terça-feira, 29 de abril de 2014

O “Gaúcho da Copa”

O Brasil inteiro sabe quem é o “Gaúcho da Copa”, o homem que corre o mundo seguindo a Seleção Brasileira de Futebol. Seu nome é Clóvis da Costa Fernandes, 58 anos, comerciante em Porto Alegre, casado e pai de quatro filhos. Com justiça é reconhecido como o mais autêntico embaixador do Rio Grande do Sul em Copas do Mundo.
Ele vai pilchado aos jogos do Brasil, com o chapéu repleto de “pins” e uma réplica da Copa do Mundo nas mãos. O bigode e a taça da Copa do Mundo continuam com ele, mas já dão sinais dos tempos: completamente grisalho, o bigodão que já foi preto agora é cinza, e a taça já mostra sinais de desgaste, principalmente na base de madeira.

Nascido e criado no interior do Estado, Clóvis, ainda guri, lembra que em 1958 seu pai soltava foguetes no meio do mato, para comemorar a conquista da Seleção Brasileira na Suécia. Embora não fosse um torcedor dos mais entusiasmados, não tinha preferência por nenhum time, sempre acompanhava pelo rádio os jogos da Seleção Brasileira.

Em 1962, já mais crescido, Clóvis recorda da alegria de seu pai com o bicampeonato, conquistado no Chile. Ele viveu tudo isso ao lado dele. Em 1990, já casado, resolveu dar um presente para ele mesmo. E falou para a esposa, que estava com vontade de dar uma “esticada” até Milão, na Itália, para ver a Seleção Brasileira jogar a Copa do Mundo.

Tudo começou quando uma emissora de TV de Porto Alegre apresentou uma matéria sobre a Copa do Mundo de 1990 na Itália. Ali estava tendo início uma viagem emocionante. Clóvis Acosta Fernandes, então com 35 anos, foi fundo em seu sonho de assistir de perto a principal competição de futebol do planeta.

Mas antes, teria que fazer um pequeno favor para a sua esposa Débora: comprar um piano alemão. Somente com esta condição, ela o deixaria viajar para a Itália.

Não deu outra. Comprou o piano e 30 dias depois desembarcava no aeroporto de Milão para dar início a uma história de paixão pela Seleção Brasileira. Conta que essa sua primeira viagem foi  difícil, pois além de não conhecer ninguém, não tinha noção de como seria tudo.

Chegando em Milão, pegou um trem para Turim, onde se encontrava o time nacional. Como chegou 30 dias antes de todos, pode conhecer muita coisa. Garante que hoje conhece Turim, como Porto Alegre. Como não tinha nada para fazer, caminhava a pé por praticamente todas as ruas.

Nos primeiros dias em Turim pensou em trabalhar em alguma pizzaria para aprender, pois na época ele era proprietário de uma em Porto Alegre. Mas não levou a idéia adiante. Resolveu então apenas passear e fazer amizades. Uma destas amizades em 1990 foi com um gerente do Banco Nacional do Trabalho de Turim.

O “Gaúcho” lembra que ao chegar no banco para comprar ingressos para os jogos do Brasil, ficou impressionado com a grandiosidade do local. Entrou todo desconfiado, vestindo os trajes típicos do Rio Grande do Sul e todos ficaram olhando para ele.

De repente, apareceu um homem na sua frente perguntando, com português arranhado se ele era gaúcho de Porto Alegre. Ao responder que sim, ele disse: “Você precisa fazer um churrasco para mim”. Como churrasco é uma das especialidades do “Gaúcho”, o gerente do banco no outro dia mandou buscá-lo no hotel, com direito a motorista e tudo, para fazer o tal churrasco.

A única grande decepção que teve nessa sua primeira Copa do Mundo foi o resultado desastroso da seleção treinada por Sebastião Lazaroni, que foi eliminada nas oitavas-de-final pela Argentina, de Diego Maradona.

E de lá para cá não parou mais. Embora não beba nada de álcool, garante que é a sua cachaça, o seu vício. E sem esquecer o chimarrão. Sempre leva muita erva-mate em suas viagens.

O “Gaúcho da Copa” já recebeu criticas por ter viajado com dinheiro público, mas ele não se preocupa com isso. Confirma que sempre viaja calcado em parcerias, pois sozinho não tem como bancar os altos custos. No início ele tirava dinheiro de dentro de casa, mas todos o entediam e apoiavam.

Na Copa da África do Sul, ele buscou uma parceria com a Marcopolo, que colocou uma van à sua disposição, que foi devidamente personalizada com as bandeiras do Rio Grande do Sul, do Brasil e da África do Sul no meio das duas brasileiras, como se elas estivessem abraçando o país anfitrião.

Buscou também apoio da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), do presidente Francisco Novelletto, que deu uma passagem de avião. O Governo do Estado, gestão Yeda Crusius, bancou 19 diárias, no valor de 350 dólares, cada, para o “Gaúcho” assistir a Copa da África do Sul. O dinheiro foi utilizado para pagamento de alimentação e hospedagem. Ele era CC da Secretaria Estadual de Relações Institucionais.

O “Gaúcho” faz parte de um grupo de trabalho, de um comitê criado pelo governo do Estado, que entrou em contato com todas as autoridades na África, levando um material muito bonito do Estado, DVDs trilíngues mostrando todo o potencial turístico, industrial, comercial, toda a força do Rio Grande do Sul. E o “Gaúcho” levou também DVDs de Porto Alegre, para que as pessoas começassem a olhar para a cidade com mais carinho.

Mas não é só a Seleção Brasileira que mora no coração do “Gaúcho”. Também é torcedor apaixonado do Grêmio Porto Alegrense.

Nas suas andanças pelo mundo, Clóvis sempre traz para casa alguma coisa diferente. Não coleciona nada, e procura fazer trocas com pessoas de outros países. Também diz o destino que dá aos chapéus, garantindo que cada um deles tem certo período de vida.

Coloca-os dentro de uma caixa de vidro junto com um pendrive, ou DVD com as fotos que tirou das diversas autoridades mundo afora, e presenteia alguma entidade filantrópica, para que faça uma rifa, um sorteio, e arrecade fundos.

Otimista com a realização da Copa no Brasil, o “Gaúcho” acredita que mais de um milhão de pessoas estarão em visita ao nosso país, no período dos jogos. Ele esteve na Copa da Alemanha, que faz divisa com nove países, onde compareceram mais de 2 milhões de turistas. Como o Brasil faz divisa com 11, pode-se pensar com otimismo. Além do Brasil ser conhecido como o país do futebol

Tendo por base as suas próprias andanças mundo afora, o “Gaúcho” tem convicção de que pessoas de todas as nacionalidades têm vontade de conhecer o Brasil. E a razão é agora, com a realização da Copa do Mundo.

Quem viaja tanto, sempre se depara com situações cômicas ou trágicas. Pagar “mico” é comum. As dificuldades são muitas, a começar pela língua. Na Copa da Coréia, os torcedores brasileiros fizeram amizade com voluntários, que muito os ajudaram. Até um jogo de futebol fizeram com os voluntários, que mereceu cobertura da imprensa local.

Eles sempre nos falavam sobre a carne de cachorro. Queriam que a gente provasse, mas era difícil pois as autoridades a retiraram dos açougues, para evitar protestos, e para que a imprensa não divulgasse isso para o mundo.

Como queríamos de fato conhecer essa “iguaria”, no encerramento da Copa familiares dos voluntários se reuniram em uma fazenda e nos convidaram para um almoço. Era uma mesa comprida, daquelas baixinhas em que a gente senta com as pernas dobradas. O chefe da fazenda apresentou os pratos.

Foi um show, o primeiro era um tal de “howshubouká”. O segundo era um “heikinhanzin”. O terceiro, o “hofsmohal”, preparado com carne de cachorro. O “Gaúcho” disse que provou por educação, mas garante que nunca mais quer repetir a façanha.

Na Copa da França também aconteceu uma passagem no mínimo curiosa. O “Gaúcho” conta que o grupo de torcedores do qual fazia parte, alugou um apartamento em Paris. E logo cedo um dos integrantes foi comprar baguetes e patê. Na França se fabrica os melhores patês do mundo.

De repente, todos que estavam tomando café começaram a correr para o banheiro. Desconfiado, o “Gaúcho” resolver olhar a embalagem do tal patê e aí a surpresa. Era comida para cachorro. Foi muito engraçado. O companheiro achou que tinha comprado patê e se deu mal.

Em todos esses anos que acompanha a Seleção, o “Gaúcho” acha que o jogo final contra a Itália, na Copa de 1994, nos Estados Unidos, foi o mais emocionante que assistiu. Para ele o pênalti que Baggio bateu para fora, foi o grande momento daquela Copa.

Nessa sua segunda Copa, nos Estados Unidos, tudo ficou mais fácil para o “Gaúcho”, que em solo norte-americano, contou com o apoio do seu filho, Frank Damasceno, que lhe ajudou principalmente no inglês.

A sua última viagem acompanhando a seleção brasileira fora do país, foi na África do Sul. Por lá foi tratado como personalidade internacional, dando entrevistas, foi capa do principal jornal do país. Quando chegou ao aeroporto foi cercado por torcedores. Deu autógrafo e apareceu muitas vezes na TV africana.

Católico convicto, ele costuma rezar muito antes e durante os jogos. Lembra do jogo do Grêmio, contra o Náutico, nos Aflitos. Antes da cobrança de um pênalti contra seu time, o “Gaúcho” conta que fechou os olhos e pensou no seu pai. Pediu que ele não o abandonasse, e voltou de lá campeão da 2ª divisão.

A Copa das Confederações, disputada o ano passado, foi a quarta edição em que ele esteve presente. Além das Copas do Mundo, assistiu as Olimpíadas de Londres. A rotina é quase sempre a mesma: pegar um avião, alugar um carro no país sede e cair na estrada estrangeira com a ajuda de um GPS.

O “Gaúcho” já esteve em seis Copas do Mundo. Foram 46 países visitados, 112 jogos da Seleção Brasileira, quatro Copas das Confederações e cinco Copas América. De 1990, para cá, ele esteve presente em todas as competições que a Seleção disputou.

Hoje ele é conhecido e respeitado em todo o mundo. A própria FIFA já reconheceu a sua importância, ao gravar um documentário com ele em novembro de 2013, em Porto Alegre, intitulado “O Gaúcho da Copa é o torcedor símbolo”. Em agradecimento ele retribuiu oferecendo aos visitantes o churrasco e o chimarrão, coisas típicas do Rio Grande do Sul. (Pesquisa: Nilo Dias)

O "Gaúcho da Copa" entrga um brindea presidente Dilma Rousseff. (Foto: Divulgação)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O "Fio de Esperança"

Em 26 de abril deste ano foram completados 8 anos do falecimento do ex-jogador e técnico, Telê Santana da Silva, um dos mais importantes nomes da história do futebol brasileiro. Ele nasceu em Itabirito (MG), no dia 26 de julho de 1931 e faleceu em Belo Horizonte, aos 75 anos de idade, em 21 de abril de 2006, devido a uma infecção intestinal, que desencadeou uma série de outras complicações.

Telê começou a carreira de jogador de futebol em 1945, aos 14 anos, no time do Itabirense Esporte Clube, de sua cidade natal, que tinha a sede próxima de sua casa. E depois no América Recreativo de São João Del Rey, cujo técnico e presidente era o seu pai, caminho para o Fluminense, do Rio de Janeiro.

No tricolor carioca foi contratado depois de ser o destaque de um jogo treino contra o Bonsucesso, em que fez nada menos do que 5 gols. O então diretor de futebol do Fluminense, João Coelho Neto, o “Preguinho”, autor do primeiro gol da Seleção Brasileira em um campeonato do mundo, deu o aval para a contratação.

No Fluminense foi bi-campeão de Juvenis, em 1949 e 1950. Em fevereiro de 1951 foi promovido para os profissionais, tendo sido lançado pelo professor Zezé Moreira, de quem se tornou um grande amigo.

A partir daí teve a oportunidade de mostrar o seu melhor futebol e não largou mais a titularidade. Telê foi um dos ponteiros-esquerdos pioneiros na tarefa de voltar para marcar no meio de campo.

Os torcedores do Fluminense o apelidaram de “Fio de Esperança”, depois de um concurso promovido pelo jornalista Mário Filho, então diretor do “Jornal dos Sports”. “Fio” pelo seu porte físico, magro com apenas 57 quilos. E “Esperança” pela sua habilidade, rapidez, inteligência e aplicação tática.

O concurso surgira como ideia do dirigente tricolor Benício Ferreira. Na época, Telê tinha os apelidos pejorativos de "Fiapo" e "Tarzan das Laranjeiras", em função de seu corpo franzino.

O dirigente achava que o jogador merecia algo mais honroso e deu a ideia ao amigo Mário Filho, que criou o concurso com o tema "Dê um slogan para Telê Santana e ganhe 5 mil cruzeiros".

Mais de quatro mil sugestões foram enviadas à redação do jornal. O locutor esportivo José Trajano conta que seu pai participou do concurso propondo o apelido "A Bola". Três leitores acabaram empatados no primeiro lugar na votação final, com as alcunhas "El todas", "Big Ben" e "Fio de Esperança", que caiu no gosto dos torcedores.

Permaneceu no Fluminense por 14 anos. Do tricolor carioca foi para o Guarani, de Campinas (SP), que na época tinha como presidente o carioca Jaime Silva, que era torcedor do tricolor, o que facilitou sua transferência.

Já no final de carreira, foi de Campinas para o Madureira, do Rio de Janeiro, onde demonstrou seu amor pelo Fluminense. Embora seu time levasse 5 X 1, Telê chorou ao fim do jogo por ter marcado um gol no seu clube de coração. Ainda atuou pelo Vasco da Gama.

Telê jogou 557 partidas pelo Fluminense e marcou 165 gols, se tornando o terceiro jogador que mais atuou pelo clube e seu terceiro maior artilheiro. Como jogador conquistou os seguintes títulos mais importantes: Campeonato Carioca (1951 e 1959); Torneio Rio-São Paulo (1957 e 1960) e a Copa Rio (1952).

Depois de deixar os gramados foi aproveitado como técnico. Começou na categoria de juvenis, do próprio Fluminense, sendo campeão carioca em 1968. No ano seguinte foi guindado a treinador dos profissionais, conquistando o campenato carioca nesse mesmo ano, e formando a base do time que seria campeão do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, em 1970.

Telê foi ainda um defensor dos jogadores do Fluminense, que eram obrigados a entrar e sair do clube pela porta dos fundos. Depois de uma reunião à noite com dirigentes, pediu que abrissem a porta dos fundos para ele. Disseram que como ele não era jogador poderia sair pela entrada social.

Telê recusou-se a fazer isso e pulou o muro, porque não encontrou ninguém para abrir a porta dos fundos.  Anos mais tarde, ao lembrar o episódio Telê disse que foi jogador e o aviso também servia para ele.

Em 1970 Telê foi treinar o Atlético Mineiro, ganhando de cara o certame estadual. Até hoje, é o técnico que mais dirigiu o “Galo”, 434 vezes em jogos oficiais. Entre janeiro e julho de 1973, treinou pela primeira vez o São Paulo, mas foi afastado ao entrar em conflito com os ídolos Paraná e Toninho Guerreiro.

Retornou ao Atlético Mineiro em agosto, substituindo Paulo Benigno. Permaneceu no clube até setembro de 1975, sendo substituído pelo inexperiente Mussula. No primeiro semestre de 1976 assumiu o comando técnico do Botafogo, sem obter os resultados esperados.

Em 9 de setembro de 1976, substituiu Paulo Lumumba no Grêmio , levando-o a recuperar a hegemonia do Campeonato Gaúcho após oito anos de domínio do Internacional. No Grêmio, permaneceu até o fim de 1978.

Em 1979, foi contratado pelo Palmeiras, substituindo Filpo Núñez. Treinou a equipe até fevereiro do ano seguinte, quando foi convidado a comandar a Seleção Brasileira. Foi anunciado oficialmente como treinador da “Canarinho” em 12 de fevereiro de 1980 pelo então presidente da CBF, Giulite Coutinho.

Na Copa do Mundo de 1982, implantou uma forma de jogo que encantou, tanto os torcedores brasileiros, como os do resto do mundo. O time contava com jogadores técnicos como Zico, Sócrates e Falcão, entre outros. Apesar de grande performance, a Seleção foi derrotada pela Itália. Nesta sua primeira passagem, comandou a Seleção em 38 partidas.

Em 1983 foi contratado por altos valores pelo Al-Ahli, da Arábia Saudita, levando com ele os assessores Marinho Peres e Moraci Sant'anna. No clube árabe ganhou todas as competições que disputou. Em novembro de 1984 foi convidado pela CBF para retornar à Seleção, porém o Al-Ahli não o liberou.

Em 23 de maio de 1985 aceitou dirigir a Seleção Brasileira nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, substituindo Evaristo de Macedo. Ainda tinha vínculo com o Al-Ahli. Em dezembro desse ano conseguiu rescindir o contrato com o clube saudita.

Em 17 de janeiro de 1986 o dirigente Nabi Abi Chedid, recém-eleito vice-presidente da CBF, confirmou Telê como o treinador para a Copa do Mundo de 1986. Na competição mundial realizada no México, Telê buscou valorizar a experiência e montou um time com jogadores que atuaram em 1982, alguns já em fim de carreira.

A Seleção foi eliminada da Copa de forma invicta, em uma disputa de pênaltis com a França. A partir dai o técnico passou a conviver com a pecha de “pé frio" por parte da imprensa brasileira.

Telê voltou a carreira em 7 de agosto de 1987, novamente no Atlético Mineiro, onde ficou até outubro de 1988, quando saiu para assumir o Flamengo, do Rio de Janeiro. Começou com uma goleada do rubro-negro frente o Guarani, de Campinas, por 5 X 1, em 23 de outubro.

Ficou no clube da Gávea até 19 de setembro de 1989, depois de uma discussão com o jogador Renato Gaúcho. Voltou ao Fluminense em 29 de outubro, ficando até o fim do ano. Em 14 de maio de 1990 assinou contrato com o Palmeiras, substituindo Jair Pereira. O alviverde foi o único clube em que Telê não ganhou nenhum título.

Ainda nesse ano foi comentarista dos jogos da “Copa do Mundo” pelo Canal SBT. Permaneceu no alviverde paulista até 16 de setembro, quando foi demitido após uma derrota para o Bahia, em pleno Parque Antártica.

Em 12 de outubro daquele ano o São Paulo o contratou. No clube do Morumbi ficou até 1996, tendo conquistado duas vezes a “Taça Libertadores da América” e a “Copa Intercontinental de Clubes”. Telê, chamado no São Paulo de “Mestre”, é até hoje considerado o melhor treinador que o clube teve em toda a sua história.

Em janeiro de 1996, após sofrer uma isquemia cerebral, teve que abandonar o futebol e viu a sua saúde debilitar-se bastante, com problemas na fala e na locomoção, entre outros. Apesar de debilitado, acreditava que poderia voltar a trabalhar e, nos dias de mau humor, culpava a família por "impedi-lo". No começo de 1997, chegou a fechar contrato para ser o técnico do Palmeiras, mas seus problemas de saúde impediram que assumisse o cargo.

Após sua morte, recebeu diversas homenagens, entre as quais: “Troféu Telê Santana”, de Minas Gerais; “Estádio Mestre Telê Santana da Silva”, em Duque de Caxias; “Hotel Concentração Telê Santana”, no “Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras”, do Fluminense; e uma rua no bairro Cachoeira, em Curitiba, além de um busto no Mineirão, em 2008.

Em livro, foi publicado, em 2000, “Fio de Esperança — Biografia de Telê Santana”, com base em entrevistas dadas por ele ao jornalista André Ribeiro, e “Telê e a Seleção de 82 – Da Arte à Tragédia”, de Marcelo Mora. Em filme, foi lançado em 2009 o documentário “Telê Santana: Meio Século de Futebol-Arte”, dirigido por Ana Carla Portella e Danielle Rosa.

Títulos, como jogador. Fluminense: Campeão Carioca de Juvenis (1949 e 1950); Campeão Carioca de Profissionais (1951 e 1959); Copa Rio (1952); Campeão do Torneio José de Paula Júnior, em Minas Gerais (1952); Campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca (1954 e 1956) e Campeão do Torneio Rio-São Paulo (1957 e 1960).

Como treinador. Fluminense: Campeão Carioca de Juvenis (1968); Campeão da Taça Guanabara (1969); Campeão Carioca (1969). Atlético Mineiro: Campeão Mineiro (1970 e 1988); Campeão Brasileiro (1971). Grêmio: Campeão Gaúcho (1977); Al-Ahli, da Arábia Saudita: Campeão Saudita (1983-84); Campeão da Copa do Rei Árabe (1982-83) e Campeão da Copa do Golfo (1985).

Flamengo: Campeão da Taça Guanabara (1989); Campeão da Copa Porto de Hamburgo, Alemanha (1989) Campeão do Troféu Clássico das Multidões (1989) e Campeão do Troféu Seis Anos da Rede Manchete (1989).

São Paulo: Campeão da Copa Intercontinental (1992 e 1993); Campeão da Copa Libertadores da América (1992 e 1993); Campeão da Supercopa Libertadores (1993); Campeão da Recopa Sul-Americana (1993 e 1994); Campeão Brasileiro (1991); Campeão Paulista (1991 e 1992); Campeão do Troféu Cidade de Barcelona – Espanha (1991 e 1992); Campeão do Torneio Ramón Carranza – Espanha (1992); Campeão do Torneio Tereza Herrera – Espanha (1992); Campeão do Troféu Cidade de Santiago – Chile (1993), Campeão do Torneio Santiago de Compostela – Espanha (1993); Campeão do Torneio Jalisco – México (1993); Campeão do Torneio Cidade de Los Angeles – EUA (1993); Campeão da Taça San Lorenzo de Almagro – Argentina (1994); Torneio Rei Dadá (1995) e Campeão da Copa de Clubes Brasileiros Campeões Mundiais (1995).

Prêmios individuais: Belfort Duarte, que homenageava o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem sofrer uma expulsão, tendo jogado pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais. (Pesquisa: Nilo Dias)


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Garrafões e fitinhas

Nos anos 50 muitos clubes de futebol, especialmente das cidades pequenas, faziam de tudo para conseguir recursos que permitissem se manterem com certa tranquilidade. Lembro que na minha terra natal, a pequena Dom Pedrito, na zona de campanha do Rio Grande do Sul, os dois principais clubes da cidade, na época, E.C. Cruzeiro e Botafogo F.C., se superavam em termos de criatividade.

Nos jogos nos estádios Floribal Jardim, do Botafogo e no do Cruzeiro, não tinha jeito do torcedor escapar. Além do ingresso do jogo, era assediado por bonitas meninas, para colocar na lapela um alfinete com fitinhas com as cores do seu clube.

O Cruzeiro era azul e branco e o Botafogo vermelho, azul e branco. E como se isso não bastasse, ainda tinha um grande garrafão de vidro a espera de qualquer contribuição.

Fora dos dias de jogos, os torcedores juntavam garrafas vazias nas ruas e entregavam ao clube que as vendia. Tinha também o “Livro de Ouro”, que passava de casa em casa na incessante busca de recursos. Isso sem falar nas intermináveis rifas. Havia venda de votos para escolha da rainha do clube. E também um quadro social e “carteio” nas sedes.

O meu tio Quintino Tavares, já falecido, mais conhecido por "Violão", era quem cuidava da sede do E.C. Cruzeiro e organizava os "carteios", que na época se constituíam na mais forte fonte de renda do clube.

Creio que essas idéias bastante criativas no passado, viraram raridades hoje em dia. Talvez um ou outro clube, em lugares mais pobres e distantes do país, ainda as utilizem. Hoje existem outras maneiras mais modernas dos clubes pequenos  buscarem dinheiro.

Ajuda das prefeituras, quadro social, publicidade nos muros dos estádios, bingos, sorteios, participações em Loteria Esportiva, jantares, bailes, recolhimento de latinhas de bebidas, etc.

Já os chamados clubes grandes, gozam de outros métodos menos trabalhosos para conseguirem dinheiro. Recebem recursos das transmissões de Televisão, de empresas, quadro social, loterias e exploração de seus estádios.

Durante muitos anos participei de direções de clubes de futebol em São Gabriel (RS). Fui presidente da S.E.R. São Gabriel por seis períodos. As dificuldades eram imensas, os recursos mínimos.

Geralmente os campeonatos eram disputados no inverno e a chuva corria os torcedores do estádio. Tinha que se fazer das “tripas coração”, para conseguir o dinheiro para pagar a arbitragem.

É verdade que a prefeitura quase sempre ajudava, dando o transporte para os jogos fora de casa e uma ajuda mensal em dinheiro. Se conseguia no máximo uns 500 sócios, mas era uma “briga” danada” para receber de todos. Acabava não valendo a pena.

Em algumas viagens, quando o dinheiro estava curto, quase sempre, se levava um panelão no ônibus, com comida pronta. As vezes um carreteiro, outras macarrão com galinha. E o lanche, sanduiches e refrigerantes eram geralmente doados por um supermercado da cidade. E também se distribuia frutas, gentilezas de comerciantes locais.

Para concentrar os jogadores antes dos jogos, sempre se podia contar com as unidades militares existentes na cidade e com os alojamentos da Estação Experimental de Forrageiras. Os quartéis muitas vezes emprestavam beliches, colchões e até roupas de cama para os atletas vindos de fora.

Algumas vezes também se contava com a boa vontade de donos de restaurantes e hotéis que concordavam em “adotar” um ou dois atletas. O atendimento médico e hospitalar nunca foi problemas, nem o uso de uma ou outra academia para exercícios físicos.

A S.E.R. São Gabriel e o G.E. Gabrielense, clubes que participei de Diretorias em São Gabriel, ainda conseguiam auxílios importantes. Mas o que dizer de clubes de outras pequenas cidades em Estados mais pobres, por exemplo, do Norte e Nordeste do país?

Se a situação da maioria dos pequenos clubes é dramática, imaginem dos jogadores. Na S.E.R. São Gabriel, muitas vezes não havia salários estipulados. Os pagamentos aos jogadores era feito com a sobra das rendas de jogos. E nem sempre sobrava alguma coisa.

De acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), dos 30.784 jogadores registrados no país, atualmente, 82% recebem até dois salários mínimos. Nesse grupo, estão inclusos os atletas que jogam sem nenhuma remuneração. (Texto: Nilo Dias)


As fitinhas com as cores dos clubes, eram vendidas nos portões dos estádios.

sábado, 19 de abril de 2014

A imprensa esportiva está de luto

Morreu na tarde de hoje, aos 67 anos de idade, um dos mais conhecidos narradores de futebol do Brasil, Luciano do Vale Queirós, nascido em Campinas (SP), no dia 4 de julho de 1947. Ele sentiu um mal súbito dentro do avião, quando se dirigia para Uberlândia (MG), onde amanhã faria a narração do jogo Atlético Mineiro X Corinthians, pelo Campeonato Brasileiro.

Ainda deu tempo de ser levado a um hospital de Uberlândia, onde morreu às 16h15min. Ao que se sabe, o locutor já sofria com problemas de saúde. Em início de 2012 ele teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que o obrigou a passar por sessões de fonoaudiologia, para reaprender a falar.

Luciano tentou voltar às atividades profissionais em um jogo entre Santos x Palmeiras, mas a doença não permitiu que fizesse a transmissão com êxito, errando quase tudo e virando motivo de chacota nas redes sociais.

Somente um ano depois do ocorrido e ainda com a saúde debilitada, é que revelou a existência do AVC. Mesmo assim continuou a narrar futebol, comandando sempre a partida principal do fim de semana na Band.

Tempos depois foi operado da bexiga e em consequência não pode participar das transmissões da Olímpíada de Londres, em 2012. Seu último trabalho foi na decisão do Campeonato Paulista deste ano, quando narrou a vitória nos pênaltis do Ituano sobre o Santos.

Luciano do Vale começou a carreira de locutor esportivo na Rádio Brasil, de Campinas, em 1963, quando tinha apenas 16 anos de idade. Também trabalhou na Rádio Educadora, de sua cidade natal.

Em 1967 foi morar em São Paulo e integrou a equipe de esportes da Rádio Gazeta, a convite de Pedro Luiz, famoso narrador da época. Mas ganhou destaque trabalhando na Rádio Nacional, de São Paulo, onde participou da cobertura da Copa do Mundo do México, em 1970.

Em 1971, já um narrador consagrado, chamou a atenção da Rede Globo, que o contratou para substituir Geraldo José de Almeida, um dos monstros sagrados da narração esportiva do país. Sua primeira transmissão na nova emissora foi um jogo de basquete masculino, válido pelo “Troféu Governador do Estado de São Paulo”.

A partir daí se tornou o principal locutor esportivo da TV brasileira, transmitindo os mais importantes jogos de futebol no país e no exterior, e também corridas de Fórmula 1, contando as vitórias de Emerson Fittipaldi.

Ele narrou com exclusividade para a Rede Globo a Copa do Mundo de 1982, na Espanha, quando a emissora bateu todos os recordes de audiência no jogo Brasil X Itália.

Calcula-se que mais de 90 % dos aparelhos de TV ligados no Brasil naquela tarde, estavam sintonizados na Globo. Foi a partir da voz dele que o Brasil sofreu com os gols de Paolo Rossi no fatídico jogo que tirou a Seleção do Mundial da competição.

Foram 11 anos na emissora de Roberto Marinho, com duas Copas do Mundo (1978 e 1982) e duas Olímpíadas (1976 e 1980). Após a Copa do Mundo foi para a Record, onde ficou de 1982 a 1983. De 2003 a 2006, teve nova passagem pela emissora.

Ao sair da Record pela primeira vez, assumiu a direção do Departamento de Esportes da TV Bandeirantes, onde trabalhou de 1983 a 2003. A sua segunda passagem na Band foi no período de 2006, até hoje. Pela emissora transmitiu sete Copas do Mundo (1986, 1990, 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010).

Em 2006 foi o apresentador do programa “Apito Final”, levado ao ar durante a Copa do Mundo e narrador dos principais jogos daquela competição, pelo Canal Band Sports. Graças a ele a emissora cresceu em audiência.

Luciano ajudou no desenvolvimento de diversas modalidades esportivas que antes não tinham espaço na TV brasileira, como o próprio Voleibol. Graças ao seu trabalho na TV Record o Brasil se tornou uma pujança mundial no esporte, consagrando uma geração de atletas como Bernard, William, Montanaro e Renan.

Já na TV Bandeirante ele promoveu o histórico jogo de Voleibol entre às Seleções do Brasil e da União Soviética, em 1983, numa quadra improvisada em pleno gramado do Estádio do Maracanã. O evento foi um sucesso, já que 97.325 pessoas pagaram ingresso. Foi o maior público a assistir um jogo de Voleibol no país, até hoje.

Foi ainda um incentivador da Fórmula Indy de Automobilismo, abrindo portas para que diversos pilotos brasileiros entrassem nesse tipo de competição. Em 1989 foi brilhante ao contar a vitória de Emerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Indianápolis.

Ao final dos anos 80 Luciano do Vale montou a Seleção Brasileira de Masters, da qual era treinador, formada por craques veteranos, que fez muito sucesso. Entre outros jogavam Luís Pereira, Edu, Dario, Cláudio Adão, Rivellino, Ado, Nunes e Dicá.

Luciano transformou a Band numa emissora ligada ao esporte, ganhando o slogan de "Canal do Esporte". Aos domingos era levado ao ar o programa de longa duração “Show do Esporte”, em que era dada ênfase aos mais variados tipos de esportes como jogo de sinuca, boxe, automobilismo e esportes olímpicos.

Nos meses de verão costumava promover várias modalidades de esportes de praia. Foi ele que abriu espaço para Hortência e Paula do basquete feminino, que juntas, ganharam o Pan de 1991 em Havana e o título mundial de 1994. Ele, lógico, narrou as duas conquistas.

Deu força ao futebol feminino, alavancou a carreira do lutador de boxe de Maguila, e deu o início às transmissões da NBA, da Fórmula Indy e do futebol americano no Brasil. Nos últimos anos reduziu drasticamente suas atividades empresariais, tendo se dedicado somente a narração de futebol. (Pesquisa: Nilo Dias)

Luciano do Vale foi um dos grandes nomes da imprensa esportiva brasileira. (Foto: Divulgação)

terça-feira, 15 de abril de 2014

O craque caipira

Sebastião José Ferri, o “Tião Abatiá”, um centro-avante troncudo, forte e com o topete caindo na testa, nasceu em 20 de janeiro de 1945, na cidade de Abatiá no Norte do Estado do Paraná. Começou a carreira jogando em sua cidade natal, mas foi no Colégio Cristo Rei, em Jacarezinho, para onde foi em 1958, que teve melhores oportunidades de mostrar o seu bom futebol.

O colégio possuía uma ótima estrutura para os alunos que quisessem jogar futebol, com uniformes completos para as categorias mirim, infantil e juvenil. Foi no Cristo Rei, onde estudou de 1958 a 1963, dos 13 aos 18 anos, que Tião se destacou defendendo a equipe amadora do colégio. Já mostrava ser um atacante diferenciado e chamava a atenção de todos que acompanhavam os jogos do Cristo Rei.

Tião lembra de um jogo amistoso do Flamengo, do Rio de Janeiro, em Jacarezinho, contra o Londrina, em 3 de abril de 1960, para inauguração do sistema de iluminação do estádio da cidade. O time paranaense jogou naquela ocasião com a camisa da Esportiva, time local, e o clube carioca venceu por 3 X 2. Os gols do Flamengo foram marcados por Gerson (2) e Moacir.

Na partida preliminar, os meninos do Colégio Cristo Rei deram um verdadeiro show, enfrentando um time amador da cidade. Tião marcou um gol. Lembra que naquele jogo participou o seu amigo Torquato Ducci, que depois seria campeão paranaense em 1961 com o Esporte Clube Comercial, de Cornélio Procópio.

A atuação do time do Cristo Rei foi tão boa, que os dirigentes do rubro-negro carioca quiseram levar o time inteiro para o Rio de Janeiro, o que só não aconteceu porque os familiares dos garotos de 13 e 14 anos não deixaram.

A partir daquele jogo, Tião se tornou torcedor do Flamengo, o primeiro time grande que teve a oportunidade de ver jogar. O onze carioca tinha em seu elenco jogadores categorizados como Moacir, Henrique, Gerson, Dida e Babá.

Depois de sair do colégio, Tião voltou a sua cidade natal e jogou pelo time local, até se transferir para Ribeirão do Pinhal. Em 1965, foi para o Cambará Atlético Clube, de Cambará, onde assinou seu primeiro contrato como atleta profissional.

O Cambará foi resultado de uma fusão de dois times em 1963, o Clube Atlético Operário e a Associação Atlética Cambaraense, que já havia sido vice-campeã Paranaense em 1953 e bi-campeã do Norte Velho em 1962/1963.

No Cambará atuou com jogadores conhecidos, como o goleiro Bigode, Mané, Sinésio, Zé Carlos, Adauto, Sorocaba, Cláudio, Benê, Ariston, Chuvisco, ponta-esquerda que jogou no Comercial de Cornélio Procópio e no Londrina, Bira e Gasolina.

Em 1966, quando já era cobiçado por vários clubes em razão de suas grandes atuações, acabou sendo contratado pelo União Bandeirante, na época o caçula do futebol paranaense. A partir daí a carreira de Tião ganhou considerável avanço.

Foi no time de Bandeirante que ele conheceu o jogador Paquito, com quem formou uma das melhores duplas de atacantes do futebol paranaense em todos os tempos. Mas para chegar a titularidade passou um ano no banco, até ganhar a posição de Carlinhos, que era o companheiro de Paquito.

Foi num jogo contra o Jandaia de Kosilek, Carvalho e Servílio, que o técnico De Sordi chamou Tião para entrar aos 43 minutos do primeiro tempo, no lugar de Carlinhos. Na primeira bola que pegou fez o gol. No segundo tempo saiu com uma bola do meio campo, driblou quase todo o time adversário e fez outro gol. A partir daí nunca mais saiu do time, para azar de Carlinhos.

Tião e Paquito disputaram a artilharia dos Campeonatos em 1968, 1969, 1970 e 1971 dentro do mesmo time. Em 1968 e em 1969 Paquito foi artilheiro e Tião vice, e nos anos de 1970 e 1971 Tião foi o artilheiro e Paquito vice.

Em janeiro de 1971, Tião Abatia foi contratado por empréstimo pelo São Paulo F.C., da capital paulista, onde ficou por apenas quatro meses. O alto preço pedido por seu passe impediu sua continuidade na equipe tricolor.

Em sua época de jogador do União Bandeirante, Tião Abatia nunca perdeu jogo para o Coritiba. Talvez esse tenha sido um dos motivos que levou o alviverde a contratá-lo em 1971, juntamente com Paquito. Um táxi aéreo pousou em Bandeirante e dele saiu Almir de Almeida, supervisor do Coritiba, com a missão de levar uma dupla que, há cinco anos, perturbava os adversários do União Bandeirante: Tião Abatia é Paquito. 

Os dois foram indicados pelo técnico Elba de Pádua Lima, o “Tim” e levados para a capital. O Coritiba estava mal no Campeonato Brasileiro e jogaria no final de semana contra a Portuguesa de Desportos.

Os dois chegaram na quarta-feira, e já foram treinar na quinta, sexta e no sábado. A imprensa os badalava como artilheiro e vice-artilheiro do Paranaense de 1971, além dos anos anteriores. Os jornais só falavam nos dois. Entraram como titulares frente a Lusa e responderam positivamente: Tião fez o primeiro e Paquito o segundo gol, na vitória de 2 X 1.

Tião fez um grande campeonato, o que lhe valeu no fim do ano o “Troféu Bola de Prata”, de 1971, promoção da revista “Placar”, como o melhor centroavante do campeonato, entre os 11 melhores de todas as posições.

As atuações da chamada “dupla caipira” no Coritiba, deixaram saudades. Quando o Santos foi jogar em Curitiba, em 27 de outubro de 1971, o estádio Belfort Duarte  lotou, pois todos queriam ver o “rei Pelé”. O Coritiba ganhou por 1 X 0, gol de Tião Abatiá, que “roubou” a festa.

O gol foi uma pintura. Num rush espetacular, Tião Abatiá deixou Ramos Delgado e Lima para trás e tocou para a rede na saída do goleiro argentino Cejas.

Outros jogos memoráveis de Tião. Empate de 1 X 1 com o Flamengo, em pleno Maracanã. Rodrigues Neto marcou para o rubro-negro carioca e Tião para o Coritiba. O goleiro flamenguista era Ubirajara Alcântara.

Dois de outubro de 1971. Coritiba e Atlético Mineiro se enfrentaram e o Coxa venceu por 1 X 0, gol de Paquito. Mas o grande lance do jogo foi proporcionado por Tião Abatiá. Aos 45 minutos do segundo tempo ele foi lançado por Paquito, dominou a bola, driblou Vantuir, Grapete e o goleiro Renato por duas vezes, cruzou para a área e Leocádio, outro super craque da época, cabeceou sozinho, mas por cima do gol.

A torcida alviverde, presente no “Couto Pereira” levantou e aplaudiu de pé a jogada de Abatiá, que depois foi usada por muitos anos como abertura de programas esportivos em todo o país. Em outro jogo inesquecível, Tião Abatiá e Paquito fizeram gols na vitória de virada contra o Corínthians, em 1971.

Em 1972, Tião Abatiá ia ter sua grande chance na Seleção Brasileira que jogaria a Mini-Copa do Mundo. Em um jantar com o técnico Osvaldo Brandão, este lhe garantiu a convocação e a titularidade. Mas deu azar. Num jogo contra o Cianorte, quebrou a perna e não foi para a Seleção.

Em 1975 foi contratado pela Portuguesa de Desportos, de São Paulo, em uma troca temporária por Luisinho e Maisena, mas não conseguiu boas atuações, voltando ao “Coxa”, para ser campeão paranaense daquele ano. Depois, comprou seu passe e foi jogar no Colorado, onde permaneceu até 1977.

Em 1976 a dupla caipira estava desfeita. Tião no Colorado e Paquito, no Maringá. Os dois disputaram a artilharia do campeonato paranaense até a última rodada, quando chegaram empatados, cada um com 24 gols. Paquito fez um gol na rodada final e foi o artilheiro.

Os dois são grandes amigos e compadres. Sobre a disputa pela artilharia em 1976, Paquito conta que tira sarro em Tião até hoje. Em contrapartida Tião garante que levou Paquito "nas costas", durante todo o tempo em que jogaram juntos.

Tião Abatia deveria encerrar a carreira no Colorado, em 1977. Não quis saber de jogo de despedida, pois não disse a ninguém que iria parar. Era seu último dia de contrato.

No vestiário, o roupeiro foi o primeiro a saber. Mas na verdade levou mais um pouco de tempo para deixar os gramados de vez, pois encerrou a carreira jogando pelo E.C. Pelotas, do Rio Grande do Sul…

Do tempo em que jogava, Tião Abatiá lembra de muitas histórias, duas delas que não esqueceu até hoje. Primeira, o folclórico Serafim Meneghel  era o presidente do União Bandeirante.

Num jogo frente o Seleto, de Paranaguá, o juíz marcou pênalti contra o União. Tomado de indignação, Meneghel, de revólver na cintura, entrou em campo para reclamar do árbitro Vander Moreira. Este, frente a tamanha “argumentação”, desistiu da penalidade e marcou tiro de meta para o Bandeirante.

Segunda. Iustrich treinava o Coritiba e costumava marcar treinos para às seis horas da manhã, embora os jogos se realizassem à tarde ou a noite. Mas compensava o sacrifício, mandando servir um café da manhã “cinco estrelas". Isso sem falar nas vezes que interrompia o treino para oferecer melão e pêssego aos jogadores.

O ex-presidente do Coritiba, Evangelino da Costa Neves, o “Chinês”, dizia que ele iria quebrar o clube. A explicação do técnico para um horário nada usual de treinamentos, é que assim conseguia tirar alguns jogadores da vida noturna. Por "alguns", entendia-se Zé Roberto, que muitas vezes chegava atrasado ao treino da manhã. E Iustrich dizia: “Não me incomodo se o Zé treina ou não. Domingo, ele decide".

Títulos conquistados: Pelo Coritiba: campeão paranaense (1972, 1973, 1974 e 1975 e Campeão do Torneio do Povo (1973). Em 1972, fez parte da equipe que ganhou a “Fita Azul”, na excursão invicta do Coritiba pela Turquia, Itália, França e Marrocos. O prêmio era dado pelo jornal “Gazeta Esportiva” ao clube brasileiro de melhor campanha em amistosos pelo exterior.

Tião considera o título de campeão do “Torneio do Povo” de 1973, como o mais emocionante da sua carreira. E conta que foi um torcedor do Bahia quem garantiu a conquista. O “Coxa” perdia em Salvador, quando da arquibancada alguém apitou. Achando que era o juiz, os zagueiros do Bahia pararam. E o Hélio Pires continuou e fez o gol. 

Tião Abatiá, em 1971 serviu de inspiração para a equipe da “Disney”, que criou o personagem “Tião Abaterá”, das histórias do Zé Carioca. Foi o primeiro jogador a ter um personagem na “Walt Disney”. Pelé também serviu de inspiração para o "Pelézinho", de Maurício de Souza.


Depois de parar com o futebol, Tião Abatiá montou uma agência lotérica em Bandeirante, e também passou a cuidar dos imóveis que comprou em Curitiba e no Norte Pioneiro. Não quis ser treinador e nem retomou a faculdade de Educação Física, que interrompeu nos anos 70, em Assis (SP). O ex-jogador guarda uma única mágoa: a morte da filha Janaína, num acidente de automóvel, em 1998. (Pesquisa: Nilo Dias)

Tião Abatiá e Pelé. (Foto: Arquivo fotográfico de Tião Abatiá)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Mais uma vítima do câncer

O futebol gaúcho está de luto, com a morte ocorrida por volta das 10 horas da manhã de hoje, do ex-jogador e técnico Paulo Sérgio Poletto, de 72 anos de idade, vitimado por um câncer. Ele estava internado a duas semanas no Hospital São José, da cidade de Arroio do Meio, no Vale do Taquari, onde residia.  O sepultamento acontecerá amanhã (sábado), no Cemitério de Arroio do Meio.

Formado em Educação Física, Poletto era professor aposentado do Instituto Anglicano Barão do Rio Branco. Antes de se tornar treinador, foi jogador de futebol, tendo defendido o Lajeadense, de Lajeado, seu clube de coração, onde além de jogador foi  técnico e presidente, Internacional, de Porto Alegre e Atlético Paranaense.

Depois de pendurar as chuteiras tornou-se treinador, tendo dirigido mais de 30 times, entre eles o Grêmio, em 1990 e posteriormente o Internacional.

Também teve passagem pelo Coritiba, Atlético Paranaense, Joinville, Lajeadense, São Luiz, de Ijuí, Passo Fundo, na campanha de volta a elite gaúcha em 1986 e Ypiranga, de Erechim, quando de seu retorno a Série A, em 1989. Também foi destacado técnico de futebol de Salão.

No Exterior treinou equipes dos Emirados Árabes e comandou os times equatorianos do  Barcelona, de Guayaquil, e Nueve de Octobre. Chegou a ser assistente técnico da seleção daquele país. (Pesquisa: Nilo Dias)


Paulo Sérgio Poletto morreu na manhã de hoje. (Foto: Jornal "O Nacional", de Passo Fundo)

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Gigante para sempre

Depois de mais de um ano em obras de mdernização, finalmente o Sport Club Internacional, está de volta a sua casa, o Estádio José Pinheiro Borda, uma homenagem ao engenheiro que dirigiu a Comissão de Obras. Mas é mais conhecido como o “Gigante da Beira-Rio” ou simplesmente “Beira-Rio”. O nome é um equivoco, uma vez que o estádio está localizado às margens do lago Guaíba, situado em Porto Alegre.

O “Beira Rio” sucedeu ao velho “Estádio dos Eucaliptos”, e foi construído com a colaboração da torcida do Internacional, inclusive do interior do Estado, que doou materiais de construção. Nesse sentido, programas especiais mobilizaram os colorados em todo o Rio Grande do Sul. Sabe-se que até Falcão, mais tarde ídolo do clube, chegou a levar tijolos para as obras.

O “Beira Rio” nasceu em uma área onde só havia água, para transformar-se no endereço de um dos estádios mais modernos do mundo.

No dia 6 de abril de 1969 os portões do estádio foram abertos pela primeira vez, para o jogo amistoso entre Internacional X Benfica, de Portugal, que tinha no elenco jogadores da categoria de Eusébio e Torres.

Esse foi o primeiro jogo realizado no “Beira-Rio”. O Internacional venceu por 2 X 1, tendo Claudiomiro marcado o primeiro gol no novo estádio. Gilson Porto marcou o segundo e Eusébio descontou para os portugueses.

O “Festival de Inauguração do Beira Rio” teve ainda os seguintes jogos: 9 de abril de 1969: Seleção Brasileira 2 X 1 Seleção do Peru; 13 de abril de 1969: Internacional 4 X 0 Peñarol e 20 de Abril de 1969: Internacional 0 X 0 Grêmio.

Com a confirmação do “Beira Rio” como uma das sedes da Copa do Mundo deste ano, o estádio passou por uma grande reforma, para se adequar as normas da Fifa. No dia 12 de dezembro de 2010, parte da arquibancada inferior começou a ser desmontada, reduzindo a capacidade de público do estádio para a temporada 2011.

Como o dinheiro em caixa não era suficiente para bancar as obras, o clube desistiu de realizá-las com recursos próprios, decidindo por uma parceria com a Construtora Andrade Gutierrrez, cujo contrato foi assinado em 19 de março de 2012.

Devido à definição da parceria com a Andrade Gutierrez, as obras de renovação do estádio foram atrsadas em 270 dias até que o contrato fosse assinado. Em razão disso, Porto Alegre ficou de fora da Copa das Confederações.

A obra foi totalmente executada com recursos privados, com exceção de uma parte de calçamento e drenagem em área pública, pertencente à Prefeitura de Porto Alegre, com custo estimado em cerca de R$ 7 milhões.

Durante a Copa do Mundo o estádio poderá receber até 51.800 pessoas. Depois da competição, a capacidade poderá ser ampliada para 58.000 pessoas, ou até mais, dependendo dos ajustes que serão feitos, posteriormente. O estádio deixará um novo marco na história do S.C. Internacional, que será o único clube do futebol brasileiro a ser sede de duas Copas do Mundo. A primeira foi em 1950, no antigo Estádio dos Eucaliptos.

A Seleção Brasileira já jogou no “Beira Rio” em 10 oportunidades, com sete vitórias, dois empates e uma única derrota. Os jogos foram estes: 07/04/1969, Brasil 2 X 1 Peru;  04/03/1970, Brasil 0 X 2 Argentina;  26/04/1972, Brasil 4 X 2 Paraguai; 17/07/1972, Brasil 3 X 3 Seleção Gaúcha; 25/05/1978, Brasil 2 X 2 Seleção Gaúcha; 08/06/1985, Brasil 3 X 1 Chile; 16/12/1992, Brasil 3 X 1 Alemanha; 07/09/1999, Brasil 4 X 2 Argentina; 05/06/2005, Brasil 4 X 1 Paraguai e 01/04/2009, Brasil 3 X 0 Peru.

O estádio colorado já sediou quatro finais da Taça Libertadores da América, três delas com a participação do Internacional (1980, 2006 e 2010). Em 2005, o Atlético Paranaense jogou contra o São Paulo no estádio, pois o regulamento não permitia que o jogo fosse disputado na “Arena da Baixada” devido a sua pequena capacidade de público.

O Beira Rio nestes seus 45 anos de existência, não se limitou a receber somente jogos de futebol. No local realizaram-se diversos shows e atrações, como a Chegada do Papai Noel nos anos 80 e 90, bem como apresentações dos cantores Roberto Carlos e Luciano Pavarotti em 1998, Paul McCartney, em 2010, Justin Bieber em 2011 Roger Waters em 2012.

A maior sessão de cinema da história, aconteceu em 7 de dezembro de 2010, quando o Beira-Rio recebeu 27.022 para assistir o filme“Absoluto – Internacional bicampeão da América”, documentário sobre o título conquistado pelo Inter, quatro meses antes. O feito recebeu certificação do Guinness, o Livro dos Recordes.

Ainda no Complexo Beira-Rio, encontram-se uma capela, o Centro de Eventos DTG Lenço Colorado, bares, lojas, uma agência bancária e estacionamento para 6 mil carros. Anexo há o Parque Gigante, onde se encontram as dependências de esporte e lazer do Sport Club Internacional, em treze hectares às margens do Guaíba.

A modernização do Beia Rio permitiu que todos lugares do estádio fossem cobertos e com 100% de cadeiras, novas cabines de imprensa, cobertura metálica sobre o anel superior, protegendo todos os assentos e rampas de acesso com a implantação de uma "proteção" externa semelhante à do Estádio Olímpico de Munique.

O projeto do novo Beira Rio ainda prevê a construção de um Shopping Center e um hotel para a concentração do clube e demais visitantes. Seu entorno terá o projeto paisagístico revitalizado, bem como o Ginásio Gigantinho será reformado e novos campos suplementares serão construídos.

Para os torcedores mais exigentes o clube criou os skyboxes, localizados na parte superior do estádio, com capacidade para até 24 pessoas, possibilitando vista panorâmica do campo, além de outras vantagens, como estacionamento e banheiro privativo. Os custos variam entre R$ 760 e R$ 1.416 por pessoa/mês.

Os camarotes ficam nos lados oeste e leste do estádio, entre as arquibancadas inferiores e superiores, com capacidade entre 14 e 18 assentos, além do estacionamento. Os valores ficam entre R$ 760 e R$ 1.375 por pessoa/mês.

Ainda há a opção dos assentos vips, numerados, acolchoados e rebatíveis, localizados na parte central da arquibancada. O preço fica entre R$ 389 e R$ 590 por mês.

A reinaguração do “Beira-Rio” aconteceu na noite de sábado (5) com o espetáculo “Os Protagonistas”, que contou a história do clube, fundadop em 1909, e do estádio inaugurado em 1969. A reforma orçada em R$ 330 milhões foi concluída com investimentos de uma parceria entre o clube e a Empreiteira Andrade Gutierrez.

Ainda como parte dos festejos, foi realizado às 16h de domingo (6) no Beira-Rio o amistoso entre Internacional 2 X 1 Peñarol, do Uruguai. O jogador D’Alessandro foi o autor do primeiro gol no novo “Beira Rio”. (Pesquisa: Nilo Dias)


Colorados vibraram com a reabertura do estádio. (Foto: Divulgação)