quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Patrocínios nada convencionais

Em 2012 uma violenta crise financeira assolou os clubes de futebol mais modestos da Grécia, que se viram obrigados a aceitar qualquer tipo de patrocinador em suas camisas, desde que injetassem algum dinheiro nos combalidos cofres dos clubes.

Foi o que aconteceu com o “Voukefalas”, da cidade de Larissa, que tem 200 mil habitantes, e fica distante cerca de 300 quilômetros de Atenas, que fechou patrocínio com duas casas noturnas. Mostra no seu uniforme rosa os anúncios dos bordéis “Villa Erotica”  e “Soulas House of History”.

Até o uniforme mudou, com os jogadores passando a vestir camisa e short no mesmo tom de rosa. Os bordéis exibem suas logomarcas na blusa, uma na parte da frente e outra na de trás.

O elenco do clube amador é formado por estudantes, garçons e até entregadores de pizza, entre outras profissões. No jogo de estreia do novo fardamento, torcedores compareceram em peso às arquibancadas durante uma partida e pareceram não se incomodar com a novidade. Nem mesmo as mulheres ou os mais idosos, diga-se de passagem.

Várias organizações esportivas da Grécia estão sendo muito atingidas pelos cortes orçamentários do Governo e, por isso, este não é o único patrocínio inusitado nos campeonatos amadores do país.

Há um clube apoiado por uma funerária, o “Paleopyrgo”, enquanto outros negociam com estabelecimentos como uma loja de kebab, uma fábrica de geleia e produtores de queijo.

O “Paleopyrgo estampou em sua camisa negra a publicidade da funerária “Karaiskaki”, adornada por uma cruz branca.
          
O presidente e também atleta do clube, Lefteris Vasiliou explicou que era uma questão de sobrevivência. O dono da funerária é seu amigo e por isso resolveram fazer o acordo, uma vez que a temporada passada havia sido muito ruim por causa da crise.

E não é que a ideia agradou os torcedores, que acabaram se identificando com a ideia, tanto que muitos já pensam em adotar a figura da "morte" com a sua foice como mascote.

Já o caso do “Voukefala” é um pouco mais complexo. O clube precisava de licença da Federação Grega de Futebol para saber se poderia utilizar a publicidade em partidas oficiais. No inicio foi estampada apenas em jogos amistosos.

A propaganda foi vetada pela organização da Liga durante os jogos porque viola "os ideais esportivos" e é imprópria para os torcedores menores de idade.

O time apelou da proibição, mas isso não preocupa Alevridou, 67 anos. A empresária afirmou que ajuda o “Voukefalas” porque ama futebol.

"Não é o tipo de negócio que precisa de promoção", diz, vestida em roupa branca e chapéu da mesma cor em meio a duas mulheres mais novas. "O negócio funciona mais no boca a boca", explica.

Alevridou conseguiu evitar os efeitos da crise financeira e emprega 14 mulheres em seus bordéis.

O presidente e goleiro do time, Giannis Batziolas, explicou que o patrocínio foi aceito por razões econômicas. O clube atravessava uma crise sem precedentes e não podia dar-se ao luxo de recusar qualquer ajuda.

Os prostíbulos são um negócio legalizado na Grécia, e o dirigente não entende por que precisa de autorização para divulgar a publicidade. "O bordel é um empreendimento legal, que gera dois milhões de euros por ano (R$ 5,2 milhões). Quando anunciamos o acordo, alguns jogadores perguntaram se poderiam ganhar uma 'cortesia'", lembrou Batziolas.

A dona do bordel, Soula Alevridou, de 67 anos, paga mil euros (R$ 2.600) por mês pela publicidade e afirmou que o faz apenas por gostar de futebol. O seu ramo, segundo a própria, não precisa de publicidade para fazer sucesso.(Pesquisa: Nilo Dias)