O
futebol paranaense ostenta um recorde mundial de fusões, que acabaram pela
criação do Paraná Clube. O clube para chegar a sua atual denominação passou por
quase um século de fusões e trocas de nomes.
Essa
história envolve vários clubes, Leão F.C. e Tigre F.C.: (que se uniram e
formaram o Britânia S.C.). Savóia F.C. e E.C. Água Verde: (em 1926, após uma
fusão entre eles foi criado o Savóia-Água Verde. No dia 3 de março de 1942 o
clube foi obrigado pelo Governo Federal a mudar o nome para E.C. Brasil, pois
havia sido declarada guerra à Itália e o nome Savóia, era uma clara homenagem
áquela nação. Em 1944 voltou a chamar-se Água Verde. Em 1971 mudou o nome para
E.C. Pinheiros).
Palestra
Itália F.C.: (na guerra chamou-se Paranaense E.C., C.A. Comercial e S.E.
Palmeiras. Depois voltou ao nome original. Era conhecido como “Periquito”, por
conta da camisa e “Nem que Morra”, pelos jogadores. Em 1971 fundiu-se com o
Britânia e o Ferroviário criando o Colorado E.C.).
C.A.
Ferroviário: (uniu-se ao Britânia e ao Palestra Itália criando o Colorado
E.C.). Colorado E.C.: (resultado da fusão entre Britânia, Ferroviário e
Palestra Itália). E.C. Pinheiros: (antigo E.C. Água Verde que mudou de nome em
12 de agosto de 1971. Em 1989 o Pinnheiro uniu-se ao Colorado E.C. e foi criado
o Paraná Clube).
Tudo
teve início no distante dia 30 de novembro de 1914, quando um grupo de jovens
funcionários da fábrica de vidros Solheid, fundou o Britânia Sport Club. Foi o
resultado da fusão entre dois times do bairro Rebouças: o Leão F.C. e o Tigre
F.C., ambos formados por adolescentes da região.
Depois
de uma partida entre eles confraternizaram com um churrasco, isso no dia 19 de
dezembro de 1914. Foi nesse ambiente de festa, que o senhor Carlos Thá teve a
idéia de propor a fusão das duas equipes.
O
nome Britânia foi escolhido para homenagear a Grã-Bretanha, já que alguns dos
fundadores do clube eram ingleses. Os torcedores passaram a chamar o novo clube
de “tigre”, pois o seu primeiro campo se localizava nos limites da cidade, e se
dizia que dali daquele mato em diante poderia-se encontrar qualquer coisa, até
“tigre” escondido.
Outra
versão é de que o apelido “tigre” tenha sido herança do nome de um dos clubes
que deu origem ao Britânia, o Tigre F.C. Seja uma versão, ou outra, a verdade é
que a “fera” passou a ser a “mascote” da novel agremiação.
A
primeira Diretoria ficou assim constituída: Presidente, Francisco Zanicotti;
Secretário, João Tesserolli; Tesoureiro, João Felipe Galli. O Britânia mantinha
um bom quadro social, em que despontavam as famílias Volpi, Zardo, Marinoni e
Schiavon. Na sede social, eram realizados bailes famosos.
Nos
seus primeiros anos de vida o Britânia treinava num terreno onde hoje fica a
Tecnológica Federal do Paraná. Naquele tempo era uma área fora da cidade, pois
o perimetro urbano terminava na rua Visconde de Guarapuava.
Em
1916 foi vice-campeão parananese. De 1918 a 1923, sagrou-se exa-campeão. O
Britânia foi o primeiro clube no Paraná a conseguir tal feito. Os historiadores
creditam essa surpreendente conquista ao fato do time, que ao contrário dos
adversários, não fazia restrições a jogadores negros.
E
não deixando de se reconhecer a regularidade da equipe, que se manteve a mesma
desde 1915. O destaque do time era Joaquim Martin, o maior artilheiro da
história do Britânia.
Alguns
anos depois da fundação, o clube ergueu uma sede social num belo prédio na
Praça Eufrásio Correia, em frente a antiga estação ferroviária.
Todos
os domingos havia jogos, jantares e bailes. Eram os anos 1920 e 1930 e Curitiba
era uma festa. As vitórias e títulos eram comemorados com grandes reuniões
festivas, reunindo as moças mais bonitas da sociedade. Naquela época, as
melhores e mais badaladas festas aconteciam no Britânia.
O
clube ainda conquistou mais um campeonato estadual, em 1928, quando ainda
contava com alguns jogadores veteranos do exa. Depois, nunca mais colocou a mão
na taça. Mesmo assim, é um dos cinco clubes com o maior número de conquistas
estaduais.
A
partir daí passou a participar apenas como figurante nas competições que
disputou. A exeção foi no campeonato de 1964, quando conseguiu sua última
façanha: um honroso terceiro lugar.
Em
1922, a equipe excursionou pelo Rio de Janeiro, quando disputou dois jogos no
estádio de General Severiano. A primeira partida do então penta-campeão
paranaense aconteceu no dia 10 de dezembro, contra a equipe do Botafogo e
empatou em 1 X 1.
No
dia 17 de dezembro venceu a equipe do Vasco da Gama por 2 X 0. Foi a primeira
viagem de uma equipe do Paraná para atuar em outro Estado brasileiro.
Enquanto
o futebol se profissionalizava em todo o Estado, o Britânia agonizava numa
lenta decadência, até que em 1971 se fundiu com outros dois clubes
tradicionais, Ferroviário e Palestra Itália, formando o Colorado Esporte Clube.
A
decadência do Britânia teve origem na criação do Clube Atlético Ferroviário, em
12 de janeiro de 1930, depois de uma cisão dentro do clube. O Britânia, com
isso, perdeu a ajuda que recebia da Viação Ferroviária Paraná-Santa Catarina,
desde a sua fundação.
A
empresa pagava jogadores, como se fossem seus funcionários. A partir da
fundação do Ferroviário, tudo mudou para pior. O patrocínio, os
atletas-funcionários, os negros e até os torcedores guarda-freios, graxeiros e
eletricistas dos trens, migraram para o novo clube. A partir daí os gozadores
de plantão diziam que o “Tigre teve suas presas limadas”.
O
Ferroviário chegou a ser um “gigante” do futebol paranaense, tendo sido
bi-campeão estadual em 1937 e 1938 e também em 1944 e 1948. Levantou a taça
ainda em 1953. Voltou a ser bicampeão em 1965 e 1966. Foi o primeiro
representante do Estado no antigo “Torneio Roberto Gomes Pedrosa”, o
“Brasileiro” da época.
O
Ferroviário ganhou o apelido de "Esquadrão de Aço" na década de 40,
quando realizou alguns amistosos no Rio Grande do Sul e voltou para Curitiba
invicto. Foi campeão do "Ano Santo" em 1950 e sua maior conquista foi
o título de "Campeão do Centenário" em 1953.
A
decadência dos chamados clubes “pequenos” também foi obra do “trio de ferro”,
Ferroviário, Atlético e Coritiba, que assediavam as revelações dessas equipes,
oferecendo empregos e outras vantagens.
No
caso do Atlético emprego no Governo Estadual; do Ferroviário, na Rede
Ferroviária Federal; e o “Coxa” argumentava com recursos de empresários fortes.
Os demais só olhavam sem nada poderem fazer.
Flávio
Merinoni jogou no Bretânia e trabalhava na Rede Ferroviária Federal.
Pressionado a ir para o Ferroviário, ele continouou no “Tigre”. Rafael Machado,
o “Faéco” teve de optar em continuar no Britânia ou perder o emprego na Rede
Ferroviária Federal. Preferiu deixar de vez o futebol.
Até
o começo dos anos 30, o Coritiba F.C. alugava o estádio do “Parque Graciosa”,
no Bairro “Juvevê”. Mas depois de um acerto com o proprietário, o clube foi
ressarcido pelas benfeitorias feitas, e com o dinheiro recebido pagou a entrada
do terreno no “Alto da Glória”. E até o “Belfort Duarte” ficar pronto continuou
usando o “Parque Graciosa”.
Em
1933, com a ida do Coritiba para a sua nova casa, o Britânia passou a usar o
“Parque Graciosa”, onde mandou seus jogos até 1940.
Os
torcedores chamavam esse estádio de “Cimento Armado”, não pelas arquibancadas,
que foram reformadas em 1927, mas pela dureza do gramado. A partir de 1941,
passou a ser utilizado pelo Palestra Itália para treinamentos, depois vieram os
jogos da “Suburbana”, um campeonato amador realizado em Curitiba, até ser
loteado.
O
Britânia só conseguiu ter o seu estádio próprio na década de 40, graças ao
coronel Francisco de Paula Soares Netto, um médico do Exército Brasileiro que
foi presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF) e do Britânia nas
décadas de 30 e 40.
Ele
tinha ótimos contatos e não teve dificuldades em conseguir os recursos para que
o clube adquirisse uma área na rua Carlos Dietzsch, no Bairro “Portão”,próximo
a igreja, num local arborizado e
belissimo conhecido como “Fazendinha”.
Em
retribuição aos esforços do coronel, o Britânia batizou o seu estádio de “Paula
Soares”. A inauguração aconteceu no dia 15 de agosto de 1943, com o jogo Avai
(SC) 4 X 1 Britânia. Não chegava bem a ser um estádio, mas era fechado e ali o
clube realizava treinos e alguns jogos.
Não
demorou muito tempo para que o Britânia vendesse o estádio para à indústria
textil Ibicatu Agro Industrial S.A., que também mantinha um time de futebol. Em
compensação, recebeu da prefeitura permissão para erguer seu novo estádio em
outra área.
Quando
começou a construir seu novo “Estádio Paula Soares”, o prefeito revogou a
autorização, porque a área havia sido doada à prefeitura com a condição de nela
ser feita uma praça, que viria a ser a “Praça Botelho de Souza”.
Para
não deixar o clube mal, doou um terreno localizado na “Estratégia”, nome da
estrada entre Curitiba e São José dos Pinhais, construída pelos americanos
durante a guerra.
Em
6 de junho de 1965, o Britânia inaugurou o seu último “Estádio Paula Soares”,
que se localizava na avenida Comendador Franco, também conhecida por “avenida
das torres”, no Bairro Guabirotuba, às margens da BR-116.
Na
ocasião derrotou o Água Verde por 3 X 2, em jogo válido pelo Campeonato
Paranaense. O time do Britânia, naquela ocasião, formou com Barbosa – Zé Carlos
– Acir – Marcelo e Antero – Clayton – Grão – Fiúza e Airton - Kruger – Soca e
Martins.
Soca
fora campeão pelo Grêmio, de Maringá, em 1960 e Kruger viria a ser tempos
depois um grande ídolo do Coritiba. O estádio era bem estruturado, com
vestiários modernos e uma grande novidade, banheiras térmicas.
O
novo “Paula Soares” não deu muita sorte ao time principal do Britânia, pois
nesse mesmo ano de 1965 foi rebaixado, após perder o “Triangular da
Morte”. O mesmo não se pode dizer das
categorias inferiores do clube: nesse período, o Britânia foi vice-campeão de
aspirantes em 1965, bicampeão de juvenis em 1967-1968 e vice de juvenis em
1969.
Em
1998 o estádio foi vendido para a rede atacadista (Sonae Atacadista) que
construiu a loja “Big Hipermercados”.
Em
1966 disputou a 2ª Divisão. Mas para resolver uma crise entre os clubes da
“Primeirona”, foi estabelecido que o certame daquele ano contaria com 14
clubes.
A
última vaga foi decidida num torneio hexagonal, denominado “Torneio Esperança”,
que foi vencido pelo Britânia – seu último título. Conquistada a vaga, terminou
a competição em último lugar, voltando a “Segundona”, em 1970, sem obter
classificação.
Títulos
do Britânia: Vice-Campeão Paranaense: (1916); Campeão Paranaense: (1918, 1919,
1920, 1921, 1922, 1923 e 1928); Torneio Início: (1919, 1923, 1926, 1928, 1933,
1959 e 1961); Torneio Esperança: (1968); Campeonato Paranaense de Juvenis:
(1967 e 1968).
Artilheiros
do clube no Campeonato Parananese: Joaquim Martin, com 17 gols em 1918, 7 gols
em 1919, 9 gols em 1920, 17 gols em 1921 e 25 gols em 1922. “Faéco”, com 21
gols em 1923 e Marinoni, com 6 gols em 1928.
Além
de ser um dos dois únicos clubes exa-campeões estaduais – o outro é o Coritiba
-, o Britânia conquistou três campeonatos de forma invicta (1921, 1922 e 1923)
e em sete ocasiões teve o artilheiro da competição. O Britânia das décadas de
1910 e 1920 era quase imbatível.
Em
17 de março de 1971, o Britânia fez fusão com o C.A. Ferroviário, que também
vivia um período de decadência, pois não tinha mais o apoio da rede
ferroviária, e o Palestra Itália F.C., que estava fora do futebol profissional
desde 1967, para formação do Colorado E.C. O novo clube escolheu o Estádio
Durival de Brito para sediar seus jogos.
O
“Estádio Paula Soares” tinha instalações acanhadas, que não permitiriam seu
aproveitamento em jogos oficiais, apenas para alguns treinamentos quando o
gramado da Vila necessitasse ser poupado. Ou para abrigar as Feiras do Comércio
e Indústria do Paraná (Fecip).
Em
19 de dezembro de 1989 o Colorado E.C. fez fusão com o E.C. Pinheiros, nascendo
o Paraná Clube. O último jogo do Colorado aconteceu na tarde de 8 de julho de
1989. Jogando em seu estádio, o Durival de Brito e Silva, o time vermelho e
branco empatou com o Coritiba em 3 X 3.
Luisinho
marcou o último gol da história do Colorado, o terceiro de sua equipe no jogo.
Roberto Gaúho, do Coritiba marcou o último gol sofrido pelo extinto clube da
“Vila Capanema”.
Com
a fusão, o Paraná Clube herdou os estádios Durival Britto (do Colorado, o
“Paula Soares”, do Britânia, o do Palestra Itália, e os dois estádios do
Pinheiros: “Erton Coelho de Queiroz”, que o Paraná ainda utilizou em algumas
partidas e o “Orestes Thá”, na Vila Guaíra, que pertenceu ao extinto E.C. Água
Verde. Na área onde se localizava o estádio, foi erguida a suntuosa sede do
Paraná Clube.
Embora
não faltassem estádios, o Paraná Clube ainda arrendou o “Pinheirão”, após o
Atlético rescindir o contrato que tinha com a FPF, em 1994.
O
Paraná Clube manda seus jogos no Durival de Brito, carinhosamente chamado de
Vila “Capanema”. O estádio se localiza na região central de Curitiba, no bairro
do “Jardim Botânico”.
A
Construção do Estádio Durival Britto foi um marco na vida do Clube Atlético
Ferroviário e na história do futebol paranaense. Depois de inaugurado em 23 de
janeiro de 1947, ele passou a ser o terceiro maior estádio do país, na época, com
capacidade inferior apenas ao Pacaembu, em São Paulo e ao São Januário, no Rio
de Janeiro.
Para
a pacata Curitiba dos anos 40, o majestoso estádio construído no antigo terreno
da chácara do “Marquês de Capanema” foi um acontecimento histórico que mereceu
os mais variados tipos de análises, avaliações e comemorações.
A
“Vila Capanema” é um verdadeiro templo do futebol paranaense, pois foi a única
praça esportiva do Estado a sediar uma partida pela Copa do Mundo, em 1950. São
58 mil metros quadrados de área e de tradição.
Palco
de grandes momentos do passado, o estádio foi reinaugurado em setembro de
2.006, com a ampliação da capacidade de 12.100 para 20.083 espectadores.
A
“Vila Capanema” passou por uma grande reforma, sendo totalmente revitalizada, ganhando
uma nova arquibancada, novos camarotes, novas lanchonetes, novos sanitários,
uma nova sala de imprensa e o maior estacionamento entre os estádios dos clubes
da capital.
Com
o abandono, o “Estádio Paula Soares” agonizou durante esse período. As arquibancadas
continuavam em pé. As telhas caíam aos poucos. O mato tomava conta do entorno
do campo. No entanto, o gramado mesmo continuava aparado.
Com
um pouco de sorte, se via até alguma atividade, como um treino de jogadores, um
“rachão” ou algo assim. Alguns sócios do Paraná Clube usavam o campo para
treinar beisebol.
Tempos
depois, do telhado só havia sobrado o esqueleto de concreto e o campo já tinha
sido devidamente engolido pelo capim. As arquibancadas cinzentas do “Paula
Soares” foram finalmente demolidas, em 1998, para construção de uma filial do
Hipermercado “Big”.
O
nome do coronel “Paula Soares”, porém, não teve o mesmo triste fim do estádio.
Hoje ele é lembrado como “Patrono” do tricolor da “Vila Capanema”.
Britânia S.C. no início do século XX.
(Foto: Arquivo da Federação Paranaense de Futebol -FPF)