Robson
Nascimento de Oliveira, 46 anos, ex-fuzileiro naval foi detido por estar com
comprimidos pedidos por Fernando, mas que são proibidos na Rússia. Ele foi contratado por Fernando, para ser seu
motorista.
Ele
foi preso no dia 18 de março no aeroporto Domodedovo, em Moscou. O homem está
preso há quatro meses no presídio de Kashira, cidade a 110km de Moscou e,
segundo a família do motorista, não recebeu nenhuma ajuda de Fernando.
a uma vida bem humilde em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, quando recebeu o
convite para trabalhar com o jogador. Estava desempregado. Sua esposa, Simone Damazio
de Barros, com quem se uniu cinco anos atrás é cozinheira de mão cheia.
No
fim do ano passado ela foi indicada por uma amiga para trabalhar na casa de Sibelle
Rivoredo, sogra do jogador Fernando, que a contratou para um período de
experiência na casa da família na Barra da Tijuca, no Rio.
E
tinha a promessa de, depois, ir para a Rússia, trabalhar com Fernando e sua
esposa, Raphaela, em um condomínio de luxo na “Rezidentsiya Rublovo”, casa
50-A, em Moscou, onde um imóvel de dois andares não sai por menos de R$ 3,4
milhões.
Simone falou da proposta de ir trabalhar no exterior para o marido, que ficou reticente por conta da distância e do tempo que ficariam sem se ver.
Simone falou da proposta de ir trabalhar no exterior para o marido, que ficou reticente por conta da distância e do tempo que ficariam sem se ver.
Ela,
então, pediu um emprego também para Robson, o que foi aceito por Sibelle, a
sogra de Fernando. A história foi revelada em reportagem da “TV Globo” e do “GloboEsporte.com”
levada ao ar neste domingo.
O
personagem central dessa história, o volante Fernando, cria do Grêmio Porto
Alegrense, foi convocado para todas as seleções de base e esteve no grupo da
equipe principal que conquistou a Copa das Confederações de 2013 no Maracanã.
O
jovem cuja carreira decolava foi logo seduzido pelos dólares do então emergente
mercado ucraniano, que desembolsou R$ 36 milhões para levá-lo. Campeão pelo
Shakhtar Donetsk, depois jogou na Sampdoria, da Itália, até ser vendido, em
2016, para o maior clube da Rússia, o Spartak Moscou.
Mesmo
longe dos holofotes e, naturalmente, das listas da Seleção, o jogador angariou
respeito na Rússia e virou ídolo da fanática torcida do Spartak.
Fernando faz parte dessa lista de casos raros de meninos que desejam ganhar a vida jogando bola e conseguem chegar lá. E foi na esteira desse sucesso que outro personagem começou a sonhar.
Fernando faz parte dessa lista de casos raros de meninos que desejam ganhar a vida jogando bola e conseguem chegar lá. E foi na esteira desse sucesso que outro personagem começou a sonhar.
O
casal ganharia um total de R$ 14 mil - R$ 6 mil para ele ser motorista e ajudar
em coisas da casa e outros R$ 8 mil para ela ser a cozinheira da família de
Fernando. Em 9 de fevereiro deste ano, Robson e Simone embarcaram para a
Rússia.
A
proposta de largar tudo no Brasil e seguir para a Rússia era assustadora -
cultura e hábitos totalmente diferentes, distância, língua estranha e um país
de inverno rigoroso -, mas ao mesmo tempo tentadora, em razão da proposta
salarial de R$ 14 mil - praticamente sem gastos, já que teriam teto e comida em
Moscou.
O
casal sabia que não seria fácil, mas valia o sacrifício. Trabalhando um ano
ali, construiriam a casa deles. Nunca tinham viajado de avião na vida. Não
tinham passaporte, nada. O estafe de Fernando, então, deu início ao processo
para levá-los a Moscou. Fizeram os passaportes em Niterói, porque sairia mais
rápido. Eles pagaram e marcaram tudo.
No dia 9 de fevereiro, Robson e Simone fizeram um registro fotográfico já dentro do avião, orgulhosos, rostos colados e sorrisos abertos. Era a decolagem em busca da melhoria de vida. Ou deveria ser.
No dia 9 de fevereiro, Robson e Simone fizeram um registro fotográfico já dentro do avião, orgulhosos, rostos colados e sorrisos abertos. Era a decolagem em busca da melhoria de vida. Ou deveria ser.
Minutos
antes do embarque, porém, o motorista da família de Fernando, identificado como
Leandro, chegou ao “Aeroporto Tom Jobim” com três malas. Dentro delas havia
encomendas da família do jogador. Cerca de 18 horas depois, ambos desembarcaram
no país europeu.
Simone
e Robson desconheciam que, em meio às encomendas, havia remédios tarja preta
que, no Brasil, só podem ser adquiridos com receita médica. E eles atravessaram
o portão de embarque no Rio de Janeiro sem as receitas prescritas na bolsa.
Dezoito
horas mais tarde, o voo da Lufthansa de número LH-1446 pousou no Aeroporto
Internacional de Domodedovo, conhecido como o mais rigoroso de Moscou.
Eram 17h46 do dia 10 de fevereiro quando o casal pegou as malas na esteira. Ansiosos, estavam tomados pelo frio na barriga para encontrar o "funcionário" de Fernando que iria buscá-los: William Rodela. Não deu tempo.
Eram 17h46 do dia 10 de fevereiro quando o casal pegou as malas na esteira. Ansiosos, estavam tomados pelo frio na barriga para encontrar o "funcionário" de Fernando que iria buscá-los: William Rodela. Não deu tempo.
Nove
minutos depois, no hall de saída para o saguão do aeroporto, Robson e Simone
escolheram o corredor verde, quando não se tem nada a declarar.
Foram parados pelo funcionário A.L. Elisov, agente operacional do “Setor de Controle de Circulação de Drogas da Diretoria Linear do Ministério do Interior”, no “Aeroporto de Demodedovo”, além do major K.S. Losev e do tenente-coronel N.V. Antipov.
Foram parados pelo funcionário A.L. Elisov, agente operacional do “Setor de Controle de Circulação de Drogas da Diretoria Linear do Ministério do Interior”, no “Aeroporto de Demodedovo”, além do major K.S. Losev e do tenente-coronel N.V. Antipov.
Não
havia muito o que temer, imaginavam, além do constrangimento e da dificuldade
de comunicação, já que as orientações de Sibele eram claras. Em outro áudio,
inclusive, ela fala de um possível questionamento sobre um par de alianças do
casal Fernando e Raphaela que Simone carregava na bolsa de mão:
"Se
eles pararem, as alianças são sua e do Robson. Vocês são casados, se não vai
entender o que eles estão falando. Você mostra o seu dedo que é de vocês",
orientou.
O
problema estava longe das alianças. Misturadas numa mala preta, em meio a
comidas e roupas de criança, havia duas caixas do remédio “Mytedom – Cloridrato
de Metadona – 10mg”, um potente comprimido para quem convive com dores,
principalmente, mas também bastante utilizado no tratamento de recuperação de
viciados em ópio e heroína.
Daí
o problema principal. Na Rússia, a substância é considerada entorpecente. E a
quantidade, 40 comprimidos, com a massa de 5,60g de opioide, encaixava-se na
nomenclatura da lei que prevê um "volume grande" da droga,
infringindo o artigo 229.1, parte 3, do Código Penal da Federação da Rússia.
Os
dois avistaram William Sa Silva Sousa, o “Rodela”, estudante de Medicina em
Moscou e espécie de “quebra-galho” da família de Fernando. Ele fora buscar
Robson e Simone no aeroporto.
O
funcionário autorizou que “Rodela” fosse até eles para ser uma espécie de
tradutor. Simone, nervosa, mandou mensagens a Sibele, que de férias por Grécia
e Itália com a família, respondeu a acalmando e explicando que tinha receita e
que já a tinha enviado para “Rodela”.
A
receita existe mesmo, foi feita e assinada pelo médico Marcelo Tayah e está com
a data de 26 de fevereiro deste ano. Para quem era o remédio, tarja preta? Para
William Pereira de Faria, pai de Raphaela e, consequentemente, sogro de
Fernando.
Ele
usa a medicação para as crônicas dores que sente na coluna. O médico disse à
Globo: "O senhor William é meu paciente desde 2017 e faz uso deste
medicamente... A senhora Sibele me ligou dizendo que precisava dessa declaração
para resolver o problema de um rapaz na Rússia..."
Após
17 longas horas no aeroporto e de muita explicação, dada por “Rodela”, e
desespero de Simone e Robson, o casal foi liberado, mas com o aviso de que a
investigação sobre o motorista seguiria.
Lá
o casal ficou exatos 35 dias apenas cuidando da casa vazia. Passado o susto
inicial do aeroporto, era hora de curtir os momentos de folga para passear e
conhecer os pontos turísticos da capital russa. Apesar do inverno rigoroso que
fazia Robson tirar com a pá o acúmulo de neve da porta da casa, os dois estavam
animados.
Em
17 de março, um domingo, Fernando e a família voltaram para Moscou, com os
sogros Sibele e William juntos. Robson e “Rodela” foram buscar todos no aeroporto
em dois carros.
No
dia seguinte, 18 de março, uma segunda-feira, os integrantes da família tomaram
café juntos à mesa. Robson ajudava a esposa a lavar louça, quando Raphaela o
chamou: "Vamos para sua primeira missão."
Fernando,
a esposa, Raphaela e o amigo “Rodela” entraram no carro, e Robson o dirigiu com
destino ao aeroporto, aquele mesmo no qual chegara vindo do Brasil. Lá, foram
direto para a delegacia de polícia.
Em
casa, Simone perguntou a Sibele o porquê de William, o sogro, não ter ido junto
e ter levado a receita médica. A sogra respondeu que a filha sabia o que estava
fazendo. A receita médica, em território russo, não serve como uma defesa, isso
não livra ninguém nesse caso.
É
apenas uma receita que mostra que a pessoa necessita de tal remédio, mas ela
não livra a pessoa de responder por uma acusação, explisou Gennady Esakóv,
professor de Direito Penal Criminal russo.
Por
volta de 15h daquele dia, Robson falou com a esposa por telefone e já previa o
pior: "Simone, acho que tá dando ruim aqui. Eu vou ficar preso!" Ficou.
De lá, saiu algemado algum tempo depois para a “Unidade Penal de Kashira”.
Raphaela prometeu a Simone "que até quarta-feira isso será
resolvido".
Não
foi. Fernando trocou o Spartak Moscou pelo Beijing Gouan em julho e foi com a
família para a China. Simone voltou para o Brasil. Robson segue preso, cerca de
20 quilos mais magro em relação a quando chegou a Moscou.
Na
denúncia que o levaria aos tribunais, a Justiça russa descreveu: "Estando
no território do Brasil (local e hora não determinados, mas o mais tardar em 10
de fevereiro de 2019) e tendo intenção criminosa de transporte ilícito de
substâncias estupefacientes através da fronteira aduaneira da União Aduaneira
da Comunidade Econômica Euroasiática, Robson do Nascimento Oliveira adquiriu de
pessoa não identificada uma substância estupefaciente com objetivo de seu
transporte em aeronave ao território da Federação da Rússia".
Ou
seja: para o Ministério Público local, Robson teve a intenção de preparar a
mala com remédios escondidos a fim de cometer o tráfico internacional da
substância ilícita. Assim, infringiu também o artigo 30, parte 1, da lei, e o
artigo 228.1, parte 4, parágrafo d (preparação do tráfico de substâncias
estupefacientes em volume grande).
Sem
visitas de ninguém em nenhum momento: Simone não pode, por não ser casada
legalmente com ele. As acusações contra o ex-fuzileiro naval são: tráfico
internacional de drogas e preparação para o tráfico.
Sibele
ficou em Moscou por mais quase três meses, retornando ao Brasil em 14 de junho.
Ela tampouco prestou depoimento no inquérito. Fernando e Raphaela, sim. Ele, em
6 de junho; ela, em 12 de julho.
Ambos
negaram qualquer relação com Robson. Em discurso afinado, contaram à polícia
que não conheciam Robson, que havia sido contratado por Sibele, mãe de
Raphaela.
Em
seu depoimento à polícia russa, Raphaela Rivoredo lembrou de um fato que
considerou importante para o enredo da apreensão dos remédios na mala do motorista.
Ela relatou que teve uma "conversa séria" com Robson no dia 17 de março, quando voltou de férias com Fernando e teve o primeiro contato com o motorista em Moscou.
Ela relatou que teve uma "conversa séria" com Robson no dia 17 de março, quando voltou de férias com Fernando e teve o primeiro contato com o motorista em Moscou.
"(...)
Disseram que ele seria demitido caso continuasse a consumir drogas, porque eles
tinham a criança menor e não queriam ter em casa uma pessoa drogada. Robson
respondeu que isso nunca mais aconteceria. Por isso, ele e Simone continuaram a
trabalhar em casa até o momento de detenção dele".
Na
verdade, Robson só trabalhou até o dia seguinte à conversa, quando foi levado
até a delegacia do aeroporto e preso.
Os
exames feitos pela polícia russa no motorista na data de chegada a Moscou - 35
dias antes da volta da família de Fernando das férias - apontaram vestígios de
cocaína.
Advogado da família de Robson, Olímpio Soares reconhece que seu cliente usou a droga numa festa de despedida no Rio pouco antes da viagem, mas diz que ele não é viciado, o que é corroborado pelo exame de sangue feito pelas autoridades russas e a perícia psiquiátrica número 1158, realizada em 15 de abril de 2019:
Advogado da família de Robson, Olímpio Soares reconhece que seu cliente usou a droga numa festa de despedida no Rio pouco antes da viagem, mas diz que ele não é viciado, o que é corroborado pelo exame de sangue feito pelas autoridades russas e a perícia psiquiátrica número 1158, realizada em 15 de abril de 2019:
"Não
mostrou nenhum sinais clínicos (sic) da dependência de substâncias narcóticas,
tóxicas e de álcool, por isso não precisa de tratamento médico de narcomania ou
reabilitação médico-social".
A
família de Robson pediu ajuda oficial à embaixada brasileira em Moscou para que
fosse contratado um advogado, já que não tem recursos para pagar. O processo
parou nas mãos da Defensoria Pública. A indicada foi Liudmila Dubrovina, que
começou a ter embates técnicos na estratégia de defesa com o advogado do
Brasil.
A
mãe da esposa do jogador mandou esse remédio para o marido dela que estava na
Rússia, mas provar isso ninguém consegue. Se Robson assumir a culpa, o juiz tem
o direito de diminuir a pena dele, por exemplo, para cinco anos.
Mas, se ele não assumir a culpa, ele deve pegar 13 a 15 anos de prisão.
Mas, se ele não assumir a culpa, ele deve pegar 13 a 15 anos de prisão.
Simone,
a mãe e o filho do motorista, à Globo, acusam Fernando e sua família de terem
abandonado Robson. O advogado da família, Fernando Cassar, nega e garante que
toda a ajuda possível foi oferecida.
Simone,
que chorou em parte da entrevista, desabafou: "A proposta era para mim. E
ele acabou indo junto comigo. E lá ficou. Como eu não queria ter conhecido essa
família, meu Deus!"
A
TV Globo ouviu especialistas que atuam na Rússia para entender se a quantidade
de remédios havia sido determinante para o flagrante. A resposta é não. Qualquer
opioide (como a Metadona) é proibido no país. (Pesquisa: Nilo Dias)
Fernando, ex-jogador do Grêmio, de Porto Alegre.
Jornal
O Dia
Ex-jogador
da Seleção admite que brasileiro preso na Rússia levava remédios para seu sogro
No
entanto, em depoimento, o atleta contou uma versão diferente às autoridades
Por
O Dia
Publicado
em 08/09/2019
O
volante Fernando, ex-Seleção e que atualmente está no Beijing Guoan-CHN, falou
pela primeira vez sobre o caso do brasileiro Robson Oliveira, preso desde o dia
18 de março na Rússia acusado de tráfico por levar medicamentos a pedido de sua
família para o país.
Em
entrevista ao "Esporte Espetacular", o jogador admitiu que o remédio
era para uso de seu sogro, William Faria.
"Eles
foram parados no aeroporto e a gente imediatamente mandou o prontuário,
receita, passaporte do meu sogro, tudo que fosse necessário para provar que o
remédio era do meu sogro, porque realmente o remédio era do meu sogro. Em
momento algum a gente escondeu qualquer coisa do tipo. Se não ficou claro,
estou aqui abertamente falando: o remédio era para o meu sogro", disse o
atleta.
No
entanto, a declaração é diferente da que foi dada por Fernando em depoimento às
autoridades russas, em que disse desconhecer o modo que os remédios foram
recebidos no Brasil e que não mantém contato com o sogro.
O
jogador ainda afirmou que tentou de todas as formas ajudar Robson a sair da
cadeia.
"Desde
o começo, a gente fez de tudo para que o Robson saísse de lá. Mas,
infelizmente, só com as nossas forças isso não está sendo suficiente.
Eu
venho aqui, através da minha imagem, pedir para que as autoridades da Rússia e
do Brasil, principalmente, possam se sensibilizar com essa situação do Robson.
Para que possam entrar em contato com o governo da Rússia e dessa forma possam
pedir a deportação do Robson o mais rápido possível".
Robson
Oliveira está preso por ter entrado na Rússia com comprimidos do remédio
Mytedom, medicamento a base de metadona, usado para dores crônicas. No Brasil,
a substância é legalizada. Porém, ilegal na Rússia.