Alcy Simões, para muitos o maior jogador de futebol
surgido no Espírito Santo em todos os tempos, nasceu na Avenida Capixaba, em
Vitória, no dia 1 de junho de 1913. Começou a jogar em 1930, quando ainda não
havia completado 17 anos de idade, mesma época que Lacínio, outra figura
destacada dos gramados capixabas. Foram campeões estaduais já no primeiro ano
de clube.
Ambos escreveram uma bonita história no tempo em que se
fazia a transição do futebol amador para o profissional no Brasil. Os dois,
mais Cícero Nonato, Marciolínio e Renato formavam o famoso ataque “ping-pong”,
que no campeonato estadual de 1936 marcou 57 gols em 11 partidas.
No tempo em que Alcy começou a jogar, além de Vitória e
Rio Branco existiam outros clubes bastante fortes no futebol do Espírito Santo,
como o Estrela e Cachoeira, de Cachoeiro do Itapemirim e Comercial, de Castelo.
Entre 1930 e 1949, Alcy venceu 15 campeonatos capixabas,
13 pelo Rio Branco, onde passou quase toda a carreira, e dois pelo Vitória.
Alcy já havia participado da campanha alvinegra do título de 1930, mas jogara
apenas uma partida. Como protagonista, sua primeira taça foi pelo Vitória.
Em 1937 já eram conhecidos nacionalmente e desejados por
equipes de fora. Alcy e Lacínio fizeram grandes apresentações durante a “Copa
dos Campeões Estaduais” e nos jogos do Campeonato Brasileiro de Seleções
Estaduais, defendendo a seleção do Espírito Santo. Alcy foi procurado pelo
Flamengo, que tinha pretensões de formar o “melhor ataque do Brasil” juntando
Leônidas, Gonzales e Alcy.
Botafogo e Portuguesa de Desportos também queriam o
jogador. Mas nenhum clube conseguiu convencer o atacante que recusou todas as
propostas, preferindo continuar no Rio Branco. Além de já ser funcionário
público estadual no Instituto Agrícola de Maruípe, sua esposa, dona Carmem, era
professora e não demonstrava qualquer interesse em deixar Jucutuquara.
Já Lacínio foi para o América carioca, deixando o Rio
Branco em 1938. Mas em 1940, desencantado com o futebol deixou os gramados aos
27 anos.
Alcy Simões, por sua vez, só encerrou a carreira em 13 de
dezembro de 1947, quando tinha 34 anos e o profissionalismo já havia sido
instalado no Brasil. Na verdade, ainda em 1948 e 1949, Alcy fez algumas
partidas decisivas pelo Rio Branco, como a final do Estadual de 1949, contra o
Comercial de Castelo, e jogou 20 minutos. Foi o suficiente.
O adversário endureceu e a decisão foi para duas
prorrogações. Alcy permaneceu em campo todo esse período, até que aos 138
minutos de jogo, já cansado e atuando na ponta direita, fez a jogada do gol do
título, driblando um adversário e centrando para Michel marcar. Ali, de fato,
encerrou a carreira.
Mas continuou vinculado ao Rio Branco, como dirigente ou
torcedor nas arquibancadas. Até o fim dos anos 80, com mais de 70 anos de
idade, ainda era figura presente no Estádio Kleber Andrade.
Apelidado de “Lourinho”, “Russinho” e “Maravilha Dourada”,
Alcy Simões, que faleceu em 2011, marcou 213 gols em 255 partidas disputadas
pelo Rio Branco, uma média fantástica de 0,84 gols por jogo. Foi um artilheiro
emérito e chutava bem com os dois pés.
A transferência de Alcy para o Vitória se deu por uma
briga provocada pela rivalidade com o Rio Branco, iniciada em 1912, em razão da
escolha das cores de cada um. O futebol ainda era amador e, em 1931, Alcy
também jogava basquete por seu clube.
Alcy gostava de frequentar a sede do clube rival e
costumeiramente saia com os rapazes e moças do Vitória, o que desagradou ao
então técnico de basquete do Rio Branco, Guilherme Abaurre.
Certa vez, minutos antes de uma partida entre Vitória X
Rio Branco, Abaurre advertiu Alcy, que se não jogasse bem, sairia do time.
Pressionado, o atleta não rendeu o esperado e errou cestas fáceis. No intervalo
foi substituído e em represália deixou o clube, transferindo-se para o
tradicional adversário.
E não foi sozinho. Junto com ele foram outros dois
jogadores do time de futebol, o craque meio-campista Lauro Rebelo e Filhinho,
que atuava no meio e no ataque. O Vitória tinha bons jogadores casos do goleiro
Luiz Nicolau, que deixou o clube no meio do campeonato para ir morar no sul do estado, dando lugar a Clóvis.
A defesa tinha Murilo, que passou mais de 10 anos no
clube, a partir de 1927, e em alguns jogos Cecé, ex-jogador do Botafogo e do
Goitacaz. No meio, João Pinto. Na frente, Heitor, apelidado de “Tanque”. E
ainda Cid, Abreu, Julinho, Barbosa, Arlindo, Américo, Hugo, Naná, Irineu, Lírio
e Amauri. O técnico era Alfredo Sarlo.
Naquele tempo os jogos tinham dois tempos de 40 minutos
com 10 de intervalo. Na maioria eram disputados no velho campo de Jucutuquara,
conhecido como “Estádio de Zinco”, pois era cercado por placas desse material.
Hoje ele não pertence mais ao Rio Branco, mas sim à Federação de Futebol do
Estado do Espírito Satos(FES). Desde meados dos anos 1920 já era considerado
obsoleto, com arquibancadas toscas, vulnerável a invasões dos torcedores e onde
não havia “placard”.
Em 1933 o campeonato estadual foi muito confuso, a
começar pela desistência de Rio Branco, Santo Antônio e Viminas de disputá-lo.
A competição foi marcada para ter inicio em abril, mas só começou em julho, com
uma goleada de 10 X 1 do Vitória sobre o Uruguayano. Os outros dois adversários
eram São João e Americano.
Depois do jogo da estréia só se sabe de outro resultado,
Vitória 4 X 2 Americano, no primeiro turno do campeonato. Nesse jogo o time
formou com Carlinhos - Julinho (Hermes) e Murilo – Naná - Lauro e João Pinto –
Filhinho Alcy Simões - Heitor “Tanque” (Cid) - Abreu e Amauri. José e Beline
também faziam parte do elenco.
O Vitória chegou à última partida, necessitando apenas de
um empate com o Americano. Se perdesse haveria uma decisão em melhor de três. O
resultado do jogo não é conhecido, mas com certeza favoreceu o Vitória, pois se
sagrou campeão daquele ano e de forma invicta.
Sabe-se que o Vitória em 28 de setembro daquele ano,
goleou em prélio amistoso um combinado formado por atletas do Rio Branco e
Viminas, que não quiseram disputar o campeonato, pelo placar de 4 X 1.