Aos 59 anos de idade morreu ontem (7) em São Paulo, Francisco Jesuíno Avanzi, mais conhecido por Chicão, o volante que barrou Falcão na Seleção Brasileira, na Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Um andarilho do futebol, Chicão passou por vários clubes, Santos, Atlético Mineiro, XV de Piracicaba e Ponte Preta, entre outros, mas foi no São Paulo F.C. que ganhou destaque. O enterro do ex-jogador aconteceu hoje, em Piracicaba.
A disposição foi marca registrada desse volante. A técnica era substituida pela raça e virilidade, por isso muitas vezes foi taxado de violento. Há quem afirme que em toda a história do São Paulo F.C., nunca houve um jogador que demonstrasse tanto amor a camisa, quanto ele. Talvez seja lenda, mas é voz corrente entre os tricolores, que Chicão costumava dizer que qualquer um que ameaçasse as vitórias são-paulinas era passível de punição.
Antes de jogar futebol, Chicão trabalhou como aprendiz de torneiro-mecânico, em uma fábrica na cidade de Piracicaba, coisa que não o agradava. Achava bem melhor jogar pela equipe amadora do “Filhos de Funcionários”, o que lhe abriu caminho para ingressar nas categorias de base do XV de Piracicaba, o famoso “Nho Quim”. Foi lá que ganhou o primeiro título de sua longa carreira, campeão de um torneio de juvenis.
Seu futebol guerreiro logo chamou a atenção de Cilinho, na época o técnico da equipe de profissionais do XV, que o chamou para treinar no time de cima. Mesmo assinando contrato em 1968, não conseguiu de início ser titular. Por isso foi emprestado ao União Agrícola Barbarense (atual União Barbarense Futebol Clube), de Santa Bárbara D’Oeste, onde acabou sendo o principal jogador do time.
Já bastante conhecido no futebol interiorano, Chicão logo despertou a atenção de outros clubes. Primeiro, o São Bento, de Sorocaba, e depois a Ponte Preta de Campinas. Na “Macaca”, voltou a se encontrar com Cilinho, o técnico que lhe deu a primeira oportunidade na carreira. Suas atuações na Ponte Preta valeram a cobiça do São Paulo, que o contratou em 1973. E ficou no clube do Morumbi por sete anos.
No São Paulo, Chicão disputou a Copa Libertadores da América, perdendo o título para o Independiente da Argentina, que venceu o jogo final por 1 X 0. O volante classificou essa derrota como a maior decepção de sua vida profissional.
Seu primeiro título pelo São Paulo veio em 1975, campeão paulista. Em 1976, foi convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira que disputou alguns torneios amistosos. Debutou com a camisa canarinho no jogo válido pela Taça do Atlântico, em que o Brasil derrotou o Uruguai por 2 X 1. Graças a boa atuação, conquistou a titularidade nas quatro partidas seguintes. No jogo contra a Argentina, em 19 de maio, rompeu os ligamentos do joelho direito aos 23 minutos do segundo tempo. A lesão não foi grave, e menos de um mês depois, Chicão já estava em campo, no dia 13 de junho, quando o São Paulo enfrentou o América, de São José do Rio Preto.
Em 1977, foi campeão brasileiro, o primeiro do São Paulo, conquistado em cima do Atlético Mineiro. Nesse jogo Chicão foi acusado de quebrar, de propósito, a perna do jogador mineiro Ângelo, ao pisar nela depois de um carrinho dado por Neca.
Outro fato que marcou a carreira de Chicão aconteceu em 1976, antes de um jogo entre São Paulo e Palmeiras. Ele foi advertido com um cartão amarelo antes mesmo do jogo começar. Tudo, porque chegou próximo do juiz José de Assis Aragão e disse: “Vê se apita direito essa porcaria”.
Em 1978, o saudoso técnico, Cláudio Coutinho, gaúcho de Dom Pedrito, minha terra natal e meu vizinho e amigo de infância, resolveu convocar Chicão para a Seleção Brasileira que iria disputar a Copa do Mundo da Argentina. Na convicção do treinador, Chicão era o jogador ideal para atuar nos jogos contra adversários catimbeiros, caso da própria Argentina. E foi contra os vizinhos “porteños” que Chicão teve sua atuação mais famosa pela Seleção, única em uma Copa do Mundo.
Logo ao início do jogo, na cidade de Rosário, ele deu um tapa no rosto do atacante argentino Mário Kempes, sem ser expulso. A partir do lance o artilheiro platino passou a evitar o choque com o brasileiro e em razão disso teve fraca atuação. Os argentinos não conseguiram fazer a famosa catimba e se encolheram dentro de campo. Quase ao final do jogo levou cartão amarelo, por uma entrada em Kempes. Depois dessa atuação, um jornal argentino chamou Chicão de “El Matador".
Pela Seleção Brasileira Chicão jogou nove partidas oficiais e duas não oficiais, com sete vitórias, três empates e uma derrota. Não marcou gols. Sua primeira partida oficial foi em 25 de fevereiro de 1976 contra o Uruguai, pela Taça do Atlântico (vitória por 2x1). A última foi contra o Paraguai, em 24 de outubro de 1979, pela Copa América (derrota por 2x1).
O jogador ficou no São Paulo até o fim de 1979, tendo atuado em 312 jogos e marcado 19 gols. Quando completou 31 anos, o Atlético Mineiro foi seu novo endereço, mesmo sofrendo no início forte oposição da torcida, que não esqueceu o lance da perna quebrada de Ângelo. Mas isso não durou muito tempo, pois seu espírito de luta e determinação logo serviram para conquistar os torcedores. E até o fato de jogar ao lado de Ângelo, ajudou na recuperação de sua imagem. No “Galo”, conquistou o Campeonato Mineiro de 1980.
Em 10 de setembro de 1981, transferiu-se para o Santos, ao lado de Palhinha. Nos anos que se seguiram defendeu ainda o Corinthians de Presidente Prudente, Botafogo de Ribeirão Preto e Mogi Mirim, onde encerrou a carreira em 1986, aos 37 anos, depois de quatro operações de menisco. Foi ali que conheceu a última conquista da sua carreira, ao ajudar o Mogi Mirim a subir para à primeira divisão paulista, em 1985. Nessa campanha, ficou fora de apenas 3 das 36 partidas do time, sendo uma por expulsão, uma por cartões amarelos e uma por contusão. Com os quatro meniscos operados, teve de parar.
O curioso é que Chicão sofria de um problema crônico no nervo ciático. No entanto, sua determinação e raça não deixaram que isso o atrapalhasse quando jogava.
Depois da aposentadoria Chicão tentou ser técnico. Começou no XV de Piracicaba e, em seguida, foi para o Independente de Limeira. A experiência não deu certo e o ex-volante abriu uma loja de material esportivo em Piracicaba, que funcionou por seis anos. Em 2000 resolveu atender o convite do Clube Atlético Montenegro, de Avaré (atualmente licenciado), para voltar a ser técnico de futebol. Dessa vez seu trabalho foi exitoso, já que o clube sob seu comando chegou a Série B-2 do Campeonato Paulista. (Pesquisa: Nilo Dias)
Horácio disse...
Caro Nilo Dias: Tive o prazer de conviver com Nilton Santos aquí em Rio Grande, quando ele treinou o São Paulo. Um caráter excepcional, uma pessoa de uma doçura incrível. O avô que todos nós gastaríamos de ter.
Lembro um fato que me marcou. Nilton Santos chegou em Rio Grande durante um inverno rigoroso. Ele vivia envolto num poncho e com chapéu. Certa vez o plantel do São Paulo foi fazer exercícios físicos na praia do cassino( A maior do mundo em extensão), e Nilton Santos ficou no ônibus.
Logo adiant apareceram alguns pinguins mortos, e ele rapidamente bradou: "O que eu vim fazer aqui nesse lugar onde até os pinguins morrem de frio?" Horácio Gomes
10 de outubro de 2008 15:28