A maior goleada já registrada em gramados brasileiros e sul-americanos aconteceu em 30 de maio de 1909, no antigo campo da rua Voluntários da Pátria, no Rio de Janeiro. Em jogo válido pelo Campeonato Carioca o Botafogo não teve pena dos jogadores-operários do Sport Club Mangueira e aplicou 24 X 0, escore que até hoje, passados 99 anos, não foi nem mesmo igualado. O jogador alvinegro Gilbert Himes cansou de fazer gols: foram nove.
No dia seguinte o jornal carioca “Gazeta de Notícias”, descreveu o jogo em apenas duas linhas: "O Botafogo dominou completamente o adversário, que deveria ter entregado antecipadamente os pontos, para evitar uma tão estrondosa derrota".
Azar do time do Mangueira, que além de muito ruim teve de enfrentar o Botafogo com apenas 10 jogadores em campo, pois um atacante se machucou logo ao inicio do jogo e naquela época não eram permitidas substituições. O “saco de pancadas” do futebol carioca, ainda naquele ano apanhou de 8 X 0 para o Fluminense e de 6 X O para o América, que por incrível que pareça, era time grande. A campanha mangueirense fala sozinha e diz tudo: 45 gols contra e três a favor. E é claro, a “lanterna” como troféu. E por certo provoca ciúmes históricos ao Íbis pernambucano.
O time nada teve a ver com a popular Escola de Samba da Mangueira. “Graças a Deus”, devem exclamar os sambistas da verde e rosa. O Sport Club Mangueira, fundado em 1906 reunia operários da extinta Fábrica de Chapéus Mangueira, demolida no final dos anos 60 para a construção do metrô Maracanã. A história do clube não poderia ser diferente: em 21 anos de existência, ganhou apenas um título, o de “campeão de derrotas”.
No dia 3 de maio de 1912, no antigo campo do América, na rua Campos Salles, o Mangueira escreveu seu nome na história do Flamengo, ao ser seu primeiro adversário em competições oficiais. O Flamengo recém fundara um departamento de futebol e seu time contava com nove ex-jogadores do Fluminense, entre esses o atacante Borgeth, um dos grandes craques da época. O Flamengo não tomou conhecimento do seu opositor e aplicou impiedosos 16 X 2.
Depois de sofrer goleadas do Botafogo, Flamengo, Fluminense e América só faltava o Vasco da Gama. Em 1922, o Sport Club Mangueira estava na segunda divisão e foi o último adversário vascaíno, que se sagrou campeão e ganhou o direito de disputar o principal campeonato do Rio de Janeiro. As referências sobre o jogo não existem. Nem mesmo o resultado. Os jornais da época divulgavam mais o turfe e esqueciam do futebol. E no caso do Vasco era bem pior, pois seu time era formado na maioria por negros, que eram mal vistos pela imprensa racista da época.
O Mangueira também teve seus 90 minutos de glória. Foi em 1917, na primeira fase do campeonato carioca. Em pleno Estádio das Laranjeiras conseguiu um empate de 0 X 0 com o Fluminense, que era considerado uma verdadeira máquina de jogar futebol, tendo em seu elenco craques da envergadura de Chico Neto, Welfare e do goleiro Marcos Mendonça, o 'fita roxa', que anos depois seria presidente do clube. Demorou dois anos para o Fluminense se vingar e enfiar 8 X 0 no Mangueira.
A despedida do Sport Club Mangueira aconteceu em 1924, quando disputou seu último campeonato. As camisas com listras verticais em vermelho e preto foram recolhidas e guardadas para sempre. Nos anos 40 alguém do Morro da Mangueira tentou trazer o time de volta, embora não fosse cria de lá, mas era tarde demais. A Escola de Samba já dominava as atenções dos moradores do morro.
No próximo artigo escreverei sobre outras goleadas registradas no futebol brasileiro e mundial. Que time nenhum entre em desespero, pois sempre vai existir um outro pior. Consolo para os “Mangueiras” e “Íbis” da vida: um time chamado “Bon Accord”, levou 36 X 0 do “Arbroath”, num jogo pela Copa da Escócia. Essa é até hoje a maior goleada do futebol mundial. Reconhecida, mas já houve maior. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)