Os amigos do blog “Futebol de Passo Fundo” (http://futeboldepassofundo.futblog.com.br/) me enviaram cópia de uma matéria publicada no jornal “O Nacional”, no último dia 11 sobre a extinção do Sport Club Gaúcho, um dos mais tradicionais clubes esportivos do Rio Grande do Sul. A matéria diz o seguinte:
Após quase 90 anos de história (completados em 12/05/2008), no ano passado, a cidade de Passo Fundo viu sucumbir um dos mais tradicionais clubes da região, o Sport Club Gaúcho. O acúmulo de dívidas levou o patrimônio do clube a leilão. Os bens foram arrematados pelo advogado da família de um jovem, que se afogou na piscina do clube em 1996 e ficou tetraplégico e necessitando de tratamento caro.
Como o S.C. Gaúcho não pagou as prestações acertadas, a sede foi adquirida por R$ 1,1 milhão, quantia baixíssima se comparada às estimativas que apontavam para um valor cinco vezes maior. Os bens móveis que lá estavam foram levados a depósito judicial, permanecendo em poder do clube apenas troféus e documentos. A ação movida pela família era de R$ 1,3 milhão. Após a realização do leilão, a intenção era de colocar a área à venda, o que ainda não aconteceu.
Nesse meio tempo o município conseguiu o tombamento provisório do campo e das arquibancadas do estádio. A estrutura do clube, localizada na rua Moron, bairro Boqueirão, foi totalmente destruída. O prédio da secretaria, as piscinas, tudo foi posto abaixo e abandonado.
O portão principal foi lacrado e ninguém mais, além dos proprietários foi autorizado a entrar no local. Na semana passada, porém, após receber informações de que o antigo clube estaria tomado por moradores de rua, a equipe de “O Nacional” foi até o Gaúcho. Apesar da intensa movimentação, o portão principal encontrava-se arrombado.
Nos fundos a reportagem avistou uma parede toda queimada, o que segundo vizinhos aconteceu após mendigos acenderem fogueiras para se aquecerem do frio. Instantes após a chegada da reportagem, ainda no portão foi possível avistar pelo menos dois homens, sentados ao redor de uma mesa improvisada, próxima a muito lixo. Ao perceberem a presença de pessoas estranhas, os "habitantes", que dormem em salas que resistiram à destruição, estranharam a situação e a equipe foi obrigada a deixar o espaço. Segundo testemunhas, chega a cinco o número de moradores de rua que ficam lá à noite.
A história do S.C. Gaúcho remonta ao distante dia 12 de maio de 1918, quando no varandão da antiga “Casa Barão”, foi fundado aquele que viria a se tornar o mais querido clube da cidade. Os fundadores foram os desportistas Augusto Schell Loureiro, dona Carlota Bordallo Rico e os filhos do casal, Alfredo e Gil Rico Loureiro, mais os amigos Victor Loureiro Issler, Antônio Junqueira da Rocha, João e Aníbal Colavin e Antônio Pimpão Loureiro.
O nome foi sugerido por Gil Loureiro, que afirmou na ocasião: “Gaúcho, pois somos gaúchos, povo guerreiro, determinado, batalhador, forte, e o nosso clube, além do nome, terá a alma gaúcha. Aparteando seu irmão, Alfredo recomendou as cores verde e branca". O trecho é do livro “O mais querido da cidade”, de autoria do escritor Marco Antonio Damian, que conta a trajetória do clube de 1918 até 2000.
O livro dá um fio de esperança aos tristes torcedores alviverdes quando se lê: “Enquanto houver futebol, existirá o Gaúcho”. Mas essa situação crítica só poderá ser revertida se a comunidade local, especialmente aqueles que sempre torceram pelo Gaúcho se unirem numa corrente pra frente. Sair do zero, de novo, renovado com as lições tiradas do passado. Eu, mesmo não sendo de Passo Fundo vou ficar, aqui à distância, torcendo para que essa tradição não desapareça. Se não for mais possível no Wolmar Salton, que seja em qualquer outro local.
Eu estive duas vezes no estádio Wolmar Salton, nos meus tempos de narrador de futebol nas rádios de Pelotas. E conheci de perto a paixão que o clube transmitia a sua ardorosa torcida. E muitas outras vezes presenciei jogos do Gaúcho contra o meu querido F.B.C. Rio-Grandense, ainda fora dos gramados, as vésperas de completar 100 anos.
Lembro de um confronto que quase virou tragédia. O Rio-Grandense precisava vencer para subir a Divisão Principal do futebol gaúcho, mas ao fim do primeiro tempo perdia por 1 x 0. O jogo não terminou. O juiz, apavorado, pediu intervenção policial, alegando que estava sendo ameaçado de morte, caso o Rio-Grandense não virasse o jogo. Os soldados da Brigada Militar atropelaram o público com seus cavalos e o estádio ficou vazio.
Foi no Estádio Wolmar Salton - construído em 1957 - que o Gaúcho conheceu seus melhores momentos, especialmente aos tempos dos famosos irmãos Pontes e dos inesquecíveis clássicos contra o rival 14 de Julho (hoje Passo Fundo). Em 1986, Gaúcho e 14 fizeram a fusão, dando origem ao Esporte Clube Passo Fundo. Anos depois o Gaúcho rompeu o acordo e reativou seu Departamento de Futebol profissional.
E quem não lembra dos duros jogos contra Grêmio e Internacional, que suavam sangue para sair de lá com um bom resultado? O que dizer dos valentes e folclóricos irmãos Pontes que ganharam fama de jogadores mais violentos da história do futebol brasileiro? O currículo não desmente: Daison Pontes foi punido por tudo que é imaginável, até doping.
Sua maior proeza aconteceu em 1974, em Passo Fundo. O juiz José Luis Barreto teve a coragem de marcar um pênalti contra o Gaúcho, em pleno Estádio Wolmar Salton. Indignado, Daison chamou o árbitro de crioulo. E Barreto teria retrucado: “Se te pego fora de Passo Fundo, te expulso”. E Daison não deixou por menos: “Se me expulsar te quebro a cara”. Dito e feito, semanas depois os dois se encontraram num jogo em Santa Maria. E promessas cumpridas. Barreto expulsou Daison e este deu um soco na cara do juiz e um pontapé na barriga. Foi suspenso por 18 meses. Retornou em 1976 somente para encerrar a carreira.
João Pontes foi o companheiro ideal da furiosa zaga, igualmente mestre de indisciplina e a exemplo do irmão Daison foi punido por tudo, de doping a agressão, num total de 18 punições. Apenas como curiosidade, publico as expulsões dos irmãos Pontes.
Daison: agressão a adversário (1959); invasão de campo (1962); ofensas ao juiz (1963); agressão ao adversário (1964); ofensas ao juiz (1964); ofensas ao juiz (1964); ofensas ao juiz (1964); agressão ao adversário (1966); ofensas ao juiz (1968); agressão ao adversário (1969); atitude inconveniente (1969); agressão ao adversário (1970); atitude inconveniente (1971); agressão ao adversário (1972); agressão ao adversário (1973); ofensas ao juiz (1974); uso de estimulante (1974) e agressão ao juiz (1974).
João Pontes: agressão ao adversário (1964); agressão ao adversário (1965); ofensas ao juiz (1965); ofensas ao juiz (1966); agressão ao adversário (1966); ofensas ao juiz (1967); atitude inconveniente (1969); agressão ao adversário (1970); ofensas ao juiz (1972); agressão ao adversário (1973); ofensas ao juiz (1974) e novamente ofensas ao juiz (1978).
Jogar em Passo Fundo na época dos irmãos Pontes era um verdadeiro teste de coragem. Daison garantia que um time para botar faixa de campeão precisava passar por Passo Fundo. O ex-zagueiro, 68 anos, hoje funcionário municipal aposentado não acha que tenha sido um jogador violento, apenas não admitia desrespeito.
O jornal “Zero Hora”, de Porto Alegre, publicou uma série intitulada “O tempo em que havia guerra”, contando a história do futebol gaúcho. Num trecho do excelente texto: “No futebol de Passo Fundo, Ele era a lei”, de Mário Marcos de Souza, está explicado o que era desrespeito, no mundo dos irmãos Pontes: podia ser um olhar, um sorriso na hora errada, firulas ou uma cuspida, como o atacante Nestor Scotta ousou dar em um jogo Grêmio e Gaúcho. Argentino, habituado a batalhas em seu país, Scotta entendeu no fim do jogo que complicado mesmo era jogar em Passo Fundo.
Havia um outro irmão de Daison e João, também zagueiro, mas não tão violento. Era Bibiano, que jogou pelo Internacional no começo da década de 1970. Era um grande jogador, que contam, uma vez fez um gol contra e ficou muito furioso. Quando a partida reiniciou, pegou a bola, driblou meio time adversário e empatou o jogo.
Pode ser até lenda. Mas me contaram e juraram que é verdade, que o pai dos irmãos Pontes costumava assistir os jogos do Gaúcho, sentado em cima do muro do Wolmar Salton. E se o juiz ousasse marcar um pênalti contra o seu time, o revólver aparecia rápido em suas mãos e uma pergunta ecoava por todo o estádio: “Tu marcou foi falta contra eles, não é mesmo?”.
Mas não é só dos irmãos Pontes, que o Gaúcho tem histórias para contar. Bebeto, o “canhão da serra”, um dos mais importantes jogadores do futebol gaúcho em todos os tempos, um dia vestiu e honrou a camisa verde e branca. O apelido ele ganhou por causa do forte chute. No Gaúcho formou uma dupla famosa, com Pedro, ex-Internacional e Palmeiras. Ainda jogou no Grêmio, Internacional, Corinthians, América do Rio e Caxias, entre outros clubes. Alberto Villasboas dos Reis, o Bebeto, morreu no dia 29 de setembro de 2003, aos 57 anos, quando esperava por um transplante de fígado.
Considerado o melhor jogador que o futebol de Passo Fundo conheceu, Bebeto começou a carreira no Pampeano, de Soledade, sua terra natal. Em 1965, estreou no 14 de Julho, de Passo Fundo. Dois anos depois foi para o Gaúcho, onde se consagrou e conquistou títulos. Foi por duas vezes artilheiro do Gauchão, defendendo o Gaúcho, 1973 e 1975, ambas com 13 gols. Em 1984 foi artilheiro do Campeonato Gaúcho da Série B, com 19 gols.
O S.C. Gaúcho em seus 90 anos conquistou alguns títulos expressivos: Campeonato Gaúcho da 2ª Divisão, 3 vezes (1966, 1977 e 1984); Vice-Campeonato Gaúcho 2ª Divisão, 2 vezes (1965 e 2005); Campeonato Gaúcho 3ª Divisão (2000); Vice-Campeonato da Copa FGF (2004); Campeonato Citadino de Passo Fundo, 15 vezes (1926, 1927, 1928, 1938, 1939, 1948, 1949, 1950, 1954, 1961, 1963, 1964, 1965, 1966 e 1967); Copa Everaldo Marques da Silva (1970) (Texto e pesquisa: Nilo Dias)
Xico Júnior disse...
Olá, Nilo Dias!
Também tenho um blog, porém só sobre craques, jogadores e times de Canoas-RS. Assim, estou em busca de fotos do ex-centroavante do Internacional-POA, Internacional-SM e do Passo Fundo, Hélio Alves, que depois deixou o futebol, formou-se ondontólogo e mais tarde médico.
E peço ao colega jornalista se existe a possibilidade de conseguir uma ou mais fotos do centroavante Hélio Alves, que é natural de Canoas.
Aqui estaremos à disposição.
Xico Júnior - Jornalista, radialista, historiador, aervista e escritor
Meus e-mails: la-stampa@ig.com.br /// frapagot@ibest.com.br
7 de maio de 2009 02:17
Boa parte de um vasto material recolhido em muitos anos de pesquisas está disponível nesta página para todos os que se interessam em conhecer o futebol e outros esportes a fundo.
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Horácio disse...
Nilo, fico triste em saber que um dos tradicionais clubes do interior está nesta situação. Às vezes, me pego olhando o que também resta do Colosso do Trevo, do F.B. Clube Rio-Grandense, do qual sou vizinho, pois moro nos apartamentos do Trevo.
Esse jogo que quase virou tragédia, eu trabalhei para Rádio Cassino. O Andrè Soldera, apanhou com um filho pequeno no colo. O árbitro, era o José Mocelin, e depois eu fui ouvido como testemunha dos acontecimentos quando o Colorado foi julgado pelo Tribunal da FGF. - Horácio Gomes
14 de agosto de 2008 15:00
Duas grandes equipes do Gaúcho. Em pé, a partir da esquerda: João Pontes, Luiz Antonio, Índio, Nadir, Daizon Pontes e Jamir; agachados, Meca, Zangão, Bebeto, Flávio e Ramiro, em 1969. E Bexiga, Orlando, Chiquita, Luiz Sachett, não identificado e Itamar; Vetinho, não identificado, Branco Ughini, não identificado e Paulista, em 1957 (Fotos: Arquivo pessoal do pesquisador Marco Antônio Damian)
clovis roberto disse...
muito bosa suas informações sobre a historia do esporte club gaucho.mas se possivel gostaria de saber mais sobre um jogador: o Jamir. desde ja agradeço. ass.:eunice
17 de setembro de 2009 21:05
clovis roberto disse...
muito bosa suas informações sobre a historia do esporte club gaucho.mas se possivel gostaria de saber mais sobre um jogador: o Jamir. desde ja agradeço. ass.:eunice
17 de setembro de 2009 21:05