quarta-feira, 29 de março de 2017

Histórias do futebol gaúcho (1)

O Campeonato Gaúcho de antigamente era disputado de uma forma bem diferente do que é hoje. Os clubes eram divididos em chaves regionais, geralmente Serra, Sul, Centro e Metropolitana. O campeão de cada uma dessas regiões disputava as partidas finais que eram realizadas em Porto Alegre.

Eu lembro bem dos campeonatos municipais, que eram mais valorizados que hoje. O campeão de cada cidade é que participava das disputas estaduais. Quando morei em Pelotas e trabalhei na imprensa de lá, rádios “Tupancy” e “Pelotense”, jornal “Diário Popular” e “Sucursal da Companhia Jornalística Caldas Júnior”, fiz muitas coberturas desses campeonatos.

Em 1960 foi mudada a fórmula do Campeonato Gaúcho. Os certames municipais deixaram de ser classificatórios para o Estadual, passando a reunir um número fixo de equipes, com acesso e descenso.

Dia desses encontrei na Internet algumas histórias interessantes que se passaram ao tempo dos certames municipais, lembradas pelo jornalista Rogério Bohlke. O campeonato de Uruguaiana, por exemplo, era um dos mais fortes. Os times de lá, Uruguaiana, Ferro Carril e Sá Viana, todos de muita tradição, viviam tempos de glória.

Eu lembro de quando estava internado no Colégio Santa Maria, dos Irmãos Maristas, em Santa Maria. Quando havia jogos de futebol a noite, geralmente era permitida a ida até os estádios. Lembro de um jogo amistoso disputado no estádio do Riograndense, entre o periquito santa-mariense e o Sá Viana, de Uruguaiana, que tinha um timaço.

Destacava-se nessa equipe um atacante de nome Nei Sávi. Era elegante para jogar e altamente técnico. Se jogasse hoje, certamente seria titular em qualquer equipe do futebol brasileiro.

Pois bem, nessas historinhas encontradas na Internet, destaca-se uma. Em 1966, o Uruguaiana, era o time mais forte da cidade, e vencia ao Sá Viana por 1 X 0, até os 42 minutos da primeira etapa.
Foi quando aconteceu o inusitado.

Em lance de ataque do Uruguaiana, faltando um minuto para acabar o primeiro tempo, o jogador Abeguar, o craque do time, teve um profundo corte no supercílio, depois de se chocar contra um zagueiro adversário. Como saia muito sangue ele teve de ser atendido em um hospital da cidade.

O técnico do Uruguaiana era Guizzoni, que depois dirigiu o Flamengo, de Caxias do Sul e outras equipes interioranas. Na confusão que se formou o treinador não lembrou de substituir o atleta lesionado.

Naqueles tempos de antigamente a regra especificava que substituições só podiam acontecer até o final da primeira etapa. O presidente do Uruguaiana era um fazendeiro muito rico, chamado de “Funcho”, que meio desorientado na volta da equipe para o segundo tempo, gritou:

“Abeguar, não tem outro jeito. Com um a menos nós vamos perder esse jogo. Vai lá no hospital, faz um curativo, pede para te remendarem a “caixola” e volta para jogar. Se tu voltar e fizer um gol e nós vencermos, e te darei de presente uma quadra de campo povoada”.

O segundo tempo teve inicio com a vitória parcial do Uruguaiana por 1 X 0 e o time com 10 jogadores em campo. Aos 15 minutos Abeguar deu com as caras no estádio, com a a cabeça toda enfaixada. Entrou em campo e se comportou como se nada tivesse acontecido com ele e ainda fez o segundo gol do seu time que ganhou por 2 x 1.

O goleiro do Uruguaiana era Vilson Bagatini, que depois se tornou árbitro e escritor de renome, que somente sofreu dois gols em toda a temporada. É irmão de outro Bagatini, também goleiro, que entre outros clubes jogou por Flamengo, de Caxias do Sul, S.E.R. Caxias e Internacional, de Porto Alegre.

O Uruguaiana foi campeão da cidade, e depois campeão da Fronteira, tendo derrotado o 14 de Julho, de Livramento. Mas acabou perdendo a partida final para o Gaúcho, de Passo Fundo, que disputou em 1967, pela primeira vez, a Divisão Principal do futebol gaúcho.

O primeiro jogo entre Uruguaiana X Gaúcho, pelas finais, foi realizado na Fronteira, dia 11 de dezembro de 1966, com vitória jalde-negra por 1 X 0, gol anotado por Caio, aos 40 minutos da fase final. No jogo de volta, em Passo Fundo, dia 18, o Gaúcho ganhou de goleada, 5 X 0, provocando uma prorrogação.

Naquele tempo não existia saldo de gols, como ocorre hoje. No tempo suplementar o Gaúcho ganhou de novo, dessa feita por 1 X 0. Bebeto, depois apelidado de “Canhão da Serra”, que marcou o gol que levou o time de Passo Fundo ao “Gauchão”, aos 12 minutos da segunda etapa.

 O Uruguaiana, com a ajuda de fazendeiros viajou de avião para Passo Fundo. Segundo alguns pesquisadores afirmam, essa foi a primeira vez que um time gaúcho da Segunda Divisão viajou de avião. Sabe-se que a pista do aeroporto de Passo Fundo era de terra batida, o que obrigou a delegação uruguaianense ficar 20 minutos dentro da aeronave, até que a poeira baixasse.

O árbitro do jogo foi Flávio Cavedini, apelidado na época de Flavio Gavedini (alusão a gaveta), auxiliado por Juarez Oliveira e Timóteo Lopes da Costa. O time do Uruguaiana, na época uma das melhores formações de sua história jogou com Bagatini – Vera – Mujica - Bom Filho e Valmor. Paré e Volf. Paulo – Barzoni - Abeguar e Caio. O técnico era Rodolfo Guizzoni.

Mas a história não acaba por aqui. Os ricos fazendeiros que não poupavam dinheiro para ajudar o Uruguaiana, eram acostumados a frequentar os luxuosos cabarés da cidade e também da capital, quando viajavam a “negócios” até Porto Alegre.

E presenteavam os jogadores mais destacados de igual forma que as “meninas”, ou seja, botando notas de dinheiro alto, dentro dos calções dos atletas. No caso das “moças”, era na calcinha ou na cinta do espartilho.

Mas como tudo o que é bom dura pouco, ao término do ano de 1966 o Uruguaiana vendeu todo o time e fechou as portas. Entre os atletas que foram embora, sabe-se que Bagatini foi para o Flamengo, de Caxias do Sul, Bom Filho, para o Juventude, também de Caxias do Sul, Mujica para o Ypiranga, de Erechim. Valmor, para o14 de Julho, de Passo Fundo, Gonzaga e Paré, para o Brasil de Pelotas. (Pesquisa: Nilo Dias)
O Campeonato Gaúcho de antigamente era disputado de uma forma bem diferente do que é hoje. Os clubes eram divididos em chaves regionais, geralmente Serra, Sul, Centro e Metropolitana. O campeão de cada uma dessas regiões disputava as partidas finais que eram realizadas em Porto Alegre.

Eu lembro bem dos campeonatos municipais, que eram mais valorizados que hoje. O campeão de cada cidade é que participava das disputas estaduais. Quando morei em Pelotas e trabalhei na imprensa de lá, rádios “Tupancy” e “Pelotense”, jornal “Diário Popular” e “Sucursal da Companhia Jornalística Caldas Júnior”, fiz muitas coberturas desses campeonatos.

Em 1960 foi mudada a fórmula do Campeonato Gaúcho. Os certames municipais deixaram de ser classificatórios para o Estadual, passando a reunir um número fixo de equipes, com acesso e descenso.

Dia desses encontrei na Internet algumas histórias interessantes que se passaram ao tempo dos certames municipais, lembradas pelo jornalista Rogério Bohlke. O campeonato de Uruguaiana, por exemplo, era um dos mais fortes. Os times de lá, Uruguaiana, Ferro Carril e Sá Viana, todos de muita tradição, viviam tempos de glória.

Eu lembro de quando estava internado no Colégio Santa Maria, dos Irmãos Maristas, em Santa Maria. Quando havia jogos de futebol a noite, geralmente era permitida a ida até os estádios. Lembro de um jogo amistoso disputado no estádio do Riograndense, entre o periquito santa-mariense e o Sá Viana, de Uruguaiana, que tinha um timaço.

Destacava-se nessa equipe um atacante de nome Nei Sávi. Era elegante para jogar e altamente técnico. Se jogasse hoje, certamente seria titular em qualquer equipe do futebol brasileiro.

Pois bem, nessas historinhas encontradas na Internet, destaca-se uma. Em 1966, o Uruguaiana, era o time mais forte da cidade, e vencia ao Sá Viana por 1 X 0, até os 42 minutos da primeira etapa.
Foi quando aconteceu o inusitado.

Em lance de ataque do Uruguaiana, faltando um minuto para acabar o primeiro tempo, o jogador Abeguar, o craque do time, teve um profundo corte no supercílio, depois de se chocar contra um zagueiro adversário. Como saia muito sangue ele teve de ser atendido em um hospital da cidade.

O técnico do Uruguaiana era Guizzoni, que depois dirigiu o Flamengo, de Caxias do Sul e outras equipes interioranas. Na confusão que se formou o treinador não lembrou de substituir o atleta lesionado.

Naqueles tempos de antigamente a regra especificava que substituições só podiam acontecer até o final da primeira etapa. O presidente do Uruguaiana era um fazendeiro muito rico, chamado de “Funcho”, que meio desorientado na volta da equipe para o segundo tempo, gritou:

“Abeguar, não tem outro jeito. Com um a menos nós vamos perder esse jogo. Vai lá no hospital, faz um curativo, pede para te remendarem a “caixola” e volta para jogar. Se tu voltar e fizer um gol e nós vencermos, e te darei de presente uma quadra de campo povoada”.

O segundo tempo teve inicio com a vitória parcial do Uruguaiana por 1 X 0 e o time com 10 jogadores em campo. Aos 15 minutos Abeguar deu com as caras no estádio, com a a cabeça toda enfaixada. Entrou em campo e se comportou como se nada tivesse acontecido com ele e ainda fez o segundo gol do seu time que ganhou por 2 x 1.

O goleiro do Uruguaiana era Vilson Bagatini, que depois se tornou árbitro e escritor de renome, que somente sofreu dois gols em toda a temporada. É irmão de outro Bagatini, também goleiro, que entre outros clubes jogou por Flamengo, de Caxias do Sul, S.E.R. Caxias e Internacional, de Porto Alegre.

O Uruguaiana foi campeão da cidade, e depois campeão da Fronteira, tendo derrotado o 14 de Julho, de Livramento. Mas acabou perdendo a partida final para o Gaúcho, de Passo Fundo, que disputou em 1967, pela primeira vez, a Divisão Principal do futebol gaúcho.

O primeiro jogo entre Uruguaiana X Gaúcho, pelas finais, foi realizado na Fronteira, dia 11 de dezembro de 1966, com vitória jalde-negra por 1 X 0, gol anotado por Caio, aos 40 minutos da fase final. No jogo de volta, em Passo Fundo, dia 18, o Gaúcho ganhou de goleada, 5 X 0, provocando uma prorrogação.

Naquele tempo não existia saldo de gols, como ocorre hoje. No tempo suplementar o Gaúcho ganhou de novo, dessa feita por 1 X 0. Bebeto, depois apelidado de “Canhão da Serra”, que marcou o gol que levou o time de Passo Fundo ao “Gauchão”, aos 12 minutos da segunda etapa.

 O Uruguaiana, com a ajuda de fazendeiros viajou de avião para Passo Fundo. Segundo alguns pesquisadores afirmam, essa foi a primeira vez que um time gaúcho da Segunda Divisão viajou de avião. Sabe-se que a pista do aeroporto de Passo Fundo era de terra batida, o que obrigou a delegação uruguaianense ficar 20 minutos dentro da aeronave, até que a poeira baixasse.

O árbitro do jogo foi Flávio Cavedini, apelidado na época de Flavio Gavedini (alusão a gaveta), auxiliado por Juarez Oliveira e Timóteo Lopes da Costa. O time do Uruguaiana, na época uma das melhores formações de sua história jogou com Bagatini – Vera – Mujica - Bom Filho e Valmor. Paré e Volf. Paulo – Barzoni - Abeguar e Caio. O técnico era Rodolfo Guizzoni.

Mas a história não acaba por aqui. Os ricos fazendeiros que não poupavam dinheiro para ajudar o Uruguaiana, eram acostumados a frequentar os luxuosos cabarés da cidade e também da capital, quando viajavam a “negócios” até Porto Alegre.

E presenteavam os jogadores mais destacados de igual forma que as “meninas”, ou seja, botando notas de dinheiro alto, dentro dos calções dos atletas. No caso das “moças”, era na calcinha ou na cinta do espartilho.


Mas como tudo o que é bom dura pouco, ao término do ano de 1966 o Uruguaiana vendeu todo o time e fechou as portas. Entre os atletas que foram embora, sabe-se que Bagatini foi para o Flamengo, de Caxias do Sul, Bom Filho, para o Juventude, também de Caxias do Sul, Mujica para o Ypiranga, de Erechim. Valmor, para o14 de Julho, de Passo Fundo, Gonzaga e Paré, para o Brasil de Pelotas. (Pesquisa: Nilo Dias)

O time do Uruguaiana, em 1966, era muito forte.