Amanhã
vai fazer um mês do falecimento de Delmar Lemos Martins, o lendário “Bexiga”,
ex-jogador de futebol e técnico renomado, nascido em Bagé, no dia 30 de
dezembro de 1923. Mas recém agora fiquei sabendo do ocorrido. Ele estava com 91
anos e tinha problemas de saúde, tendo sido hospitalizado por algumas vezes.
G.E.
Bagé e Guarany F.C. prestaram homenagens póstumas ao grande desportista, colocando
suas bandeiras sobre o caixão. “Bexiga” fez parte de uma história familiar
significativa. O pai, Pedro Martins, foi um dos primeiros craques do futebol
bageense nos seus primórdios, atuando, em 1906, pelo pioneiro Sport Club Bagé,
passando, depois, para o Guarany.
O
filho, Pedro Trindade Martins, o “Sabella”, foi treinador e preparador físico
da dupla Ba-Gua, e presidente do Guarany.
“Bexiga”
se constituía num dos mais destacados e importantes personagens da história do
futebol de Bagé, cidade do interior do Rio Grande do Sul, com cerca de 100 mil
habitantes.
Era
lateral-direito, zagueiro e centro médio, tendo despontado na década de 1940,
defendendo o G.E. Bagé (1943 a 1948), primeiro atuando nos juvenis e logo na
equipe profissional. Participou de grandes equipes formadas pelo jalde-negro.
Depois,
jogou pelo Pelotas (1949 e 1950), sendo contratado, em 1950, pelo Guarany e
tornando-se destaque na reconquista do título citadino. Em 1951, foi contratado
pelo Grêmio (1951 e 1952) e não escondia a mágoa de ter perdido o campeonato
gaúcho quando o Internacional marcou o gol de empate nos minutos finais.
Seu
primeiro jogo pelo Grêmio foi no dia 25 de março de 1951, num amistoso em que o
tricolor derrotou o Juventude, de Caxias
do Sul, por 2 X 0. O time gremista tinha Wilson (Sérgio Moacyr) - Hugo (Sarará)
e Crespo. Bexiga - Verardi e Heitor. Gorrion - Ferraz (Jaime) – Geada -
Pedrinho e Detefon (Lory). O técnico era Pedro Otto Bumbel Berbigier.
Sua
última partida pelo Grêmio foi em 16 de janeiro de 1952, na vitória de 1 X 0
sobre o Ferro Carril Oeste, da Argentina. O Grêmio, naquela ocasião, formou
com: Sérgio Moacyr - Danton e Gago. Bexiga (Hugo) - Sarará e Bentevi. Balejo –
Camacho – Ferraz - Pedrinho e Róbinson.
No
tricolor de Porto Alegre “Bexiga” jogou em 32 oportunidades, com 17 vitórias,
sete empates e oito derrotas. Não conseguiu ser campeão, foi apenas vice em
duas decisões contra o "Rolo Compressor" do Internacional.
Novamente
no Guarany (1952), vestiu a camisa alvirrubra em 1952 e 1953, fazendo
dobradinha com Raul Donazar Calvete, que morreu em 2008 . Martins marcou um gol
jogando pelo Guarany e três pelo Bagé.
No
final da temporada de 1953, em solidariedade a alguns colegas como Athayde
Tarouco, Caboclo e Zezo, dispensados
pelo clube, resolveu acompanhá-los na transferência para São Gabriel. Ele foi
para o Gabrielense, onde encerrou a carreira de atleta e os outros dois para o
Cruzeiro.
Depois
de jogar em São Gabriel, “Bexiga” foi para o antigo Floriano, de Novo Hamburgo,
onde hoje encerrou a carreira. O time base do Floriano em 1954 era Foguinho
(Paulinho) - Bexiga e Zulfe – Bino - Hélio e Crespo (Hermógenes). Chagas –
Martins – Geada - Mujica e Charuto.
O
“Geada”, que jogou no Floriano era Jaime Vargas dos Santos, gabrielense que
morou durante muitos no Bairro Menino Jesus, depois que deixou os gramados.
Como
treinador dirigiu as equipes do Guarany, Bagé, Riograndense-SM,
Internacional-SM, Grêmio Esportivo Pedro Osório (Gepo), de Tupanciretã, Aimoré,
de Caçapava do Sul, G.E. Gabrielense, de São Gabriel, E.C. Cruzeiro, de Porto
Alegre, juvenis do Grêmio Portoalegrense, Associação Alegrete e S.E.R. São
Gabriel. A última passagem de “Bexiga” como treinador foi no G.E. Bagé, em 1990.
Nas
muitas entrevistas concedidas, ao longo dos anos, sempre foi muito objetivo nas
respostas. "Bexiga" considerava o velho Tupan, pái de Tupanzinho e craque
do Bagé nos anos 30-40 e depois do Internacional, como o maior jogador que viu
atuar. Costumava dizer que foi com ele que aprendeu a bater na bola.
O
melhor dirigente que “Bexiga” dizia ter conhecido foi Saturnino Vanzelotti, no
Grêmio Portoalegrense. E o e o melhor
treinador, na sua opinião, foi Oto Pedro Bumbel, com quem trabalhou no Grêmio,
em 1951.
A
pedido da imprensa de Bagé, ele escalou uma seleção composta por jogadores que
viu atuar. Um timaço. Lugano – Caboclo e Clarel (Grêmio). Vaz (Pelotas) - Atayde
Tarouco e Novas. Salvador Rubilar. Hernandez - Carlos Calvete - Tupã e
Carlitos. Este último, do Rolo Compressor do Internacional, na década de 40,
foi o ponteiro mais difícil que “Bexiga” diz ter marcado.
Delmar
era dono de um notável senso de humor, sendo autor de expressões que marcaram
época no futebol de Bagé, tais como “vai cheinho, vem cheinho”, sobre a tática
de um time atacar e defende de maneira compacta; “10 atrás e um recuado”, para
preservar o resultado favorável e “a bola é como uma bomba, e deve explodir no
campo inimigo”, como forma de impedir a pressão adversária.
Delmar
Martins era considerado o “decano dos retranqueiros”, como treinador. Certa
vez, treinando o Riograndense, de Santa
Maria, num jogo contra o Grêmio ao responder sobre a tática ser usada disse: “Serão
nove atrás e dois recuados”.
Em
setembro de 2013, ele esteve em visita ao local onde, há 70 anos, na temporada
de 1943, começou a sua carreira futebolística: o estádio "Pedra
Moura", do G.E. Bagé. Foi uma visita de caráter sentimental, que o
emocionou bastante.