Uma
das seleções mais poderosas que o mundo conheceu foi sem dúvida a da Hungria,
na Copa de 1954, disputada na Suíça. Nos cinco jogos que disputou, conseguiu a
façanha de ser até hoje, passados 62 anos a seleção mais ofensivas da história,
com o recorde de gols em uma única edição de Copa do Mundo, 27.
A
Seleção Magiar assombrou o mundo, como na goleada de 6 X 3 sobre a Inglaterra
em 1953, quando se preparava para a Copa do Mundo. O ataque húngaro era uma
verdadeira máquina de fazer gols, com Puskás, Kocsis, Czibor, Hidegkuti e
Budai. Esse cinco nomes se eternizaram, jamais serão esquecidos.
József
Bozsik jogava mais atrás, era um gênio de seu tempo, mas pouco reconhecido. Sua
genialidade no futebol começou na infância, ao lado de Puskás, talvez a maior
lenda do futebol húngaro em todos os tempos. Os dois eram vizinhos e juntos
transformaram a história do Kispest, posteriormente chamado de Honvéd. E,
também a seleção.
Ferenc
Puskás, ingressou na equipe principal do Kispest dois anos depois de Bozsik. A
mudança de nome veio em 1949, quando a equipe tornou-se do Exército. Até então
mediana, o Honvéd tornou-se um dos mais fortes times do país, recebendo vários
craques recrutados por Sebes, dentre eles Gyula Grosics, László Budai, Sándor
Kocsis e Zoltán Czibor.
Os
títulos que o Kispest nunca conquistara não demoraram a chegar após a
transformação. Bozsik faturou os campeonatos húngaros em 1950, 1952, 1954 e
1955.
A
primeira partida de Bozsik pela Hungria foi em 1947. O país, porém, decidiu não
participar das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1950, juntamente com os
demais comunistas do Leste Europeu, com exceção da Iugoslávia.
Cinco
anos depois, Bozsik ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de
1952 com a seleção. O Honvéd era a base do time, que no início da década de
1950 viveu uma invencibilidade ainda não igualada de 32 partidas.
A
consagração definitiva ocorreu na Copa do Mundo de 1954: no ano anterior, a
Hungria ganhou a Copa Dr. Gerö, precursora da atual Eurocopa, e bateu por 6 X 3
a Inglaterra em pleno Wembley, tornando-se a primeira seleção não-britânica a
vencer os ingleses nos domínios deles.
A
um mês do mundial, na revanche do English Team em Budapeste, a Hungria ampliou
seu favoritismo, massacrando por 7 X 1.
A
Seleção Magiar conseguiu fazer uma revolução tática no futebol da época, a qual
dependia bastante de Bozsik, que dava o equilíbrio necessário no meio do campo.
Era um dos responsáveis pela dinâmica do time. A maior parte das jogadas
passava por ele, que tinha excelente saída de bola e sabia dar proteção à zaga,
além de aparecer na frente como elemento surpresa.
Os
húngaros chegaram até a final da Copa de 54, após uma campanha brilhante: na
primeira fase, impuseram novos massacres: foram 9 X 0 na Coreia do Sul e 8 X 3
na Alemanha Ocidental.
Depois,
nas quartas-de-final e semifinais, venceram por 4 X 2 as seleções que decidiram
a Copa do Mundo anterior, Brasil e Uruguai. O jogo contra a Celeste foi o único
em que ele não participou: contra os brasileiros, havia sido expulso juntamente
com Nilton Santos, após ambos trocarem empurrões e pontapés, em uma partida tão
marcada pela violência das duas equipes que ficou conhecida como "Batalha
de Berna", em alusão também à cidade onde foi realizada a partida.
Ao
ser indagado pelo árbitro da partida, o inglês Arthur Ellis, se havia sido
suspenso posteriormente pela federação nacional, Bozsik respondeu
desdenhosamente que "na Hungria, nós não prendemos deputados".
E
ele realmente voltou ao time na final, onde novamente os húngaros enfrentaram a
Alemanha Ocidental. Os magiares estavam certos de nova vitória e não se
abalaram nem após os alemães empatarem aos 18 minutos do primeiro tempo a
vitória parcial por 2 X 0 que a Hungria conseguira construir nos sete primeiros
minutos, mesmo com o segundo gol alemão saindo após falta no goleiro Grosics.
Bastante
autoconfiantes, os húngaros nunca protestavam contra a arbitragem, pois
costumavam compensar eventuais erros dela com muitos gols.
Porém,
não foi o que aconteceu. Os alemães impuseram uma marcação firme sobre o
principal armador das jogadas húngaras, Nándor Hidegkuti, e souberam fechar-se
na defesa.
A
seis minutos do fim, em um contra-ataque, viraram a partida e conseguiram
suportar a pressão húngara nos últimos minutos, em que um gol de Puskás chegou
a ser anulado. A invencibilidade húngara caiu naquela partida, justo quando não
podia.
Quatro
anos depois, Bozsik disputou a Copa do Mundo de 1958 como um dos titulares remanescentes
de 1954, ao lado de Gyula Grosics, László Budai e Nándor Hidegkuti.
A
Hungria sentiu a decadência sofrida pelo Honvéd após a crise de 1956. Puskás,
Czibor e Kocsis, justamente os três melhores jogadores do time, haviam
preferido o exílio no futebol espanhol. Os húngaros, sem eles, já não eram
considerados favoritos como antes.
Curiosamente,
foi nesse ambiente que Bozsik marcou seu primeiro (e único) gol em Copas, na
estreia contra o País de Gales. Porém os húngaros resolveram recuar para segurar
o resultado, sofreram o empate e terminaram a partida sofrendo pressão galesa,
algo inimaginável anos antes.
No
jogo seguinte, a Hungria enfrentou a anfitriã Suécia. Bozsik foi escalado no
meio-de-campo, em uma posição mais avançada. Ele fez o que pôde, armando
jogadas para que o jovem Lajos Tichy desferisse seus chutes violentos, mas
apenas um deles resultou em gol, enquanto os nórdicos fizeram dois e venceram.
A
partir daquela partida, o técnico Lajos Baróti, para o espanto geral, decidira
não escalar mais Bozsik e Hidegkuti juntos: Hidegkuti não jogou contra a
Suécia, voltou contra o México (contra quem Bozsik não jogou) e novamente saiu
para a volta de Bozsik no play-off, em que os magiares voltaram a enfrentar
Gales.
Apesar
da violência húngara, os britânicos conseguiram vencer de virada e
desclassificaram prematuramente os vice-campeões mundiais.
Bozsik permaneceu fiel às cores do Honvéd e da Hungria, as únicas duas equipes de sua
carreira. Já em 1962, despediu-se da equipe nacional pouco antes do Mundial do
Chile, se tornando o segundo jogador da história a superar a marca de 100
partidas por uma seleção.
Ainda
atuou como deputado, dirigente e técnico na Hungria. Transformou-se em
autoridade no país que ajudou a dar projeção graças à seleção. Bozsic morreu
ainda jovem, aos 52 anos vítima de um ataque cardíaco, em 31 de maio de 1978,
em Budapest.
Tinha
um sentimento, o de nunca mais ter visto os ex-companheiros de seleção que
fugiram do país, inclusive o amigo Puskás.
Em
janeiro de 2015 morreu ao Norte de Budapeste, na avançada idade de 85 anos o lateral
direito Jeno Buzanszky, último integrante da mítica seleção de futebol húngara
da década de 1950, que ficou invicta por quatro anos.
Buzanszky
nasceu em Újdombóvár em 3 de maio de 1925 e começou sua carreira aos 13 anos de
idade em uma equipe de sua cidade natal. Depois, jogou nas equipes Pécsi VSK e
Dorogi Bányász, pela qual fez 274 partidas na primeira liga húngara.
Entre
1950 e 1956, vestiu a camisa da seleção húngara em 49 ocasiões, e em 1952
ganhou medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em Helsinque.
Buzanszky
encerrou sua carreira ativa em 1960, quando começou a trabalhar como treinador
de vários times em Dorog e Esztergom. Em 1993, foi eleito membro da direção da
Federação Húngara de Futebol.
O
ex-jogador foi internado no hospital de Esztergom em 12 de dezembro, onde foi
operado. O estádio de Dorog, onde jogou entre 1947 e 1960, tem o nome de
Buzanszky desde 2010. (Pesquisa: Nilo Dias)