Com
dois anos de idade, já era sócia do “Gigante da Colina”, aprofundando o seu
amor a cada ano graças ao pai português que, assim como o “cruzmaltino”,
pregava igualdade e combatia o preconceito racial. Um vascaíno convicto.
Era
um tempo em que ela, apesar de mulher, se impunha e tinha o respeito dos demais
chefes de torcida da época. A Dulce era uma pessoa muito especial, que protegia
as outras mulheres torcedoras, e se precisasse até brigava, saía na mão mesmo,
era mulher de fibra, vascaína de verdade.
Encantada
com os ideais do clube de São Januário, Dulce se tornou frequentadora assídua
dos jogos vascaínos, tendo se tornado a primeira mulher a assumir a presidência
de uma torcida de futebol, a “Torcida Organizada do Vasco“ (TOV), quando tinha 22
anos, em 1956.
Levada a TOV pelo Presidente Artur Pires, recorda que no primeiro jogo em que ficou comandando os torcedores, o técnico Martin Francisco, compadre de Dulce, lhe disse:
Levada a TOV pelo Presidente Artur Pires, recorda que no primeiro jogo em que ficou comandando os torcedores, o técnico Martin Francisco, compadre de Dulce, lhe disse:
“Organize
a Torcida que eu lhe darei o campeonato”. E, realmente isso aconteceu, pois os
Vascaínos foram campeões com uma antecipação de duas rodadas.
Já presidente da TOV, decidiu deixar de trabalhar para não se privar da maior alegria de sua vida: o Vasco. Dedicando boa parte de sua energia à sua paixão, marcou seu nome ao introduzir nas arquibancadas cariocas a bateria, o concurso de torcida e o papel picado, verdadeiras inovações na época.
Já presidente da TOV, decidiu deixar de trabalhar para não se privar da maior alegria de sua vida: o Vasco. Dedicando boa parte de sua energia à sua paixão, marcou seu nome ao introduzir nas arquibancadas cariocas a bateria, o concurso de torcida e o papel picado, verdadeiras inovações na época.
Posteriormente
casou-se com o então jogador de futebol, “Ponce de León”, com quem teve os seus
dois filhos. Ponce
de Leon foi um craque que teve o seu nome ligado a história do futebol brasileiro.
Ele jogou pela "Seleção Paulista de Novos" contra os cariocas, na inauguração do então "Estádio Ângelo Mendes de Moraes", mais tarde na intimidade do torcedor, carinhosamente chamado de "Maracanã", e por decisão do legislativo guanabarino, hoje "Mário Filho".
Ele jogou pela "Seleção Paulista de Novos" contra os cariocas, na inauguração do então "Estádio Ângelo Mendes de Moraes", mais tarde na intimidade do torcedor, carinhosamente chamado de "Maracanã", e por decisão do legislativo guanabarino, hoje "Mário Filho".
Sua
influência transcendia as arquibancadas, tanto que era amiga de jogadores como
Vavá e Bellini, que compareciam a festas de aniversário em sua casa.
Certa
vez, foi barrada junto a seu filho “Poncinho” na entrada do Maracanã por levar
papel picado, sendo presa em seguida ao chamar o policial de flamenguista.
Sabendo
do ocorrido, os jogadores do Vasco se recusaram a entrar em campo até que a torcedora-símbolo
fosse liberada. Dito e feito, foi solta pouco tempo depois, já estava na
arquibancada para apoiar o clube.
Atuante,
viajava Brasil afora pelo “Time da Colina”. No entanto, em 1976, quando apoiou
a candidatura de Medrado Dias à presidência do Vasco, foi obrigada a
desvincular-se da torcida. Fundou, em seguida, a ”Renovascão”. Em 1991, um
problema na visão a obrigou a se afastar dos jogos noturnos.
No
início da década de 1960, venceu o concurso de melhor torcedor do Brasil,
realizado pela prestigiada “Revista do Esporte”, e doou o prêmio ao Vasco da
Gama. Ela foi um exemplo de pioneirismo na luta das mulheres por espaço e voz
dentro do futebol.
A
entrega ao Vasco ultrapassava barreiras. Em 1968, numa caravana para São Paulo,
um dos 30 ônibus no qual Dulce fazia parte sofreu um grave acidente.
Ninguém
morreu no episódio, mas ela ficou afastada das arquibancadas por dois anos
devido a uma fratura na clavícula e no braço, além do afundamento do crânio.
Por
incrível que pareça, quis ir ao Maracanã logo após se recuperar, segundo
relatos do seu próprio filho, “Poncinho”. Também optou por não fazer a
cirurgia, pois as cicatrizes, segundo ela, eram provas de sua dedicação à “Cruz
de Malta”.
Dulce
foi convidada pelo escritor Claudio Aragão para narrar a trajetória do clube
desde sua fundação, no final do século 19, até a conquista do título carioca de
2003. Seus relatos deram origem a obra “A História do Vasco da Gama em Cordel”,
da editora Bom Texto.
Dulce
Rosalina faleceu no dia 19 de janeiro de 2004, comovendo a nação cruzmaltina e
permanecendo em sua memória até hoje Homenagens não faltaram, tanto que, por
decreto da prefeitura do Rio de Janeiro, mudaram o nome da antiga “Rua do
Reservatório” para “Dulce Rosalina”, próxima à sua casa, e de todos os
vascaínos, São Januário.
DECRETO
Nº 23925 DE 22 DE JANEIRO DE 2004
Altera
a denominação do logradouro que menciona, situado no bairro Vasco da Gama, na
VII Região Administrativa – São Cristóvão. O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, no uso de suas atribuições legais e, considerando o recente
falecimento de D. Dulce Rosalina, aos 79 anos, torcedora-símbolo do Clube de
Regatas Vasco da Gama, exemplo da paixão carioca pelos times de futebol da
cidade, decreta:
Art.
1.º A Rua do Reservatório, CL 08023-4 reconhecida pelo Decreto n.º 1165, de 31
de outubro de 1917, passa a denominar-se Rua Dulce Rosalina.
Art.
2.º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2004 – 439º ano da fundação da Cidade.
Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2004 – 439º ano da fundação da Cidade.
Cesar Maia - Prefeito.
Esta
é a história de Dulce Rosalina, que
remota ao tempo em que o brado de guerra e do incentivo aos seus favoritos no
campo da luta, era feito das sociais, com os gravatinhas e os chapéus de
palhinha. Não existia o tom da Escola de Samba, embora o calor humano do
aplauso e do entusiasmo fossem os mesmos de hoje. (Pesquisa: Nilo Dias)