Izídio
Osorio, o “Cascudo”, foi um bom lateral direito que jogou no futebol de Pelotas
(RS) nos anos 1950, 1960 e 1970. Teve uma particularidade, nunca fez um gol
sequer na carreira em que defendeu os três clubes da cidade, Brasil,
Farroupilha e Pelotas.
“Cascudo”
nasceu em Pelotas no dia 13 de janeiro de 1935 e faleceu em sua terra natal no
dia 15 de junho de 2015, aos 80 anos de idade. O ex-lateral foi sepultado pela manhã no Cemitério Ecumênico São Francisco de Paula.
Ele
esteve internado por um longo período em uma casa de geriatria, localizada na
rua General Osório entre Dom Pedro II e Telles e sofria do “Mal de Alzheimer”.
Começou
a carreira no G.E. Brasil onde participou de 80 jogos, ao longo das temporadas
de 1954, 1955, 1956 e 1957. Esteve em campo no amistoso realizado em março de
1957, entre Brasil X Santos, com “Pelé” no time paulista.
Em
1960, aos 25 anos de idade, transferiu-se para o rival, Esporte Clube Pelotas,
e depois para o Grêmio Atlético Farroupilha, onde participou do time que ficou
conhecido como “Academia Tricolor”, que marcou época nas décadas de 1960 e
1970.
O
time base do Farroupilha era: Caramuru – Cascudo – Osmarino - Zéquinha (Noel)
e Betinho. Noredim e Gilnei. Celso – Lelo - Wilson Carvalho e Dias. Depois de
encerrar a carreira de jogador foi técnico do próprio Farroupilha.
Segundo
registro do jornalista Augusto Santos, Izídio era o técnico do Farroupilha em
1980 quando este venceu o Grêmio Portoalegrense, em pleno Estádio Olímpico, em
Porto Alegre. Foi homenageado em 2001 como ex-atleta do Farroupilha.
Quando
o escritor pelotense Manoel Soares Magalhães soube do fato, ficou sem saber o
que pensar. Confira a seguir sua crônica.
"Dizer
o quê de um atleta que jogou profissionalmente e jamais fez um gol. Até hoje
não havia pensado nessa possibilidade. Achava impossível existir um jogador que
não tivesse feito pelo menos um golzinho. Um meio gol, talvez, com a ajuda do
goleiro, do montinho artilheiro, de um Deus de plantão, cuja benevolência
extrapolou.
Folheando
o excelente livro escrito por Marco Antonio Damian, escritor e historiador, e
de Luiz Cesar Freitas, comentarista e cronista esportivo, chamado “Enciclopédia
do Futebol Gaúcho – Volume I - Ídolos e Craques”, lançado em 2009, descobri que
houve esse jogador.
Chamava-se
Isídio Osório, conhecido como “Cascudo”. Sim, “Cascudo” é o nome do jogador que
jamais marcou um gol jogando profissionalmente. Encerrou sua carreira sem nunca
ter marcado um gol. Sem jamais ter experimentado na alma a quentura de um gol,
revolvendo suas entranhas, arremessando-o às alturas.
O
ex-atleta já morreu. O que terá pensado no instante do passamento? Que procurou
tratar bem a bola, porém, caprichosa como solista de ópera, frustrou suas
expectativas? Difícil saber o que terá imaginado o velho lateral-direito “Cascudo”,
cujo profissionalismo e dedicação aos clubes que defendeu fora grande. Isso são
coisas intangíveis, inimagináveis.
O
fato é que o velho “Cascudo” jamais balançou a rede. Não teve esse gosto. Por
uma estranha e infeliz ironia".
Dentre
os jogadores que se consagraram na academia tricolor daquela época, e que
costumava derrotar Grêmio e Internacional nos jogos no “Estádio Nicolau Fico”,
alguns já são falecidos: Osmarino, Gilnei, Lelo e Dias, por exemplo. O
treinador tricolor, tenente José Avelino Pires da Fonseca também já morreu.
O
Grêmio Esportivo Brasil, que também possuía uma equipe consagrada nesta mesma
época, tinha Geovio – Adilson – Jocely - Moacir e Bahia. Caçapava e Birinha. Edy
– Oli - Fonseca ou Pintinho e João Borges.
Desse
time “Xavante”, já são falecidos Geóvio, Bahia, Caçapava, Edy, Oli, Pintinho e
João Borges. O consagrado treinador Paulo de Souza Lobo, o Galego, também já morreu.
O
Esporte Clube Pelotas também possuía um time de respeito: Piva - Hermínio –
Osmar - Walmir e Severo. Serafim ou Luizito e Jara ou Joaquinzinho. Sidnei
Buttini - Leal - Walter e Paraguaio.
Dos
atletas da “Boca do Lobo” das décadas de 60 e 70, já são falecidos Hermínio,
Osmar (Gauchão), Serafim, Joaquinzinho e Humberto Severo. O famoso treinador
Oswaldo Rolla (Foguinho), e o treinador das categorias de base, Getúlio
Saldanha, também já morreram.
Nessa
época eu morava em Pelotas e trabalhava na imprensa local: Rádios Pelotense e
Tupancy, jornal “Diário Popular” e Sucursal da Companhia Jornalística Caldas
Júnior.
Era
torcedor do Farroupilha, por inspiração do saudoso Gabriel Vargas Campelo, que
era sogro do meu também saudoso irmão, Izabelino Tavares. O seu Campelo era dono
do “Expresso Ponche Verde”, que transportava cargas de Dom Pedrito, minha terra
natal, para o Porto de Rio grande e vice-versa.
Por
isso conheci e fui amigo de muitos jogadores do Farroupilha, nos seus bons tempos.
Também
teve destaque no Farroupilha, Luís Carlos Machado, mais conhecido como “Escurinho”,
gaúcho de Porto Alegre, onde nasceu em 18 de janeiro de 1950. Morreu em Porto
Alegre mesmo, em 27 de setembro de 2011, aos 61 anos de idade.
Perdeu
a batalha para o diabetes que já tinha sido responsável pela amputação de uma
perna. Quando morreu morava em Guaíba, tendo enfrentado dificuldades
financeiras, mas conseguiu ajuda junto ao Internacional e por alguns dirigentes
e conselheiros do clube.
“Escurinho”
teve dois filhos, D’Marcelus e Cássius, que tentaram a sorte no futebol.
Jogaram nas categorias de base de Grêmio e Internacional e por clubes do interior,
mas em momento algum alcançaram o sucesso do pai. D’Marcelus jogou, também, no
Paraná.
Eu
conheci bem o “Escurinho”. No tempo que ele jogou no Farroupilha fizemos uma
sólida amizade. Era um cara espetacular, ótimo sambista e compositor. Ele
chegou ao clube por empréstimo, junto do também atacante Pedro.
Anos
depois os dois atuaram juntos no Palmeiras, de São Paulo. Em fim de carreira
teve passagens discretas, por Caxias e Novo Hamburgo.
Contam
que era muito cuidadoso com a imagem. Vestia bem, gostava de usar calça branca,
apertada, sapatos brancos, sempre bem lustrados, e camisa “volta ao mundo”,
quase sempre estampadas e coloridas.
O
que ele mais cuidava era o cabelo, sempre bem penteado. Gostava do “Black Power”,
que era moda na sua época. Dizem que ficava duas horas antes do treino, e
outras duas horas, depois, ajeitando a cabeleira arredondada, usando como
pente, um garfo comprido.
“Escurinho”,
certa ocasião foi convidado para participar de um programa de esportes da TV
Tuiuti, Canal 4, hoje RBS TV, de Pelotas, quando seria entrevistado ao vivo.
Botou
a melhor roupa, penteou o cabelo por três horas e ai notou que sua calça de
linho, branca, tinha uma pequena rasgadura, bem acima do zíper, coisa de meio
centímetro, imperceptível.
Mas
mesmo assim, “Escurinho” entrou em pânico. Já era seis da tarde e o programa
era as sete. O táxi estava para chegar e de nada adiantava os companheiros dizerem
que ninguém iria notar.
Quem
o convenceu que ninguém ia notar, foi o companheiro Izidio Osório, o “Cascudo”.
Mas alguns jogadores mais sacanas, entre os quais o goleiro César, não quiseram
perder a oportunidade de fazerem uma brincadeira com o colega.
Foram
todos para a calçada, frente o Estádio, encostados na parede. Quando Escurinho
apareceu, para embarcar no taxi, gritaram ao mesmo tempo: “Pô negão, tu vai na
TV com essa calça rasgada. Tu tá com um baita rasgão em cima do fecho. Vai
trocar de calça, pô”.