Em
Caxias do Sul o nome de Osvaldo Valentim Palmiro Artico,é até hoje lembrado com
respeito e até veneração. Ele esteve presente em momentos importantes da
cidade, especialmente no futebol. Foi um dos fundadores do Sport Club Ideal, o
primeiro time de futebol que se tem notícia em Caxias do Sul.
O
Sport Clube Ideal foi fundado em 3 de outubro de 1910, por jovens amadores que
praticavam o futebol de forma precária, sem um campo fixo e sem equipamentos,
jogando com bolas de pano, laranjas ou bexigas de animais. Até mesmo seu
uniforme era improvisado.
A
situação era tão difícil que até mesmo os calções eram feitos de sacos de
linhagem, que eram furados no fundo para os jogadores passarem as pernas. E
depois eram amarrados com um pedaço de corda na barriga, como se usa nos
pijamas.
O
surgimento do Ideal deu-se em uma cidade conservadora onde até então os
principais esportes eram o jogo de cartas, o jogo da mora e o jogo da bocha.
Osvaldo
tinha o apelido de “Mirim”, para diferenciá-lo de seu avô, que tinha o mesmo
nome. O apelido ele carregou por toda a vida. No Ideal destacou-se como um
líder, tendo se envolvido em incontáveis brigas durante os jogos, coisa comum entre
a meninada da época.
Nessas
ocasiões costumava usar um cinturão de onde pendia pesada fivela de metal. Fora
isso, era bem quisto por companheiros e adversários.
Com
o tempo o Ideal foi crescendo, desenvolvendo outras atividades além do futebol,
como "matinés dançantes" que atraíam os jovens de todos os cantos da
cidade;
Nessas
ocasiões a disciplina era bastante rígida, quase uma postura militar. Era
proibido que os moços tocassem nas moças. A religião e a moral católica eram
princípios fundamentais.
Mas
nem por isso os escândalos não eram totalmente evitados. Uma coisa que nos dias
de hoje nem chamaria atenção, era tratada como um desrespeito naqueles distantes
anos. A presença de jogadores do Ideal com as pernas descobertas.
Também
esteve presente na fundação do Esporte Clube Juventude, em 29 de junho de 1913,
onde se destacou como atleta, capitão, diretor de departamentos e presidente.
Ainda ajudou a fundar o Recreio da Juventude, um dos mais tradicionais clubes
sociais de Caxias. Em 1938 foi secretário do Recreio Guarany.
Osvaldo
foi jogador titular do Juventude desde a primeira partida, atuando como centromédio.
O clube era formado basicamente por adultos, e para criar um quadro de juniores
Osvaldo propôs ao Ideal se fundir ao Juventude.
Mas
a ideia não foi bem aceita, ao contrário, provocando uma cisão. Metade gostou, mas
a outra metade, não, preferindo aderir ao Clube Juvenil, fundando o seu
Departamento de Futebol.
Com
a fusão, Osvaldo foi designado capitão-instrutor dos Juniores. Em 1915, atuou
como diretor de Campo do Juventude. Em 1917 foi presidente, e jogador ao mesmo
tempo, sendo o capitão em 1917 e 1918.
O
historiador do Juventude, Michielin, descreveu Osvaldo como um dos
"imortais" do clube. E lembrou de um jogo contra o Cruzeiro,
disputado em 1918, em, que classificou a atuação de Osvaldo como
"fantástica".
Ainda
recordou de uma partida frente o 14 de Julho, de Santana do Livramento, em 1919:
"Osvaldo Artico, depois de sete temporadas seguidas, está no auge de sua
classe, jogando com uma gana incrível. Sua raça é indomável, não há “leão” que
o assuste.
Toma
conta do campo e marca o terceiro e quarto tentos. No placar, Juventude 4 X 1.
É uma loucura". A referência ao “leão” é uma alusão ao 14 de Julho,
chamado “Leão da Fronteira”, que se encontrava invicto até enfrentar o time
caxiense. A partir dessa vitória histórica, o Juventude passou a ser chamado pela
imprensa da capital de “Tigre da Serra".
Osvaldo
Artico ainda ocupou várias outras funções no Juventude, deixando uma importante
marca na história do clube. Em 1924 esteve no Conselho Fiscal; em 1931 ocupou a
Presidência pela segunda vez; em 1933 e 1934 integrou o Conselho Técnico; em
1935 e 1936 foi capitão-geral; e em 1938 foi diretor técnico.
Sua
atuação no futebol não se limitou ao Ideal e ao Juventude. Em 1934 foi um dos
fundadores e primeiro presidente da Liga Interna Caxiense de Foot-Ball, depois
renomeada Liga Esportiva Caxiense.
Fora
do futebol foi comerciante e político. Teve elogiada atuação como sub-prefeito
do distrito de São Marcos, em 1939 e 1940, onde também foi um dos fundadores da
Associação Rural, um dos fundadores e dirigente do Tiro de Guerra 248, com a
patente de capitão, um dos fundadores e primeiro vice-presidente da seção local
da Liga de Defesa Nacional, um dos fundadores do Diretório Municipal de
Geografia de Caxias e do Grêmio Americano, de quem foi o primeiro presidente
honorário.
Foi
reconduzido ao cargo em 1941 e 1942. Depois transferiu-se para o distrito de
Ana Rech, onde foi sub-prefeito em 1948. Em 1976 a Prefeitura de Caxias honrou
sua memória batizando uma rua com seu nome.
Osvaldo
Artico descendia de uma antiga família da nobreza italiana, que habitava a
região compreendida entre o Friuli e o Vêneto. Depois, um ramo familiar mudou-se
para Ceneda. E foi lá, em 1845, que nasceu o avô de Osvaldo, também de nome Osvaldo.
Ele
casou com Magdalena de Nadai, foi militar e oficial de Giuseppe Garibaldi,
lutando no “Risorgimento” italiano. Em 1879 decidiu emigrar para o Brasil, indo
para Caxias do Sul, não se sabe por quais razões.
Em
terras gaúchas, participou dos trabalhos de fundação de Caxias do Sul.
Trabalhou como professor, ferreiro e foi dono de uma bodega, além de membro da
Comissão de Obras da primeira Igreja Matriz e um dos fundadores da Sociedade
Príncipe de Nápoles.
Foi
por iniciativa dele que a cidade ganhou a primeira fábrica de fogões a lenha.
Depois tornou-se industrial do vinho. Faleceuo em 1909 em confortável situação
financeira e prestigiado socialmente. Seu sepultamento foi um dos mais
concorridos da época. Deixou seis filhos: Antônio, Augusto, José, João,
Celestina e Maria.
Os
negócios do avô Osvaldo tiveram continuidade, com Augusto tomando conta da
ferraria. Antônio, casado com Teresa Segalla, e pai de Osvaldo (“Mirim”) assumiu
a direção da cantina e a ampliou significativamente, exportando 10 mil barris de
vinho por ano e tendo seu produto premiado.
Antônio
esteve ainda ligado a política, sendo dirigente do Partido Republicano
Rio-Grandense, e membro da Diretoria da Associação dos Comerciantes. Em 1921 o
negócio da cantina faliu, e Antônio abriu um pequeno hotel com restaurante,
onde organizava banquetes de encomenda.
Morreu
no dia 6 de março de 1936. Com Teresa teve o filho Osvaldo e as filhas Ilda,
falecida na infância, Irma, Norma, Graciema e Rina.