Em 1961, com a saída do técnico Osvaldo Rolla, o “Foguinho”, do Grêmio, o Internacional aproveitou para quebrar a série de conquistas do adversário. A contratação do ponteiro-direito Sapiranga, vindo do Novo Hamburgo deu maior poderio ofensivo ao time colorado. Foi um período marcado pelos duelos entre o lateral-esquerdo do Grêmio, Ortunho e o endiabrado atacante do Internacional. Sapiranga fez 16 gols ao longo do campeonato e foi o primeiro goleador oficial do Gauchão.
O primeiro Grenal de 1961 estava marcado para o dia 27 de agosto, mas foi adiado em virtude da “Campanha da Legalidade”, liderada pelo ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, através uma rede de rádio para garantir a posse do vice-presidente João Goulart, devido a renúncia do presidente Jânio Quadros.
O clássico foi realizado no dia 10 de setembro e o Internacional venceu por 2 X 1. O Grêmio se arrependeria amargamente de ter permitido a saída de “Foguinho”. Este foi para o Cruzeiro. Coisas do futebol. O técnico que deu ao Grêmio o pentacampeonato, seria o grande responsável em impedir o exacampeonato e a igualdade ao rival Internacional. O Cruzeiro venceu o clássico Gre-Cruz do dia 15 de novembro, por 1 X 0, gol de Mauro “Barrilzinho de Pólvora”, um jogador baixinho e gorducho. E o Internacional festejou o título.
Mas ainda faltava um clássico para ser disputado, o último do ano. Foi o chamado “Grenal do Natal”. O Internacional vencia por 2 X 0 e o Grêmio em sensacional reação virou para 3 X 2. Mesmo sem o título, os gremistas alucinados fizeram ruidosa passeata pelas ruas de Porto Alegre, tendo a frente o hoje cronista esportivo Paulo Sant’Anna, que vestido com uma roupa “azul” de Papai Noel, emprestada por um comerciante, havia entrado no gramado do Estádios dos Eucaliptos, ao término do jogo.
Os torcedores gremistas foram em direção ao centro da cidade, mas ao chegarem na avenida Borges de Medeiros se depararam com torcedores colorados, vindos em direção oposta. Paulo Sant’Anna, para fugir de uma agressão certa, correu em direção a um ônibus que passava por ali. Não teve sorte. O coletivo carregava vários torcedores colorados que por pouco não o mataram.
Em fevereiro de 1962, o Grêmio conquistou a Taça da Legalidade, ao empatar o primeiro clássico, disputado nos Eucaliptos, em 1 X 1 e vencer o segundo, no Olímpico, por 2 X 1. Logo em seguida o Grêmio foi excursionar pela Europa, e o Internacional ficou somando pontos no “Gaúchão”. No retorno, o tricolor estava 5 pontos atrás e em seguida perdeu mais 1, ao empatar com o Cruzeiro em 2 X 2. Eram seis pontos de diferença e apenas quatro rodadas para terminar o campeonato.
A dupla venceu os dois jogos seguintes. Faltavam apenas dois para o campeonato acabar. Na noite de 9 de dezembro o Grêmio viajaria a Pelotas para enfrentar o Pelotas e o Internacional jogaria nos Eucaliptos, contra o Aimoré. Confiantes na vitória, que garantiria o título, os torcedores do colorado traçaram um plano cruel para humilhar o tradicional rival. Esperar a delegação gremista na Ponte do Guaíba, com um caixão de defunto e obrigá-los a acompanhar o próprio “enterro”. Mas ninguém contava com a vitória do Aimoré por 3 X 1 e do Grêmio por 4 X 0.
E veio o Grenal, com o Internacional precisando apenas do empate para ser campeão. O Grêmio teria de vencer para obrigar a realização de um jogo extra. Em 16 de dezembro o Grêmio fez 2 X 0 e se igualou ao adversário em pontos. No Grenal extra o Grêmio venceu por 4 X 2 e recuperou a hegemonia do futebol gaúcho.
Os anos seguintes foram de quase interminável sofrimento para os colorados. O Grêmio empilhou sete títulos na corrida, só parando em 1969 quando o colorado voltou a ser campeão. A gangorra, que sempre esteve presente no futebol gaúcho, mudara de lado. O Internacional se vingara dos sete títulos seguidos do rival, com oito conquistas e o inédito octacampeonato gaúcho, feito até hoje não igualado.
Em 1967 aconteceu algo inimaginável, uma união entre Grêmio e Internacional, os clubes que detém a maior rivalidade no futebol brasileiro. Pela primeira vez a dupla Grenal participaria do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que reunia os maiores clubes cariocas e paulistas desde 1950, e que naquele ano foi estendido a Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. O torneio, disputado até 1970, foi o “embrião” do Campeonato Brasileiro, que foi realizado pela primeira vez em 1971.
Como o critério para a participação no “Robertão” para os clubes de fora do eixo Rio-São Paulo era o convite – a princípio seriam convidados apenas os clubes mineiros, visto que as viagens a Belo Horizonte não eram dispendiosas para cariocas e paulistas – era preciso que as partidas em Porto Alegre fossem rentáveis, para que a dupla Gre-Nal continuasse a ser convidada. Os dois clubes jogavam no Estádio Olímpico, visto que o Inter ainda não tinha um estádio em condições de sediar jogos importantes – o Beira-Rio seria inaugurado somente em 1969.
Para obterem boas rendas, os clubes decidiram adotar o sistema de caixa único, e foi também conclamada uma união entre as duas torcidas, pela “afirmação do futebol gaúcho”. Surgia assim a “Torcida Grenal”. Parecia maluquice, mas a idéia deu certo. Gremistas iam aos jogos do Inter e apoiavam o time vermelho, e colorados iam às partidas do Grêmio e apoiavam o tricolor. Os dois clubes se classificaram para o quadrangular final, junto com Corinthians e Palmeiras, que foi o campeão. O Inter foi vice-campeão, e o Grêmio acabou em quarto lugar.
O Grenal 189, disputado dia 20 de abril de 1969 acabou com a paz entre os dois clubes. O Estádio Beira Rio havia sido inaugurado quatro dias antes. O Grêmio esperava ansiosamente o clássico, para tentar vingar o vexame da inauguração do Olímpico, quando perdeu por 6 X 2. Um detalhe chamava a atenção: o técnico do Grêmio era Sérgio Moacir Torres Nunes, goleiro da tarde fatídica da goleada colorada.
Já prevendo que o jogo poderia virar uma batalha campal, o técnico do Internacional, Daltro Menezes mandou que 37 jogadores se fardassem, 11 entrariam em campo e os demais ficariam no banco de reservas como reforços para o que viesse pela frente.
Às 15h30min o árbitro Orion Satter de Mello deu inicio ao jogo. O Internacional começou melhor. O Grêmio reagia com dureza as jogadas coloradas, principalmente do habilidoso Bráulio. Os jogadores do Inter responderam também com virilidade e o jogo tornou-se um festival de pontapés. Faltando 7 minutos para o jogo terminar aconteceu o tumulto.
A bola estava nas mãos do goleiro gremista Alberto, quando o atacante uruguaio, Urruzmendi do Internacional partiu em alta velocidade em direção a área adversária, chocando-se violentamente com o lateral Espinoza, que ficou estatelado no chão. Tupanzinho, do Grêmio veio correndo do meio de campo e só parou quando atingiu Urruzmendi, que não perdeu tempo e revidou.
O centroavante Alcindo, veio em socorro de Tupanzinho, mas no caminho foi agredido por Sadi. No entanto, não parou de correr até acertar um soco no rosto de Urruzmendi, que foi cercado por vários gremistas. Daí para frente a briga tomou grandes proporções. Os jogadores reservas se juntaram aos demais dentro de campo. Era soco e pontapé para tudo que é lado. O médico do Grêmio, doutor Jairo Cruz, de pequena estatura foi um dos que mais apanhou, acabando nocauteado por um soco no queixo.
Com o fim da briga os jogadores gremistas foram para o vestiário e os do Internacional permaneceram em campo para continuação do jogo. Foi quando descobriram que apenas o meio-campista Dorinho e o goleiro gremista, Alberto, não haviam sido expulsos. O escore estava em 0 x 0. (Pesquisa: Nilo Dias)
Briga generalizada no Grenal 189.