segunda-feira, 13 de julho de 2009

Gre-Nal, um clássico de 100 anos (01)

Ninguém mais duvida. O Grenal é hoje o maior clássico do futebol brasileiro e um dos maiores do mundo, superando em rivalidade Vasco X Flamengo, Flamengo X Fluminense , Corinthians X Palmeiras e Cruzeiro X Atlético, entre outros de menor expressão. A revista “Trivela”, produzida pela Editora Confiança, a mesma da revista “Carta Capital” publicou em sua edição de outubro do ano passado, uma pesquisa feita com jornalistas de todo o país que elegeram o clássico gaúcho como o principal do Brasil e Real Madrid X Barcelona, o maior do mundo.

A rivalidade do Grenal teve início antes mesmo do Internacional ser fundado. Integrantes da família Poppe, Henrique, José e Luis chegaram a Porto Alegre, em 1908, vindos de São Paulo. Eram aficionados do novo esporte, que haviam praticado no Internacional, clube da capital paulista. Em Porto Alegre não foram aceitos como sócios do Grêmio para jogar futebol, sob a desculpa de que não eram pessoas conhecidas na cidade. Descontentes com a negativa, eles resolveram criar um novo clube na capital gaúcha, nascendo assim o S.C. Internacional.

No próximo dia 18 o clássico completará 100 anos. Uma curiosidade, o clássico tem numeração específica. O primeiro Grenal foi disputado no velho Estádio da Baixada, do Grêmio Portoalegrense, no bairro Moinhos de Vento, na tarde de 18 de julho de 1909. Os tricolores, que já praticavam o futebol desde 1903, não tiveram dificuldade em aplicar 10 X 0 no adversário de apenas três meses de vida. O Grêmio contava com dois jogadores estrangeiros, entre eles Edgar Booth, o qual foi o autor do primeiro gol do clássico. Edgar Booth ainda marcou mais quatro gols, totalizando cinco. O restante dos gols do Grêmio foram marcados por Grünewald, quatro, e Moreira, um.

O segundo jogo foi realizado no dia 17 de julho de 1910, ainda na Baixada. Esse jogo, que foi novamente vencido pelo Grêmio, desta vez por 5 X 0, marcou também a primeira briga no clássico. O jogador gremista Booth, apanhou a bola no meio do campo, driblou toda a defesa colorada e acabou barrado pelo zagueiro Wolksmann, que lhe aplicou violento pontapé. Fechou o tempo, e os 22 jogadores protagonizaram uma verdadeira batalha campal.

O terceiro confronto ocorreu no dia 18 de junho de 1911, no campo da Escola de Guerra e o Grêmio fez 10 X 1. O ponta esquerda Vinholes marcou o primeiro gol do Internacional no clássico. O Internacional ainda perdeu mais quatro clássicos – 6 X 0 (23-06-1912); 2 X 1 (05-09-1912); 2 X 1 (08-06-1913) e 4 X 1 (31-10-1915), até vencer pela primeira vez.

Foi em 31 de outubro de 1915, vitória por 4 x 1, com gols de Müller, Bendionda (2) e Túlio. Sisson marcou para o Grêmio.

Em 1918 foi fundada a Federação Riograndense de Desportos (FRGD), que reuniu os dirigentes da dupla Grenal para acertar a realização de um campeonato estadual. Não foi possível naquele ano, devido a gripe espanhola, que só na Europa matou mais pessoas que a I Guerra Mundial.

No dia 14 de agosto daquele ano, pelo campeonato da cidade, os dois times se enfrentaram pela 11ª vez. O Grêmio vinha ferido por quatro derrotas consecutivas. Não vencia desde 1913. O jogo foi tenso e violento, como sempre. A discussão para cobrança de um lateral foi motivo para mais uma briga. Naquele tempo não existia fosso separando o campo da torcida. A Polícia não conseguiu impedir a invasão do gramado por torcedores gremistas, que foram brigar com os jogadores do Internacional. Foi um festival de socos, pontapés e bengaladas. O saldo do combate deixou 100 feridos e um preso.

O tumulto tomou proporções dramáticas quando o funcionário da Empresa Telefônica Rio-Grandense, Manoel Costa, sacou de uma faca e ameaçou ferir quem se aproximasse dele. O jogador Ribas, do Internacional tentou contê-lo e se deu mal. Teve enfiada na barriga a lâmina de 15 centímetros. Um jovem torcedor do Inter também foi ferido ao tentar desarmar o enfurecido agressor.

Manoel foi preso e a Brigada Militar teve muito trabalho para evitar que ele fosse linchado. O jogador Ribas foi operado na Casa de Saúde e nunca mais jogou futebol. O clássico, cujo placar era de 1 X 0 a favor do Grêmio não terminou.

Justificando o termo “gangorra”, os anos seguintes foram de amplo domínio do Grêmio que montou uma equipe muito forte, onde se destacavam o lendário goleiro Eurico Lara, o centroavante Luiz carvalho, chamado de o “Rei da Virada”, o meia-esquerda Osvaldo Rolla, o “Foguinho”, que depois viria ser um vitorioso treinador, e também o back Py, o center-forward Lagarto e o half direito Assumpção.

Com esse time o Grêmio foi pentacampeão de Porto Alegre, de 1919 a 1923. Nesse período foram disputados 11 clássicos, o Grêmio venceu oito e o Inter apenas três. O tricolor conquistou o estadual pela primeira vez em 1921. De agosto de 1920 a setembro de 1923 Grêmio e Internacional estiveram de relações cortadas e não se enfrentaram durante três anos. Foi um período duro, em 1923 e 1924 não houve campeonato gaúcho devido a revolta tenentista contra o Governo Federal.

O Internacional precisava reagir. Não só contra o Grêmio, mas também contra os fortes clubes do interior que dominavam amplamente o futebol no Estado. Nesses times jogava qualquer um, branco ou preto, rico ou pobre, não havia discriminação. O Guarany, de Bagé foi o primeiro clube de futebol no Brasil a admitir negros, antes mesmo do Vasco da Gama, erroneamente considerado o primeiro a desafiar o preconceito de cor no país.

E o Internacional foi se reforçar na Liga da Canela Preta, uma entidade que organizava campeonatos exclusivos de negros em Porto Alegre. E dai por diante os negros fizeram a diferença ateeé montar anos depois, o super time que ficou nacionalmente conhecido como “Rolo Compressor”. (Pesquisa: Nilo Dias)

Programa do primeiro Gre-Nal, em 18 de julho de 1909. (Foto: Livro "A História dos Grenais")

COMENTÁRIOS DE LEITORES

ricardo disse...
Os jogadores da Canela Preta começaram a jogar no Inter, oficialmente a partir de 1928 e o rolo compressor é da década de 40. vai uma boa distância.
Saudações.
20 de novembro de 2009 18:04

OIBSERVAÇÃO DE NILO DIAS REPÓRTER...
Realmente o texto havia ficado de dificil interpretação. Obrigado pela ajuda. Já arrumei.
8 de dezembro de 2009 17:03