Dia
desses, não sei por que cargas d’água fui lembrar de Vagner Bacharel, um
zagueiro de boa qualidade que jogou em vários clubes do futebol brasileiro,
entre eles o Internacional, de Porto Alegre. E fui vasculhar na Internet
maiores informações sobre ele, que faleceu aos 36 anos de idade, vítima de um
lance casual no campo de jogo, quando defendia o Paraná Clube.
Zagueiro
de estilo clássico, com ótimo posicionamento, bom cabeceador e com espírito
nato de liderança, Vagner de Araújo Antunes, de apelido Bacharel, nasceu em 11
de dezembro de 1954, no Rio de Janeiro.
Ele
fez sucesso por onde passou. Usou a braçadeira de capitão em praticamente todos
os clubes que defendeu. Elogiado pela raça e pela qualidade técnica, o
“xerifão” começou a carreira no Madureira, do Rio de Janeiro.
Com
atuações destacadas pelo pequeno clube carioca na década de 1970, acabou
negociado com o Joinville, de Santa Catarina, que na época batia de frente com
as grandes potências futebolísticas no Brasileirão.
Depois
chamou a atenção de dirigentes do Internacional, de Porto Alegre onde jogou em 1981.
Posteriormente, defendeu o Cruzeiro, de Belo Horizonte, em 1982.
Seguro
e implacável na marcação, Vagner Bacharel foi comprado pelo Palmeiras no início
de 1983 e tornou-se ídolo da torcida alviverde, transformando-se num dos
maiores jogadores do clube nos anos 1980.
Formou
dupla de zaga com Luís Pereira e marcou 22 gols nos 260 jogos que disputou pela
equipe palmeirense, com 102 vitórias, 105 empates e 53 derrotas, de acordo com
o “Almanaque do Palmeiras”, de Celso Unzelte e Mário Sérgio Venditti.
Segundo
o filho dele, Wagner Antunes Júnior, foi no Palmeiras que ele ganhou o apelido
de Bacharel. Gostava de chamar todos os companheiros de bacharel. No final, foi
ele que ficou sendo o Bacharel.
Conseguiu
o feito de ser um dos poucos jogadores anistiados pela torcida palmeirense
depois de a equipe perder a final do Paulistão de 1986 para a Inter de Limeira,
numa das maiores surpresas do futebol até hoje.
Indiscutivelmente,
foi uma liderança positiva, que sabia como manter o bom ambiente do grupo. Era
metódico e sabia discernir qual a hora da cervejinha com os amigos,
principalmente após os jogos.
Bacharel
acabou entrando na estatística daqueles jogadores que morreram de maneira
trágica e que foram esquecidos pela mídia e até pelos torcedores.
A
principal virtude dele era o jogo aéreo. Também pudera, tinha mais de 1.80 de
altura. Mas também sabia desarmar. Não era qualquer atacante que conseguia driblá-lo.
Mas tinha um pecado, que muitas vezes se mostrou fatal, era lento demais e tinha dificuldades quando enfrentava atacantes velozes. E também tinha as pernas arqueadas, mas jurava que elas não o atrapalhavam em nada.
Mas tinha um pecado, que muitas vezes se mostrou fatal, era lento demais e tinha dificuldades quando enfrentava atacantes velozes. E também tinha as pernas arqueadas, mas jurava que elas não o atrapalhavam em nada.
Mas
os torcedores dos outros times não perdoavam e a gozação era comum. Tinha gente
que dizia maldosamente, se ele jogasse futebol de salão e ficasse na barreira,
a bola passaria no “vão” de suas pernas e seria gol do adversário.
Do
Palmeiras, onde foi vice-campeão paulista em 1986, foi para o Botafogo, do Rio
de Janeiro. E do alvinegro carioca para o Guarani, de Campinas que tinha um
grande time e foi vice-campeão paulista de 1988.
No
“bugre” campineiro brilhavam jogadores como Evair, Marco Antonio Boiadeiro,
Ricardo Rocha, Neto, Paulo Isidoro, Sérgio Neri e outras feras comandadas pelo
técnico José Luiz Carbone.
O
time bugrino atropelou os concorrentes e chegou à final do estadual contra o
Corinthians. Houve empate de 1 X 1 no primeiro jogo no Morumbi. Na partida de
volta, o alvinegro venceu por 1 X 0, gol de Viola, aos 4 minutos do primeiro
tempo da prorrogação.
Em
1990 foi jogar no Paraná Clube, depois de ter atuado pelo Fluminense, Sport
Recife e Villa Nova (GO). Ele foi o primeiro capitão da história do time, que
recém havia sido fundado, resultado de uma fusão entre Pinheiros e Colorado.
Estreou
na derrota de 1 X 0 para o Coritiba, no dia 4 de fevereiro. Quatro meses após a
sua contratação, na tarde de domingo, dia 14 de abril de 1990, no início do
segundo tempo contra o Campo Mourão, pelo Campeonato Paranaense, ele subiu para
cabecear e chocou-se com César Ponvoni, o “Charuto”, zagueiro adversário.
Com
muitas dores, Vagner foi atendido ainda no gramado da Vila Capanema, em
Curitiba, e logo encaminhado ao Hospital Evangélico, onde passou por uma
radiografia e recebeu analgésicos.
Teve
alta dois dias depois, mas retornou ao mesmo hospital. Só então, fizeram uma
tomografia, que constatou um traumatismo craniano. Com a piora da sua saúde,
foi transferido ao Hospital Cajuru no dia 19 e morreu dia 20 de abril de 1990,
deixando a mulher Renata, e os filhos Wagner, hoje analista de projetos, e a
analista financeira Tayane.
A
viúva contratou advogados e ingressou na Justiça com pedido de indenização. Em
15 de dezembro de 1995, o juiz Valter Ressel, da 16ª Vara Cível de Curitiba,
julgou inadequada a conduta dos médicos André Luiz Oliveira, do Paraná, e
Inolan Guiginski de Oliveira, do Hospital Evangélico.
E
condenou as duas instituições a indenizarem a família em 10,9 salários mínimos
mensais até 2019, quando Vagner completaria 65 anos, e mais 500 salários
mínimos (R$ 440 mil na época) por danos morais.
O
falecimento de Bacharel mudou a vida da família radicalmente. Voltaram a morar
no Rio de Janeiro e a viúva Renata Antunes, mulher guerreira, assumiu o papel
de pai e o de mãe.
O
futebol paranaense já havia sido enlutado no dia 18 de setembro de 1978 com a
morte de Valtencir, aos 32 anos de idade, então jogador do Colorado, clube que
posteriormente se fundiu com o Pinheiros para a criação do Paraná.
O
lateral-esquerdo sofreu lesão na coluna cervical e no cérebro após choque com o
meia Nivaldo, do Maringá, e morreu no local, o Estádio Willie Davis, em
Maringá.