S.C. Internacional, um gigante de 100 anos (2)
Os primeiros treinos do Inter, em 1909, foram em um terreno baldio no fim da Rua Arlindo, entre a Saldanha Marinho e José de Alencar. Em 1910 o time foi para o Campo da Várzea, dividido com o time do Colégio Militar, na Volta do Cordeiro (referência ao comerciante português José Antônio Cordeiro, que cedeu um galpão onde os jogadores guardavam as goleiras depois de cada treino e jogo, para evitar que elas fossem roubadas por ladrões de madeira).
Sulcos no chão eram marcados com leite de cal para demarcar as linhas do gramado, em dias de futebol. Depois de algumas divergências com os alunos do Colégio Militar, em 1912 o Inter alugou a Chácara dos Eucaliptos. Era uma alameda com frente para a Rua da Azenha, no início da José de Alencar, o primeiro local de jogos exclusivo do Inter. Tinha uma cerca de tábuas e um portão de madeira firmado em colunas de alvenaria, parapeitos, vestiários com cobertura de zinco e chuveiros, e arquibancadas de madeira, construídas nos próprios eucaliptos, que firmavam a sua estrutura.
O primeiro jogo da história do S.C. Internacional foi um amistoso frente o Militar F.C., disputado no dia 7 de setembro de 1909, no campo da Escola de Guerra de Porto Alegre, que terminou empatado em 0 x 0. No dia 12 de outubro, em nova partida contra o Militar, perante cerca de mil expectadores o Internacional obteve sua primeira vitória, 2 X 1. O meia Benjamin Vignoles marcou o primeiro gol da vida do clube e também os dois da partida. O juiz foi Carlos Moreira.
O primeiro Gre-Nal foi disputado no dia 18 de julho de 1909, no Estádio da Baixada, no bairro Moinhos de Vento, contra a vontade do presidente João Leopoldo Seferin, que considerou uma loucura bater-se contra tão poderoso adversário. Mas foi derrotado pelo entusiasmo de Antenor Lemos, um pelotense que marcaria de forma notável a sua trajetória no clube. O Grêmio, tinha seis anos de fundação, jogara um total de 16 partidas, 15 contra o Fuss-Ball PortoAlegre e uma contra o S.C. Rio Grande. O Internacional tinha apenas três meses. O resultado não poderia ser outro, uma goleada de 10 X 0.
Logo depois do insucesso contra o Grêmio, alguns meses após a fundação, e com a demissão do primeiro presidente, o Internacional adotou aquele que viria a ser seu uniforme atual: camisas vermelhas, escudo na altura do coração, frisos brancos nas mangas, golas, calções e meias brancas.
Antenor Lemos, o desafiante do primeiro Gre-Nal nutria forte ódio contra o rival. Certa feita, quando era presidente da Federação e percebeu que o Grêmio ganharia uma pendenga, convocou uma reunião para uma sala fechada e distribuiu charutos para os representantes dos clubes. Quando chegou o dirigente do Cruzeiro, um senhor asmático e favorável a tese gremista, a sala estava cheia de fumaça. Não deu outra, arquejando e tossindo o cruzeirista teve que ir embora e a votação terminou empatada. Antenor deu o voto de minerva, naturalmente favorável a tese do Internacional.
A primeira vitória contra o rival aconteceu no dia 31 de outubro de 1915, por 4 X 1, em plena Baixada. Os gols colorados foram marcados por Muller, Bedionda (2) e Túlio. Sisson descontou para os tricolores. A arbitragem foi do tenente Aristides Prado. Ao término do jogo Antenor Lemos gritou a plenos pulmões: “Está quebrado o lacre, está quebrado o lacre”.
Em 30 de julho de 1916, o Inter aplicou mais uma goleada no rival: 6 X 1, já na Chácara dos Eucaliptos. O ponta-esquerda Francisco Vares jogou como se estivesse possuído e marcou todos os seis gols do Inter. Scalco fez o gol solitário do Grêmio. A partir desses dois jogos o Internacional passou a ter uma superioridade de vitórias sobre o rival, que permanece até hoje.
Até o ano de 1909, nenhum campeonato de futebol havia sido realizado no Rio Grande do Sul. Eram jogados apenas amistosos entre os clubes da capital e do interior. No ano de 1910 foi fundada a Liga de Foot-Ball Porto-Alegrense, que de imediato organizou o primeiro campeonato entre os times de Porto Alegre. Participaram sete equipes: Grêmio, Internacional, Fussball, Nacional, 7 de Setembro, Frisch Auf e Militar, que se sagrou campeão. O Inter foi terceiro colocado. Os clubes se enfrentaram em turno único.
No final de 1910 a Escola de Guerra foi transferida para o Rio de Janeiro o que ocasionou a extinção do Militar. O Frisch Auf também afastou-se da Liga, reduzindo para cinco o número de clubes participantes: Internacional, Grêmio, Fussball, Nacional e 7 de Setembro. O Grêmio foi campeão e o Inter vice.
Em 13 de agosto de 1911 o Internacional disputou sua primeira partida intermunicipal, quando foi a São Leopoldo e perdeu para o Ginásio Conceição por 4 X 1. Essa mesma equipe leopoldense derrotou logo depois a seleção porto-alegrense. Em jogo revanche, disputado em Porto Alegre o Inter venceu por 2 x 1.
Jogavam no Ginásio Conceição alguns jogadores de Santana do Livramento: Ávila, Felizardo e Simão. Com a ajuda de Lay, também santanense, os três foram convidados a transferirem-se para o Internacional. Pouco depois veio Bendionda, irmão de Ávila e Felizardo, e um dos primeiros craques colorados.
Com o ano de 1912, veio para o Inter a certeza de melhores resultados. Seus treinos eram realizados em uma vasta área situada no campo da Redenção. Ainda nesse ano, aproveitando o intervalo do primeiro para o segundo turno, o clube fez uma visita a Pelotas, disputando lá dois jogos: vitória de 6 X 0 contra o Sport Club União e derrota de 2 X 1 para o Pelotas. Nessa ocasião, o Inter conquistou a sua primeira taça, graças à vitória contra o União. No campeonato da cidade, foi novamente vice-campeão.
A chegada do ano de 1913 apresentou mudanças no rumo do futebol no Rio Grande do Sul. O Internacional, com apenas quatro anos de fundação, conquistou por cinco anos consecutivos o campeonato da cidade de Porto Alegre. Isso trouxe a impressionante marca de que, com apenas oito anos de idade, o colorado já era Pentacampeão Porto-Alegrense.
O título citadino de 1913, conquistado de forma invicta, foi o primeiro da história colorada. No jogo final, realizado dia 11 de agosto de 1913, o Internacional massacrou o S.C. Nacional com um retumbante 16 X 0, até hoje a maior goleada aplicada pelo clube. O jogo foi disputado no antigo Estádio da Baixada. Os gols foram marcados por Vares (4), Galvão (4), Pedro Chaves (3), Túlio (3), Carlos Kluwe (1) e Scabilion (1). Depois, o Internacional emendou conquistas ganhando os campeonatos municipais de 1914, 1915, 1916 e 1917.
A seqüência foi interrompida em 1918, por força do surto de febre espanhola que atingiu todo o mundo. O time do Internacional era formado na maioria por estudantes, e como as escolas e as faculdades suspenderam as aulas com receio de contágio, ficou praticamente sem ter quem colocar em campo para jogar. Nos anos de 1920 e 1922, voltou a ser campeão, mas a Federação Riograndense de Desportos (FRGD), liderada por um gremista, Aurélio Py, preferiu reconhecer a liga dissidente gremista em lugar da liga oficial da cidade. Assim, o Colorado ficou de fora do campeonato estadual.
Em 1919 também começou a ser disputado o campeonato gaúcho, que se baseava em uma pequena série de jogos entre o campeão da capital e o campeão do interior. No primeiro “Gauchão”, o G.E. Brasil, de Pelotas, conquistou o título.
A partir da década de 1920 o Internacional começou a viver uma nova fase, quando abriu a sua sede e deu lugar no time aos jogadores que pertenciam às muitas ligas que organizavam competições entre clubes representativos de negros. Entre elas, a famosa “Liga da Canela Preta”, de funcionários públicos, comerciários e estivadores.
Até então, o clube já havia conquistado cinco campeonatos da cidade. Mas fazia dois anos que o fato não se repetia. Por causa disso, Antenor Lemos assumiu a presidência, conquistando o 2o lugar no campeonato citadino logo em seu primeiro ano de mandato. Também nesse ano o Grêmio se retirou da liga de futebol, começando a participar somente da Associação Porto-Alegrense de Foot-Ball.
Com o tempo, o Internacional foi melhorando em todos os sentidos. Já era detentor de uma invejável posição no Rio Grande do Sul, pois era um dos únicos clubes que não devia dinheiro a ninguém, além de possuir um excelente plantel de jogadores: Bard, Meneghetti, Só, Ribeiro, Lampinha, Moreno, Rosário, Ary, Genny e Maia. Foram esses os jogadores que reconquistaram o campeonato da cidade, no mesmo ano.
O ano de 1922 marcou o centenário da independência e também foi declarado “Ano Santo” pela Igreja Católica. Em alguns casos falava-se em campeonato do centenário, em outros, em campeonato do “Ano Santo”. A Associação Portoalegrense de Desportos (APAD) optou por organizar o campeonato do “Ano Santo”. O Internacional começou o ano vencendo o Torneio Início, em abril.
Em junho a Sociedade Carnavalesca Filhos das Ondas organizou um concurso para saber qual o clube esportivo de maior simpatia na cidade. O público votou em cupons localizados na sede da entidade e em uma loja do centro de Porto Alegre, até o dia 05 de julho. Em 24 de junho os clubes mais votados foram o Barroso, Internacional, Ciclista Riograndense e Concórdia.
Em 08 de setembro o Internacional venceu o Torneio do Centenário, levando o troféu "Bronze da Independência", oferecido pelo Governo do Estado. Além do Internacional, participaram Cruzeiro, Porto Alegre, São José, Americano, Tabajara, Ypiranga, Riograndense (Rio Grande) e Brasil (Pelotas). A disputa foi em forma de torneio início. Equipe campeã: Bard - Meneghetti e Só – Ribeiro - Lampinha e Moreno – Rosário – Ary – Genny - Eduardo e Gallego.
No ano de 1923, Antenor Lemos recebeu o título de Sócio Benemérito do Inter, por sua atuação em três anos de extrema dificuldade para o clube. Ele costumava dizer o seguinte, quando se sentia inconformado com as derrotas: "a vitória material foi deles, mas a moral que é a que interessa e foi nossa".
Antenor Lemos sempre tentou agravar a rivalidade já existente na época entre o Internacional e o Grêmio, chamando o clube rival de "grupo de almofadinhas", enquanto o colorado era o "clube do povo". Isto ficou evidenciado quando, no ano de 1925, Lemos introduziu no plantel do time um jogador negro, Dirceu Alves, que atuava como zagueiro. Durante vinte anos, Antenor Lemos trabalhou no Internacional. Nesse tempo, dedicou-se de corpo e alma ao seu clube de coração, tendo uma grande importância na história do Internacional. (Pesquisa: Nilo Dias)