Os goleiros Clemer e Renan, o zagueiro Índio, os volantes Edinho e Wellington Monteiro e o meia Alex são o que resta do grande time colorado campeão da Libertadores, do Mundo e da Recopa Sulamericana. Marcelo, Ediglê, Élder Granja, Ceará, Bolívar, Fabiano Eller, Jorge Wagner, Rubens Cardoso, Martin Hidalgo, Fabinho, Perdigão, Tinga, Iarley, Michel, Rafael Sobis, Adriano Gabiru, Fábian Vargas, Luiz Adriano, Alexandre Pato e Léo não estão mais no Beira Rio.
No total, 20 jogadores, mais o técnico Abel Braga e o preparador físico Paulo Paixão já tinham ido embora. Agora, se vai o principal nome do elenco e considerado por alguns o melhor jogador de toda a história de 99 anos do S.C. Internacional, o grande “capitão” Fernandão, símbolo maior das recentes e memoráveis conquistas coloradas. Ele está sendo contratado pelo Al-Gharafa, do Qatar, onde deverá permanecer por dois anos. Para o Internacional, maior negociador de atletas do país e dono de 50% dos direitos federativos de Fernandão, resta apenas o consolo de rechear seus cofres com R$ 3,5 milhões de euros, cerca de R$ 7 milhões, o equivalente a metade da multa de 7 milhões de euros, ou R$ 14 milhões.
Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão, (o apelido se deve a sua altura) nasceu em Goiânia (GO), no dia 18 de março de 1978. Começou a carreira nas categorias de base do Goiás e aos 16 anos já era promovido ao time profissional. No alviverde goiano foi destaque nacional depois de conquistar entre 1995 e 2001, cinco campeonatos estaduais, duas copas Centro Oeste e um campeonato brasileiro da Série B.
Graças ao seu futebol de grande técnica e cabeceios certeiros, chamou a atenção do Olympique de Marselha, França, onde jogou por quase três anos, indo depois para o também francês Toulouse. No retorno ao Brasil, em 14 de junho de 2004, foi contratado pelo Internacional de Porto Alegre. Predestinado, Fernandão encontrou no clube gaúcho todas as condições para desenvolver e aprimorar seu futebol. Logo no jogo de estréia, um Gre-Nal, marcou o milésimo gol da história do clássico, ganhando de imediato o carinho e o respeito da torcida e ainda uma placa comemorativa ao feito. Graças as suas boas atuações pelo Internacional, Fernandão foi chamado a defender a Seleção Brasileira em um jogo amistoso contra a Seleção da Guatemala.
Fernandão chega aos 30 anos de idade, completados em março último, com uma invejável coleção de títulos. Pelo Goiás foi campeão goiano em 1996, 1997, 1998, 1999 e 2000; campeão brasileiro da Série B em 1999 e campeão da Copa Centro-Oeste em 2000 e 2001. Pelo Internacional, onde fez 190 jogos, foi campeão gaúcho em 2005, 2006 e 2008; campeão da Copa Libertadores da América em 2006; campeão mundial de clubes em 2006; campeão da Recopa Sul-Americana em 2007, e campeão da Copa Dubai, em 2008. Além disso, foi premiado com a Bola de Prata (Revista Placar) em 2006; Prêmio Craque do Brasileirão 2005 (Troféu de Prata), em 2006 (Troféu de Ouro) e Troféu Mesa Redonda (TV Gazeta) em 2006.
Ao anunciar sua saída do Internacional, Fernandão mostrou muita tristeza, pois nos quatro anos em que esteve no Beira Rio aprendeu a amar o clube vermelho gaúcho. Os torcedores deram adeus ao craque com palavras de carinho e incentivo: "obrigado", "volte sempre" e “vá com Deus”. Emocionando, o craque não conseguiu conter as lágrimas.
O atacante Adriano, que no último sábado contra o Botafogo atuou com a camisa 9, de Fernandão, ao final do jogo dedicou o gol que fez e a vitória do Internacional ao companheiro que está indo embora. E ao fazer isso demonstrou na sua fala às rádios de Porto Alegre toda a admiração que o ex-capitão tinha e tem do grupo de jogadores: “Falamos que venceríamos para dedicar ao Fernando, um cara que mora no coração de todos nós. Tenho um carinho especial por ele, que sempre nos ajudou muito”.
Já Edinho, companheiro das conquistas da Libertadores, Mundial, Recopa e Copa Dubai e autor do primeiro gol contra o Botafogo, também não conteve a emoção: “Fico bastante triste pela saída, mas feliz por ele estar alcançando uma meta. Fico emocionado em falar, Fernandão é um grande companheiro, um cara tão exemplar que levo as atitudes dele para a minha vida”.
O jogador não deverá ter muitos problemas de adaptção em seu novo clube, pois lá já estão outros três brasileiros: o técnico Marcos Paquetá e os meias Araújo, ex-Goiás e Cruzeiro e o ex-colorado Pinga, negociado em outubro do ano passado. O Al-Gharafa Sports Club, para onde Fernandão está se transferindo tem sua sede em Doha, capital e principal cidade do país, onde se concentra toda a atividade financeira e as grandes empresas petrolíferas do Reino. Com uma população estimada em 500 mil habitantes, Doha é uma cidade moderna, onde não se vê sinais de pobreza nas ruas. O principal iodioma do Qatar é o árabe, embora o inglês seja amplamente falado.
A vida no Qatar é bastante tranqüila. Em Doha existem muitos shoppings, excelentes hotéis, bons restaurantes, praias e spas. A religião predominante é a islâmica, mas a população é liberal com estrangeiros. A comida tem um tempero que lembra o do Nordeste brasileiro. O calor é muito forte e a temperatura chega acima de 40 graus em algumas épocas do ano.
Fernandão faz juras de amor ao Internacional. Antes mesmo de jogar pelo Al-Gharafa, em sua última entrevista no Brasil antes de embarcar para o Qatar já fala em retornar. Perguntado sobre seu futuro, espontaneamente disse que um dia vai voltar para o colorado gaúcho, seja como jogador, dirigente ou torcedor. E certamente o clube o receberá de braços abertos.
Ele marcou 77 gols com a camisa do Inter. O mais importante foi no dia 16 de agosto de 2006, o primeiro no empate de 2 x 2 com o São Paulo, que deu ao clube gaúcho o título da Libertadores. Fora de campo, o chamado “Capitão do Mundo” também fez história. Na volta do Japão, com o título mundial, na grande recepção ocorrida no Beira-Rio, Fernandão pegou o microfone e levou a torcida ao delírio ao cantar, aos berros, o tradicional "vamo, vamo, Inter". Depois, na comemoração do primeiro aniversário da conquista da Libertadores, ele chorou copiosamente ao falar de sua relação amorosa com o clube e com o Rio Grande do Sul. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)