O “besteirol” no esporte não é primazia de jogadores e dirigentes de times de futebol. Tem muita gente boa por aí que anda colaborando com o anedotário da área. Eu colhi algumas “jóias” de nossos narradores, comentaristas e repórteres esportivos, espalhadas por esse Brasil afora. Para começar, nada melhor do que o mais famoso locutor esportivo do país, Galvão Bueno, da Rede Globo. Antes de um jogo amistoso entre Brasil e Inglaterra, houve uma falha na iluminação do Estádio de Wembley e o nosso entusiasmado sentenciou: “O juiz deverá adiar a partida para depois...”.
Nos anos 50 e 60 jogava no Brasil de Pelotas (RS) um lateral esquerdo chamado Tibirica. Dia de clássico e o repórter Edmar Allan, da Rádio Cultura, ao informar a escalação da equipe, saiu com esta: “O desfalque no Brasil é Tibirica, que está lesionado no joelho esquerdo da perna esquerda”.
Esta também aconteceu no Rio Grande do Sul e faz muito tempo. O locutor Aloísio Parente, descrevendo a inauguração do Estádio Olímpico, do Grêmio Portoalegrense: “O estádio é suntuoso com uma vista belíssima. Fica quase no centro da Capital. À sua direita, o belo Rio Guaíba, à esquerda, uma das principais avenidas, e, na parte sul, o mais procurado de todos os cemitérios de Porto Alegre, onde “vivem” os mortos mais ilustres da cidade”.
Ainda no Rio Grande do Sul. Hugo Schmidt era um repórter do velho e querido jornal “A Folha da Tarde Esportiva”, encarregado de cobrir o campeonato de Bolão, um esporte aos moldes do “bolicho”. Ficou para a história da imprensa a legenda que ele fez para uma foto em que aparecia uma respeitável senhora, campeã individual de bolão, num torneio do 4º Distrito, em Porto Alegre: “Fulana de Tal, a maior derrubadora de paus do quarto distrito”.
Na inauguração do Autódromo de Brasília o narrador de uma das rádios locais transformou ouvidos em olhos: “Estamos assistindo à inauguração do Hipódromo de Brasília”. Em seguida, mostrou seu “enorme conhecimento” sobre automobilismo: “Primeira pole-position para Fittipaldi, segunda pole-position para Nicky Lauda, terceira pole-position, para José Carlos Pace, e assim por diante, até a 15 pole-position”. Mas não pensem que ficou só nisso. Ao atender o chamado do repórter, que informou estar ao lado do padock, o narrador completou a felicidade dos ouvintes, que certamente chegaram ao delírio: “Então aproveita, e pergunta ao “padock” o que ele acha da corrida”.
Paulo Léro, um dos mais famosos repórteres do rádio paranaense foi chamado de o “Pelé das Asneiras”. Em uma entrevista com o presidente do Matsubara, clube interiorano, perguntou: “Presidente, é verdade que o senhor está “domesticando” o seu filho para ser o próximo presidente do clube?” Outra do nosso querido repórter: “O zagueiro Vica ficará afastado alguns dias, pois está com um “floco” dentário.” Acham pouco? Tem mais? Num jogo no Canindé, em São Paulo, entre Portuguesa de Desportos e Colorado, extinto clube paranaense houve um apagão no estádio. Depois de verificar o que tinha acontecido, Paulo Léro informou: “Olha Fernando, um gato entrou no meio do transformador, e veja só, ele se transformou numa verdadeira tocha humana”.
Conhecido locutor de uma das rádios de Brasília foi a Goiânia, transmitir um jogo entre Goiás e Ceub. Devido a um violento aguaceiro, o jogo foi adiado para a noite seguinte. Ao dar a notícia, o locutor largou esta pérola: “A nossa Rádio Alvorada vai permanecer em Goiânia, e o jogo será realizado sem falta, amanhã à noite, chova ou faça sol”. De um outro locutor de Brasília, transmitindo uma prova de remo no Lago Paranoá: “Vai ganhando cada vez mais “terreno” o barco do Saldanha da Gama”.
Decisão do campeonato paraense entre Remo e Tuna Luso, no Estádio Mangueirão. As duas equipes em campo batendo bola e os repórteres fazendo as tradicionais entrevistas. Depois que as equipes posaram para aquelas fotos que nunca são publicadas nos jornais, um repórter de rádio perguntou ao atacante Ageu Sabiá, do Clube do Remo e principal artilheiro do campeonato: “Essa foto vai para a posteridade?”. Sem vacilar o jogador respondeu: “Não, essa eu pretendo mandar para a minha família que está lá na minha terra natal, Monte Alegre”.
O ex-árbitro de futebol José Roberto Wright, agora comentarista de arbitragem de um canal de televisão, ao analisar um lance duvidoso, fez esta “esclarecedora” intervenção: “Nós, aqui, temos a máquina, por isso eu não crucifixo o auxiliar”.
Escrevo este artigo, mas tenho todo o direito de não acreditar que isto seja verdade. O falecido radialista Valdir Gentil, da Rádio Cacique, de Sorocaba (SP) foi sozinho a Ribeirão Preto para transmitir um jogo do São Bento contra o Comercial. Lá, ele conseguiu que um repórter local lhe ajudasse na transmissão. Chovia muito e em dado momento, Valdir Gentil narrou: "Chove nos quatro cantos do gramado". O repórter, querendo demonstrar que estava em cima da jogada, completou: “Valdir, eu estou melhor colocado do que você e posso lhe assegurar que chove também no centro do gramado".
Isso me fez lembrar de algo parecido que aconteceu lá na querida cidade de Rio Grande, terra do mais antigo clube de futebol do país, o S.C. Rio Grande. A Rádio Cultura fazia uma transmissão dupla: de Rio Grande o jogo Rio-Grandense X Brasil de Pelotas. E de Pelotas, Farroupilha X São Paulo. Bola no centro do gramado e jogo por começar. O narrador, de olho no relógio anunciou: “Em Rio Grande, 15h30 minutos”. E o narrador do outro jogo, completou: “Em Pelotas também, 15h30min”. Por certo foi para não haver dúvidas quanto ao fuso horário.
Algumas do locutor Cléber Machado, da Rede Globo, que dá de goleada no Galvão Bueno. Ao descrever o perfil do técnico Osvaldo de Oliveira: “Ele tem aquela calma meio nervosa”. Antes de começar um jogo da Seleção Romena, pela Copa do Mundo: "Todos os jogadores da Romênia tingiram os cabelos de amarelo, exceto o goleiro, que é careca". Numa tarde fria, jogo do Campeonato Brasileiro e o Estádio de Parque Antártica lotado: "Taí a torcida do Palmeiras esquentando o frio”. Depois corrigiu, mas já era tarde.
Essa eu garimpei lá em São Gabriel, cidade onde eu morava antes de ir para Brasília. Jogo da Segunda Divisão entre o time do São Gabriel e do Cruzeiro de Santiago. Uma das rádios locais fazia a costumeira transmissão. Metade do primeiro tempo e o repórter informou: “Fulano, entrou um cachorro em campo”. E o narrador, rapidamente perguntou: “No lugar de quem?”.
O repórter Sílvio Luiz, da rádio Jovem Pan, na época Rádio Panamericana, chamou o narrador Pedro Luiz, para informar: “Pedro, a bandinha aqui no campo está tocando uma marchinha”. E Pedro Luiz respondeu: “Silvio, a "bandinha" é a Banda Marcial da Força Pública, e a "marchinha" é o Hino Nacional”.
É claro que Portugal não poderia ficar de fora. O locutor Nuno Luiz, da TVI ao comentar os movimentos do jogador Augusto Inácio, do Sporting, num jogo contra o Salgueiros, pelo campeonato português nos brindou com esta maravilha: “Inácio fechou os olhos e olhou para o céu”. E um outro narrador, da mesma emissora, João Tomás falando das qualidades do jogador Pedro Mantorras; “Uma das armas do Pedro é a técnica e a velocidade”.
O gaúcho Osvaldo Brandão foi um dos grandes técnicos do futebol brasileiro, mas não gostava de dar entrevistas. Certa feita, um repórter lhe perguntou: “Seu Osvaldo, como o time do Corinthians vai jogar?” E Brandão respondeu: “Ora, com calções, camisas e chuteiras”. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Horácio disse...
Amigo Nilo: Tem aquela do "Zé Adão", quando morreu o Ildefonso Poester e foi observado um minuto de silêncio na Linha do Parque. Antes que o árbitro apitasse, o Zé lascou: "Os senhores acabaram de ouvir um minuto de silêncio". Horácio Gomes
27 de maio de 2008 17:08