Quem viu a imagem do Papa João Paulo II em seus últimos dias de vida, fraco e deprimido pelo Mal de Parkinson, com certeza não acreditaria que aquele homem um dia foi atleta, praticante de várias modalidades esportivas. Karol Józef Wojtyła, nasceu no dia 18 de maio de 1920, na pequena cidade de Wadowice, ao Sul da Polônia, numa época de guerra entre seu país e a República Soviética.
Seu pai era um tenente reformado do exército dos Habsburgos, também chamado Karol Wojtyła de quem herdou o nome. Ao deixar o Exército dedicou-se a profissão de alfaiate, tendo tempo para ajudar na criação dos filhos. Karol tinha também um irmão mais velho, Edmund, que formou-se em Medicina.
Muito cedo Karol, que tinha o apelido de Lolek, conheceu a dor de ver seus familiares morrerem, um a um. Primeiro, em 1929, quando tinha 8 anos perdeu a mãe, Emilia Kaczorowska, vitimada por uma doença nos rins. Em 1931, aos 26 anos de idade morreu o irmão, de escarlatina contraída de um paciente. O pai morreu poucos dias antes de Karol completar 22 anos. Antes dos 21 anos, o futuro papa já havia perdido toda a sua família.
Aos 14 anos atuou como ator e roteirista em peças de teatro em Cracóvia e também trabalhou como britador em uma pedreira e até entrou na lista negra do nazismo, que ocupou a Polônia de 1939 a 1945. Foi prisioneiro em um campo de trabalhos forçados, o que evitou sua deportação à Alemanha nazista. Como qualquer jovem da sua idade, Karol gostava de jogar futebol e foi goleiro de uma equipe amadora de Wadowice.
Todas as biografias sobre Karol Wojtyla destacam seu verdadeiro amor pelo esporte e a atividade física. Quando Wojtyla foi eleito Papa em 1978, aos 58 anos, a imagem que apresentou ao mundo foi a de um esportista amante do montanhismo, da natação e do futebol. Segundo contou seu amigo e médico Jerzy Kluger, que o visitava de vez em quando no Vaticano, Wojtyla jogava futebol e era um bom goleiro.
Wojtyla costumava organizar as "peladas", em que se enfrentavam católicos contra judeus. "Mas se os judeus, como freqüentemente sucedia, estavam em inferioridade numérica, ele (Karol Wojtyla) mudava de equipe", lembra Kluger, que é judeu, mora em Roma e participou dessas brincadeiras, ao lado de outros amigos da escola, os judeus Zygmunt Selinger, Leopold Zwieg e Poldek Goldberger, que também era goleiro.
Naquelas "peladas", o jovem Wojtyla desenvolveu uma autêntica paixão pelo esporte e seus valores como fonte de saúde, de força mental e de solidariedade, atributos que tanto o ajudariam depois para enfrentar o atentado que pôs em perigo sua vida. Até hoje romeiros ainda visitam o país para ver o campo onde ele jogava.
Quando não estava jogando, Karol nadava em rios com seus amigos, nos meses mais quentes. No inverno, ele jogava hóquei e esquiava. "Não havia muitos meios de subir as montanhas naquele tempo", disse Jerzy Kluger: "Costumava-se andar três, quatro, cinco horas para chegar ao topo e descer por sete minutos."
Conforme amadurecia, o jovem polonês ia praticando outros esportes, sem esquecer em momento algum sua paixão pelo futebol. Hóquei sobre gelo, esqui, canoagem, ciclismo, natação e montanhismo foram algumas de suas atividades preferidas. Decidiu abraçar o sacerdócio - mas todos os seminários foram fechados pelos invasores alemães. Mas conseguiu ser acolhido de forma clandestina pelos religiosos sobreviventes.
Só depois que entrou no seminário e sua posterior ordenação como padre, aos 26 anos, é que Wojtyla começou a ter dificuldades para praticar diariamente o esporte. Sua agenda ficou ainda mais atribulada quando foi nomeado bispo de Ombi e arcebispo auxiliar da Arquidiocese da Cracóvia, em 1958. Ao ser investido como Papa, João Paulo II pediu que a cerimônia fosse pela manhã para não perder um jogo de futebol na televisão. Era torcedor do SSA Wisla Krakow, time da Polônia.
O escritor George Weigel, autor de uma extensa biografia do sumo pontífice disse que "na juventude, ele jogava futebol, esquiava e caminhava. Quando era um jovem padre, ele ficou muito envolvido em fazer palestras sobre o assunto para universitários".
Graças à iniciativa do cardeal Basil Hume, um grupo de católicos ingleses ofereceu uma piscina ao Papa, que foi construída no coração dos jardins de sua residência de verão de Castelgandolfo, perto de Roma, onde nadava todos os dias. Em seus primeiros 15 anos como papa, ele tirou períodos para esquiar e, milagrosamente, conseguiu que os “paparazzi” italianos o deixassem em paz. Em 1984 ele esquiou na montanha italiana do Ademello junto com o também falecido presidente Sandro Pertini.
O papa já havia deixado de esquiar há anos, mas Kluger diz que ele nadou na piscina do castelo até agosto de 2002. O Papa gostava tanto de nadar que passou as vésperas dos conclaves de 1978 na "praia dos cardeais" 30 km ao norte de Roma.
João Paulo II sempre foi fascinado pelas montanhas, mas teve de renunciar às suas caminhadas a partir de 1995, depois de uma cirurgia no fêmur, e por causa do Mal de Parkinson. O Pontífice gostava de se encontrar com os velhos montanheses durante suas excursões.
João Paulo II foi o primeiro Papa fotografado com roupa esportiva, sem a habitual túnica branca. Também foi o primeiro pontífice da história contemporânea que foi a um campo de futebol para presenciar uma partida completa, que foi disputada no estádio Olímpico de Roma em 29 de outubro de 2000. Cerca de 70 mil pessoas receberam o Papa no estádio com uma "ola".
Naquele jogo que marcou as comemorações do Jubileu dos Desportistas se enfrentaram a Seleção da Itália e o Resto do Mundo, que contou com jogadores católicos, anglicanos, protestantes, muçulmanos, evangelistas, ortodoxos, budistas e, inclusive, um ateu. João Paulo II deu o pontapé inicial do jogo. Antes, ele celebrou uma missa no estádio.
Em 2005, o Pontífice recebeu em audiência os jogadores e técnicos do time de futebol da Cracóvia, que lhe deram de presente a camisa número um, com seu nome nas costas, como lembrança de quando jogava como goleiro. O Papa recebeu inúmeras delegações da Fifa durante o transcurso do seu pontificado. Sua Santidade acolheu, entre outros, o corpo de árbitros do Mundial de 1990, assim como as equipes “All Stars” da Fifa e a Liga Transalpina, que se enfrentaram em 1998, por ocasião do centenário da Federação Italiana de Futebol.
Sendo o sumo pontífice que mais viajou na história da igreja, João Paulo II dividiu as atenções por diversas vezes com alguns dos maiores atletas do mundo. Ele abençoou a Ferrari e o heptacampeonato do piloto Michael Schumacher.
Em junho de 2001 o Papa ganhou a primeira camiseta fabricada pela Roma após o título do campeonato italiano daquele ano. A camisa vermelha e dourada com o “scudetto'' pintado nas cores da bandeira italiana foi entregue ao Papa com o sobrenome dele nas costas, “Wojtyla'' é o número 1. “O número 1 é porque o Papa é número 1'', disse o presidente da Roma, Franco Sensi. “O número 1 é também porque Karol Wojtyla jogava de goleiro quando era jovem e porque é a primeira camiseta oficial do ''scudetto'' que temos impressa''.
Karol Józef Wojtyła foi tema do documentário “João Paulo II fala de Esporte”, apresentado durante o “Festival de Cinema Desportivo”, realizado na cidade de Milão, em 2003. O filme foi produzido por Mário Farneti e Massimo Lavena com material oferecido pelo Centro Televisivo Vaticano (CTV), com destaque para imagens do pontífice nunca antes difundidas. A obra foi filmada, na sua maior parte, no interior da casa-museu de Karol Wojtyla em Cracóvia, onde há um acervo de fotografias e objetos relacionados às várias atividades desportivas praticadas pelo Papa, desde o montanhismo até canoagem.
Ron Balamuth, herdeiro dos antigos proprietários vendeu por um milhão de dólares a casa onde Karol Wojtyla nasceu, em 18 de maio de 1920, e viveu até os 18 anos. O comprador, um milionário norte-americano se comprometeu a manter o museu e a criar um lugar em homenagem às vítimas do Holocausto. Criado em 1984, o museu João Paulo II recebe 5 mil visitantes por dia.
Entre os objetos guardados na casa da rua Kanonicza, estão a escrivaninha usada pelo papa quando era professor universitário, a máquina de escrever com a qual redigiu boa parte de seus ensaios, o guarda-roupa e uma espécie de divã que usava como cama. No quarto, dois pares de esquis representam fases distintas na saúde do papa: um deles, o primeiro que usou, quando ainda era jovem e esportista aficionado. O segundo par foi o último a utilizar antes de ser obrigado a abandonar qualquer prática esportiva.
Das imagens da vida de João Paulo II, apresentadas no documentário, poucas são mais curiosas que aquela em que aparece vestido com short e camiseta de manga curta, os óculos presos com esparadrapo, correndo atrás de uma bola, perseguido por dois rivais em um jogo de futebol. A foto foi publicada na capa do jornal "La Gazzetta dello Sport", ilustrando um artigo intitulado "O atacante de Deus" (na Itália, o papa ficou conhecido como "o Atleta de Deus").
De suas virtudes como atacante pouco se sabe. Existem testemunhos de amigos de seus anos de juventude em Wadowice, sua cidade natal, como o do médico judeu Jerzy Kluger, companheiro de escola do Papa polonês, que destaca que Karol Wojtyla jogava habitualmente como goleiro e era bom nesse posto. Além do Pontífice futebolista, o documentário apresenta imagens de Karol Wojtyla praticando outros esportes, como canoagem, esqui, hóquei sobre o gelo, ciclismo, natação e caminhada.
Fez grande sucesso na Itália a versão em quadrinhos da vida do papa João Paulo II, publicada em capítulos pela revista infanto-juvenil “Il Giornalino.” Aprovada pelo Vaticano, a série abordou o cotidiano de Karol Wojtyla antes de se tornar o chefe da Igreja Católica. Uma seqüência mostrou o futuro papa jogando futebol. O sucesso da marca João Paulo II foi grande. Um CD com orações e pronunciamentos do pontífice, tendo ao fundo canções de compositores italianos, alcançou boa vendagem em todo o mundo.
Em seus discursos costumava destacar a importância do futebol para a promoção de valores como a tenacidade, o espírito de sacrifício, o respeito mútuo, a lealdade, a amizade e o trabalho em equipe. "O futebol é um método excelente de promover a solidariedade em um mundo afetado pelas tensões raciais, sociais e econômicas", disse em 11 de dezembro de 2000 ao receber em audiência privada uma comissão da Fifa liderada por seu presidente, Jospeh Blatter.
Mas nem tudo são elogios em João Paulo II, já que em mais de uma ocasião alertou sobre o risco de que o materialismo que invadiu o mundo do futebol promovesse uma cultura de cobiça e egoísmo, em detrimento do valor esportivo. "No futebol, como no resto dos esportes, deve prevalecer o ser sobre o ter", disse o Pontífice, em referência às grandes quantias de dinheiro que são movimentadas em torno do futebol, em uma audiência com diretores da Uefa em maio de 2000.
Além de João Paulo II, o Papa Sixto IV, que governou a Igreja entre 1471 e 1484, também gostava de esportes. Sabe-se que ele organizou um jogo de futebol florentino, disputado por homens vestidos com trajes típicos da Florença, que foi realizado durante todo um dia no pátio do Belvedere, dentro do Vaticano. (Pesquisa: Nilo Dias)
Em 29 de outubro de 2000, no Estádio Olímpico de Roma o Papa assistiu o jogo entre Seleção da Itália X Resto do Mundo. João Paulo celebrou Missa e deu o pontapé inicial do jogo. (Foto: Divulgação)
COMENTÁRIOS DE LEITORES
Mérlim Compulsivo e outras cositas mas disse...
Só gostaria de falar que o Papa em questão é o segundo João, não o sexto.
Abraço
25 de março de 2009 14:47
OBSERVAÇÃO DE NILO DIAS REPÓRTER...
Agradeço a colaboração. Realmente houve um erro de grafia no primeiro parágrafo, que já está corrigido.
2 de abril de 2009 07:45