Alfredo
Di Stéfano Laulhé, ou simplesmente Di Stéfano foi um dos maiores jogadores de
futebol de todos os tempos. Era argentino, de Buenos Aires, nascido em 4 de
julho de 1926, no bairro portenho de Barracas, e falecido em Madrid, Espanha, em
7 de julho de 2014.
Cresceu
jogando futebol com os meninos do bairro em terrenos baldios, a chamada "academia da rua", com bolas de borracha que custavam poucos centavos. Sua
primeira equipe organizada se chamava “Unidos y Venceremos”.
Em
1940, sua família se mudou para Los Cardales. Seu pai era agricultor e
trabalhava na zona rural. Alfredo deixou os estudos e começou a trabalhar para
ajudar a economia familiar.
Aos
domingos pela manhã jogava futebol com seu irmão Tulio, no “Club Unión
Progresista”, o mais antigo de Los Cardales. E a tarde acompanhava seu pai nos
jogos do River Plate, clube do qual era sócio desde os sete anos de idade.
O
primeiro campeonato ganho pela “La "Saeta Rubia" foi defendendo o "CSD
Unión Progresista", em meados de 1940.
Di
Stéfano e José Manuel Moreno, estrela do River Plate, são considerados os
maiores jogadores argentinos do século XX, ao lado de Diego Maradona.
Além
de brilhante jogador foi também excelente técnico. Jogou por três seleções, da
Argentina, Colômbia e Espanha. Recebeu da imprensa espanhola o apelido de “La Saeta
Rubia” (A Flexa Loira”), devido a sua velocidade e a cor dos cabelos.
Além
de extremamente veloz, combatia, desarmava, tinha grande inteligência para
criar jogadas, habilidade para receber, tratar, conduzir, cabecear e passar a
bola, além de precisão nos arremates.
Quando
criança, não pensava em ser jogador de futebol. Sua vontade era seguir a carreira
de aviador. Seu pai o incentivava a ser futebolista. Mas Di Stéfano só se
decidiu pelos caminhos da bola, depois de marcar três gols quando, aos 17 anos,
foi chamado às pressas para completar o time do bairro.
Aos
12 anos integrou os juvenis do Los Cardales, aos 15 transferiu-se para o River
Plate e aos 16 estreou na equipe principal.
Seu
pai havia sido jogador do River Plate, o que facilitou sua ida para o clube.
Foi levado à equipe por um ex-jogador que, em visita casual a sua casa, ouviu
da mãe de Di Stéfano que o garoto tinha talento.
Passou
no teste e foi convidado pelo ex-jogador Carlos Peucelle a entrar na quarta
categoria do clube, não demorando para subir até a terceira, depois de ter sido
visto por outro antigo atleta do River, Renato Cesarini. Depois que o observou,
indagou a Peucelle: "diga-me, é um center-forward"? No que foi
respondido: "Não, senhor, não é. É um fenômeno".
De
2000 a 2014 foi o presidente honorário do Real Madrid, clube cuja história de
sucesso confunde-se com a dele. Com Di Stéfano em campo o clube madrilheno
tornou-se o maior vencedor da cidade de Madrid, da Espanha e da Europa. Também
era presidente honorário da UEFA,
desde 2008.
Suas
grandes atuações serviram para a alimentar a rivalidade com o Barcelona,
que na época não tinha a mesma expressão do adversário.
Muitos
jogadores que foram seus adversários, como por exemplo, Joaquín Peiró, que jogava pelo Atlético de
Madrid, destacou Di Stéfano como o número 1, dizendo que “aqueles que o viram
jogar, viram um grande craque. E aqueles que não o viram, perderam".
Já
Helenio Herrera, técnico do Barcelona, disse que "se Pelé foi o violinista
principal, Di Stéfano foi a orquestra inteira". Gianni Rivera e Bobby
Charlton, que no início de suas carreiras enfrentaram (e perderam) por seus
respectivos clubes (Milan e Manchester United) para “La Saeta Rubia” e o Real
Madrid na "Taça dos Campeões Europeus", nos anos 1950, disseram que "ele os
enlouquecia" e "foi o jogador mais inteligente que viram jogar,
transpirando esforço e coragem. Foi um líder inspirador e um exemplo perfeito
para os outros jogadores".
Os
torcedores mais entusiasmados do Real Madrid diziam que Di Stéfano fez a
Espanha torcer para o clube "merengue". E graças as suas exuberantes atuações o
Real Madrid se tornou conhecido além das fronteiras espanholas, disse o
presidente Ramón Calderón, que hoje dá nome ao estádio do clube.
Para
Emilio Butragueño, ex-jogador e depois membro da diretoria, "a história do
Real Madrid começou de fato a ser contada com a vinda de Di Stéfano". O
jogador, contudo, não gostava de entrar em polêmica e apontava Adolfo
Pedernera, astro do River Plate nos anos 1940, como o melhor jogador que
conheceu.
Di
Stéfano guardou uma grande mágoa, não ter jogado uma Copa do Mundo, embora
tenha atuado por três países - chegou a ir para a de 1962 pela Espanha, mas uma
lesão o impediu de atuar.
Como
treinador, obteve mais sucesso no Valência e também possui uma marca histórica
na função: foi o único a ser campeão argentino treinando os arquirrivais Boca
Juniors e River Plate.
No
começo de carreira, ainda no futebol argentino, Di Stéfano mostrava uma grande
fome de gol. Portava-se dentro de campo como um verdadeiro centroavante. Entre
fazer um gol ou dar um passe para outro companheiro, não vacilava, ele fazia o
gol. E dizia que não se arrependia disso, acrescentado que “o goleador tem mesmo que ser um tanto
egoísta.”
O
seu grande ídolo na infância foi o paraguaio Arsênio Érico, jogador que até
hoje se mantém como o maior artilheiro da história do futebol argentino, que
defendeu o Independiente nos anos 30 e 40.
O
seu aperfeiçoamento como jogador, porém, não se deu na Argentina. Fora de seu
país aprendeu também a voltar da área adversária para buscar o jogo, atuando
como ponta-de-lança. Para poder fazer isso, era dotado de excepcional preparo
físico, o que lhe dava condições de correr todo o campo durante uma partida
inteira mesmo depois dos 30 anos.
Di
Stéfano conseguiu jogar em alto nível até os 40 anos, decidindo por encerrar a
carreira apenas
para atender a um pedido do filho, quando soube por este que seria avô.
Chegou
ao River Plate em 1945, quando o clube era chamado de “La Máquina”, um time que
contava com Pedernera, Juan Carlos Muñoz, José Manuel Moreno, Ángel Labruna e
Félix Loustau, entre outros, que ganhou o campeonato argentino daquele.
O
craque jogou ainda com o goleiro Amadeo Carrizo, que estreou naquele ano de
1945. Na vitoriosa campanha, porém, ele participou de apenas uma partida,
substituindo Muñoz.
Não
era fácil ser titular naquele time, por isso acabou emprestado por um ano ao
Huracán, curiosamente a mesma equipe contra a qual havia feito seu primeiro
jogo. Ali, teve como treinador o ex-artilheiro Guillermo Stábile, que também
era o técnico da Seleção Argentina.
Os
primeiros dois gols que marcou na carreira, foram justamente no clássico frente
o San Lorenzo, em uma vitória por 3 X 2, em pleno estádio do arquirrival, que
se sagrou campeão argentino daquele ano de 1946.
Nem
a sua ex-equipe, River Plate, escapu. Contra ela marcou o que é até hoje o gol
mais rápido do futebol argentino, aos 11 segundos de jogo.
Mesmo
com o Huracán terminando o campeonato em nono lugar, Di Stéfano fixou-se como
centroavante e marcou 10 gols em 25 partidas, sendo um dos destaques do time e
do campeonato. E foi no Huracán que ganhou o apelido de “Saeta” (flecha).
Para
diferenciar de Llamil Simes, seu companheiro de equipe, que tinha o mesmo
apelido, o de Di Stéfano recebeu o acréscimo “Rubia” (loira). O Huracán quis
ficar com ele em definitivo, mas não teve condições de pagar os 80 mil pesos
pedidos pelo River. Após um ano, voltou ao “Monumental de Núñez”, em 1947.
Dessa
vez teve melhores condições de ser titular, pois Pedernera saíra para o
Atlanta, Labruna estava com hepatite e Muñoz, lesionado. O jogo de sua
reestreia foi apontado por ele mesmo como o melhor de sua carreira. A partir
dai sempre carregava no bolso um pequeno distintivo gravado com a inscrição
"River Plate-San Lorenzo de Almagro, 1947".
Em
1947 teve de prestar serviço militar, mas mesmo assim fez 27 gols pelo River, ajudando o clube a ganhar o campeonato argentino, o seu primeiro título como membro efetivo no grupo, e tendo terminado como artilheiro do
certame.
A
torcida reconheceu nele um novo ídolo, e o recepcionava em campo com gritos de
“socorro, socorro, ahí viene la Saeta con su propulsión a chorro"
("Socorro, socorro, aí vem a Flecha com sua propulsão a jato").
Suas
grandes atuações em 1947 o levaram a ser convocado para à Seleção Argentina. E
o título de 1947 valeu ao River Plate um convite para disputar o Campeonato
Sul-Americano de Campeões, torneio realizado em 1948 e reconhecido como o
precursor da “Taça Libertadores da América”.
O
River fez alguns jogos em São Paulo, em 1948, como preparativos para o torneio.
O eterno rival Boca Juniors, mesmo não sendo participante da competição, foi
também para São Paulo na mesma época.
Curiosamente
foi marcado um jogo amistoso entre um combinado dos paulistas e outro dos
rivais argentinos, que vestiram o uniforme do Palmeiras, visto que River e Boca
não quiseram usar nenhum de seus uniformes. O torneio foi decidido entre River
e Vasco da Gama, que, tendo a vantagem do empate, sagrou-se campeão ao segurar
um 0 X 0.
Em
1949 os jogadores argentinos haviam realizado uma greve exigindo assistência
médica para os familiares, um salário mínimo para a categoria e a extinção do
passe, para serem livres para escolher onde gostariam de jogar.
Porém,
não foram atendidos, o campeonato parou e muitos atletas foram jogar em outros
países. Di Stéfano foi para o Millonários, da Colômbia que lhe ofereceu proposta irrecusável. Deixou o River Plate com 49 gols em apenas 66
jogos.
Chegou
ao clube de Bogotá em 1949. A liga colombiana havia se transformado em um
verdadeiro Eldorado, tendo contratado além de Di Stéfano, outros craques
sulamericanos, como os também argentinos Pedernera, e Nestor Rossi.
O
dono do Millonarios, Alfredo Senior, havia resolvido lucrar com o esporte,
aliciando os melhores atletas sul-americanos para jogar em sua equipe a fim de
atrair grandes públicos, o que naturalmente repercutiu negativamente no
exterior. Além disso, o clube era intimamente ligado ao poder local, sendo atraente
para quem tivesse pretensões políticas.
Os
outros clubes colombianos, para não ficarem por trás, tomaram medidas
similares. Os jogadores peruanos, em geral, foram para as equipes de Cali e
Medellín. Os paraguaios foram levados para Cúcuta, e alguns brasileiros como
Heleno de Freitas e Tim, foram parar em Barranquilla.
Até
mesmo jogadores britânicos, como Charlie Mitten, do Manchester United, que foi
jogar no Independiente, de Santa Fé, foram atraídos para o mercado colombiano.
O mesmo aconteceu com atletas iugoslavos, italianos e húngaros.
Os
dirigentes locais queriam implantar o profissionalismo no futebol do país,
enquanto a federação insistia com o amadorismo. Além disso, o futebol
colombiano ainda vivia apenas de competições regionais. Muitos clubes se
desfiliaram então de federação para organizar um campeonato nacional, que
acabou banido pela FIFA.
Se
isso foi ruim para um lado, foi bom para outro. Os clubes colombianos não
precisaram mais pagar multas rescisórias às equipes estrangeiras onde buscavam
jogadores, pois a liga pirata encontrava-se fora da jurisdição da FIFA. Bastava
oferecer um salário melhor e uma passagem apenas de ida para a Colômbia. Isso
irritou as outras federações sul-americanas.
Na
liga pirata, Di Stéfano foi campeão em 1951 e 1953, integrando o chamado
“Ballet Azul”. Na Colômbia, onde a liga vinha sendo um grande sucesso de
público, ele aprimorava-se como jogador, passando também a defender e passar a
bola com maestria.
Além
de Pedernera e Rossi, Di Stéfano jogou ainda ao lado de Julio Cozzi, Antônio
Báez, Reinaldo Mourín e Hugo Reyes, também argentinos expatriados, assim como o
técnico Carlos Aldabe.
O
time contava ainda com dois uruguaios de destaque: Schubert Gambetta, campeão
da Copa do Mundo de 1950, e Héctor Scarone, também campeão mundial, mas da Copa
de 1930, que foi outro treinador do elenco.
Aborrecidas
com a contínua investida da liga colombiana sobre os jogadores do continente e
sem nada receber pelas saídas deles, as federações vizinhas fizeram um acordo
em 1951: permitiriam que tal situação perdurasse por mais dois anos, quando
então os jogadores estrangeiros deveriam ser todos devolvidos a seus clubes de
origem.
O
Millonários decidiu aproveitar o tempo que tinha e lucrar o máximo com
amistosos ao redor do mundo. Em um deles, em 1952, a equipe foi chamada para
jogar uma partida contra o Real Madrid, que celebrava o aniversário de 50 anos
deste clube.
Em
pleno “Chamartín”, Di Stéfano marcou duas vezes na vitória por 4 X 2 dos
sul-americanos. Foi imediatamente contratado pelo Barcelona, outra equipe
espanhola.
O
argentino deixou o Millonários como o maior artilheiro da história do time,
totalizando 267 gols em 292 partidas. Além de títulos e artilharias na
Colômbia, venceu com o clube também a “Pequena Taça do Mundo”, de 1953,
chegando a marcar dois gols em um 5 X 1 sobre sua ex-equipe do River na
competição.
Com
Di Stéfano, o clube também abriu larga vantagem em títulos colombianos cujos
efeitos ainda perduram, sendo a equipe mais vencedora do campeonato nacional
mesmo não o conquistando desde 1988. Apenas em 2008 foi igualado pelo América
de Cali.
O
Barcelona negociou Di Stéfano com o clube que oficialmente detinha seu
passe, o River Plate. O jogador já havia participado de três amistosos pelo
Barcelona quando o Real Madrid entrou na disputa por ele. O clube da capital
espanhola conversou diretamente com o Millonários e passou a considerar-se também
dono da joia rara.
O
ministro dos esportes, general Moscardo, apresentou uma solução: o argentino
faria temporadas alternadas por cada equipe por quatro anos - começando pelo
Real. O acordo foi rejeitado pelo Barcelona e Di Stéfano acabou ficando no
Real.
A
polêmica acirrou os ânimos entre os dois clubes, que até então não tinha tanta
força. Outros ex-jogadores do clube, como Ricard Zamora e Josep Samitier, já
haviam jogado sem maiores problemas na equipe madrilenha nos anos 1930.
Com
o passar dos anos a rivalidade foi aumentando até tornar-se uma das principais
do mundo, graças às conquistas em série que o Real conseguiu com Di Stéfano.
Antes dele, o clube madrilhenho não era o maior vencedor do país, nem mesmo da
cidade: tinha dois títulos no campeonato espanhol, conquistados a mais de 20 anos.
Com
a chegada do argentino, o Real conquistou de cara seu terceiro título, muito
por conta dos 29 gols que ele marcou e que lhe garantiram a artilharia do
torneio. Um bicampeonato seguido veio na segunda temporada.
Em
1955, ele e o Real ganharam também a “Copa Latina”, o mais prestigiado torneio
europeu de clubes na época, que reunia os campeões de Espanha, França, Itália e
Portugal. Os espanhóis venceram os portugueses do Belenenses e, na final, os
franceses do Stade de Reims. (Continua)