No
dia 15 de novembro de 2013, o Pouso Alegre Futebol Clube da cidade mineira de
Pouso Alegre, completou 100 anos de existência. No entanto, o que era para ser
uma data festiva, passou despercebida na cidade sulmineira de cerca de 140 mil habitantes.
O time está parado desde 2009. Seu último jogo foi um empate em 1 X 1 com o Tombense, dia 28 de novembro daquele ano, em jogo disputado na cidade de Tombos e válido pelo hexagonal final da Segunda Divisão. O “Estádio da Lema”, palco de gols e vitórias do chamado “Dragão das Alterosas”, está abandonado.
O time está parado desde 2009. Seu último jogo foi um empate em 1 X 1 com o Tombense, dia 28 de novembro daquele ano, em jogo disputado na cidade de Tombos e válido pelo hexagonal final da Segunda Divisão. O “Estádio da Lema”, palco de gols e vitórias do chamado “Dragão das Alterosas”, está abandonado.
O Pouso Alegre Foot Ball Club foi fundado no dia 15 de novembro de 1913, por iniciativa de um grupo de alunos do Ginásio São José, atual Colégio São José, que costumavam se reunir para animadas ”peladas” no campinho de terra batida ao lado do matadouro, perto da linha do trem.
Como
muitos desses jovens trabalhavam, os encontros se realizavam entre 7 e 8 horas
da manhã. Um dia eles decidiram formar um time e batizá-lo com o nome da
cidade. Marcaram uma reunião para o dia 15 de novembro, na casa de Alfredo
Ennes Baganha, depois eleito o primeiro presidente da agremiação.
Ele,
juntamente com os companheiros João Dantas, Porfirio Ribeiro de Andrade, Pedro
Cunha, Eduardo Gouveia, Alfredo Agueda e Pedro Narciso deram início a
trajetória centenária do clube.
Era
uma época bastante difícil para se manter um clube de futebol em atividade
constante, por isso ao final da década de 1910, o clube caíra no ostracismo. Foi
somente em 1928, ajudado por torcedores,
que o time rubro-negro voltou a aparecer com destaque.
O
clube foi um dos fundadores da Liga Sul Mineira de Football no dia 19 de abril
de 1920, juntamente com as equipes de Itajubá e Santa Rita do Sapucaí, com a
finalidade de realizarem um torneio futebolístico entre si.
Nessa
reunião, entre as diversas resoluções discutidas, os três clubes decidiram as
cores de seus uniformes, com o Pouso Alegre escolhendo o preto e vermelho, que
desde então compõem oficialmente o fardamento do clube.
No
dia 28 de setembro de 1928, reunidos no Fórum de Pouso Alegre, Alfredo Baganha
e José Nunes Rebello, lavraram a ata de compra de um terreno localizado no alto
da Rua Comendador José Garcia. O valor da compra foi de 8 contos de réis. Ali,
naquele terreno, seria construído o futuro estádio do Pouso Alegre Futebol
Clube.
Sabe-se
que o clube passou uma lista entre os comerciantes da cidade, cujo montante
chegou a 6 contos de réis. O resto da dívida foi pago com um empréstimo junto
ao Banco da Lavoura, em promissórias assinadas pelo próprio José Rebello. O
clube ganhava sua casa e os próprios jogadores transformaram a área em um campo
de futebol.
A
partir disso, já na década de 1930, muitos times paulistas começaram a jogar no
Campo do Pouso Alegre, entre eles Guarani, Ponte Preta e o extinto Ypiranga.
Nessa mesma época, foram criados e disputados vários torneios intermunicipais.
O
primeiro jogo da história do clube aconteceu no dia 1 de março de 1914, um
amistoso contra o Democratas, que terminou empatado em 0 X 0. O segundo
compromisso foi contra o Santaritense, de Santa Rita do Sapucaí, com vitória
rubro-negra por 2 X 1. Já como profissional, em seu primeiro compromisso, o Pouso
Alegre goleou por 4 X 1 o São Lourenço, em 30 de julho de 1967.
Nesse
jogo, o atleta foi o primeiro jogador a marcar gol pelo Pouso Alegre como time
profissional. Já na “Segundona” do Mineirão, o primeiro a balançar as redes
adversárias foi Marquinhos, diante do Flamengo de Varginha, em 1967.
Na
Primeira Divisão Mineira coube a Valcir marcar o primeiro gol do Pouso Alegre.
Foi contra o Esportiva, em 1989.
O
primeiro jogo disputado no Estádio “Manduzão”, foi contra o Botafogo do Rio de
Janeiro, que venceu por 1 X 0. O recorde de público até hoje no estádio foi no
jogo Pouso Alegre 3 X 3 Atlético Mineira, realizado dia 30 de maio de 1990, com
6.670 pagantes.
O
primeiro jogo do Pouso Alegre fora de Minas Gerais aconteceu no dia 30 de
setembro de 1928, em Bragança Paulista, quando empatou em 3 X 3 com o
Bragantino. Sabe-se que aproximadamente seis mil pessoas assistiram o
confronto, que foi organizado pelo então presidente do “Dragão das Alterosas”,
desportista Vinicius Meyer.
Um
fato que revoltou os torcedores do Pouso Alegre, e até hoje é lembrado com
indignação, aconteceu no dia 4 de julho de 1928, na cidade de Santa Rita do
Sapucaí, num jogo contra o time local do Conceição dos Ouros, na decisão de um
torneio regional.
O
Pouso Alegre vencia por 3 X 1, gols de Jovino, Guido e Paraguay, quando o juiz
da partida resolveu ajudar o time da casa, marcando duas penalidades máximas
inexistentes, quando faltavam menos de 10 minutos para o fim do jogo.
Revoltados,
os cerca de 400 torcedores pouso-alegrenses, que haviam se deslocado até Santa
Rita do Sapucaí de trem, invadiram o campo e interromperam o duelo, antes que o
árbitro marcasse outra penalidade.
O
time conta com o apoio da imprensa da cidade. A Rádio Clube foi a primeira a
transmitir um jogo do Pouso Alegre Futebol Clube. Isso foi na década de 1940,
um amistoso contra o Smart Futebol Clube, da cidade de Itajubá, O Pouso Alegre
ganhou por 4 a 0, gols de Lucindo (2), Voador e Miquica. Na época, a Rádio
Clube era comandada por Orfeu Butti e tinha como narrador, José Brito.
No
início do futebol profissional em Pouso Alegre, nos anos de 1967 e 1968, o
público lotava o “Estádio Comendador José Garcia” nos dias de jogos do
rubro-negro. E naquele 15 de setembro de 1968 não foi diferente. O Pouso Alegre
Futebol Clube disputou um amistoso contra o Grêmio Recreativo Beta, time amador
de São Paulo e venceu por 38 X 0.
Ao
final do primeiro tempo o escore já era de 17 X 0. Foi um recorde mundial na
época, que teve como árbitro Armando de Barros. O Pouso Alegre mandou a campo
nesse jogo que se tornou histórico, a seguinte formação: Luiz Carlos – Murilo -
Marco Ambar - Bolinha e Gato (Bata) - Mica e Mário Jorge - Serginho (Joviano) –
Wilson - Renê e Marquinho.
No
final da década de 1940, mais precisamente no ano de 1947, foi fundada a Liga
Esportiva Municipal de Amadores (LEMA). A entidade, que teve como primeiro
presidente Pardal Vilhena de Alcântara, passou a organizar as competições e
muitos times amadores apareceram na cidade, fazendo frente ao Pouso Alegre.
Com
o fortalecimento de outros times, o Pouso Alegre FC acabou entrando em recesso
das competições amadoras no início da década de 1950. E com isso a Liga passou
a administrar o Estádio do clube, o que levou a todos a chamarem de
"Estádio da LEMA". Nesse mesmo período, foram construídos os
primeiros lances de arquibancada e o muro que cerca o gramado.
Começaram
também os torneios intermunicipais, com equipes de Itajubá, Santa Rita do
Sapucaí, Paraisópolis e Ouro Fino. Os deslocamentos eram feitos nos trens da
Rede Mineira, causando grandes alvoroços nas estações das cidades onde
chegavam.
Entre
os jogadores que ganharam mais destaque nessa história centenária, vale a pena
lembrar de “Paulo da Pinta”, o atleta que mais defendeu o time nesses 100 anos
do clube. Jogava de volante e vestiu a camisa rubro-negra em 184 partidas,
tendo marcado 22 gols.
Outro
que fez por merecer destaque é Heleno, atacante que chegou ao clube em 1987,
vindo do Yuracan, de Itajubá. Nos 166 jogos que disputou com a camisa do
“Dragão das Alterosas” marcou 52 gols. Depois dele, vem que fez 46 gols em 199
partidas disputadas.
Quem
também é lembrado pelos torcedores rubro-negros é Luiz Carlos, um goleiro que
demonstrou grande amor ao clube, tanto que vestiu a camisa número 1 do Pouso
Alegre em 1967 e 1968.
Mesmo
tendo ficado pouco tempo no clube, chegou a recusar uma proposta do Santos
Futebol Clube, que na época tinha Pelé, o “Rei do Futebol”, para continuar
defendendo o “Dragão das Alterosas” na Segunda Divisão do Campeonato Mineiro.
Em
1967 o Pouso Alegre disputou a sua primeira competição profissional, a Segunda
Divisão do Campeonato Mineiro. Conseguiu o feito de ser campeão da Chave Sul do
torneio e classificou-se para as finais, mas acabou perdendo a vaga nos
tribunais, por incluir um atleta em condição irregular.
Embora
isso tenha tido o efeito igual ao de um balde de água fria no ânimo dos
jogadores, o time voltou no ano seguinte a disputar a mesma competição, sendo eliminado
logo na primeira fase do certame. Atolado em dívidas, o clube voltou a fechar
as portas em 1968.
Para
piorar a situação do futebol na cidade, a LEMA, que dirigia os torneios
amadores no município, também encerrou suas atividades no final da década de
1960.
Pouso
Alegre só não ficou sem futebol graças a persistência de alguns clubes amadores
da cidade. A década de 1970 ficou marcada pelos torneios regionais que contavam
com a participação de jogadores consagrados no futebol paulista, ou que viriam
fazer sucesso nos gramados do Brasil.
Nesses
torneios sempre apareciam no “Alto da Comendador” nomes de jogadores famosos como Jorge
Mendonça, Oscar, Polossi, Odirlei, Estevão e Neto. Nesse mesmo período surgiram
novos valores do futebol da cidade, como Zé Carlos "Espoleta", Paulo
da Pinta, Betão, Hermínio, Juninho Coldibelli, Amarildo e Silvano.
No
início da década de 1980, a Liga Municipal foi reativada, o que fortaleceu a
disputa dos torneios amadores da cidade, que não haviam parado de se realizar.
E
ao mesmo tempo surgiram boatos da volta do Pouso Alegre ao futebol, o que se
confirmou em 1983. Ainda como amador, o clube foi campeão da Copa Sul Mineira, o
equivalente a campeão amador do Estado, montando um grupo somente com jogadores
da cidade.
Foi
a maior conquista do Pouso Alegre. A competição foi disputada por mais de 30
equipes. O jogo final foi entre Pouso Alegre X Curvelo.
Em
1984 o time foi novamente profissionalizado e disputou a Segunda Divisão do
Campeonato Mineiro. Em 1988, o objetivo foi alcançado, o acesso a Primeira
Divisão do Campeonato Mineiro.
Foi
uma conquista sofrida contra o Atlético de Três Corações. A última partida
daquele certame ficou conhecida como "A Batalha de Três Corações". O
jogo não teve fim e o resultado, que favorecia o Pouso Alegre só saiu meses
depois, já em 1989, após intervenção judicial.
Com
o acesso garantido na Justiça, o Pouso Alegre Futebol Clube estreou no
Campeonato Mineiro, com este já em andamento. Em razão disso se viu obrigado a
jogar até três vezes por semana. Ainda assim, o time conseguiu manter-se na
elite do futebol mineiro.
O
ano de 1990 foi o melhor do Pouso Alegre, na elite do futebol mineiro, quando
alcançou o seu maior feito no futebol profissional. Disputando um campeonato
com 18 participantes, chegou na quinta colocação, com um time que certamente
ficou para sempre gravado na memória de seus torcedores: Paulo César – Edvaldo
– César - Zigomar e Nonato – Alcinei - Paulo da Pinta e Fernando Baiano –
Heleno - Carlão e Anderson.
O
time tinha excelentes atletas, inclusive um jogador com passagem pela Seleção Brasileira.
O lateral direito do “Dragão” naquele ano foi Edevaldo de Freitas, ou
simplesmente Edvaldo, que chegou a disputar a Copa do Mundo de 1982, fato que
poucos se recordam. O lateral era reserva de Leandro na ocasião.
Fazer
futebol profissional precisa não só de boa vontade, mas também de muito
dinheiro, apoio e estrutura. E a falta disso foi fundamental para que o Pouso
Alegre conseguisse manter aquele elenco supervalorizado e o time foi se
desfazendo.
Nos
anos seguintes, o time foi perdendo força até que em 1992 caiu para o Módulo II
do Campeonato Mineiro. Nem ai resistiu, tendo de licenciar-se em 1998. Ficou inativo
até 2009, quando voltou à “Segundona” mineira, tendo realizado uma boa
campanha, terminando o certame na quinta colocação.
O
incrível é que o time tenha sido obrigado a jogar suas partidas fora de casa,
pois o estádio da cidade, que é da prefeitura, não teve manutenção e
encontra-se em péssimas condições.
Isso lovou o clube a um novo licenciamento que perdura até hoje, com negras
perspectivas para o futuro. Mesmo a cidade contando com o “Estádio Municipal Irmão
Gino Maria Rossi, conhecido por “Manduzão”, com capacidade para receber até 17 mil torcedores.
O time de 1990. (Foto: http://pousoalegrefc.blogspot.com.br/)
O
jornalista Donizeti Barbosa, uma verdadeira enciclopédia do Pouso Alegre, há 20
anos reúne fotos e dados do clube fundado em 1913. São mais de 200 páginas com
fichas de escalação, imagens e curiosidades, como o registro da primeira equipe
montada em 1914 e o placar da maior goleada da história da equipe: 38 X 0 sobre
o Beta de São Paulo, em um amistoso em 1968.
Segundo
o jornalista, foram 494 jogos oficiais do Pouso Alegre, entre eles seis jogos
contra o Atlético Mineiro, que nunca venceu o rubro negro. Foram 204 vitórias, 151 empates e 139 derrotas. Seis desses jogos foram contra o "Galo", que nunca venceu o Pouso Alegre. Nem no "Mineirão" e no "Independência" e muito menos no "Estádio da Lema". (Pesquisa: Nilo Dias)
O time de 1990. (Foto: http://pousoalegrefc.blogspot.com.br/)