Apenas dois técnicos não brancos dirigiram a Seleção Brasileira de Futebol. Gentil Cardoso, em 1949, quando uma seleção pernambucana representou o Brasil no Campeonato Sul-Americano Extra. O outro foi Vanderlei Luxemburgo.
Chama atenção a quase ausência de técnicos negros no nosso futebol. Atualmente na Série A, do Campeonato Brasileiro parece que tem apenas Hélio dos Anjos, no Goiás. No passado não foram muitos os famosos. Talvez o primeiro técnico negro no Brasil tenha sido Gentil Cardoso. Como suboficial da Marinha, viajou pela Europa, estudando os segredos do sistema WM. Também teve Didi, que após pendurar as chuteiras, foi ser técnico. Obteve triunfos memoráveis com a seleção peruana na Copa de 70.
Valmir Louruz, que formou a dupla de zaga colorada com Scala, também foi técnico. Levou o Juventude de Caxias do Sul à conquista da Copa do Brasil de 99, façanha que garantiu o time da serra gaúcha na taça Libertadores do ano seguinte.
Apenas para ilustrar esta pesquisa, lembro alguns atos de racismo ocorridos no futebol brasileiro e mundial nos últimos anos.
Em 2001, durante um amistoso entre Polônia e Islândia, torcedores poloneses jogaram bananas no campo. Olisadebe foi o primeiro jogador negro a vestir a camisa da seleção polonesa e, apesar de ter marcado oito gols nas Eliminatórias para a Copa de 2002, foi alvo de insultos.
O atacante italiano Balotelli esteve em um evento com a seleção italiana sub-21 em Roma. Torcedores da Roma atingiram duas bananas no jogador, que foi parabenizado pelo treinador Casiraghi por não reagir e minimizar o caso.
No início de sua carreira no clube espanhol Barcelona, o camaronês Eto’o era alvejado por bananas toda vez que pegava na bola. Ele foi alvo de insultos racistas na partida entre Barcelona e Getafe, válida pelo Campeonato Espanhol. Cerca de 50 torcedores do Getafe imitavam macacos cada vez que o jogador tocava na bola.
Em 2004, os jogadores Juan e Roque Júnior foram ofendidos pela torcida do Real Madrid. Eles defendiam o clube alemão Bayer Leverkussen na Copa dos Campeões. Toda a vez que pegavam na bola, os torcedores espanhóis imitavam macacos. O Real Madrid foi obrigado a pagar 10 mil euros de multa pela agressão.
O mesmo ocorreu com o jogador Roberto Carlos, também em 2004. Toda vez que ele e os outros jogadores negros do Real Madrid pegavam na bola em um jogo contra o Atlético de Madrid, os torcedores atleticanos imitavam sons de macacos. O clube dos ofensores foi multado em 600 euros. O caso foi parar na Federação Espanhola de Futebol, pois o Atlético poderia ter sido cúmplice ao permitir que o som da torcida fosse ouvido no sistema de som do estádio.
A Nike lançou em fevereiro de 2005 uma campanha contra o preconceito no futebol. Lançada durante uma partida do Paris Saint-Germain contra o Lens, contou com a participação de jogadores como Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Adriano. Na mesma ocasião, torcedores ergueram bandeiras com o símbolo nazista e uma faixa dizendo “Adiante, brancos”.
Também em fevereiro de 2005, o árbitro Alfonso Perez Burrull teve que interromper um jogo entre o Málaga e o Espanyol. Sempre que o goleiro do Espanyol, Carlos Kameni pegava na bola, a torcida imitava macacos.
O zagueiro Fabão acusou o atacante argentino Frontini de tê-lo chamado de Macaco durante uma partida contra seu time, o São Paulo, e o Marília.
Em fevereiro de 2005, Ronaldo “Fenômeno” perdeu a cabeça e arremessou uma garrafa de água contra três homens que o chamaram de “Negro gordo”. O incidente ocorreu numa partida do Real Madrid, na época time do craque, contra o Málaga. No dia seguinte, ele se redimiu pedindo desculpas.
O zagueiro Wellington Paulo, do América-MG, levou uma suspensão de 30 dias por cahamar o colega de time André Luiz de macaco.
Em abril de 2005, o zagueiro argentino Leandro Desábato xingou o atacante Grafite de “negrito de mierda”. Os times de ambos – Quilmes e São Paulo, respectivamente – jogavam uma partida pela Taça Libertadores da América. A televisão registrou o momento e, pouco depois do término do jogo, o agressor foi preso por crime de racismo. Ele pagou uma fiança de 10 mil reais e acabou extraditado do Brasil.
Poucos dias depois, em um jogo do Quilmes contra o River Plate (Campeonato Argentino), torcedores racistas ergueram faixas reiterando os xingamentos a Grafite. Uma o chamava de “Macaco” e outra de “Branca de Neve”.
Também em 2005, foi a vez do volante Tinga, que defendia o Internacional, ouvir ofensas racistas. Porém, os gritos de "macaco" não vieram de um jogador adversário, mas sim da torcida do Juventude, em um duelo no Alfredo Jaconi pelo Brasileirão. Ao contrário de Elicarlos e Grafite, Tinga não levou o caso para a polícia e preferiu deixar na mão do árbitro o relato do ocorrido na súmula da partida.
O atacante Marco Antônio, do Campinense, acusou o árbitro Genival Batista Júnior de tê-lo chamado de "negro safado" e "macaco" durante um jogo valendo pelo campeonato Paraibano, em maio de 2005. Genival se justificou dizendo ter levado uma cabeçada do jogador, mas os responsáveis pelo caso não viram nada no vídeo da partida.
Em 12 de setembro de 2005, o goleiro Felipe entrou com uma queixa por racismo contra o então presidente do Vitória, Paulo Carneiro, porque ele havia lhe chamado de “negro safado”, “preto vagabundo” e “vendido”. O bate-boca ocorreu após o empate contra a Portuguesa, em um jogo do Campeonato Brasileiro. O resultado levou ao rebaixamento do clube para a segunda divisão. Por causa do incidente, Carneiro foi afastado da diretoria.
No Sesi do Cabo (PE), nas comemorações do dia 1º de Maio de 2006, numa decisão por pênaltis, o juíz Édson da Hora expulsou um batedor, após este fazer o gol e gritar; “Pega a bola, negro safado.”
Outro caso de racismo pôde ser visto em 2006, quando o zagueiro Antônio Carlos, do Juventude, teria chamado o volante Jeovânio, do Grêmio, de macaco. O primeiro foi expulso após agredir o adversário com uma cotovelada e, ao sair de campo, teria chamado Jeovânio de "macaco" - esfregou os dedos no braço para indicar a cor do volante gremista.
Na pré-temporada do Flamengo em Teresópolis, em 2008, durante um jogo-treino contra o Huracán Buceo, do Uruguai, os jogadores rubro-negros acusaram o zagueiro Fernando Caballero de ofensas raciais. No primeiro tempo, o uruguaio se desentendeu com Toró e houve bate-boca. Ibson, defendendo o companheiro, gritou: “Não vem de racismo aqui!” Toró confirmou a ofensa ao final da partida. A palavra usada pelo uruguaio teria sido "macaco". (Pesquisa: Nilo Dias)
O caso Desábato-Grafite, teve grande repercussão.