quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A primeira tragédia no futebol

A primeira tragédia na história do futebol aconteceu no dia 5 de abril de 1902, no lendário “Estádio Ibrox Park”, em Glasgow, Escócia, durante um jogo entre as seleções da Escócia e Inglaterra, válido pelo Campeonato Britânico, uma espécie de Campeonato da Europa, jogado apenas entre as seleções das ilhas britânicas.

O estádio havia sido recentemente ampliado com a construção de uma arquibancada nova, com capacidade para 20 mil espectadores, feita de madeira e ferro com mais de 75 metros de altura, que estava sendo inaugurada naquele dia.

Cerca de 68 mil torcedores encontravam-se no estádio, quando aos 51 minutos de jogo a nova arquibancada cedeu, abrindo um alçapão que acabou por engolir centenas de adeptos e tirar a vida de 25 pessoas e ferindo outras 500. Em pânico os torcedores começaram a fugir do campo e o jogo foi interrompido por 20 minutos.

Depois de meia hora de terror, o jogo foi retomado por uma questão de segurança, para evitar que o pânico aumentasse e os torcedores que permaneciam no estádio tentassem sair em massa, pondo em perigo não só as suas vidas, como também atrapalhando a ação daqueles que faziam o trabalho de resgate. A partida terminou empatada em 1 X 1, mas foi anulada e novo jogo realizado em 3 de maio de 1902 em Villa Park, em Birmingham.

O “Estádio Ibrox Park” foi projetado pelo arquiteto Archibald Leitch e construído em 1899 ao custo de £ 20.000. Antes que o clube “Rangers” se mudasse para lá, teve de solucionar problemas com a propriedade da terra, mudar seu estatuto jurídico e vender ações para levantar fundos que permitissem erguer o estádio, quase todo feito de madeira.

No inquérito realizado após a tragédia, o arquiteto Leitch acusou a empresa construtora “Stadium Alexander MacDougall”, de ter usado madeira de qualidade duvidosa e menos durável. Ao final das investigações Leitch e a construtora foram absolvidos.

O recorde de público é de 118.567 torcedores, em Janeiro de 1939 no clássico contra o Celtic FC. É um dos 27 estádios “5 Estrelas”, segundo a UEFA e um dos dois da Escócia (o outro é o "Hampden Park"), podendo receber finais da Liga dos Campeões da UEFA e da Copa da UEFA.


Mesmo depois de todas as reformas que passou ao longo de sua história, desde a pequena capacidade para 4.500 pessoas, até chegar a 75 mil e hoje podendo receber 50.987 torcedores, o Ibrox manteve a fachada original, que lembra uma antiga fábrica.

Em 2 de Janeiro de 1971 a tragédia se repetiu, no agora “Ibrox Stadium”. Dessa feita em números bem maiores, com 66 pessoas perdendo a vida. Tudo aconteceu quando barreiras de aço na escadaria 13 cederam, esmagando torcedores do “Rangers”, que saiam do estádio, depois de Colin Stein ter marcado o gol de empate, nos acréscimos contra o Celtic.

Atletas que participaram desse jogo lembram que o gramado estava enlameado, bastante frio e com muito nevoeiro. Um dia terrível, tanto que a iluminação estava acesa, embora o jogo se realizasse de tarde. Alguns deles contam que ao saírem de campo, viram pessoas que se encontravam deitadas em mesas, mas não sabiam se estavam vivas ou mortas.

Estava um verdadeiro pandemônio, com pessoas correndo de um lado para o outro, quase pisando nos corpos deitados ao longo da linha lateral, desde a linha de meio-campo até ao topo do estádio.

Inicialmente, os jogadores do Celtic não estavam cientes da tragédia que decorria, uma vez que 10 minutos após o apito final, toda a equipe já estava no autocarro. O treinador Jock Stein foi quem disse que houve um acidente com mortes. Ele e os membros da sua equipe técnica ficaram em Ibrox a auxiliar os feridos. 

Desde então diversas adaptações foram realizadas visando oferecer segurança e conforto para os clientes que ali passam. Entre elas a obrigatoriedade de todos os torcedores estarem sentados e a criação de três diferentes módulos para as torcidas, projeto que foi inspirado no estádio de Dortmund, na Alemanha, em 1978. (Pesquisa: Nilo Dias)


O estádio mantém até hoje a sua fachada original. (Foto: Divulgação)