José Perácio, mineiro de Nova Lima (MG), nasceu a 2 de novembro de 1917 e foi um dos grandes jogadores surgidos no futebol brasileiro nos românticos anos 30 e 40.Começou a carreira em 1933, jogando pelo Villa Nova A.C., de sua cidade natal, que naquela época era time grande, ganhador de títulos. Perácio já começou vencendo. O Villa Nova foi tri-campeão mineiro em 33, 34 e 35 e ele ganhou fama de artilheiro.
Jogava de meia-esquerda ou como atacante, não fazia diferença, aparecia sempre em alta velocidade na área para finalizar. Sua maior qualidade era o chute forte. Batia de esquerdo ou de direito, com a mesma facilidade. Um jogador com tais características não ficaria muito tempo escondido numa pequena cidade do interior. E não deu outra, em 1936 foi para o Palestra Itália, nome antigo do Cruzeiro, de Belo Horizonte.
Mas seu sonho era jogar no Botafogo, seu clube do coração. E finalmente, em 1937 foi para o time de General Severiano. No alvinegro carioca jogou ao lado de grandes jogadores como Martim Silveira, Patesko, Pascoal e Carvalho Leite. Suas boas atuações com a camisa botafoguense lhe valeram a convocação para a Seleção Brasileira que foi à Copa do Mundo de 1938, na França. Pela Seleção Brasileira disputou seis partidas e marcou quatro gols entre 1938 e 1940.
A fama de Perácio cresceu depois da Copa do Mundo. O Brasil jogava contra a Tchecoslováquia e ele deu um chute tão forte que o lendário goleiro Frantisek Planicka, ao tentar defender perdeu o equilíbrio, chocou-se com a trave e quebrou o braço e a clavícula. Então surgiu a lenda que o chute é que tinha quebrado o goleiro. Foi quando o cronista Luis Mendes passou a chamá-lo de “pé de chumbo” e “canhão de Nova Lima”.
Em 1941 foi para o Flamengo. No rubro-negro teve grande importância na conquista do primeiro tri-campeonato carioca do clube, em 42, 43 e 44. Formou uma equipe lendária com Valido, Zizinho, Pirilo e Vevé. Com a camisa do Flamengo fez 123 jogos, marcando 97 gols, sendo o 21º maior artilheiro da história do clube.
Em 1944 quando ainda jogava pelo Flamengo, Perácio se afastou dos gramados para defender o Brasil com arma em punho. O jogador se alistou no Exército e compôs o quadro de 25 mil pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial. Todavia, ao fim da Guerra, Perácio voltou ao Brasil são e salvo e ainda deu continuidade á brilhante carreira de jogador. Defendeu o Fluminense e encerrou a carreira no Canto do Rio, em 1951. Perácio faleceu no Rio de Janeiro, em 10 de março de 1977.
Quando jogava era tido como uma figura folclórica. Semianalfabeto, mal sabia assinar o próprio nome. No navio que levava a delegação brasileira para a Copa de 38, Perácio usava binóculo, pois queria "ver a linha do Equador de pertinho".
Outro episódio marcante do jogador foi quando abastecia seu veículo “Packard”. Ele parou num posto de gasolina com seu companheiro Martin Silveira. Enquanto o frentista enchia o tanque do carro, Perácio, calmamente, tirou um cigarro, acendeu-o e jogou o fósforo no chão, perto da bomba.
Do susto de ver o fósforo cair ainda aceso no chão, a poucos metros da bomba, Martin passou aos protestos, chamando Perácio de louco e irresponsável: “Por que esse ataque?”, perguntou Perácio. “Onde já se viu riscar fósforo num posto de gasolina?”, retrucou Martin. E Perácio respondeu: “Desculpe Martin, eu não sabia que você era tão supersticioso...”
Quando jogava futebol Perácio gostava de ouvir os locutores gritarem: “Goooool de Perácio!” Ele sempre gostou de carros, e se possível comprava o do ano. Como estava jogando e não podia ouvir o grito de gol, Perácio comprou o melhor rádio de automóvel que havia no Rio de Janeiro. Assim, no dia do jogo, ia para o campo, deixava o carro estacionado numa vaga, tendo o cuidado, antes de trancá-lo, de ligar o rádio e deixá-lo bem alto. Inutilmente, apesar das precauções, não conseguiu ouvir, uma só vez, o locutor gritar? “Gooooooool de Perácio.” E desabafou: “Não adianta. Comprei o rádio errado”.
O ano era de 1939. O jogo Brasil e Argentina pela Copa Roca. Quando o placar estava em 2 x 2, o juiz brasileiro, Carlos de Oliveira Monteiro, o “Tijolo”, marcou um pênalti contra os argentinos. Houve uma forte reclamação dos portenhos e quando eles partiram para cima do arbitro, a policia entrou em campo e baixou o sarrafo nos argentinos. Com um clima muito tenso, nossos adversários preferiram deixar o campo.
O pênalti estava mantido e Perácio indicado para cobrar com o gol vazio. O novo técnico do Brasil, Carlito Rocha, entrou em campo e disse para Perácio: “Chute bem no cantinho”. Perácio ficou sem entender e disse mas seu Carlito o gol está vazio! “Não interessa, chuta no cantinho”.
E com o gol escancarado a sua frente, ele se preparou para a cobrança. E se chutasse no cantinho e a bola fosse para fora? E se chutasse forte e a bola passasse por cima do travessão? Com essas duvidas, Perácio começou a ouvir a torcida gritar, “Devagar, Perácio, e no centro!” Ele ouviu. Partiu para a bola e chutou no centro tão devagar que a torcida ficou na expectativa se a bola ia mesmo entrar. E todos viram a bola ultrapassar na linha de gol pouco mais de um palmo. (Pesquisa: Nilo Dias)
Perácio. (Foto: Museu dos Esportes)