Já
imaginaram um jogador de futebol todo desengonçado, baixinho, apenas 1,67m, pernas
finas e curtas, barriga de dirigente de clube e um jeito nada convencional de
correr? Pois existiu um com todas essas caracteristicas antifutebolísticas, o
atacante “Ageu Sabiá”, assim apelidado pela semelhança com o pássaro. Mas
bastava entrar em campo, para em poucos minutos deixar calados todos os que não
acreditavam nele.
O
peso ideal de Ageu era 65 quilos, mas perdeu as contas de quantas vezes entrou
em campo com até 10 quilos a mais, o que segundo ele, em nada atrapahava seu
desempenho. Esse ganho extra de peso tinha tudo a ver com sua alimentação que
não era nada saudável. O que ele gostava mesmo era de hambúrguer, churrasco,
pastel, pão com manteiga e refrigerante. E às vezes, para acompanhar, generosos
copos de cerveja.
Os
preparadores físicos dos clubes em que Ageu jogou, tinham consciência de que
sua alimentação não era a ideal para um jogador de futebol, mas não o
questionavam sobre isso, porque sabiam que dentro de camopo ele resolvia. Muito
pelo contrário, até o deixavam fora das tradicionais “maratonas”. Fazia apenas treinamentos
específicos. Em dia de jogo, era capaz de correr 100 metros em dez segundos, o
que não era façanha para qualquer um.
Era
um artilheiro nato, daqueles que gostava de pegar a bola na intermediária,
deixar os zagueiros no chão a dribles, fazer o gol e correr em direção a
torcida para comemorar. Foi um dos maiores mitos da história do futebol
paraense.
Foi
artilheiro por dois anos seguidos do “Campeonato Santareno” de 1986/87, o que chamou
a atenção do diretor Walter Abél, do Tuna Luso, de Belém. Mas ao ver o biotipo
do atleta, até então desconhecido, jogadores, comissão técnica e até os
repórteres que cobriam o dia a dia do clube riram e se perguntavam: “como uma
pessoa acima do peso poderia se aventurar a jogar profissionalmente?”
Ageu
Elivan Lopes do Nascimento nasceu no dia 10 de Setembro de 1967 em Monte Alegre
(PA). Seu primeiro time profissional foi o São Raimundo, de Santarém (PA), que
disputava o campeonato da cidade. Em 1986 trocou de time, indo para o rival São
Francisco, onde se tornou artilheiro e bi-campeão municipal.
Ganhou
fama, e em 1988 foi contratado pelo Tuna Luso, onde se sagrou campeão estadual
pela primeira vez. Depois foi para o Paysandu, que estava na “Terceira Divisão”
e conseguiu subir para a “Segunda”. Em 1992 o Remo o contratou.
Em
1993 estava de volta ao Tuna Luso, conquistando a artilharia do campeonato estadual.
Igual a pássaro que anda de galho em galho, retornou ao Remo no segundo
semestre daquele mesmo ano, para disputar o “Campeonato Brasileiro da Série A”.
Novamente
deixou o Remo, se transferindo para o Noroeste, de Bauru (SP). Ficou pouco
tempo e voltou ao Pará, passando antes pelo São Carlense, de São Carlos (SP) e
Tuna Luso. Voltou ao Remo em 1996, para ganhar mais dois títulos estaduais, em
1996 e 1997.
Competições
disputadas. Pelo Remo: Série B (1992); Campeonato Brasileiro da Série A (1993);
Campeonato Paraense (1996, 1997 e 1998); Copa do Brasil (1996, 1997 e 1998). Títulos
ganhos pelo Clube do Remo. Campeonato Paraense (1996 e 1997); Pelo Tuna Luso.
Campeão estadual (1988); Campeão municipal de Santarém, pelo São Francisco
(1986 e 1987)
O
que pouca gente sabe é que “Ageu Sabiá”, enquanto fazia história no futebol
paraense, colecionava títulos, medalhas e marcava centenas de gols, divertindo
os torcedores paraenses, viveu um drama extracampo. Ele lutou por três longos
anos pela saúde do filho Breno, que sofria de leucemia.
Em 2010, quando o menino completou 9 anos, a grande nóticia: estava curado. Para Ageu isso foi melhor do que qualquer título que ganhou. Pai e filho passaram por um verdadeiro drama, que começou quando o menino tinha apenas 7 anos e foi diagnosticada a doença.
Foram 2 anos e 7 meses na luta pela cura da doença. A rotina de pai e filho mudou. Breno deixou de jogar bola e estudar, para se dedicar ao tratamento. E Ageu, teve que se mudar para o Hospital Ophir Loyola, onde o menino passou muitos dias de sua vida.
Em 2010, quando o menino completou 9 anos, a grande nóticia: estava curado. Para Ageu isso foi melhor do que qualquer título que ganhou. Pai e filho passaram por um verdadeiro drama, que começou quando o menino tinha apenas 7 anos e foi diagnosticada a doença.
Foram 2 anos e 7 meses na luta pela cura da doença. A rotina de pai e filho mudou. Breno deixou de jogar bola e estudar, para se dedicar ao tratamento. E Ageu, teve que se mudar para o Hospital Ophir Loyola, onde o menino passou muitos dias de sua vida.
Ageu
Sabiá” também ganhou fama de folclórico. Contava muitas histórias engraçadas
que diziam respeito a sua barriga descomunal. Talvez a melhor de todas seja uma
ocorrida em 1993, quando Remo e Portuguesa de Desportos jogaram no Estádio do
Canindé, pelo “Campeonato Brasileiro”.
Um
repórter veio entrevistar Ageu e perguntou como ele podia correr com uma barriga
daquele tamanho. Sem pestanejar, respondeu: “O cavalo é barrigudo e também
corre”. Em1993, antes de uma partida contra o Goiás, no “Serra Dourada”, outro
repórter lhe disse que era difícil alguém de fora ganhar deles lá dentro. E
Ageu respondeu: “Difícil é dar rasteira em cobra e cachuleta em jabuti. O resto
é fácil”.
Quando
desembarcava do ônibus as pessoas pensavam que ele era o roupeiro do time. Ageu
não se importava e respondia dentro de campo com muitos gols Mas é inegável que
a fama de “gordinho” atrapalhou um pouco a sua carreira, não tendo conseguido
jogar em nenhum time grande do Sul ou do Sudeste. É verdade que andou pouco
tempo no interior paulista, onde jogou no Noroeste, de Bauru e São Carlense, de
São Carlos.
Em
1994 quase fechou com a Portuguesa de Desportos, mas esbarrou no preconceito. Ageu
já tinha até arrumado as malas para viajar até São Paulo, quando o técnico
Candinho foi demitido e outro contratado. E desistiram de contratá-lo. A sua
fama de “gordo” falou mais alto que sua condição de artilheiro.
Antes
de encerrar a carreira, “Ageu Sabiá” ainda marcou muitos gols por Tiradentes,
Águia, de Marabá e Ananindeua, todos clubes do Pará.
Fora
dos gramados, Ageu ainda acompanha o futebol, em especial o “Campeonato
Brasileiro”, vendo jogos pela TV. E elegeu este ano o seu ídolo, que não
poderia ser outro, senão Valter, centro-avante do Goiás. Ele vê no craque “gordinho”
as mesmas caracteristicas que tinha no tempo em que jogava. Não acredita que
Valter possa emagrecer um dia, mas garante que continuará fazendo gols.
Para
Ageu, o camisa 9 do Goiás faz por merecer uma chance na “Seleção Brasileira”,
por se tratar de um excelente jogador, oportunista, um exímio “matador”. “Sabiá”
se diverte dizendo que ele é o verdadeiro “gordinho artilheiro” mais famoso do
Brasil, e Walter é o segundo.
O
futebol do Pará sempre se caracterizou por alguns aspectos peculiares que
serviriam até para um estudo mais aprofundado. Nos anos 50, por exemplo, jogou
no Payssandu um atacante de apelido “Pau Preto”. Fez muitos gols e garantiu títulos
para o clube. O engraçado, é que os locutores de rádio primavam pela desatenção
ao narrarem alguns de seus gols.
Certa
ocasião “Pau Preto” estava em tarde de gala, fazendo diabruras dentro de campo,
driblando meio time adversário e concluindo para a rede. Um certo locutor, sem
perceber a besteira que estava dizendo, lascou: “”Pau Preto” entrou com bola e
tudo”.
Na
década de 70, jogou no Remo um centro-avante de estatura alta, 1,92m, chamado
Alcino e apelidado “Negão Motora”. Era forte e rápido, chutava e cabeceava bem,
fazendo gols de todo jeito. O mais lembrado de todos, ele fez num clássico
contra o Paysandu. Driblou os zagueiros e o goleiro, colocou a bola em cima da
linha e sentou sobre ela antes de fazer um gol de bunda.
Desde
então a torcida do Payssando quer ouvir falar no diabo do que em Alcino,
protagonista de tamanha humilhação. Alcino era capaz de qualquer coisa para
provocar a torcida rival, até de baixar o calção e mostrar as partes íntimas, o
que convenhamos, passava de todos os limites toleráveis. Alcino, depois jogou
no Grêmio Portoalegrense.
Da
mesma época de “Ageu Sabiá”, surgiu no futebol paraense o atacante Edil, talvez
o mais folclórico jogador que atuou nos gramados nortistas. Era a verdadeira versão
amazônica de “Túlio Maravilha”. A diferença estava no porte físico, Edil tinha mais
de 1,80m de altura, nariz de tucano e um cabelo cacheado, estilo anos 80.
Começou
a carreira nas categorias de base do Paysandu. Aos 19 anos já estava no elenco
de profissionais e foi campeão paraense de 1987. Ganhou fama e foi jogar no Nordeste,
para voltar ao Payssandu na década de 90 e fazer história. Começou a marcar
gols, ganhar títulos e virou um falastrão.
Foi
ele um dos pioneiros na introdução de comemorações irreverentes no futebol
paraense. Criou personagens fixos para celebrar os seus gols, como o “Carrasco”,
em 1992, quando jogava no Payssandu. Ele carregava preso ao calção um capuz e
cobria o rosto com ele, quando fazia um gol. E com o auxilio de um companheiro
de time, simulava a degolação de um condenado com uma machadada imaginária. A
torcida entrava em delirio.
Em
1996, quando Edil jogou no Clube do Remo, inovou na comemoração, criando o "Braddock",
inspirado na série de filmes estrelada pelo igualmente matador “Chuck Norris”.
A cada gol, dois ou três jogadores se alinhavam num paredão invisível e eram
"metralhados" por Edil.
Em
2000, ele foi contratado pelo Castanhal, do interior paraense. E lá se tornou "Highlander,
o goleador imortal". Ele deixava sempre uma espada de plástico no banco de
reservas, que servia para performances hilariantes que agradavam a torcida do seu
time.
No
“Sul Maravilha” também teve um jogador cujo fisico não era nada recomendável
para um atleta. Tratava-se de Mauro Coelho, que ganhou o apelido de “Barrilzinho
de Pólvora”, pelos quilos a mais que o deixavam quase redondo. Mas isso não
impediu que se tornasse um meia-ponta-de-lança respeitado no futebol gaúcho,
defendendo Cruzeiro e Internacional, de Porto Alegre, nos anos 60 e 70.