Um acidente de graves proporções aconteceu por volta de 23 horas da noite de ontem (15) envolvendo um ônibus da empresa Bosembecker, que transportava a delegação do G.E. Brasil, de Pelotas, que a tarde jogara e vencera por 2 X 1 uma partida amistosa na cidade de Vale do Sol, contra o F.C. Santa Cruz. O veículo seguia pela alça de acesso da RS-471 para rodovia BR-392, mas não conseguiu vencer uma curva acentuada, capotou na pista, passou sobre um guard rail e caiu em um barranco numa altura entre 40 a 50 metros, o equivalente a um prédio de 15 andares, ficando com as rodas para cima. O motorista não soube explicar como o acidente aconteceu.
O acidente deixou um saldo de três mortes: os jogadores Cláudio Milar, atacante,que marcou o primeiro gol do jogo realizado a tarde, e Régis, zagueiro e ainda o preparador de goleiros Giovani Guimarães. O goleiro Danrlei, ex-Grêmio, machucou um braço, foi socorrido e passa bem. O pronto-socorro de Pelotas atendeu 11 vítimas e três delas tiveram de ser operadas: os jogadores Edu e Xuxa e o auxiliar técnico Paulo Roberto, mas nenhuma corre risco de morte. No Hospital de Caridade de Canguçu, foram atendidas e liberadas 13 pessoas.
O velório será no Estádio Bento Freitas. O zagueiro Régis e o preparador de goleiros Giovani Guimarães serão sepultados no Cemitério de Pelotas hoje a noite. Já o corpo do atacante Claudio Milar será levado às 14 horas para ser sepultado em sua cidade natal, Chuy, no Uruguai, amanhã (sábado) as 10 horas.
O jogador uruguaio Claudio Milar era o principal jogador da equipe e maior ídolo da história recente do Brasil de Pelotas, tendo jogado mais de 200 partidas e marcado mais de 100 gols com a camisa rubro-negra. A forma como comemorava os gols se tornou marca registrada, ao imitar o mascote do clube – o índio xavante – como se jogasse uma flecha em direção às arquibancadas.
Milar era dono de uma habilidade fora do comum. Sua principal jogada consistia em avançar pela lateral do campo, chegar a linha de fundo e, com dribles curtos se aproximar do gol. Se não finalizava, deixava um companheiro na feição para marcar. Ele chegou ao G.E. Brasil em 2002. Depois, em 2004, quando de nova passagem pelo clube foi o artilheiro da segundona gaúcha, na campanha que levou o “xavante” de volta à primeira divisão.
Desde que vestiu a camisa vermelha e preta pela primeira vez, ganhou a admiração da torcida, que sentiu muito sua falta nas duas oportunidades em que deixou o Brasil para jogar em Israel e na Polônia. Foram ausências curtas e poucos meses depois estava de volta ao Bento Freitas, para ver seu rosto pintado em uma bandeira sempre pendurada no alambrado do estádio.
O uruguaio também se afeiçoou ao rubro-negro pelotense e a cidade. Levou seu pai para ser preparador físico do time. Tinha até cidadania brasileira. Nos anos de 2006 e 2008 participou das campanhas do clube na Série C do Campeonato Brasileiro e lamentava não ter conseguido realizar o sonho de subir à Série B. Aos 34 anos, deixou a mulher, Caroline, e um filho de três anos, Agustín.
Roberto Claudio Milar Decuadra, nasceu em 6 de abril de 1974, na cidade de Chuy, no Uruguai. Jogou de 1991 a 1997 no Nacional de seu país. Em 1997, transferiu-se para o Godoy Cruz, da Argentina. No ano seguinte foi contratado pelo Caxias, de Caxias do Sul. Em 1999 defendeu a Portuguesa Santista e depois o Santa Cruz, de Recife. No ano de 2000 vestiu a camisa do Náutico, de Recife. Em 2001 foi jogar no Club Africain, da Tunísia e na volta vestiu a camisa do Botafogo, do Rio de Janeiro.
Esse verdadeiro cigano do futebol em 2002 foi parar no LKS PTAK, da Polônia e no retorno ao Brasil foi contratado pelo Brasil, de Pelotas. Em 2003 aceitou convite para jogar no Hapoel Far Saba, de Israel. Em 2004 voltou ao Brasil, para sair em 2005 e jogar no Pogon, da Polônia. Em 2006 estava de volta a “taba xavante”, onde ficou até a morte.
Muitas tragédias já aconteceram pelo mundo envolvendo clubes de futebol. Em 4 de maio de 1949, após disputar um amistoso contra o Benfica, em Lisboa, o avião Fiat G212 que trazia a delegação da equipe italiana do Torino Calcio chocou-se contra a fachada da Basílica de Superga, próximo a Turin. Não houve sobreviventes. Nos funerais dos jogadores compareceram cerca de 500 mil pessoas.
Em 6 de fevereiro de 1958, o Manchester United, da Inglaterra, voltava de avião, da extinta Iugoslávia, onde havia feito um jogo pela Copa dos Campeões da Europa. O aparelho, um Bea Elizabethan G-ALZU, movido a hélice, não tinha capacidade suficiente de combustível para fazer o vôo direto entre Belgrado e Manchester, por isso aterrissou em Munique, na região da Baviera para reabastecimento. Havia mau tempo.
Duas tentativas de decolagem foram abortadas. Na terceira, um dos motores perdeu subitamente potência e o avião deslizou sem controle ao longo da pista, atravessando a rede do perímetro do aeroporto até parar, depois de bater numa casa abandonada e em várias árvores. Os bombeiros não demoraram mais que alguns segundos a chegar, mas já era tarde. No acidente morreram 28 pessoas entre passageiros e moradores do local da queda do avião. Oito jogadores estavam entre os mortos.
Em 03 de abril de 1961 o avião Douglas DC-3 da LAN Chile, prefixo CC-CLD-P210, realizava o vôo 210 trazendo de volta a equipe do Chile Green Cross (hoje Deportes Temuco) de uma partida em Osorno, pelo Torneio Apertura da Copa Chile. Voando com visibilidade ruim, chocou-se contra a Serra de Las Animas, na Cordilheira de Linares, matando todos os seus 20 passageiros e quatro tripulantes.
No dia 11 de agosto de 1979, uma colisão aérea entre dois aviões russos Tupolev 134As da Aeroflot, vitimou a equipe de futebol do Pakhtakor Tashkent, do Uzbequistão, que fazia o vôo 7880, rota Tashkent - Donetsk - Minsk sobre a antiga União Soviética. Uma falha do controle de tráfego aéreo da Rússia na separação aérea das aeronaves causou o choque entre elas, a 27,2 mil pés de altitude, que vieram a cair sobre a cidade de Dneprodzerzhinsk, na Ucrânia.
No avião prefixo CCCP-65735 da delegação do Pakhtakor Tashkent morreram todos os 84 ocupantes, entre eles os 14 jogadores e os três membros da comissão técnica. Na outra aeronave, a de prefixo CCCP-65816, morreram os 94 ocupantes. Computando as duas aeronaves o saldo foi de 178 mortos.
Em 24 de setembro de 1969, feriado local, a equipe do The Strongest foi convidada para participar de um jogo amistoso organizado pela Associação de Futebol de Santa Cruz de La Sierra. Na noite do dia 26 de setembro, soube-se que o avião, um DC-6 da Lloyd Aéreo Boliviano havia desaparecido. Passadas vinte e quatro horas do desaparecimento, e já sem muita esperança, o país recebeu a notícia: o avião havia se precipitado contra uma região montanhosa chamada La Cancha, na região mineira de Viloco, a cerca de 100 km de La Paz. Todos os 9 tripulantes e os 69 passageiros, entre os quais 16 jogadores, morreram.
Em 8 de dezembro de 1987 o time de futebol do Alianza Lima voltava, de avião, de uma partida na cidade de Pucallpa. Foi quando aconteceu a tragédia que matou toda a equipe e o corpo técnico do popular clube peruano. O acidente ocorreu de maneira estúpida. O Fokker F-27 da Marinha de Guerra do Peru, fretado pelo Alianza, chegou a sobrevoar o aeroporto Jorge Chávez, de Lima, para depois cair no mar, vitimando um total de 43 pessoas: 16 jogadores, seis integrantes da comissão técnica, quatro auxiliares, oito torcedores, três árbitros e seis tripulantes do avião. O único sobrevivente foi o próprio piloto, Edilberto Villar Molina, que depois viveria oculto, em outro país.
No dia 28 de abril de 1993 uma aeronave De Havilland DHC-5 da Força Aérea da Zâmbia, prefixo AF-319, que levava a Seleção do país para uma partida das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1994, explodiu logo após decolar de um aeroporto em Libreville, no Gabão, onde havia sido reabastecido. Dezoito jogadores, três dirigentes da Associação de Futebol da Zâmbia (FAZ) e cinco militares morreram. ((Pesquisa: Nilo Dias)
O uruguaio Millar era o maior ídolo da torcida "xavante" (Foto: Blog Xavante)
O ônibus caiu de uma altura equivalente a um prédio de 15 andares (Foto: Divulgação)