Quem acompanha futebol com certeza já viu gol de todo o jeito. De cabeça, com o pé, de barriga, de costas, de bunda e até com a mão. O gol com a mão mais famoso do mundo foi de Maradona, nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, no México, no jogo Argentina X Inglaterra. Apelidado pelo próprio jogador como “La Mano de Dios”, o gol serviu de inspiração para um filme rodado o ano passado, além de músicas dos compositores Walter Olmos e Carlos Waiss.
O gol de barriga de Renato Gaúcho foi um dos lances mais pitorescos da história do futebol brasileiro. Aconteceu num clássico Fla-Flu pelo Campeonato Carioca, dia 25 de junho de 1995. O empate de 2 X 2 dava o título ao Flamengo. Ao Fluminense só a vitória interessava. O relógio marcava 42 minutos do segundo tempo. A torcida rubro-negra já cantava e festejava quando o incrível aconteceu: Ailton recebeu a bola na linha de fundo, pela direita, cortou para um lado, driblou Charles Guerreiro e chutou para o gol de Roger. A bola resvalou na barriga do atacante Renato Gaúcho e entrou. Vitória do Fluminense, taça nas laranjeiras, fim de um jejum de 11 anos e silencio profundo da torcida do Flamengo.
No dia 29 de abril do ano passado, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro o goleiro Fábio, do Cruzeiro, no clássico que o Atlético venceu por 4 X 0, levou um gol de costas. O “Galo” acabara de marcar de pênalti o terceiro gol, aos 45 minutos do segundo tempo. O Cruzeiro deu a saída e perdeu a bola. O centroavante Vanderlei dominou, livrou-se de um defensor, aproximou-se da área e chutou enquanto o goleiro Fábio estava de costas para o gramado. Disse depois que fora buscar a bola do lance anterior, que ainda estava dentro da meta.
No Campeonato Brasileiro do ano passado, em jogo no Mineirão, dia 4 de julho, o Flamengo levou um gol do Atlético, aos 43 minutos do segundo tempo. Aos 47, o jogador Leonardo empatou o jogo com um gol de ombro. Mas isso, não é nada. Pior foi o gol de nuca que o atacante Abimael, do Figueirense fez contra o Caxias, em 2001, aos 39 minutos do segundo tempo no jogo do Brasileiro da Série B, que colocou o time catarinense na Série A.
Num dos jogos da decisão do Campeonato Paulista de 1977, o jogador Palhinha, do Palmeiras fez um gol de nariz contra o Corinthians e precisou de atendimento médico. Após chutar no gol adversário, a bola foi rebatida pelo goleiro, voltou e bateu direto no seu nariz e entrou no gol.
Em 12 de dezembro de 1993 o São Paulo ganhou seu segundo título mundial de clubes, em Tókio. Derrotou o poderoso Milan, da Itália, por 3 X 2 . O gol da vitória aconteceu aos 36 minutos do segundo tempo, marcado pelo atacante Muller. O tricolor paulista encaixou um contra-ataque, tocando a bola calmamente: Doriva, Dinho, Leonardo e Cerezo, e lançamento para Muller que de dentro da área adversária fez o famoso e histórico gol de “bunda”.
Alguém já ouviu falar de um gol feito com o “pinto”? Mas já aconteceu. Foi no dia 11 de novembro do ano passado na vitória do Stuttgart por 3 X 1 sobre o Bayern de Munique, pelo Campeonato Alemão. O jornal “Bild” publicou na edição de 14-11 o gol de “pinto” do atacante Mário Gomes, o primeiro do jogo. O periódico alemão assegura que foi com o pênis do jogador. O goleiro Oliver Kahn, do Bayern saiu da meta para tentar defender uma bola cruzada, que sobrou para Gómez, que pulou para cabecear, quando foi surpreendido pela trajetória da bola, que pegou efeito e bateu em seu pênis, enganando o goleiro. “Primeiro gol de pênis no campeonato alemão”, foi a manchete de capa do jornal. E no subtítulo esta pérola: “O gol foi geni(t)al”.
Sem a menor dúvida esses lances ganharam lugar de destaque na história do futebol pela maneira como foram marcados. Muitos outros gols foram feitos de maneira curiosa. Citei alguns, apenas como ilustração. Mas nada, nada mesmo se compara ao gol mais esquisito do mundo em todos os tempos, marcado por um jogador de nome Leônidas, que defendeu o América, do Rio de Janeiro, nos anos 50.
Nada a ver com o famoso Leônidas da Silva, o eterno “Diamante Negro”. O jornalista carioca, Sandro Moreira foi quem apelidou o Leônidas americano, de “Leônidas da Selva”, para não confundir com o outro. Em uma excursão do América pela Turquia, o "da Selva" tentou alcançar um cruzamento. Tropeçou e para não estatelar-se no chão plantou uma "bananeira.” Ao fazê-lo acertou com o calcanhar na bola que entrou no gol turco, sob o olhar estupefato da torcida.
“Leônidas da Selva” foi um bom jogador, um verdadeiro tanque, rompedor e goleador. Dono de um físico avantajado, Leônidas quando ainda morava no Sul do país, exibia-se em circo com um número sensacional: deitava no chão e mandava passar um caminhão por cima de seu peito. Foi ídolo da torcida americana e chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira. Fez parte daquele que é considerado o melhor ataque da história do América: Canário, Alarcon, Leônidas, Romeiro e Ferreira.
Seu nome verdadeiro é Manoel Pereira. Nasceu no dia 3 de janeiro de 1927, em Biguaçu (SC) e faleceu no dia 23 de abril de 1985, em Matinhos (PR). Foi para o América em 1956. Conquistou dois títulos importantes, as Copas Oswaldo Cruz e Atlântico, em 1956, pela Seleção Brasileira, por quem fez 1 gol.
Leônidas vestiu por seis vezes a camisa canarinho: em 12 e 17 de junho de 1956, contra o Paraguai; em 24 de junho, enfrentou o Uruguai; em 1 de julho de 1956, encarou a Itália; 8 de julho de 1956, jogou contra a Argentina e em 5 de agosto de 1956, enfrentou a Tchecoslováquia. Pelo América não conseguiu mais do que um vice-campeonato carioca, em 1955 e ser capa da revista “Esporte Ilustrado” (foto que ilustra este artigo).
Contam que no jogo de estréia na Seleção, Leônidas tinha como companheiro de ataque o genial Zizinho, um dos maiores craques do futebol brasileiro em todos os tempos. Era um jogo contra o Paraguai. Leônidas estava muito nervoso porque não conseguia aproveitar os passes milimétricos de Zizinho, que o lançava em profundidade. Foram cinco passes magistrais, verdadeiras obras de arte, que Leônidas não aproveitou. A torcida não perdoou e as vaias ecoavam por todo o estádio.
No intervalo do jogo, na conversa de vestiário, Leônidas chamou Zizinho a um canto e, quase chorando, pediu: “Seu Zizinho, por favor, não me dê mais aqueles passes inteligentes. Não adianta, não sei o que fazer. Para mim, não adianta. É melhor o senhor mandar a bola em cima dos “beques”, eu prefiro assim, vou lá e divido com eles.” Dito e feito: na primeira bola que Zizinho tocou na direção do zagueiro paraguaio, “Leônidas da Selva” foi pra cima, chutou, bateu canela com canela e fez o gol. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)