João Faria
da Silva, o “Russão”, foi um dos mais apaixonados torcedores do Botafogo, do
Rio de Janeiro. Era estofador de móveis por profissão, tendo sido o fundador da
extinta “Torcida Folgada”, que depois se chamou “Torcida Russão”.
Antes,
em 1965, quando tinha 18 anos de idade fundou na geral do Maracanã, a torcida
“Fogo-Duro”, formada por torcedores pobres e fanáticos que, antes das 7 horas,
pulavam o muro do estádio e permaneciam escondidos até à abertura do portão.
Em
1968, por sugestão de Tolito, dono da mais famosa banca de jornais alvinegra do
Rio de Janeiro, sugeriu a “Russão” que criasse uma nova torcida, a organizada
“Fogo-Lito”, para atuar na arquibancada, em vez da geral.
Foi
quando “Russão” conheceu “Tarzan”, outro fanático torcedor. Os dois conviveram
bem até 1974, quando “Tarzan” resolveu voltar para Belo Horizonte,
deixando seu amigo Celso, diretor da
bateria, como líder da torcida.
Mas
este não conseguiu segurar a barra, que era realmente pesada, e passou a
liderança para “Russão”. Em 1978, porém, “Tarzan” voltou a morar no Rio de
Janeiro e retomar a liderança da torcida organizada.
“Russão”
conseguiu se manter no cargo, mas a torcida ficou dividida. Por causa disso ele
acabou por passar a liderança ao seu amigo “Barriga”.
Tempos
depois, em entrevista concedida a revista “Placar”, “Russão” disse que não
guardava a menor mágoa de Tarzan, que aprendera com ele a ser mais Botafogo, a
ser mais valente, fiel e a defender as cores do clube.
Em
setembro de 1981, fundou a “Torcida Folgada”, que depois se chamou “Folgada do
Russão”, que chegou a ter 800 sócios de carteirinha, que pagavam mensalidades.
Foi o auge da liderança do torcedor. A exemplo de outras torcidas do clube a
“Folgada” acabou por ser extinta.
Em
setembro de 2010, “Russão” precisou ser hospitalizado em uma clínica no bairro
de Laranjeiras, com infecção generalizada em uma das pernas, que teve de ser
amputada. Ele sofria de diabetes. Na época, o torcedor chegou a pedir ajuda em
dinheiro, já que tinha problemas financeiros.
Em
2011, quando das eleições presidenciais no Botafogo, “Russão” esteve no clube
sentado em uma cadeira de rodas. Ao entrar em General Severiano, o torcedor foi
recebido por uma salva de palmas de todos os presentes. “Russão” se emocionou e
chorou muito.
Ele
aproveitou para lembrar dos tempos em que ajudou a erguer a atual sede do
“Glorioso”, antes de sua última reforma. Disse que capinou tudo por lá.
Contou
que 15 pessoas moravam no local e consumiam drogas. Botou todo mundo para fora,
salientando que ali é a casa do alvinegro, enquanto gritava “Eu te amo,
Botafogo”.
Era
o presidente de honra da torcida “Loucos pelo Botafogo”, que vinha levantando
fundos para adquirir uma perna mecânica, para que “Russão” pudesse frequentar o
“Engenhão” e o seu time em ação.
Em
28 de fevereiro de 2012, “Russão” faleceu aos 63 anos de idade, devido a vários
problemas que fragilizaram sua saúde.
O Botafogo prestou solidariedade e divulgou nota oficial sobre a morte.
O Botafogo comunica
e lamenta o falecimento de um seus torcedores-símbolo: João da Silva Faria, o
“Russão”. O clube decreta luta oficial de três dias e hasteia sua bandeira a
meio mastro, além de colocar à disposição suas dependências para o velório.
Haverá um minuto de silêncio antes da partida entre Botafogo e Americano, a ser
jogada em Campos.
Exemplo de amor e
dedicação ao Botafogo, “Russão” sempre defendeu os interesses do clube e o representou
nas arquibancadas. A “Folgada do Russão”, durante anos, foi uma das principais
torcidas organizadas do Glorioso - destacou o clube no comunicado.