Jorge
Arnaldo Pereira, mais conhecido por “Jorge Preá”, nasceu em São Paulo, no dia
10 de janeiro de 1984. Começou a carreira no futebol muito tarde, tendo se profissionalizado
em 2007, quando tinha 23 anos e passou numa peneira do E.C. Pelotas, time do
interior gaúcho.
“Preá”
teve um bom desempenho no clube pelotense, tendo sido artilheiro do Campeonato
Gaúcho da Segunda Divisão gaúcha, tendo chamado a atenção do futebol coreano.
Mas não deu sorte, sofreu uma contusão no joelho direito e teve de voltar ao
país, fazendo tratamento no Palmeiras.
O
alviverde paulista era na ocasião dirigido tecnicamente por Vanderlei
Luxemburgo, que no ano anterior havia indicado o jogador ao Santos. E não teve
dúvidas em pedir que o Palmeiras o contratasse.
Nesta
época, o ex-atacante morava em Perdizes, bairro de classe média alta de São
Paulo. Agora, vive no popular bairro da Casa Verde. A diferença é a casa
própria. Com o primeiro contrato que fechou, comprou uma casa para sua mãe.
Um
vizinho, fanático torcedor do Palmeiras, viu o menino correndo pela rua e o
apelidou de "Preá", uma espécie de mamífero roedor, que tem na velocidade a sua
principal característica.
No
Palmeiras foi campeão paulista de 2008, ao lado de jogadores como Marcos,
Valdívia, Diego Souza, Kléber “Gladiador” e Denílson, mas não conseguiu se
firmar. “Jorge Preá” disputou apenas oito jogos pelo Palmeiras, mas é lembrado
por um gol importante rumo ao título do Campeonato Paulista 2008.
Responsável
por garantir o triunfo por 1 X 0 sobre a Portuguesa nos acréscimos no antigo
Palestra Itália, ele recentemente conheceu o Allianz Parque.
“Foi
o gol mais importante da minha vida. Até hoje, os torcedores palmeirenses
lembram e me reconhecem por isso. Tenho o vídeo do lance no meu telefone
celular e gosto de revê-lo. Sempre me emociono com a narração do Zé Silvério”,
contou.
Ao
sair do Palmeiras virou cigano do futebol, vestindo várias camisas, jogando por
Atlético Paranaense, Bragantino (SP), Mogi-Mirim (SP), ABC de Natal (onde
participou da campanha do título brasileiro da Série C em 2010), Grêmio Barueri
(SP), Atlético Sorocaba (SP), Operário Ferroviário (PR), Cascavel (PR),
Barretos (SP), Sinop (MT), Real Ariquemes (MT), em 2018, e Arapongas (PR), em
2019.
O
ex-palmeirense disputou sua última partida como profissional no final de
fevereiro pelo Real Ariquemes, de Rondônia, na Copa Verde. Para receber o que o
clube lhe devia, teve de entrar na Justiça do Trabalho.
O
jogador estava praticamente esquecido, quando no dia 20 de janeiro de 2019 o
repórter Felipe Pereira, do UOL, fez interessante matéria com ele. “Preá” foi
descoberto trabalhando para uma empresa que presta serviços à Prefeitura de São
Paulo, na limpeza de bueiros nas marginais Pinheiros e Tietê, principais vias da
capital paulista.
O
jornalista não teve dúvidas em fazer a matéria, que relata a história de um
jogador de futebol, que se apresenta no trabalho às 7 horas da manhã de botas,
capacete, luvas, óculos e outros itens obrigatórios do equipamento de proteção.
Ele,
que durante cerca de 10 anos vestiu outro uniforme, o de atleta de futebol,
constando de chuteiras, meias, calções e camisas de clubes de futebol, entre os
quais o Palmeiras e uma passagem pela Coreia do Sul.
E
Jorge Preá não se sente humilhado por ter trocado de profissão. Garante que em
momento algum se viu menosprezado. Conta que tomou a decisão de abandonar os
gramados e trabalhar neste serviço, pela necessidade de buscar o pão de cada dia.
Jorge
Preá é casado em Ingrid, tem cinco filhos e mora em São Paulo, no bairro Casa
Verde. Ele valoriza muito a companhia da mulher porque o casal cumpre a risca a
promessa feita na igreja: “juntos na alegria e na tristeza”.
Ele
conta que começaram a namorar antes dele se tornar jogador profissional. Sem
ser perguntando, cita o dia em que ficou com Ingrid pela primeira vez, foi em
13 de fevereiro de 2005, no desfile das campeãs do carnaval de São Paulo.
Conta
que se conheceram porque moravam na mesma rua. Ela é irmã de um amigo de “Preá”.
Os dois demoraram a se relacionar porque Ingrid teve um casamento anterior. “Preá”
casou e assumiu o filho que ela tinha, Kaique.
O
ex-jogador se derrete ao falar dela porque estavam juntos na época anterior à
carreira, na fase boa, quando andavam de SUV, e continuam firme na volta ao
bairro Casa Verde. O ex-jogador sintetiza: “Ela é uma mulher guerreira. Está
comigo antes da carreira no futebol. Nos momentos bons e ruins. Estamos juntos
para qualquer hora”.
O
último clube que defendeu, não pagou os salários, mas as contas não pararam de
chegar. Com a mulher grávida e mais os filhos para criar, pegou o primeiro
emprego que apareceu. Conta que o seu filho mais velho, Kaique, de 15 anos,
queria que ele voltasse a jogar futebol.
É
lógico que o seu padrão de vida caiu bastante desde que abandonou os gramados. O
salário mais alto que teve foi durante o último dos quatro anos de Palmeiras, R$
35 mil por mês. Hoje, a renda gira entre R$ 4 e R$ 5 mil. A variação existe
porque ele recebe para jogar por times da várzea da Grande São Paulo aos finais
de semana.
Mas
não tem vergonha de limpar bueiros. Bem humorado até se diz orgulhoso do que
faz, pois está ajudando a cidade a evitar enchentes e alagamentos. Ressalta que
vergonha deve sentir quem joga o lixo na rua que depois vai entupir os bueiros.
Ele opera um sugador que recolhe a sujeira para um compartimento do caminhão
usado pela equipe.
A
vaga surgiu por indicação de um parente há seis meses. O ex-atacante gostou
porque houve pouca burocracia e o primeiro salário pingou rápido. A mulher
estava grávida. Hoje, o quinto filho do casal tem um mês de vida.
A
única coisa quer Jorge Preá não gosta no novo emprego, é quando tem de tirar a
tampa de um bueiro, e aparecem com frequência ratos e escorpiões.
Para
melhorar os ganhos, “Preá” dá aulas em uma escolinha de futebol e joga por
times varzeanos de São Paulo. Com a carreira profissional interrompida há quase
10 meses, “Preá” procura disputar, pelo menos, três partidas de várzea a cada
sete dias por times como Vida Loka, Blindados e Dragões da Casa Verde, além do
Dínamo. Em uma semana boa, ele estima ganhar aproximadamente R$ 600,00.
(Pesquisa: Nilo Dias)