Hoje, 21 de agosto de 2008 é uma data muito especial. Afinal, não é todo o dia que se chega a 110 anos de vida. É muito caminho andado, até mesmo para um clube esportivo. É preciso muita persistência, organização e principalmente dedicação, para superar a marca de um século. E nada disso tem faltado ao Clube de Regatas Vasco da Gama, um dos clubes mais gloriosos e de maior torcida no país. E pioneiro na luta contra o racismo no esporte.
O Vasco veio ao mundo ao final do século XIX, quando o Rio de Janeiro era apenas uma cidade com pouco mais de 500 mil habitantes, um lugar agradável para se morar, bem diferente dos dias de hoje. Não havia bandidos pelas ruas. As pessoas tinham segurança em suas casas e não precisavam de grades e nem de cães ferozes. Drogas? Nem se imaginava o que era.
Nessa época o remo predominava como o esporte favorito da juventude, que sabia aproveitar muito bem a riqueza de águas que a natureza reservou para o Rio de Janeiro. As manhãs dos domingos costumavam levar educadas multidões aos arredores do Passeio Público e da Rua Santa Luzia para ver nas águas limpas da Baía de Guanabara, competições entre os barcos de clubes e seus remadores.
O Club Gragoatá, de Niterói, era um dos mais procurados pelos jovens, pelo que oferecia de estrutura aos remadores. Mas as viagens até a vizinha cidade se tornaram cansativas e era preciso encontrar outra opção. Foi quando quatro amigos, Henrique Ferreira Monteiro, Luís Antônio Rodrigues, José Alexandre d`Avelar Rodrigues e Manuel Teixeira de Souza Júnior, decidiram pela fundação de uma nova agremiação dedicada ao remo.
A primeira reunião aconteceu na casa de um deles, à Rua Teófilo Ottoni, 90. Como o número de novos interessados aumentou, os encontros foram transferidos para o Clube Recreativo Arcas Comercial, na Rua São Pedro. A idéia era conseguir a adesão de caixeiros portugueses, que gostavam de esportes, mas não tinham dinheiro para criar um clube de ciclismo, modalidade também em moda naqueles tempos.
Finalmente, no dia 21 de agosto de 1898, na sede do Clube Dramático Filhos de Talma, na rua da Saúde, 293, com a presença de 62 desportistas foi fundado o Club de Regatas Vasco da Gama. Os trabalhos foram presididos por Gaspar de Castro e secretariados por Virgílio Carvalho do Amaral e Henrique Teixeira Alegria.
Da fundação a prática do remo, foi um pulo. Para a compra dos primeiros barcos os sócios se cotizaram e adquiriram as baleeiras “Zoca”, “Vaidosa” e “Volúvel”. Curiosamente, a primeira regata que o clube venceu foi em sua própria homenagem, no dia 04 de junho de 1899, uma competição na classe novos, denominada “Vasco da Gama”. Os remadores vascaínos competiram com o barco “Volúvel”, de seis remos. O páreo, denominado Vasco da Gama, em homenagem ao novo clube, foi vencido com uma guarnição composta pelo patrão Alberto de Castro e os remadores José Lopes de Freitas, José Cunha, José Pereira Buda de Melo, Joaquim de Oliveira Campos, Antônio Frazão Salgueiro e Carlos Batista Rodrigues.
Em 1900 teve início a histórica rivalidade com o Clube de Regatas Flamengo, que também só se dedicou ao remo nos primeiros anos de existência. A guarnição vascaína ganhou uma competição que homenageava o adversário. Os primeiros títulos estaduais vieram em 1905 e 1906. Na conquista do bi, em 26 de agosto, os remadores do Vasco da Gama deram outro duro golpe no rival, vencendo mais uma vez um páreo com o nome de Club de Regatas do Flamengo. O Vasco foi tricampeão pela primeira vez na história do remo carioca nos anos de 1912, 1913 e 1914, com as embarcações “Meteoro” e “Pereira Passos”.
O Vasco foi pioneiro na luta contra o racismo, ao eleger presidente o mulato Cândido José de Araújo, o primeiro dirigente não branco de um clube esportivo do Rio de janeiro. Ele fez uma gestão exemplar, apresentando o Vasco como um clube aberto e sem preconceitos. (Texto e pesquisa: Nilo Dias)