sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Como surgiu o termo “gandula”

O meu amigo Horácio Gomes, lá da querida cidade de Rio Grande (RS), grande figura humana e o melhor repórter esportivo que conheci, continua atento como nos velhos tempos da Rádio Cultura Riograndina. Acompanhante assíduo do blog, o Horácio está sempre pronto a colaborar e dia desses sugeriu a publicação de matéria contando as origens do termo “gandula”, dado ao indivíduo que tem a função de buscar a bola quando esta sai pela linha de fundo ou de lado, durante um jogo de futebol.

Eu até lembro que em alguns lugares do Rio Grande do Sul, e aí eu incluo a minha terra natal, Dom Pedrito, o encarregado desse trabalho é chamado de “marrecão”. Porque, não me perguntem, que não sei. E lá em São Gabriel, quando eu era presidente da S.E.R. São Gabriel, a função era disputadíssima pela garotada que assim entrava de graça no jogo.

Existem várias versões para explicar como surgiu esse personagem que se tornou importante nos jogos de futebol. Alguns “estudiosos” afirmam que foi logo após a construção do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, e por causa das bolas que caiam no fosso em volta do gramado e precisavam ser recolhidas. Lá em São Gabriel também colocávamos apanhadores de bolas no lado de fora do estádio, pois tinha gente que ficava só esperando que a “redonda” caisse na rua para pegá-la e dar no pé. Isso causou muitos prejuizos ao clube.

E por que o termo “gandula”? A versão que parece mais condizente é de que o nome veio em homenagem ao meia-esquerda argentino Bernardo José Gandulla, que o C.R. Vasco da Gama, contratou do Ferro Carril Oeste, de Buenos Aires, no distante ano de 1939, junto com o ponteiro-esquerdo Emeal. Como não era dono do passe e a legislação esportiva da época não era muito clara sobre transferências internacionais, Gandulla ficou impedido de jogar.

Tremenda injustiça fazem alguns ditos ”pesquisadores” ao dizerem que o argentino era ruim de bola, por isso não era escalado, quando a verdade é outra. Para não se tornar inútil ao clube, Gandulla queria mostrar serviço e costumava correr em volta do gramado para devolver as bolas que saiam para fora. Esse costumeiro gesto do jogador foi bem recebido pelos torcedores, tanto que após retornar para a Argentina, em 1940, seu nome virou referência para a função de apanhador de bolas.

A segunda versão não é muito diferente da primeira. Ela procede da Argentina e também envolve o atacante Bernardo Gandulla, já quando defendia a equipe do Boca Juniors. Contam os colegas do vizinho país que em todos os jogos, ele mesmo corria atrás da bola para dar seqüência à partida. Dessa maneira Gandula conquistou a simpatia da massa torcedora, que via esse gesto como vontade de vencer e de jogar. Foi o que bastou para que a imprensa e os torcedores “porteños” passasem a chamar de “gandula” os pegadores de bola.

Mesmo não tendo boa sorte no Vasco da Gama, Bernardo José Gandulla foi destaque na Argentina como jogador e técnico. Sua carreira teve início no Ferro Carril Oeste em 1934. Fez parte de uma famosa linha atacante denominada “La Pandilla”, integrada por Además, Maril, Bornia, Sarlanga y Emeal. Cinco anos depois foi para o Vasco da Gama. Em 1940 transferiu-se para o Boca Juniors, onde teve oportunidade de mostrar todas as suas qualidades técnicas que o consagraram como verdadeiro craque. Era eximio armador de jogadas, além de grande capacidade para marcar gols. Só em 1940, seu primeiro ano no Boca, marcou 18 gols. Foi campeão argentino em 1940 e 1943, pelo clube de La Bombonera (Estádio Alberto J. Armando).

Em 1944, depois de se recuperar de uma grave contusão, Gandulla voltou ao seu clube de origem, o Ferro Carril Oeste, onde jogou por mais dois anos. Mesmo sendo considerado um “fora de série”, Gandulla vestiu a camisa da Seleção Argentina, em uma única oportunidade, em 1940. Em toda a carreira, disputou 249 partidas e anotou 123 gols. Além do Ferro Carril Oeste, Vasco da Gama e Boca Juniors, Gandula defendeu o River Plate, o Auxerre, da Suiça e o manchester City, da Inglaterra.

Gandula, após “pendurar as chuteiras”, se dedicou a treinar as categorias amadoras do Boca Juniors, ganhando o apelido de “Maestro”, pela capacidade de revelar bons valores para o futebol argentino, entre eles Rattin, Ponce e Mouzo. Como técnico de equipes profissionais, dirigiu o Boca Juniors nos anos de 1957 e 1958, e depois nas temporadas de 1967, 1971 e 1972.

Bernardo José Gandulla nasceu no dia 1 de março de 1916 e faleceu, vítima de problemas respiratórios em 7 de julho de 1999, aos 83 anos, em Buenos Aires, Argentina. Os restos mortais de Gandulla estão sepultados no Panteon do Boca Juniors, no cemitério de Chacarita. Sua importância para o futebol argentino é tão grande, que seu nome foi imortalizado no “Trofeo Gandulla”, que é dado ao melhor futebolista de cada ano. (Pesquisa: Nilo Dias)

O craque Gandulla, quando jogava no Boca Juniors (Foto: www.informexeneize.com.ar)