É
claro que os três Estados do Sul são tradicionalmente os mais frios do Brasil.
Eu sou gaúcho, filho de Dom Pedrito e morei também em Rosário do Sul, Pelotas,
Rio Grande e São Gabriel Dizer qual dessas cidades é a mais fria, eu não
saberia. Acho que se equivalem.
Sei
que São Joaquim, em Santa Catarina e São José dos Ausentes, no Rio Grande do
Sul são locais que não me serviriam para morar. Fui criado pisando em geada nas
manhãs geladas de minha terra natal. Dormindo com cobertor, acolchoado e bolsa
de água quente nos pés.
Sei
que em São José dos Ausentes a noite chega às 6 da tarde. E se ouve um ronco
vindo do cânion existente por lá. Mais ninguém anda nas ruas. Nem um boteco
aberto para a gente tomar uma. Que horror.
Hoje
moro em Brasília, onde praticamente não existe inverno. Pelo menos para quem
veio do Sul do país. Eu estou aposentado, deixei para trás o terno, a gravata e
o sapato social. Hoje ando sempre de chinelo ou sandália, bermuda e camisa
regata. As vezes visto o manto sagrado do Internacional.
Faço
essas observações para que o leitor de outras regiões do Brasil sinta, não na
pele, mas no entendimento, que muitas vezes o inverno por lá é tão rigoroso,
que fica dificil de acreditar em algumas situações surgidas. E o que vou contar
agora é real.
Foi
na noite de 30 de maio de 1979, que tudo aconteceu. Jogo válido pelo Campeonato
Gaúcho, segundo turno, entre Grêmio Portoalegrense e Esportivo,, de Bento
Gonçalves. Nesta história nem vale a pena dizer como estavam os times na taela.
O
jogo foi em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, no antigo Estádio da Montanha.
Hoje o Esportivo está em outro endereço, o Estádio dos Vinhedos. Havia no ar
uma intensa massa de ar polar, cenário ideal para neve. A previsão do tempo
anunciava tudo isso.
E
a neve caiu, como era esperada. Ninguém foi pego de surpresa. Ás 20h30min a
temperatura já estava próxima de zero grau. O jogo estava marcado para às 21
horas. Os dois times entraram em campo, com os atletas batendo queixo, com toda
a certeza.
O
técnico do Esportivo era Valdir Espinoza. O time: Jânio - Toninho - Carlão e
José; Raquete; Tovar - Celso Freitas e Adílson. João Carlos - Néia e Rubem. O
Grêmio, de Orlando Fantoni, tinha Manga - Vilson - Vantuir e Vicente. Dirceu -
Vitor Hugo - Paulo César Caju e Jurandir. Tarciso - Baltazar e Jésum.
Faço
idéia de como se sentiam jogadores como Paulo César Caju, carioca, que estava
com a cabeleira coberta de neve. E Manga, pernambucano. Os dois acostumados com
o calor e praias. A neve começava a tomar conta do gramado. O grosso bigode do
mineiro Jesum, estava branco de neve. Os jogadores corriam mais em campo para
espantar o frio.
Nas
arquibancadas 3.988 valentes torcedores e renda de CR$
189.520,00.
De um gol a outro era simplesmente
impossível enxergar alguma coisa. No intervalo do jogo, com 0 X 0 no placar, os
gelados flocos de neve não paravam de cair.
O
juiz do jogo era Carlos Martins, que até pensou em cancelar a partida antes de
começar o segundo tempo. Mas não o fez. Com o gramado escorrefgadio pela neve,
o jogo terminou sem vencedor, empate em 0 X 0.
Esse
jogo não foi único no Brasil, disputado em situação tão calamitosa. Antes, em 17
de julho de 1975, o jogo entre Juventude e Internacional, de Santa Maria, no
Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, vencido pelo time local por 2 X 0,
constitui-se até hoje na única vitória de um time na neve, com registro e
testemunho na história do futebol brasileiro.
Em
1979, tivemos mais dois registros importante. Em 31 de Maio, nevou no jogo entre
Chapecoense X Criciúma. Era um frio de rachar, com temperatura negativa e 177 heroicos
torcedores presentes.
Em 30 de junho no jogo entre Internacional, de Lages e Avai, no Estádio Vidal Ramos Júnior em Lages, empate em 1 X 1, também nevou forte e o jogo se desenvolveu com o gramadio tomado de neve.
Os times naquela ocasião tinham essa formações. Internacional: Luiz Fernando - Chicão - Nivaldo - Eduardo e Clademir. Bin - Daniel e Vanusa. Jorge Guilherme - Wilson (Jones) e Vacaria. Técnico: Ademir Martin.