Antônio Franco de Oliveira, o “Neném Prancha”, nasceu em Resende (RJ), no dia 16 de junho de 1906. Foi roupeiro, massagista, olheiro e técnico de futebol. Ganhou a alcunha de “O Filósofo da bola”, de Armando Nogueira, por suas frases engraçadas.
Antônio era filho de Zeferino, um biscateiro e dona Julia, uma empregada doméstica. Aos 11 anos, foi tentar a vida na cidade do Rio de Janeiro. Ganhou o apelido de "Neném Prancha", por causa das mãos, que mediam cada uma 23 centímetros de comprimento, e dos pés, número 44, que sempre calçavam chinelos.
Parrudo e alto, seu corpo forte escondia um mulato solitário, feio e introvertido. Muitos o tinham como assexuado. Com uma boina inseparável na cabeça, gostava de dar sermões. Ao longo do tempo, sofreu problemas de visão. Ainda assim, optou por não enxergar bem a usar óculos.
Tornou-se um mito do futebol brasileiro devido às suas frases de efeito. Tanto que o escritor Pedro Zamara lançou, em 1975, um livro chamado "Assim Falou Neném Prancha", sobre o pensamento deste ícone da filosofia futebolística.
Neném iniciou sua carreira no futebol como jogador no extinto Posto Quatro Futebol Clube, time campeoníssimo da praia,onde era o goleador. Depois se tornou zagueiro, no Carioca Esporte Clube, time do Jardim Botânico, que existe até hoje. Não obtendo sucesso, abriu uma escolinha de futebol para crianças nas areias de Copacabana. Ao mesmo tempo, trabalhava como roupeiro, massagista e olheiro do seu time do coração, o Botafogo.
Reza a lenda que jogava uma laranja aos pés dos candidatos a craque para então conferir seus talentos. Foi assim com Heleno de Freitas, o maior craque que ele descobriu. Neném se colocava atrás de um tabuleiro de laranjas como se fosse vendedor no areal de Copacabana. E para cada garoto jogava uma fruta. Pela reação, separava o craque do "cabeça-de-bagre".
Heleno de Freitas, mineiro de 15 anos, amorteceu uma laranja na coxa, deixou-a cair no pé, fez embaixada, levou-a à cabeça, trouxe de volta ao pé, que deu ao controle do calcanhar. E Neném viu que descobrira o mais fino, inventivo e temperamental craque do país. Por isso, até a morte, Neném levou na carteira de cédulas a foto desse que brilharia como ninguém no Botafogo de Futebol e Regatas - muito mais que o fulgor da gloriosa estrela solitária do alvinegro carioca.
Heleno foi o melhor, mas não o único. Ele também achou na praia o lateral Júnior, que disputou as Copas do Mundo de 1982 e 1986 e hoje é comentarista de televisão. E o levou ao Botafogo. Por ser especialista no trato com os jogadores, principalmente os mais jovens, foi técnico das divisões de base do alvinegro.
Contemporâneos e estudiosos garantem que certas frases nunca foram ditas por ele. O que se passou foi o seguinte: de tão querido, alguns de seus jogadores, como Sandro Moreyra, Lúcio Rangel e Sérgio Porto, ao se tornarem jornalistas, fizeram o possível para colocar Neném na mídia. João Saldanha, por exemplo, testava suas tiradas sensacionais divulgando-as como se fossem de autoria de Prancha. Muita gente chegou a achar que “o tal de Neném” jamais existiu e que era um personagem inventado pelo "João Sem-Medo".
Ao ser perguntado se realmente tinha proferido a mais famosa de suas frases "Pênalti é uma coisa tão importante, que quem devia bater é o presidente do clube", Neném explicou: "O que eu falei é que o pênalti é tão fácil que até o presidente pode bater”.
Algumas frases de "Neném Prancha": "Jogador de futebol, tem que ir na bola com a mesma disposição com que vai num prato de comida. Com fome, para estraçalhar"; "Jogue a bola pra cima, pois enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol"; "O Didi joga bola como quem chupa laranja, com muito carinho"; "O goleiro deve andar sempre com a bola, mesmo quando vai dormir. Se tiver mulher, dorme abraçado com as duas"; "Penalti é uma coisa tão importante, que quem devia bater é o presidente do clube"; "Se concentração ganhasse jogo, o time do presídio não perdia uma partida"; "O importante é o principal, o resto é secundário"; "Se macumba resolvesse, o campeonato baiano terminava sempre empatado"; "Quem pede tem preferência, quem se desloca recebe"; “O futebol é uma caixinha de surpresas”; “Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”; “Treino é treino, jogo é jogo”. "Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca, quem não tem defende"; "Jogador bom é que nem sorveteria: tem várias qualidades"; "Bola tem que ser rasteira, porque o couro vem da vaca e a vaca gosta de grama"; Futebol moderno é que nem pelada, todo o mundo corre e ninguém sabe para onde”; “Jogador brasileiro não vai ter problema no México, não. Tudo já morou em favela e não pode se queixar de altitude” e “Goleiro é uma posição tão amaldiçoada que onde ele pisa nem grama nasce”.
Homem de poucas palavras, mas perfeito observador e muito inteligente, só falava nos momentos oportunos. Lançava com grande humor as suas frases irônicas para definir os fatos. Adepto do futebol simples e objetivo, ele contestava a forma de jogar de Domingos da Guia. Neném repudiava o drible e a firula dentro da área.
Para muitos torcedores Neném era uma figura humana estranha. Apesar de muito conhecido na praia, ele jamais foi visto tomando banho de mar. Antonio Franco de Oliveira jamais gostou de falar sobre o seu passado.
A exemplo dos demais funcionários do Botafogo passou por privações com os frequentes atrasos dos salários. Mas nunca pensou em largar o clube de seu coração. Foi há muito custo que ele concordou em se internar numa casa de saúde.
"Neném Prancha" jamais pensou em casamento, porque o pouco dinheiro que ganhava servia apenas para "manter o estômago em dia". E quando perguntado porque ficou solteiro, comentava: "Casamento é coisa muito séria para terminar nas manchetes de jornais".
Neném morreu na madrugada do dia 17 de janeiro de 1976, na Casa de Saúde Dr. Eiras, vítima de um enfarto do miocárdio. Ele tinha 59 anos. Profundo conhecedor de futebol, "Neném Prancha" atuou até pouco antes de morrer como "olheiro" no futebol de praia. Roupeiro do departamento de atletismo no Botafogo desde 1943 - começou trabalhando para a divisão juvenil de futebol. Antonio Franco de Oliveira passou a ter problemas no coração a partir de março de 1975.
Ele teria ficado muito agitado com o lançamento do livro "Assim falou Neném Prancha", de autoria do esportista Pedro Zamara". Pelo menos esse foi o comentário mais ouvido durante o seu enterro no cemitério São João Batista. (Pesquisa: Nilo Dias)
O livro que conta a vida de "Neném Prancha".