O Grêmio mandou no futebol gaúcho até 1968. Foram longos sete anos. Em 1969 o Internacional reagiria com várias ações que mudariam o destino do clube. Primeiro, foi contratado o técnico Daltro Menezes, vindo do Juventude de Caxias, que montou um time mesclado por jogadores experientes e alguns jovens. A diretoria também inovou ao confiar o futebol a um quinteto de jovens que trouxe novos conceitos e implantou uma filosofia vitoriosa de trabalho, que se prolongou pelos próximos oito anos. Eram eles: Ibsen Pinheiro, Ivo Corrêa Pires, Claudio Cabral, Hugo Amorim e Paulo Portanova, que entraram para a história como “os Mandarins”.
No Grenal decisivo do campeonato daquele ano, quando bastava o empate para o Inter ser campeão, aconteceram alguns fatos que mostraram claramente que os dirigentes não estavam para brincadeira. O árbitro Zeno Escobar Barbosa não deixava o jogo andar, cobrava falta em cima de falta. No intervalo o dirigente colorado Ivo Correia Pires se aproximou do juiz e o encheu de desaforos: “Gato, ladrão, gremista. Pode me expulsar se quiser, seu ladrão”.
Com o clima bastante quente, veio o segundo tempo de jogo. Aos 16 minutos Valdomiro fez 1 X 0 para o Internacional, mas o gol foi anulado sob a desculpa de que houvera falta em Everaldo. A torcida, na esmagadora maioria do Internacional, quase enlouqueceu. Os jogadores pressionavam o árbitro. Foi quando o dirigente Ibsen Pinheiro entrou no gramado, calmamente, com as mãos no bolso. A Policia Militar nem esboçou reação, visto que ele não gesticulou e nem estava agitado. Todos pensavam que ele ia acalmar os ânimos.
Ledo engano. Ibsen chegou junto a Zeno Escobar Barbosa e advertiu, olho no olho: “Isso aqui está uma loucura. Nós todos vamos morrer aqui dentro. O povo vai pular os portões da “coréia” (era um local onde os ingressos eram mais baratos) e vai ser um massacre”. O juiz apenas balbuciou: “Deixa comigo, deixa comigo, deixa comigo”.
E realmente as coisas começaram a se acomodar. O juiz expulsou Volmir e Alcindo saiu de campo machucado. O Grêmio já havia feito as duas substituições permitidas na época e ficara com 9 jogadores em campo. Tudo parecia encaminhar-se para um final tranqüilo, até que aos 40 minutos o zagueiro Áureo deu um chutão de longe, a bola ia em direção ao gol. Silêncio profundo no estádio. Até o juiz rezou para que a bola não entrasse. E esta, caprichosamente passou rente ao poste superior da meta de Gainete.
Alivio geral. Os minutos restantes foram gastos com a bola andando de pé em pé dos jogadores colorados. Zeno Escobar Barbosa não deu nem um minuto de acréscimo e o Internacional comemorou o título.
Em 1971 o campeonato parou no “tapetão”. Foi o famoso caso “Land”. O Internacional lançou o jogador, recém contratado junto ao Rio Branco, do Espírito Santo, em uma partida contra o São José. Porém, o jogador já havia participado do campeonato capixaba. Pela legislação, estava impedido de disputar outro estadual. O Grêmio chegou a pagar a viagem de um advogado do São José, ao Espírito Santo, em busca de provas contra o Inter. O caso acabou sem solução, e o Inter sagrou-se tricampeão gaúcho.
Ainda em 1971 o Internacional trouxe o zagueiro chieleno Elias Figueroa, que jogava pelo Peñarol de Montevídeu. E o Grêmio trouxe do Nacional, também do Uruguai, o zagueiro Atílio Ancheta, que se tornariam ídolos em seus clubes.
Os anos que se seguiram foram do mais completo desespero para os gremistas. O Inter superou o hepta do Grêmio e se tornou octacampeão. Além disso, ainda ganhou três campeonatos brasileiros, em 1975, 1976 e 1979, este de forma invicta, marca que permanece até hoje como única. O time era uma verdadeira máquina de jogar futebol: Manga – Cláudio – Figueroa – Hermínio (Pontes) (Marinho) e Vacaria – Caçapava (Jair) – Batista (Escurinho) e Falcão – Valdomiro – Dario (Flávio) e Lula.
Em 1977 o Grêmio conseguiu romper a longa série de conquistas do rival. O time era: Corbo – Eurico – Ancheta (Cassiá) – Oberdan e Ladinho – Vitor Hugo – Tadeu Ricci e Iúra – Tarciso – André Catimba (Alcindo) e Éder.
Nesse ano foi o Inter quem recorreu ao “tapetão” para tentar anular o Grenal que deu o título ao Grêmio. Cinco minutos antes do jogo terminar a torcida invadiu o campo e a equipe colorada optou por se retirar. Não levou. O dirigente gremista Nélson Olmedo proferiu a frase que virou jurisprudência esportiva: “Bicho no bolso, faixa no peito, taça no armário, não há o que discutir”.
Os anos 80 foram marcados pelo equilíbrio entre os dois clubes. De 1981 a 1984 só deu Internacional. De 1985 até 1990 o Grêmio foi campeão. E ainda ganhou o Brasileiro de 1981, a Libertadores e o Mundial de Clubes em 1983.
Em 12 de fevereiro de 1989, aconteceu o clássico de número 297, que entrou para a história como o “Grenal do Século”. Talvez ainda demore muitos anos, para que ele seja superado em emoção e drama. Depois dele, já aconteceram muitos outros clássicos, mas nenhum tão eletrizante. O jogo valia pelas semifinais do Campeonato Brasileiro de 1988 e garantia uma vaga a Copa Libertadores de 1989. Quem vencesse iria decidir o título nacional.
O Internacional era treinado por Abel Braga e o Grêmio por Rubens Minelli, que havia ganho pelo Internacional os campeonatos brasileiros de 1985 e 1986. O Beira Rio recebia quase 80 mil torcedores. O Grêmio fez 1 a 0 aos 16 minutos, com Marcos Vinícius. O drama do Inter aumentou com a expulsão de Casemiro aos 37.
No segundo tempo, aos 16 minutos, Nilson empatou o jogo. Aos 26, virou, ao aproveitar cruzamento de Maurício. Na comemoração, imitou o personagem Sassá Mutema, um cortador de cana interpretado por Lima Duarte na novela “O Salvador da Pátria”. Festa vermelha no Beira Rio (Pesquisa: Nilo Dias)
Nilson comemorando o gol da vitória do Internacional, no "Grenal do Século". (Foto: Acervo do S.C. Internacional)