O estudante pernambucano, Pedro Renan de Oliveira, de 27 anos, torcedor fanático do Santa Cruz Futebol Clube, time que o ano passado conseguiu classificação para a Série C do Campeonato Brasileiro, depois de amargar três anos na Série D, ou quarta divisão do Brasileirão, ficou conhecido por ir aos jogos do time “Coral”, caracterizado como Jesus Cristo, com cabelos longos, sandálias, vestes e até mesmo uma coroa de espinhos.
Ele disse que resolveu criar o personagem “Jesus” por sua semelhança fisica com ele e também para lembrar a fé e a devoção que o torcedor do Santa tem pelo clube. Para ele o Santa Cruz é uma religião. Em razão da fantasia, passou a ser tratado pelos torcedores como o “Jesus do Coral”. Pedro Renan não corta os cabelos há 10 anos.
Ele sempre acompanha o Santa Cruz, jogue onde jogar. O ano passado não perdeu um jogo sequer. Já viajou de avião, van e no “Expresso Coral”, ônibus que leva o time aos jogos em cidades mais próximas. O pai de Pedro é o motorista do ônibus. Na campanha que classificou o time para a Série C, Pedro viajou até Rondonópolis (MT) para assistir uma partida contra o Cuiabá, no estádio Luthero Lopes.
Arriscando palpites, afirmou que o clube venceria o jogo por 2 × 1, o que se confirmou. O “Jesus do Coral” esteve no estádio acompanhado de outros fanáticos, como Edmilson José da Silva que é de Recife e mora em Cuiabá.
Com o acesso do time à Série C do Campeonato Brasileiro, o “Jesus do Coral” encenou uma crucificação por algumas horas, no Marco Zero, no centro da capital pernambucana, para cumprir uma promessa.
Apesar de ir ao estádio fantasiado de Jesus, o torcedor faz parte da torcida organizada “Inferno Coral”. E justifica: “O Inferno Coral” é apenas o nome de uma torcida”. E garante que não há problemas entre se fantasiar de Jesus e fazer parte dessa organizada.
Mesmo com toda a paixão que os componentes da “Inferno Coral” nutrem pelo Santa Cruz, em todos os jogos levam uma faixa que é propositadamente colocada de cabeça para baixo, como protesto que continuará até que o clube volte a primeira divisão do futebol brasileiro.
Não é só o “Jesus Cristo”, que chama a atenção entre os torcedores tricolores. Também tem “cavaleiro medieval”, “papangu”, perucas para todos os gostos, dezenas do cobras corais de plástico e até um “Elvis Presley” que não morreu e torce pelo Santa, segundo o seu criador, o funcionário público Valdemagno Torres.
Em nome do amor ao Santa Cruz acontece de tudo, até viajar 19 horas de bicicleta para assistir a um jogo. Ou então trocar a romaria de devoto a “Padim Ciço” por uma partida no Estádio do Arruda. Esse é Jare Mariano da Silva, 71 anos, o “Bacalhau”, que até mudou a cor dos dentes. Seu sorriso, hoje, é tricolor: vermelho branco e preto. É considerado o torcedor mais fiel do Santa Cruz. Chegou ao ponto de acabar com um casamento de 20 anos, depois que descobriu que a mulher na surdina torcia pelo Sport.
Morador de Garanhuns, cidade a 230 quilômetros de Recife, ele já perdeu as contas das vezes que cruzou a BR 232 de bicicleta, só para ver seu time jogar. E não usa outra camisa que não seja a do Santa Cruz. Também as suas cuecas tem as cores do clube. Na casa onde mora, por incrível que possa parecer, o encanamento e a fiação elétrica tem as cores do clube.
Nem o abacateiro do fundo do quintal escapou da obsessão pelo Santa Cruz: quando os frutos começam a crescer, ele os pinta de preto, vermelho e branco.
Já o aposentado Celso Moreira da Silva vai aos jogos do Santa Cruz exibindo uma longa barba tingida com as três cores do clube. A poucos quilômetros do estádio do Arruda, no bairro de Apipucos, o pequeno comerciante Valdemar Vicente da Silva, o “Pol”, quando de seu aniversário deixou dezenas de convidados em sua casa e sumiu para ver um jogo do Santa Cruz. Sua esposa Iris, que mudou de time - era Sport - para salvar o casamento, ficou tão chateada que passou 15 dias sem falar com ele.
Nascido na mesma cidade de "Bacalhau", Patric Dias é o gerente da loja que fica no estádio e vende 400 produtos licenciados. Ele é testemunha ocular da fanática paixão da torcida tricolor. A procura é tanta, que a loja não consegue manter o estoque. Faltam produtos até do principal fornecedor.
No primeiro jogo da final da Série D, ano passado, mais de 100 ônibus levando torcedores se deslocou até a cidade de Campina Grande, na Paraíba. Para garantir a viagem e o ingresso, teve até torcedor que vendeu bicicleta ou ficou sem comer. Flamengo e Corinthians, que dizem ser detentores das maiores torcidas do país, são "fichinhas" perto do Santa Cruz. (Pesquisa: Nilo Dias)
O fanático torcedor que se veste de Jesus Cristo, em jogo do Santa Cruz. (Foto: Divulgação)