto (Zero Hora-RS).