O Rio-Grandense tinha, em 1937, um técnico que marcaria época no futebol brasileiro: Gentil Cardoso, que era tenente da Marinha e veio transferido para Rio Grande. Em pouco tempo estava adaptado à cidade. Apaixonado por futebol conheceu gente ligada ao Rio-Grandense. O convite para treinar a equipe não demorou. Gentil Cardoso já tinha experiência de sobra, pois fora centro-avante de equipes pernambucanas e treinador na própria Marinha, no Sirio, Bonsucesso e América, todos do Rio de Janeiro.
Mas foi no provinciano Rio-Grandense, de uma cidade interiorana que Gentil Cardoso revolucionou o futebol brasileiro, ao introduzir no país o sistema de jogo WM, que havia observado na equipe inglesa do Arsenal, quando de uma viagem à Inglaterra.
E graças a essa moderna tática o clube foi o grande destaque do futebol gaúcho por alguns anos. Fez um trabalho admirável e levou o “colorado” ao título maior do Estado em 1939. Mais uma honra para a cidade de Rio Grande: não só o futebol deu seus primeiros passos por aqui, com o S.C.Rio Grande, mas também o futebol moderno começou a ser praticado nestas bandas com o F.B.C. Rio-Grandense.
Gentil Cardoso também se destacou por ser um sujeito folclórico. E essa herança ele deixou ao Rio-Grandense, que até hoje mantém a fama de clube folclórico. Muitas são as histórias e vários os personagens que colaboraram para isso. O que se seguiu todos sabem. Fez um trabalho admirável e levou o “colorado” ao título maior do Estado em 1939.
Pernambucano do bairro da Torre, Recife, Gentil Cardoso foi mestre em tiradas rápidas e inteligentes. Antes dos jogos do Rio-Grandense, costumava cobrir as paredes do vestiário com frases de sua autoria. Era uma forma que o técnico encontrou para estimular os jogadores na busca da vitória.
Depois de Rio Grande Gentil Cardoso ganhou o Brasil e o mundo. Treinou vários clubes do futebol brasileiro, entre os quais Fluminense, Bangu, Vasco da Gama, Portuguesa de Desportos, Ponte Preta, São Paulo, Sport Recife, Santa Cruz e Náutico (foi o primeiro negro a ser contratado pelo Náutico do Recife em 59 anos de existência).
Cardoso treinou a Seleção Brasileira em 1959 e todos os grandes clubes do Rio de Janeiro e de Pernambuco. Esteve no Pará, no Sporting de Portugal, onde foi campeão nacional, no Corinthians (SP) e na Ponte Preta. No futebol gaúcho, além do Rio-Grandense, dirigiu o Cruzeiro, de Porto Alegre, em 1951, sendo campeão do Torneio Início da Capital.
Na fase regional do Estadual de 1937 o Rio-Grandense, treinado por Gentil Cardoso, eliminou o Brasil de Pelotas. No primeiro jogo, disputado em Pelotas houve empate em 1 X 1. Carruíra marcou o gol colorado. No segundo jogo, realizado em Rio Grande o Rio-Grandense venceu por 4 X 3, com gols de Cardeal, Plá, Mariano (pênalti) e Carruíra (2).
O F.B.C. Rio-Grandense utilizou nesses jogos os seguintes atletas: Portugal (Fagundes) - Patrício (Joaquinzinho) e Cazuza – Hermes - Alfinete e Mariano - Cleto (Pons) (Duarte) – Carruíra – Cardeal - Chinês e Plá. Nas fileiras do grêmio portuário, sobressaía-se um trio de ataque infernal: Oscar, Carruíra e Chinês. Este último era um verdadeiro tormento às defesas contrárias.
Houve uma grande confusão após o jogo, pois o juiz anulou dois gols do G.S. Brasil anotados por Fernandinho. No gol de Carruíra, que deu a vitória ao Rio-Grandense houve reclamações dos jogadores xavantes que alegaram falta em Chiquinho. O trem que levou a torcida rubro-negra até Rio Grande foi apedrejado.
Na fase final participaram Riograndense F.C. (Santa Maria), campeão da Zona Serra; G.S. Ferroviário (Bagé), campeão da Zona Sul; Grêmio Santanense (Sant’Anna do Livramento), campeão da Zona Fronteira; F.B.C. Rio-Grandense (Rio Grande), campeão da Zona Litoral e S.C. Novo Hamburgo, campeão da Zona Centro.
A dupla Gre-Nal não disputou o torneio, uma vez que estava participando da “Amgea Especializada”, uma das primeiras tentativas de profissionalismo no futebol do Rio Grande do Sul. As finais do Campeonato foram disputadas de dezembro de 1937 a fevereiro de 1938.
Em 26 de dezembro de 1937 o F.B.C. Rio-Grandense goleou o G.S. Ferroviário (Bagé), por 3 X 0. Em 9 de janeiro de 1938 bateu o Grêmio Santanense por 2 X 0, gols de Plá. Em 16 de janeiro de 1938, no estádio da avenida Bento Gonçalves, em Pelotas, o Grêmio Santanense venceu por 3 X 2. O F.B.C.Rio-Grandense jogou com Portugal – Patrício e Cazuza – Hermes - Alfinete e Mariano – Cleto – Carruira – Cardeal – Chinês e Plá.
Com os dois times empatados, foi preciso a realização de um jogo desempate. Novamente em Pelotas, no dia 19 de janeiro de 1938, empate em 3 X 3 num confronto tumultuado. O Rio-Grandense vencia por 3 X 2, quando foi marcado um pênalti para os santanenses. Após a cobrança e o gol de empate, houve briga e o jogo foi finalizado.
Assim, a F.R.G.D. marcou uma quarta e decisiva partida, para o Estádio Estrela D’alva, em Bagé, no dia 6 de fevereiro, quando, finalmente, saiu o campeão de 1937, o Grêmio Santanense, que venceu por 4 X 0, gols de Bido (2), Zorro e Tom Mix. O juiz foi o tenente Eloy de Menezes, ex-defensor do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro e integrante da equipe do Guarany F.C. de Bagé. (Pesquisa: Nilo Dias)
Lance de um jogo do F.B.C. Rio-Grandense, em 1937. (Foto: Acervo do F.B.C. Rio-Grandense)