domingo, 11 de janeiro de 2015

O alviverde de Cosmópolis

No dia 15 de novembro deste ano teremos mais um integrante na seleta lista de clubes centenários do futebol brasileiro. Trata-se do Cosmopolitano Futebol Clube, o alviverde da cidade de Cosmópolis, no interior de São Paulo.

O clube foi fundado em 15 de Novembro de 1915, quando de uma reunião entre esportistas da então Vila de Cosmópolis, em um prédio alugado na Avenida Ester, próximo à estação de trens da Companhia Sorocabana.

O nome foi uma homenagem a Vila de Cosmópolis e aos próprios fundadores do clube, funcionários da Companhia Sorocabana e da antiga Companhia Funilense.

Entre os fundadores estavam descendentes de escravos, descendentes e imigrantes italianos, libaneses, portugueses, espanhóis, alemães, uma miscelânea de povos que formavam a então chamada “A Nova Campinas Paulista”, apelido de Cosmópolis no inicio do século 20.

Embora não exista uma documentação oficial que comprove a sua veracidade, sabe-se que antes de ser Cosmopolitano, o clube se chamava Guarany.

O time oficial do Cosmopolitano entrou em campo pela primeira vez no dia 12 de agosto de 1917. Era formado na sua maioria por funcionários da Companhia Sorocabana.

Um antigo livro ata, datado de 8 de dezembro de 1912, registra nas suas páginas iniciais não a fundação do Cosmopolitano, mas sim a do Guarany.

Fala de uma reunião realizada na casa de Manoel Fonseca onde estiveram presentes 14 sócios, estabelecendo neste dia regulamentos, artigos, e a criação da primeira diretoria do clube, nomeando como primeiro presidente Henrique Leonardo e o vice Manoel Fonseca.

Os demais membros eram Joaquim Azevedo 1º secretário, tesoureiro João Marun, Artur Patti como cobrador das mensalidades dos associados, e fiscal de campo (juiz) Antônio Simões.

Em 1914 dois anos depois da fundação do Guarany, um grupo de associados teria se desfiliado do clube, dando inicio ao surgimento do Cosmopolitano Foot Ball Clube, oficialmente criado em 15 de Novembro de 1915.

Essa hipótese ganha força, depois que os irmãos Flomberg, historiadores da cidade encontraram em 2008, um pequeno registro publicado no jornal “O Município” em 15 de Novembro de 1953, que dizia o seguinte:

“Em 1912, um grupo de elementos esforçados se reuniu em um salão de barbeiro de nossa cidade, que naquela época era Vila, conhecida pelo prenome de “Funil”, e resolveu dotar esta Cosmópolis com um clube de futebol. Daquela ideia surgiu o Guarany Foot Ball Clube. Mas como esse nome nada representava para Cosmópolis, mais tarde o mudaram para Cosmopolitano, e daí nunca mais se falou em mudanças”.

Com certeza existiram outros livros de atas do clube posteriores a 1912. No livro “Memórias de um mestre”, escrito por Felício Marmo, o primeiro professor oficial de Cosmópolis e criador da primeira escola pública da cidade em 1905, ele relata sua chegada a Vila de Cosmópolis, mencionando que os funcionários da Companhia Sorocabana já praticavam o Foot Ball em terras cosmopolenses.

O próprio professor se encarregou de ensinar aos seus jovens alunos o novo esporte, que teria aprendido na capital com funcionários da Companhia São Paulo Railway de trens e estradas de ferro.

Dizem que os demais livros de ata desapareceram décadas passadas, depois que um ex-presidente do clube mandou fazer uma “reforma” e “limpeza” na sede, quando uma boa parte do acervo foi praticamente jogada fora.

Todo o histórico do clube não foi perdido, porque alguns sócios conseguiram salvar de uma caçamba de lixo uma grande parte de documentos. Essa falta de material é que dificulta saber se Guarany e Cosmopolitano tiveram algo a ver um com o outro.

As dúvidas crescem, quando de acordo com atas do Cosmopolitano, o Guarany existiu oficialmente de 1912 ao último registro feito em 25 de Março de 1916.

O ex-jogador e membro de diretorias de vários clubes da cidade, o saudoso Juquita, falecido ao início da década de 1990 com 103 anos de idade, lembrava de uma época em que o Guarany era comandado por um pequeno grupo, que tinha a frente o Major Arthur Nogueira, que se intitulava o dono do clube.

Os principais jogadores não recebiam o incentivo necessário e apoio do grupo de diretores do Guarany, para atuação profissional nos campeonatos de Foot Ball que surgiam no estado de São Paulo.

A primeira sede oficial do Cosmopolitano Futebol Clube, que se localizava na rua Baronesa Geraldo de Rezende, esquina com Sete de Setembro, foi vendida pelo clube no final da década de 80.

O local ainda existe, e abriga uma hospedaria de funcionários terceirizados da Petrobras. O prédio do antigo salão social foi inaugurado em 31 de Março de 1934, um projeto criado por Armando Madsen.

O antigo Estádio Thelmo de Almeida, que ficava entre as ruas Moacir do Amaral e Rua Campinas foi demolido no inicio dos anos 2000. O local foi palco de muitas glórias na história do futebol cosmopolense, onde se realizavam grandes festas como os shows de aniversários, festas de posse do poder legislativo, palco final dos desfiles cívicos como o dia da pátria, festas religiosas. Na década de 90 foi alugado para circos e parques de diversões.

Nenhum cosmopolense esquece às festas do Clube Cosmopolitano, como os “Bailes da Chita”, onde o traje obrigatório tinha que ser confeccionado com o popular tecido.

O “Baile Verde e Branco”, o “Baile das Debutantes”, criado no inicio da década de 60. As festas e comemorações do aniversário do Clube sempre com a presença de grandes bandas da época.

Na década de 80 o famoso e tradicional Baile do Hawaii, as festas organizadas pela Master Som, TransaSom, TriAgito, a discoteca da Albatroz, os bingos beneficentes, ou os grandes bingos do clube com sorteio de carros, motos e altos prêmios em dinheiro.

Exibições de filmes foram a sensação do clube na época, que "competia" na bilheteria com o Cine Teatro Avenida e a Sociedade do Mútuo Socorro. Filmes do Mazzaropi, Jim da Selva, Bem Hur, Os dez mandamentos, O vampiro da meia noite, entre tantos outros sucessos de bilheteria.

As festas particulares de casamentos, eventos como o Miss Cosmópolis, Rainha do Clube, e shows de grandes artistas. Não esquecendo os carnavais do clube, que marcaram época, e eram considerados pela critica especializada entre os melhores carnavais do estado de São Paulo.

Os corsos, cordões e blocos do Cosmopolitano desfilando pelas ruas da cidade, as matinês no salão do clube que eram a alegria da molecada... São muitas lembranças e histórias, são páginas e páginas de muito alegria para serem contadas. (Pesquisa: Nilo Dias)

Em pé: Ferrucio – Tcheco - Manolo e um atleta não identificado. Abaixo: Marcelo - Ceará e Zeca. Sentados: Telmo de Almeida - José Lugli - Antônio Simões - Fritz e Sebastião de Almeida. (Foto: Acervo Cosmopolense)