Com Romário aposentado, é bem possível que o goleiro Clemer, do Internacional (RS) seja hoje o segundo jogador de futebol mais velho em atividade no Brasil. O primeiro, até a Fifa reconhece, é Pedro Ribeiro Lima, o dono da Associação Desportiva Perilima, da Paraíba, que tem 59 anos. É difícil afirmar que não tenha nenhum outro jogador com mais idade que Clemer atuando por algum pequeno clube, por este gigantesco Brasil afora.
Mais velho, ou não, de nada importa. A verdade é que Clemer Melo da Silva, 1,90 metro, 90 quilos, nascido em São Luis do Maranhão, em 30 de outubro de 1968 é hoje um dos melhores e mais respeitados goleiros brasileiros. Começou a sua carreira profissional no ano de 1986, no Maranhão Atlético Clube de São Luis. Dali se transferiu para o também maranhense Moto Clube. Suas boas atuações chamaram a atenção de clubes de fora do Estado, sendo contratado pelo então competitivo time do Ferroviário cearense.
Já mais conhecido, Clemer peregrinou pelo Santo André (SP), Catuense (BA), Guaratinguetá (SP), Clube do Remo (PA), Goiás (GO), Bahia (BA), até chegar a Portuguesa de Desportos (SP), onde realmente ganhou projeção nacional. Não demorou muito para que o Flamengo (RJ) o contratasse. E finalmente o Internacional, onde se encontra desde 2002. Em 1996, quando ainda jogava na Portuguesa de Desportos, e em 1999, quando defendia o Flamengo, Clemer foi convocado para a Seleção Brasileira.
Acho bastante difícil que algum outro jogador no futebol brasileiro tenha conseguido tantos títulos como Clemer, que chegou a dizer que não sabe mais o que fazer com tantas faixas: tricampeão paraense, pelo Clube do Remo, campeão goiano, pelo Goiás, tricampeão carioca, campeão da Mercosul, campeão da Copa dos Campeões Brasileiros e Campeão da Copa Guanabara, pelo Flamengo, cinco vezes campeão gaúcho, campeão da Copa Libertadores da América, Campeão Mundial de Clubes, campeão da Recopa Sulamericana e campeão da Copa Dubai, pelo Internacional.
Apenas como curiosidade cito o goleiro português Vitor Bahia como o maior colecionador de títulos do mundo. Que fantástica carreira: 10 Ligas Portuguesas (89/90, 91/92, 92/93, 93/94, 95/96, 98/99, 02/03, 03/04, 05/06, 06/07); 5 Taças de Portugal (90/91, 93/94, 99/00, 02/03, 05/06); 8 Supertaças de Portugal (89/90, 90/91, 92/93, 93/94, 02/03, 03/04, 05/06); 1 Liga Espanhola (97/98) ; 2 Copas do Rei de Espanha (96/97, 97/98); 1 Supertaça Espanhola (97/98); 1 Taça das Taças (96/97); 1 Taça UEFA (02/03); 1 Liga dos Campeões (03/04) e 1 Taça Intercontinental (04)
O goleiro Clemer é um tremendo bom caráter, incentivador dos jogadores mais jovens, um dos líderes do grupo e ídolo da torcida, tem contrato com o Internacional até dezembro deste ano, quando já terá completado 40 anos. Confessa que o colorado gaúcho é o clube que aprendeu a gostar e onde conheceu as maiores alegrias. Com toda a certeza vai permanecer no “colorado gaúcho” por muito tempo, como preparador de goleiros.
O jornalista Alexandre Alliatti, correspondente do globoesporte.com, em Porto Alegre escreveu este bonito artigo, após a vitória do Internacional por 8 X 1, frente o Juventude, de Caxias do Sul, domingo passado, que eu tomo a liberdade de reproduzir:
Se Clemer colocasse sobre o peito todas as faixas que já ganhou pelo Internacional, ficaria parecendo uma múmia. Ele é o goleiro mais vitorioso dos 99 anos de vida do clube colorado. Em sete anos de Beira-Rio foi campeão em todas as temporadas: campeão gaúcho, em 2002, 2003, 2004 e 2005; em 2006, campeão da Copa Libertadores da América e do Mundial de Clubes; em 2007, da Recopa Sul-Americana; em 2008, em apenas cinco meses, já ganhou a Copa Dubai e outro Campeonato Gaúcho. Desta vez, teve até gol, o oitavo do time na goleada de 8 a 1 sobre o Juventude.
“É que o pessoal não deixa eu fazer mais cobranças. Se deixassem, eu faria mais - empolga-se o camisa 1”. Clemer tem noção de sua importância na história do clube. O Internacional teve goleiros inesquecíveis, como Manga e Taffarel, mas nenhum deles levantou tantas taças quanto ele. “Não tem como expressar o orgulho que sinto. São sete anos aqui, e os outros talvez não ficaram tanto tempo, ou ficaram até mais. Isso é o que menos importa. O que sei é que outros títulos virão. Escreve aí: outros títulos virão. Tem a Copa do Brasil. Estamos de olho. Já estamos nas quartas”, comenta.
Além de tudo, o goleiro tem santo forte. Ele só foi o titular porque Renan, que vinha jogando, pegou hepatite e ficou fora da reta final da competição. A chegada de Clemer ao Beira-Rio, em 2002, coincide com a largada de um novo momento do Internacional, com Fernando Carvalho como presidente. O goleiro viveu de corpo presente todas as principais conquistas vermelhas nos últimos tempos.
Depois de domingo eu fiz uma pequena pesquisa para saber se Clemer não tinha marcado nenhum gol, quando defendia outro clube. E realmente não fez. Mas descobri uma raridade que ficou no esquecimento e ninguém lembrou neste novo momento de glória porque vive o goleiro colorado, quando a torcida de pé pediu que ele batesse o pênalti contra o Juventude. No campeonato brasileiro de 2003, Clemer fez um gol contra o Vitória da Bahia, em jogo pelo Campeonato Brasileiro, depois de uma confusão na área adversária. Mas o gol não valeu, o juiz marcou impedimento. E este ano, em um treino do Internacional fez um gol de bicicleta.
O Internacional tem uma histórica tradição de revelar bons goleiros. E parece que isso vai ser mantido, ainda por muito tempo. Estão aí Renan, favorito para vestir a camisa 1 da Seleção Olímpica, na China, e Muriel, várias vezes convocado para seleções brasileiras de base. E de prontidão duas novas caras: Agenor, 18 anos, e Alisson, irmão de Muriel, 15 anos e 1,88 metro. A dupla está treinando forte no grupo profissional e poderá ser aproveitada assim que for preciso no time colorado. E tem também Luiz Carlos, que sofreu uma lesão no final da temporada passada e já treina normalmente junto aos demais goleiros.
Renan, que está voltando aos treinos depois de enfrentar problemas de hepatite C, é recordista de invencibilidade de um goleiro colorado em campeonatos nacionais, até então ostentado por Taffarel. Ficou oito jogos sem ver suas redes balançarem. Antes dele, Taffarel havia ficado sete jogos e 72 minutos sem sofrer gols, na Copa União de 1987. A marca mais expressiva, no entanto, ainda é de Gainete, que ficou invicto em 1.202 minutos, quase 14 jogos, em 1970. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
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