Na primeira década do século XX, após concluir os estudos preliminares, mudou-se para Porto Alegre para cursar Medicina. Logo que chegou na capital gaúcha, interessou-se pelo novo esporte que surgia, o foot-ball.
Mesmo sendo de origem germânica, Carlos Kluwe aproximou-se do Internacional, clube que fazia oposição ao germanismo no futebol. A família Kluwe gostava de futebol. Pouco depois da fundação do Internacional, Lothario, João e Guilherme Kluwe fundaram o 7 de Setembro, de Porto Alegre, no dia 15 de agosto de 1909.
Não há registro de que Carlos tivesse jogado pelo clube de seus parentes, mas sabe-se que logo após o Gre-Nal de 18 de julho de 1909 o atleta já era sócio do Internacional. Na segunda partida do Internacional, o empate em 0 X 0 com o Militar Foot Ball Club, no dia 7 de setembro de 1909, Kluwe estava em campo, atuando como atacante. Mas sua posição clássica seria de "center-half", um avô dos volantes.
Kluwe era um jogador muito alto, com 1m90 de altura. Chutava com os dois pés com a mesma facilidade e de qualquer distância. Dono de uma personalidade muito forte, logo se tornou o líder do time, dentro e fora dos gramados.
Foi com ele que o Internacional alcançou suas primeiras conquistas, tricampeão portoalegrense em 1913, 1914 e 1915. Kluwe estava em campo no dia 28 de setembro de 1913, quando o Internacional bateu o Frisch Auf por 5 X 1, no “Turner Bund”, e conquistou seu primeiro título municipal, de forma invicta. O time campeão municipal invicto de 1913 tinha esta formação: Russomano – Ari e Simão – Barbiéri – Carlos Kluwe e Tom – Túlio – Flores – Bendionda – Átila e Barão.
Comandou o Colorado no bicampeonato, em 1914, atuando ao lado de seu irmão, o lateral Ricardo Kluwe, mais conhecido por Bitu. Em 1915, seis anos após a fundação, o Internacional goleou o seu principal adversário, o Grêmio, por 4 X 1, em jogo amistoso. Foi a primeira vitória colorada em Grenais.
O time que ganhou o primeiro clássico para os colorados tinha a seguinte formação: Baes - Simão e Dorneles – Bitu – Carlos Kluwe e Lucidio – Túlio - Osvaldo, Bendionda - Muller e Vares. Em jogo oficial, Kluiwe não teve o gosto de ter vencido um Grenal, pois o Grêmio abandonou o campeonato de 1913, e nos dois anos seguintes atuou por uma liga paralela. Essa foi uma grande frustração de Kluwe.
Muitos creditam a ele a tradição de clube guerreiro e vencedor, que o time vermelho e branco ostenta até hoje. Teve papel decisivo para que o clube ultrapassasse os primeiros anos de vida.
Os cronistas esportivos da época o chamavam de “Majestade dos Gramados”. Em 1915, depois de se formar médico pela Faculdade de Medicina, pendurou as chuteiras, quando tinha apenas 26 anos de idade. Em 15 de abril de 1915, em Assembleia Geral realizada no “Palacete Rocco”, o Internacional lhe entregou uma medalha de ouro por sua formatura em Medicina.
Mas Kluwe não abandonou o clube. Se não estava mais dentro de campo, passou a participar das Diretorias, tornando-se diretor de futebol. Em julho de 1919, quando médico e como fizesse grande sucesso entre as mulheres por sua beleza física, um grupo de senhoritas, torcedoras do Internacional, organizou um abaixo-assinado em que pedia ao ex-jogador que atuasse em um clássico Grenal que seria disputado no Estádio dos Eucaliptos.
O pedido se justificava, porque o Internacional estava sem ataque. Na véspera do clássico os jogadores Bento, Guimarães e Assunção ficaram sem condições de atuar.
Mesmo estando sem jogar por quatro anos, ele aceitou o desafio e entrou em campo para marcar o primeiro gol da vitória colorada por 2 X 0. Como teve uma atuação destacada nessa partida, e conseguiu ganhar um Grenal oficial, Kluwe resolveu continuar jogando o resto da temporada e também no ano seguinte, 1920, quando participou de um jogo e novamente foi campeão.
Da Região da Campanha, onde nasceu Carlos Kluwe, surgiram outros grandes jogadores que integraram as primeiras equipes do Internacional, como Simão Alves da Silva Filho, o Simão Alves, Belarmino Carlos Leal D’Ávila, o “Bendionda” e Chico Vares, o notável ponteiro-esquerdo, todos oriundos de Santana do Livramento.
Uma das proezas de Chico Vares foi ter marcado todos os gols do Internacional, na primeira goleada aplicada ao Grêmio, em julho de 1916: 6 X 1. Dois outros jogadores nascidos em Livramento participaram da fundação do Internacional, Vicente Pires e Rivarol Padilha.
Em 1921 Kluwe foi clinicar em Caxias do Sul. Em 1923, retornou a Bagé, sua cidade natal, onde exerceu a Medicina por vários anos e foi também inspetor federal de Ensino e exator estadual da Fazenda. Como médico examinava os alunos das escolas da cidade, dava conselhos de Saúde a todos e recomendava sempre a prática de esportes. Ao ingressar na política, foi eleito prefeito municipal no período de 1948 a 1951.
Em 1949 criou uma lei na qual a prefeitura concederia bolsas de estudo a alunos dos Cursos de Admissão ao Ginásio, dos Cursos Ginasiais e dos Cursos Científico, Clássico, Normal e de Técnicos em Contabilidade, além de todos os cursos existentes no Instituto Municipal de Belas Artes, para alunos carentes.
Foi em sua gestão que a Prefeitura adquiriu o “Palacete Osório” e o emprestou para ser instalado o Colégio Estadual. Depois, costumava visitar o educandário quase todas as noites. Circulando pelos corredores e conversando com os professores.
Anos depois, no governo de Alceu Collares, o Estado reformou e construiu novos pavilhões para a Escola Carlos Kluwe, entregando o “Palacete Osório” ao município, que hoje o utiliza para sede da Secretaria de Cultura.
Outro costume de Kluwe era o de reunir-se depois do almoço com os amigos Floriano Rosa, Zezo Antunes e outros, no Clube Comercial, para disputadíssimos jogos de Xadrez.
Carlos Kluwe faleceu aos 76 anos, no dia 16 de setembro de 1966, em sua terra natal. Hoje, empresta seu nome a Escola Estadual de Ensino Médio Doutor Carlos Antonio Kluwe. Na praça central da cidade foi erguido um busto em sua homenagem. Uma rua da Vila Kennedy, na periferia de Bagé, também leva seu nome.
Sua atuação como médico também não passou despercebida, e no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul, o “Fundo 33” leva seu nome, constando do diploma, fotos, biografia e matérias de jornais. E ainda hoje existem criadores de gado da família Kluwe, no Passo do Valente.
O professor e desembargador bageense, José Carlos Teixeira Giorgis, escreveu em 21 de janeiro do ano passado, no jornal “Minuano”, de Bagé, um artigo intitulado: “A majestade colorada”, em que homenageia Carlos Kluwe.
“Quando se entra no memorial recém inaugurado pelo Esporte Clube Internacional caminha-se por um espaço de memória e virtualidade, lembranças e glórias de passado e conquistas recentes. E se um bageense ali passeia encantado com as luzes e os sons, no meio de imagens e troféus encara fato que o abate de orgulho:
Entre as reduzidas vitrinas dedicadas a poucos atletas desponta homenagem a Carlos Kluwe, em ambiente enfeitado com o certificado da eleição como prefeito, o diploma de médico, fotos com familiares, e outros objetos doados por parentes.
Tudo organizado com devoção pela jovem pesquisadora bageense Júlia Preto de Vasconcelos. Ali se ostenta, ainda, uma placa de reverência (1968): “Médico dos pobres, educador da juventude, amigo de todos“, frase que resume existência invulgar. (Pesquisa: Nilo Dias)
Carlos Kluwe com a camisa do S.C. Internacional. (Foto: Acervo histórico do S.C. Internacional, de Porto Alegre)