quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A queda de um gigante (02)

Em 1943, o Santa Cruz fez uma excursão pelo Norte do país, em pleno período da 2ª guerra mundial. Devido a presença de submarinos alemães na costa brasileira, a delegação viajou escoltada por navios da Marinha. Esse episódio da vida tricolor ficou conhecido como a “Excursão da Morte”, que começou em Natal, passando por Belém indo até Manaus. Os problemas tiveram início quando a delegação saiu de Belém com destino a Manaus, em um vapor gaiola, viagem que durou duas semanas. Vários jogadores tiveram uma forte disenteria, diagnosticada depois como tifo. Alguns tiveram recaída e vieram a falecer.

A volta para Recife não foi nada fácil, pois em razão da guerra o governo brasileiro decretou a paralisação do trafego marítimo, o que obrigou o clube a conseguir novos jogos para poder pagar as despesas de alimentação e hospital. A delegação recebeu ainda a visita do chefe de polícia para prender um jogador que supostamente tinha feito "mal" a uma menor de 17 anos, e estava sendo obrigado a casar.

Liberado o trafego marítimo, a delegação conseguiu vaga em um rebocador e, quando todos estavam alojados, foram obrigados a desembarcar por causa de uma carga de inflamáveis que o navio recebera. No desespero, a comitiva conseguiu retornar a Recife, mas com parada de 4 dias em São Luiz. Para juntar algum dinheiro, os jogadores trocaram as passagens da 1ª classe por 3ª, sendo obrigados a viajar com uma corja de 35 ladrões que a polícia do Pará estava exportando para o Maranhão.

Em São Luiz, o navio ficou retido e o time foi obrigado a fazer novas partidas para angariar dinheiro. Com a morte de dois jogadores a equipe estava incompleta, e o cozinheiro do navio foi convocado para jogar. Na tentativa de voltar por terra, o trem que partiu de São Luiz a Teresina descarrilou duas vezes. A viagem finalmente foi completada de ônibus para Recife, com a chegada de uma delegação exausta e atônita. “A Excursão da Morte” teve início em 2 de janeiro e terminou em 2 maio de 1943.

Em 1943, graças ao trabalho do dirigente Aristófanes de Andrade, o Santa Cruz alugou um terreno próximo às ruas Beberibe e das Moças, onde alguns anos depois seria construído o Estádio José do Rego Maciel, o “Arruda”. Na década de 1940, a equipe levantou três títulos 1940, 1946 e 1947, para depois passar dez anos em jejum.

Na tarde de 16 de março de 1958, no Estádio da Ilha do Retiro, escolhido por sorteio, o Santa Cruz entrou em campo para decidir contra o Sport, o título de campeão pernambucano de1957. Caso tivesse sido vencedor, o Santa mandaria a partida nos Aflitos, estádio do Náutico, pois o Tricolor ainda não possuía estádio próprio na época.

Com arbitragem do uruguaio Estéban Marino, auxiliado pelos bandeirinhas Amílcar Ferreira (carioca) e José Peixoto, o Santa Cruz venceu por 3 X 2 e acabou com a longa espera. Os gols foram marcados por Rudimar, Aldemar de pênalti e Mituca, para o Santa Cruz. O Sport descontou com Carlos Alberto e Zé Maria. O time tricolor formou com: Aníbal - Diogo e Sidney – Zequinha - Aldemar e Edinho – Lanzoninho – Rudimar – Faustino - Mituca e Jorginho. O técnico era Alfredo González. O Sport jogou com: Manga - Bria e Osmar - Zé Maria - Mirim e Pinheirense – Roque - Traçaia – Liminha - Carlos Alberto e Geo.

Na década de 1970, o Santa Cruz adotou uma forma bastante democrática de administração, sob a forma de colegiado. E deu certo, pois empilhou títulos estaduais e ainda ganhou o Torneio Norte-Nordeste de 1967, inclusive goleando impiedosamente o Clube do Remo, de Belém do Pará por 9 X 0. Depois desse período de vitórias, o clube teve que enfrentar nove anos sem ganhar nada, até que em 1969 o jejum foi quebrado e teve início a era do Pentacampeonato do estado, feito até hoje não igualado por nenhum adversário. Onze Fuscas e uma Brasília foi o presente que o ilustre tricolor, o inglês James Thoper, deu aos jogadores tricolores, bicampeões de 1970.

Nos anos 70 o Santa Cruz finalmente conseguiu inaugurar o “Mundão do Arruda”. O nome oficial do estádio é José do Rego Maciel, pai de Marco Maciel, ex vice-presidente da República, uma justa homenagem ao prefeito do Recife na época, que em 1952 impediu a venda para outros, do terreno que estava alugado ao Santa Cruz. A Prefeitura desapropriou a área e a repassou em definitivo para o tricolor em 1954.

Somente em 1965, com a venda de cadeiras cativas e títulos patrimoniais é que o estádio começou a ser erguido com suor, sangue e lágrimas dos torcedores tricolores. Foi uma mobilização de torcedores nunca antes vista. As pessoas levavam ao clube todo tipo de material de construção e doavam a sua mão de obra.

O primeiro jogo no “Arruda” aconteceu no dia 4 de julho de 1972, contra o Flamengo do Rio de Janeiro. A partida terminou empatada em 0 X 0. A renda foi de CR$ 193.834,00, com um público total de 47.688 pagantes. O Santa jogou com: Detinho – Ferreira – Sapatão - Rivaldo e Cabral (Botinha) - Erb e Luciano - Cuíca (Beto) - Fernando Santana (Zito) - Rámon e Betinho. O Flamengo formou com: Renato – Moreira – Chiquinho - Tinho e Wanderlei - Zanata e Zé Mário (Liminha) - Vicente (Dionísio) - Caio (Ademir) - Doval (Fio) e Arilson. O primeiro gol no estádio foi obra de Betinho, no jogo Santa Cruz 1 X 0 Seleção Brasileira de Amadores.

A ampliação do “Arruda” foi concluída no dia 1 de abril de 1982, quando a capacidade subiu para 80.000 pessoas. O recorde de público ficou estabelecido com o jogo das Eliminatórias da Copa do Mundo em 1993, quando a Seleção Brasileira massacrou a Bolívia por 6 x 0. Neste jogo estavam presentes nada menos que 96.200 torcedores. Já o maior público do Santa Cruz foi em 1999, quando 95.567 pessoas assistiram o empate por um gol com o Sport.

Posteriormente, em função dos novos parâmetros de conforto e segurança estabelecidos pela FIFA, o “Arruda” teve a sua capacidade diminuída para 60.000 pessoas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Em 1940 contra o Sport, Tará fez um golaço decisivo para a conquista do campeonato daquele ano, o quinto do Santa Cruz. Depois, em 1946 e 1947, seria bicampeão. (Foto: Acervo do Santa Cruz F.C.)