A data de hoje marca os 100 anos de fundação do Coritiba Futebol Clube, uma das mais tradicionais e simpáticas agremiações esportivas do Brasil. A história do alviverde curitibano começou quando o jovem Frederico Fernando Essenfelder, o “Fritz”, que residira um tempo em Pelotas, no Rio Grande do Sul, trouxe para Curitiba a primeira bola de futebol. Como não poderia deixar de ser, a novidade provocou grande curiosidade, principalmente na juventude local, que ouvira falar da criação de um clube voltado para a prática do novo esporte, na cidade gaúcha de Rio Grande.
Entusiasmados com a idéia de ter seu próprio clube, um grupo de desportistas, na maioria descendentes de alemães reuniu-se no antigo Clube Ginástico Turverein, mais tarde Teuto Brasileiro, no dia 12 de outubro de 1909, para a concretização do sonho. Estiveram presentes a reunião João Viana Seiler, Leopoldo Obladen, Carlos Schelenker, Arthur Iwersen, Arthur Hauer, (que levou toda a família), Walter Dietrich, Roberto Isckch, Rodolpho Kastrup e muitos outros. Junto a eles, um brasileiro autêntico, José Júlio Franco, que mais tarde formou com Seiler e Obladen, um trio decisivo a implantação do clube.
Logo após a fundação, os adeptos do futebol tiveram que enfrentar um problema: onde praticar o novo esporte, já que alguns influentes associados do Clube Ginástico Turverein, não viam com bons olhos aquele movimento dentro da entidade. Isso obrigou os jovens futebolistas a conseguirem uma área entre as ruas João Negrão e Marechal Floriano, atrás do quartel da Polícia Militar, onde passaram a praticar o futebol e tomar conhecimento de suas regras e determinações.
Na cidade interiorana de Ponta Grossa também era fundado um clube voltado para a prática do futebol, o “Club de Foot-Ball Tiro de Guerra Pontagrossense, formado por jovens que freqüentavam o Tiro de Guerra 21 e ingleses que eram funcionários da companhia “American Brasilian Engeneering Co”, encarregada de instalar a via férrea em território paranaense. Com a chegada do inglês Charles Wright, que trouxe na bagagem uma bola de couro número cinco, o novo esporte foi introduzido na cidade.
Não demorou para que os curitibanos fossem convidados para um jogo em Ponta Grossa, que se realizou no dia 23 de Outubro de 1909. A delegação curitibana que viajou de trem até Ponta Grossa, era composta por 15 “foot ballrs” e cerca de 20 sócios, além de convidados, entre eles os jornalistas, Luis Schelenker, do “Der Beobaether”, órgão da colônia germânica de Curitiba, e Aldo Silva, do “Diário da Tarde”.
Na chegada da Ponta Grossa, na estação ferroviária estavam alinhados os sócios do Foot Ball Clube Pontagrossense, praças do batalhão de Caçadores do Ponta Grossa e uma enorme multidão, sendo a comitiva re¬¬cebida sob calorosos vivas e ao som da Banda Lyra dos Cam¬¬pos. Após um “lunch” no Hotel Pa¬¬lermo, a comitiva seguiu para o “ground” ao lado do cemitério. Com um atraso de cinco minutos começou o match. O time de Ponta Grossa, já com a quase seis meses de treinamentos, venceu por 1 X 0, gol do inglês Charles Wright.
O onze do Turverein entrou em campo com: Arthur Hauer - A. Labsch e Walter Dietrich - Arthur Iwersen - Roberto Iusksch e Theodoro Obladen - Rodolpho Kastrup – Maschke - Leopoldo Obladen - Carlos Schlenker e Fritz Essenfelder. O Tiro de Guerra jogou com Ayres - Frederico e Debu - Charles Wright - Joca e Maravalhas - J. Dawes – Monteiro - Silva Jardim - Flávio Guimarães e Salvador. O juiz foi o desportista pontagrossense Flygare.
Após o jogo foi oferecido um lauto banquete aos visitantes. Naqueles tempos havia muita cortesia entre os degladiantes. O presidente do Turverein, Frederico Rummert, ao dar um brinde aos anfitriões, disse. “E sem que tenha havido entre nós vencedores ou vencidos, mas sim soldados que labutam pelo desenvolvimento físico e com este o intelectual da mocidade paranaense, vos aperto a mão amiga em nome de cada um dos nossos companheiros reconhecidos e gratos.”
No retorno a Curitiba, aconteceu uma deliberação histórica: João Viana Seiler, o grande líder grupo, inconformado com a discriminação existente no Turnverein, lançou a idéia da fundação de um novo clube. As reuniões passaram a ser realizadas no Teatro Hauer, na esquina das ruas 13 de Maio e Mateus Leme. Um mês depois, mais de 60 pessoas estavam integradas ao movimento.
No dia 30 de janeiro de 1910, foi fundado o Coritybano Foot Ball Club sendo eleito seu primeiro presidente e também patrono, o desportista João Viana Seiler. Como vice-presidente, Arthur Hauer; primeiro secretário José Júlio Franco: segundo secretário, Leopoldo Obladen; primeiro tesoureiro, Walter Dietrich; segundo tesoureiro, Alvim Hauer e capitão Fritz Essenfelder. No discurso de posse, Seiler sugeriu que a data oficial de fundação fosse 12 de outubro de 1909. As cores adotadas para o uniforme do clube foram o verde e o branco, referência às da bandeira do Estado.
Faltava agora apenas um campo para jogar, problema que foi resolvido quando os fundadores conseguiram autorização para usar uma área do Jóckey Club Paranaense, no bairro Prado velho, onde hoje se localiza o Campus 1 da Pontifícia Universidade Católica (PUCPR). A área foi reformada com obras de terraplanagem, gramado e construção de cercas de arame. Para chegar ao campo, que ficava longe do centro da cidade, os torcedores precisavam pegar bondes puxados por burros.
O clube jogou ali até 1916, quando passou a mandar seus jogos no Parque Graciosa. A idéia geral foi inaugurar o novo campo num jogo contra o time de Ponta Grossa, para retribuir a recepção magnífica que tiveram na primeira partida.
Também em Ponta Grossa aconteceram novidades. Agora o time se chamava Ponta Grossa Foot Ball Club. No dia 12 de junho de 1910, se realizou a primeira partida de futebol em Curitiba. Foi organizada uma grande festa que durou três dias. Desta vez o onze da capital não teve dificuldades em vencer o adversário por 5 X 3. A partir daí, vários amistosos foram disputados entre as duas equipes, que procuravam difundir a prática do futebol no Estado. Não havia campeonatos, apenas torneios de curtos períodos.
O nome Coritybano durou pouco. Em 21 de Abril de 1910, cerca de seis meses depois, para não fazer confusão com o já existente Clube Curitybano, a denominação mudou para Coritiba Foot Ball Club. O nome da cidade se grafava Curityba, com o y depois do t, que era um nome tupi-guarani, significando “muito pinhão”. Numa das reformas ortográficas, a cidade passou a ser grafada como Coritiba. E veio uma nova reforma, passando a ser Curitiba, mas o clube, já com o nome consagrado, preferiu ignorar a mudança.
Como não existiam outros clubes para a disputa de campeonatos, os dirigentes do Coritiba resolveram dividir o clube, cedendo vários jogadores para que fosse formada uma outra equipe, surgindo assim o Internacional, que foi o primeiro campeão paranaense, em 1915. Em 1924 foi extinto, ao fundir-se com o América, dando origem ao Clube Atlético Paranaense. O Campeonato foi realizado pela Liga Sportiva Paranaense (LSP), e disputado por Coritiba, Internacional, América, Paraná, Paranaguá e Rio Branco (Paranaguá).
O título do Internacional em 1915 foi contestado por um jogador do América, o que provocou a desfiliação de vários clubes da LSP. O América e outros clubes criaram uma nova entidade, a Associação Paranaense de Sports Athléticos (APSA), formada por Coritiba, Savóia, América, Palmeiras, Spartano, Paraná e Rio Branco. N LSP estavam Britânia, Bela Vista, Internacional, América de Paranaguá, Americano e Pinheiros.
Em 1916 dois campeonatos foram realizados separadamente, mas no final do ano as duas associações se juntaram formando a Associação Sportiva Paranaense (ASP). Ficou decidido que o campeão sairia de uma decisão entre os campeões das duas ligas: Coritiba e Britânia. Na primeira, o Coritiba foi vencedor. Na segunda, o Britãnia ganhou. No dia 21 de janeiro de 1917, o Coritiba venceu ao Britânia por 2 X 1 e foi proclamado campeão do Paraná. Em 1939 a Federação Paranaense de Futebol (FPF), passou a comandar o futebol no Estado. (Pesquisa: Nilo Dias)
(Foto: Acervo histórico do Coritiba F.C.)
COMENTÁRIOS DE LEITORES
Cristina disse...
Meu bisavô José Julio Franco deve ter ficado muito triste, lá onde Deus o tenha, com a violência e desrespeito que a pseudo torcida recebeu o Fluminense neste final de 2009. Lamentável, uma mancha na história que meu antepassado ajudou a construir.
Cristina de Oliveira Franco.
14 de dezembro de 2009 18:10