Morreu
por volta de 23h30min da noite de ontem o ex-goleiro da S.E. Palmeiras, de São
Paulo, Oberdan Cattani, na avançada idade de 95 anos, completados no dia 12
deste mês. A causa da morte teria sido uma infecção pulmonar.
Conhecido
pelo apelido de “Muralha” era o único jogador vivo que jogou no antigo Palestra
Itália e no Palmeiras. Foi ele que entrou em campo carregando a bandeira do
Brasil, na primeira partida em que o clube deixou de ser Palestra para se
chamar Palmeiras, devido a proibição de entidades brasileiras usarem nomes
estrangeiros.
O
jogo foi contra o São Paulo, disputado em 20 de setembro de 1942, com vitória
palmeirense por 3 x 1, conquistando o título estadual daquele ano.
Desta
forma, o Germânia passou a ser Pinheiros; o Espanha, de Santos, Jabaquara; e o
São Paulo Railway, Nacional. Até a Portuguesa de Esportes, que não precisava
mudar nada, passou a se chamar Portuguesa de Desportos, se bem que ninguém viu
muita diferença em tal alteração.
Havia,
naquela época, outros dois Palestras Itália no Brasil: um em Belo Horizonte e
outro em Curitiba. Estes, claro, também tiveram de mudar seus nomes, passando a
se chamar Cruzeiro, o de Minas Gerais e Coritiba o do Paraná.
Oberdan
estava internado há 10 dias no Hospital do Servidor Público, na Zona Sul da
capital paulista, para exames de rotina, em razão da cirurgia do coração a que
foi submetido recentemente. Oberdan estava se recuperando em casa. Além do
coração também foi operado de um joelho. Ultimamente perdeu o apetite e pouco
se alimentava.
O
Palmeiras já foi contatado e estuda como fazer para colaborar no sepultamento
do ídolo. O velório acontece na sede social do clube e o sepultamento será no
Cemitério do Araxá. Ele atuou no “Verdão” entre 1941 e 1954, tendo disputado
351 partidas, com 207 vitórias, 76 empates, 68 derrotas e 409 gols sofridos.
Em
um sinal da importância de Oberdan na história do clube, o Palmeiras
aprovou, no final do ano passado, a construção de um busto em sua homenagem,
honraria concedida apenas a outros três jogadores: Waldemar Fiume, Junqueira e
Ademir da Guia – o ex-goleiro Marcos também deve ganhar o seu em breve.
Porém,
com a doença de Oberdan, a cerimônia de inauguração do busto, que deveria ter
ocorrido ontem, véspera de sua morte, foi adiada.
Oberdan
nasceu em Sorocaba (SP), onde foi caminhoneiro e quando viajava para a Capital
costumava assistir os treinos do Palmeiras. Também participava de jogos de
futebol nos campos da sua cidade natal.
Foi
convidado para fazer testes no Corinthians, mas sua família não deixou. Todos disseram que se tivesse de jogar, seria no Palestra, pois o sangue que corria
em suas veias tinha as cores verde, vermelha e branca, da bandeira da Itália.
Em
1940 conseguiu fazer o tão sonhado teste no Palestra. O então técnico Caetano
de Domenico, arremessava a bola com as mãos. A primeira lançou no ângulo e
Oberdan defendeu com apenas uma das mãos.
A
seguir arremessou por cobertura e, com uma tapinha, o goleiro jogou a bola por
cima. Na terceira o treinador lançou com força, esperando que ele devolvesse com
um soco, como era tradicional. Mas Oberdan defendeu com uma só mão.
Ele
foi o único aprovado entre os 16 jogadores que participaram do teste. Estreou
no time principal em março de 1941, contra o Nacional. Um detalhe marcante, ele
não usava luvas.
Em
sua carreira atuou apenas por dois clubes o Palmeiras, onde conquistou a Copa
Rio de 1951, o Torneio Rio-São Paulo de 1941, o Campeonato Paulista de 1940,
1942, 1944, 1947 e 1950 e a Taça Cidade de São Paulo, em 1945, 1946, 1950 e
1951, e o Juventus, no final de carreira.
Por
isso foi impedido de ganhar um busto no antigo Parque Antárctica, pois
enfrentou o alviverde quando jogou pelo time da Mooca, em uma única partida.
Ele
deixou o Palmeiras quando tinha 35 anos de idade. A Diretoria, presidida por
Paschoal Giuliano, não o queria mais como camisa 1 e deram-lhe passe livre. Ele
queria continuar no clube, fosse como treinador de goleiros, auxiliar de
preparação física e até massagista, mas não queria sair do Parque Antárctica. O
máximo que lhe ofereceram foi o cargo de cobrador de recibos dos sócios.
Sem
escolha, foi jogar no Juventus. No Campeonato Paulista de 1954, defendeu seis
dos sete pênaltis batidos contra ele. Lembrava de um especial contra o
Corinthians, cobrado por Cláudio. Ele chutou no ângulo e Oberdan foi buscar com
uma só mão.
Reza
a lenda que ele é o autor da frase “Os corintianos são os rivais dos
Palmeirenses; os são-paulinos, inimigos.” Mas ele sempre negou a autoria da
frase.
Oberdan
era conselheiro vitalício do Palmeiras e até pouco tempo antes de morrer, podia
ser visto caminhando pelos arredores do Parque Antárctica. Em 2004 teve suas
mãos esculpidas na Sala de Troféus do clube.
O
também ex-goleiro Marcos, em um de seus últimos jogos coma camisa 1 do Palmeiras, homenageou Oberdan, posando para fotografias com um bigode igual ao
do “Muralha”. O ex-goleiro usou o mesmo estilo de bigode e penteado até a
morte.
Sabe-se
que Oberdan queria estar vivo e presente na inauguração do novo estádio do
Palmeiras, o que lamentavelmente não vai se concretizar. Ele tinha uma verdadeira
paixão pelo clube alviverde e guardava em sua carteira recortes de jornais com
fotos antigas, que costumava mostrar para os amigos.
O
casamento de Oberdan foi na Sala de troféus do Palmeiras, em 1945. Na ocasião
ele disse que ali era a sua casa, pois o Palmeiras era a sua vida.