Olavo Rodrigues Barbosa, o Nena, de 87 anos, zagueiro reserva da Seleção Brasileira, vice-campeão do mundo de 1950, faleceu na última quarta-feira, 17 em Goiânia, onde residia desde 2003, junto com a esposa Juraci Rodrigues Barbosa, com quem teve cinco filhos (Mário e Ana, nascidos em Porto Alegre e Jorge, Vera e Ludmea, em São Paulo), dez netos e dois bisnetos. Nena havia descoberto há poucos dias que tinha câncer nos pulmões. Já era tarde demais.
Agora, apenas um ex-jogador brasileiro que disputou a Copa do Mundo de 1950 no Brasil, ainda está vivo: Nilton Santos, que também era reserva. Nena, porém era o último integrante do “Rolo Compressor”, grande time do Internacional, que ainda estava vivo.
Nena nasceu em Porto Alegre no dia 11 de junho de 1923. Começou a jogar futebol na várzea portoalegrense, onde atuava como zagueiro do Esporte Clube Paraná. Ele foi para o Internacional em 1942 quando tinha apenas 18 anos de idade, descoberto pelo então técnico colorado, o uruguaio Ricardo Diez.
Estreou no Internacional no dia 12 de abril de 1942, na vitória de 5 X 2 sobre o São José, quando marcou seu primeiro gol, rebatendo de primeira uma péssima reposição do goleiro adversário, encobrindo-o, num lance que lhe valeu fama nacional. Substituía o lendário zagueiro Risada. Contudo sua estréia foi como lateral-esquerdo improvisado, já que Alfeu era o dono absoluto da zaga.
O time se renovara com ele, Ivo e Abigail, que foram as contratações mais importantes na administração do presidente Miguel Genta. Logo Nena firmou-se como zagueiro titular, passando a fazer parte do famoso “Rolo Compressor”, que ganhou oito títulos gaúchos nos anos 1940, e cuja formação clássica era esta: Ivo - Alfeu e Nena – Ássis - Ávila e Abigail – Tesourinha – Adãozinho – Russinho - Ruy e Carlitos.
Durante o período em que jogou no Internacional, Nena dividiu-se entre a zaga e a lateral-esquerda, sempre como destaque no "rolo compressor colorado". Foi nessa época que recebeu o apelido de "Parada 18", que era uma conhecida parada de bonde, localizada no bairro Tristeza, na Zona Sul de Porto Alegre. Em frente havia uma loja de atacado muito popular na época, que fazia grandes liquidações utilizando intensa propaganda radiofônica.
Segundo a propaganda da loja no rádio, nenhum passageiro do ônibus Tristeza passava da Parada 18, descia naquele ponto, atraído por preços acessíveis. Segundo os torcedores do Inter, nenhum atacante adversário conseguia passar por Nena. Ele era excelente nas bolas aéreas e tinha um bom porte físico. A partir daí Nena e a famosa parada passaram a ser sinônimos para os torcedores colorados, nos áureos tempos do “Rolo Compressor”.
Com a camisa colorada Nena foi campeão gaúcho em 1942, 1943, 1944, 1945, 1947 e 1948. Entre os jogadores mais conhecidos, destacavam-se o ponta-direita Tesourinha, que chegou à seleção brasileira, e Carlitos, maior goleador da história do clube, com 485 gols. Nena é considerado até hoje um dos maiores zagueiros que já vestiu a jaqueta do Internacional.
Em 1948, Nena foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira, na Copa Rio Branco, estreando num empate em 1 X 1 com o Uruguai. Pela seleção, jogou 6 partidas entre 1947 e 1950, com duas vitórias, três empates e uma derrota. Integrou a delegação brasileira na Copa do Mundo de 1950, mas não chegou a jogar. Assim como aconteceu a muitos jogadores que disputaram o mundial de 50, nunca mais voltou a jogar pela seleção, em função do trauma pela derrota para o Uruguai.
Os jogos de Nena na Seleção foram estes: 29/03/1947, Brasil 0 X 0 Uruguai, pela Copa Rio Branco; 04/04/1948, Brasil 1 X 1 Uruguai, também pela Copa Rio Branco; 11/04/1948, Brasil 2 X 4 Uruguai, ainda pela Copa Rio Branco; 07/05/1950, Brasil 2 X 0 Paraguai, pela Taça Oswaldo Cruz ; 13/05/1950, Brasil 3 X 3 Paraguai, igualmente pela Taça Oswaldo Cruz e 11/06/1950, Brasil 4 X 3 Seleção Paulista de Novos, amistoso.
Para muitos especialistas e até companheiros de Seleção, o que faltou ao Brasil na traumática decisão da Copa do Mundo de 1950 foi o gaúcho Nena. Ele nunca permitiria que o uruguaio Gigghia recebesse a bola às costas de Bigode e fizesse as duas jogadas, uma delas com gol, da vitória sobre o Brasil por 2 X 1. Nena era quase perfeito na cobertura, algo que faltou a Juvenal. Claro, é tudo mera suposição, só uma lembrança para mostrar a importância do antigo jogador.
Em agosto de 1951, Nena já era um homem realizado. Havia conquistado um lugar de destaque entre os melhores jogadores do futebol brasileiro e constituído uma família no casamento com Juraci Rodrigues Barbosa, em 1945. Mesmo assim transferiu-se para a Portuguesa de Desportos, de São Paulo onde formou o maior "trio final" da história do clube, ao lado do goleiro Muca e do gaúcho Noronha (ex-Grêmio).
Foi o melhor time da “Lusa” em todos os tempos. Nena atuou ao lado de craques como Júlio Botelho, Pinga e Simão, e conquistou os títulos do Torneio Rio-São Paulo de 1952 e 1955. Participou das excursões vitoriosas da Portuguesa pelo exterior, que resultaram nas conquistas das “Fitas Azuis” de 1951 e 1953. Sagrou-se ainda campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1952.
O zagueiro parou de jogar em 1958. Só teve dois clubes na carreira, Internacional e Portuguesa. Depois de pendurar as chuteiras, por insistência dos dirigentes continuou a serviço da Portuguesa, como técnico dos juvenis e do time principal, sempre que este precisava dos seus conhecimentos. Cansado de trabalhar em futebol, Nena foi transferido para o setor administrativo, tornando-se o responsável pela cobrança das mensalidades dos sócios.
Nos anos 1960, foi técnico das categorias de base do Corinthians. Ao considerar que era chegada a hora de viver tranquilamente, longe da agitação da capital, Nena comprou uma chácara no município de Francisco Morato, na região metropolitana de São Paulo, onde morou por aproximadamente oito anos.
O vice-campeão mundial de 1950 deixou um herdeiro nos gramados: o meia Andrezinho, revelado pelo Corinthians no final dos anos 90, na geração de Gil, Edu e Ewerthon. Andrezinho passou também pelo Noroeste, de Bauro (SP), Paysandu, de Belém do Pará e Croatia Sesvete, da Croácia.
Nena vinha pouco a Porto Alegre. Uma de suas últimas visitas foi para prestigiar o lançamento do livro “Rolo Compressor, memória de um time fabuloso”, do jornalista Kenny Braga, em 2008. Sua última estada na capital gaúcha foi o ano passado, quando das comemorações do centenário colorado. O Internacional decretou luto oficial e deixou a bandeira a meio mastro. (Pesquisa: Nilo Dias)