Para ser árbitro de futebol nos dias de hoje é preciso, entre outras coisas, um bom preparo físico. Por isso é inimaginável que alguém com 160 quilos de peso possa apitar um jogo de futebol atualmente, até mesmo em campos de várzea. Mas isso já aconteceu. Durante quase toda a década de 1930 e metade da década de 1940, Henrique Maia Faillace foi um dos mais destacados árbitros de futebol no Rio Grande do Sul, ganhando o título de “Rei do Apito”, depois de muitos anos de excelentes atuações.
Mesmo com todas as dificuldades impostas pelo excesso de peso, ainda assim era chamado para dirigir grandes partidas, numa época em que os bandeirinhas não tinham a mesma importância de hoje, limitando-se apenas a marcar laterais e escanteios. Muitas vezes foi chamado para dirigir partidas importantes fora do Rio Grande do Sul.
Em 1937 Faillace teve atuação decisiva no jogo em que o selecionado gaúcho derrotou o carioca, pelo Campeonato Brasileiro de Seleções. Foi uma atuação daquelas que se pode chamar de “a moda da casa”.
Em 1944 foi designado para apitar o jogo entre as seleções de Minas Gerais e Rio de janeiro, no estádio de São Januário. Lá pelas tantas, num contra-ataque rápido dos cariocas, houve uma centrada de meia-altura. O artilheiro Ademir “Queixada”, que vinha na corrida, apanhou a bola na altura da barriga e desferiu um foguete, que foi parar na rede mineira.
Faillace, que ficara muito longe do lance, dificultado por seus 160 quilos, anulou o gol sob o protesto dos cariocas. Imperturbável disse: “Dei mão. Não vi, mas deduzi. Nunca vi uma bola que sai da barriga de um jogador ser metida no arco com aquela força. Barriga não impulsiona, amortece. Só podia ter havido um soco na bola e foi o que assinalei”.
Alguns anos depois, Ademir Menezes lembrava o lance: “Foi mão, mesmo. O gordo estava certo. Reclamamos por reclamar. Faillace tinha razão, barriga não chuta, amortece”. (Pesquisa: Nilo Dias)
Henrique Maia Faillace, o "rei do apito" e seus 160 quilos.