Mais um clube integrante da seleta lista de campeões nacionais está de volta a elite do futebol brasileiro. O Guarani F.C., da cidade paulista de Campinas estava penando nas divisões inferiores do Brasileirão, desde 2005. Em 2004 foi rebaixado para a Série B e em 2006 foi parar na Série C, de onde saiu em 2008 para agora retornar a Série A.
Pouca gente acreditava que o Guarani poderia fazer uma boa campanha na Série B deste ano. O objetivo não era subir para a Série A, e sim não voltar para a Série C. No dia 5 de abril deste ano o time havia sido rebaixado para a série A-2, do Campeonato Paulista. As dividas eram imensas, por isso chegou a se pensar em vender o estádio Brinco de Ouro.
Veio o campeonato e com ele uma agradável surpresa. O técnico Osvaldo Alvarez, o Vadão, conseguiu tirar o máximo de um elenco formado na maioria por jogadores oriundos das categorias de base do próprio clube. O Guarani liderou o campeonato por várias rodadas, e apenas em um curto período caiu de produção. Depois, recuperou-se e chegou com méritos a uma das quatro vagas para a Série A de 2010.
O Guarani F.C. foi fundado no dia 1 de Abril de 1911, mas os seus fundadores decidiram que a data oficial seria o dia 2, para evitar gozações com o “Dia da Mentira”. A fundação do clube seu deu por iniciativa dos desportistas Pompeo De Vito, Ernani Filippo Matallo e Vicente Matallo, que foi o primeiro presidente. O nome Guarani foi escolhido para homenagear o compositor campineiro Carlos Gomes, autor da ópera “O Guarani”.
O primeiro campo do Guarani foi o “Ground da Villa Industrial”, utilizado até 1912. Em 1913 o clube alugou um campo no bairro Guanabara, junto ao S.C. Commercial, que ficou popularmente conhecido como “Ground do Guanabara”. Quando o Commercial encerrou as atividades, o Guarani obteve permissão para uso gratuito da área, dada pela proprietária, dona Isolethe Augusta de Souza Aranha, filha de Joaquim Policarpo Aranaha, o “Barão de Itapura”, e de dona Libânia de Souza Aranha, a “Baronesa de Itapura”, e tia de um dos pioneiros do clube, Egídio de Sousa Aranha.
O presidente do Guarani na época, Carmine Alberti tentou em vão conseguir que a prefeitura de Campinas cedesse uma área para construção de um estádio. Foi ai que Egidio de Sousa Aranha teve papel importante, pois convenceu sua tia a vender o terreno de cerca de 20 mil metros quadrados, ao preço irrisório de 900 réis o metro. Em seguida foi constituída uma "Comissão Pró-Estádio", presidida por João Pereira Ribeiro, que através de promoções arrecadou os recursos para que fosse erguida a praça de esportes.
Em 15 de julho de 1923, foi inaugurado o primeiro estádio do clube, garbosamente chamado de "Estádio do Guarany", e que colocava o alviverde campineiro entre as agremiações esportivas de melhor estrutura em todo o Estado de São Paulo. Para o jogo inaugural foi convidado o Club Athletico Paulistano, o principal clube do futebol paulista na fase amadora, e que tinha na sua equipe o famoso Friedenreich, o primeiro grande craque do futebol brasileiro.
O Guarani, com um gol marcado por Zéquinha a quatro minutos do final da partida, foi o vencedor. O extraordinário feito do time local foi condignamente festejado pelos torcedores, que saíram as ruas em grande estardalhaço. O Guarani formou com Pacheco - Joca e Tavares – Deputado - Juca e Joaquim – Miguel – Zéquinha – Barbanera - Nerino e Pilla.
O “Estádio do Guarani”, localizado na rua Barão Geraldo de Rezende passou depois por várias reformas e ampliações, servindo ao clube até 1953. Foi lá que o “Bugre” mandou seus jogos pelos campeonatos paulista de 1927, 1928, 1929, 1930, 1931, 1950, 1951 e 1952.
Como o antigo “Pastinho” não oferecia mais condições de sediar jogos na era profissional, o clube conseguiu trocar o terreno do bairro Guanabara, por uma área de 50.400 m2 na avenida Imperatriz Tereza Cristina, 11, na antiga “Baixada do Proença” e ainda receber de volta 2 milhões de cruzeiros. Mais tarde o Guarani conseguiu a doação de uma área de 19.405 metros quadrados, ao lado do terreno que havia adquirido.
Nos primeiros tempos, antes ainda da construção do "tobogã", o “Brinco de Ouro” chegou a receber 34.513 torcedores no jogo contra o Fluminense, válido pelo Campeonato Brasileiro de 1975. O recorde de público no estádio foi no jogo Guarani X Flamengo, em 1982, quando compareceram 52.002 torcedores. A capacidade divulgada naquela época era de 53 mil pessoas, diminuída depois, para efeito de garantir maior conforto e segurança para os espectadores. Hoje o estádio tem capacidade para 30.800 pessoas, atendendo exigências do estatuto do torcedor e normas da FIFA.
O nome “Brinco de Ouro da Princesa” se deve a uma matéria feita pelo jornalista João Caetano Monteiro Filho, do jornal “Correio Popular”, quando o projeto ainda estava na maquete. Ao ver o formato circular do futuro estádio, o jornalista o comparou a um brinco. Como a cidade de Campinas é chamada de "Princesa D'Oeste", João Caetano escreveu uma reportagem com o título “Brinco de Ouro para a Princesa”. Os dirigentes gostaram e “Brinco de Ouro” passou a ser o nome oficial do estádio do Guarani.
O “Brinco de Ouro” foi inaugurado no dia 31 de maio de 1953 com o jogo Guarani 3 X 1 Palmeiras. O jogador Nilo, do Guarani foi o autor do primeiro gol no novo estádio. A iluminação foi inaugurada no dia 11 de janeiro de 1964, com um jogo amistoso no qual o Guarani derrotou o Flamengo, do Rio de Janeiro, por 2 X 1.
O principal adversário do Guarani é a Ponte Preta, com quem faz o clássico chamado de “Derby Campineiro”. Até hoje foram 185 partidas disputadas, com 65 vitórias do Guarani, 61 empates e 58 vitórias da Ponte Preta, além de um resultado desconhecido. O “Bugre” foi o segundo clube do interior do Estado a disputar o campeonato principal de São Paulo, ao vencer o campeonato da segunda divisão de 1949. O pioneiro foi o XV de Piracicaba, que em 1948 ganhou o primeiro campeonato da divisão de acesso, tornando-se também o primeiro clube do interior a participar do grupo de elite do futebol paulista.
O principal feito na história do Guarani foi a conquista do título de Campeão Nacional de 1978. O time era muito forte, com destaque para os jogadores Careca, Zenon, Renato "Pé Murcho" e o técnico Carlos Alberto Silva. Nessa edição do campeonato brasileiro a disputa foi pela primeira vez num sistema de ida e volta nas fases decisivas do torneio. Era um tempo de regime militar. O ano de 1978 era de Copa do Mundo, mas nem por isso houve diminuição acentuada no número de participantes do principal campeonato do país, foram 74 clubes na disputa e um recorde de 792 jogos em quase seis meses de disputa.
Principais títulos conquistados pelo Guarani. Nacionais: Campeonato Brasileiro da Série A (1978); Campeonato Brasileiro da Série B (1981 e 1987); Estaduais: Campeonato Paulista do Interior (1944, 1949, 1972, 1973, 1974); Campeonato Paulista de Futebol da Série A2 (1949); Campeão Amador do Interior (1944); Campeão Amador do Estado (1944) Campeão Paulista da 2ª Divisão de Profissionais (1949); Campeão do Torneio-Início do Campeonato Paulista (1953); Bicampeão do Torneio-Início do Campeonato Paulista (1954); Campeão do Torneio-Início do Campeonato Paulista (1956); Detentor em definitivo da "Taça dos Invictos" de A Gazeta Esportiva (1970); Campeão - Torneio de Classificação para 1970 (1970); Bicampeão - Torneio de Classificação para 1971 (1970); Detentor em definitivo do II Troféu Folha de São Paulo (1974); Campeão do 1º Turno do Campeonato Paulista -Taça Almirante Heleno Nunes (1976); Municipal: Campeão Campineiro (1916, 1919, 1920, 1938, 1939, 1941, 942, 1943, 1945, 1946, 1953 e 1957).
Alguns jogadores famosos que vestiram a camisa do Guarani: Ailton, Alfredo, Alex , que jogou pelo Internacional, Amaral, que defendeu o Palmeiras, Amoroso (Bola de Ouro em 1994), Careca, que brilhou no São Paulo, Nápoli e seleção Brasileira, Djalminha, Edílson, Edu Dracena, Elano, Evair, Gustavo Nery , Carlos, Renato, Júlio César, Edson Boaro, Jorge Mendonça , Luizão, Mauro Silva, Miranda, Mineiro, Neto, Paulo Isidoro, Viola, Ricardo Rocha, Tite, Telê Santana, Valdir Peres, Wilson Gottardo, Zé Mario, Zenon e Zetti.
O primeiro jogador do Guarani a ser convocado para uma seleção brasileiro foi Fifi, que jogou o Campeonato Sul-Americano Juvenil de 1954. Em 1963 quatro jogadores foram chamados para a seleção principal,Tião Macalé, Oswaldo, Amauri e Hilton. Mas a história não se resumiu apenas em jogadores cedidos à seleção, mas também em títulos.
O Guarani estabeleceu alguns recordes importantes nessa sua vitoriosa trajetória. Em 1982 o ataque formado por Lúcio, Jorge Mendonça, Ernani Banana e Careca marcou nada mais, nada menos do que 63 gols em 20 jogos, com média de 3,5 gols por partida. A maior em toda a história dos campeonatos brasileiros, até hoje. Também é do Guarani o maior número de vitórias consecutivas em Brasileiros, doze, estabelecido em 1978. O time divide com Corinthians e Ceará o recorde de jogos invictos na série B do brasileiro, onze no total.
O clube participou de três edições da Taça Libertadores da América, 1979, 1987 e 1988, e da extinta Taça Conmebol, em 1995. Além do futebol, o Guarani mantém equipes de taekwondo, ginástica olímpica, natação, tênis, basquete, vôlei e futebol feminino.
Pena que fora do campo aconteçam coisas desagradáveis. A atual diretoria do Guarani, presidida por Leonel Martins de Oliveira, seguidas vezes não permitiu a entrada em jogos do “Bugre”, no Brinco de Ouro, de jogadores campeões brasileiros de 1978. Eles almejam uma credencial vitalícia, que lhes dê o direito de ingressar no estádio e não serem mais desrespeitados por funcionários do clube, que desconhecem a parte mais bonita da história de 98 anos do Guarani F.C.. (Pesquisa: Nilo Dias)
Time do Guarani, campeão brasileiro de 1978. Em pé: Neneca - Edson - Mauro - Gomes - Miranda e Zé Carlos. Agachados: Capitão - Renato - Careca - Manguinha e Bozó. (Foto: Acervo histórico do Guarani F.C.)