Seu
pai era um italiano chamado Giuseppe Scarone, proveniente de Savona para
trabalhar, segundo algumas versões, na ferrovia que deu origem ao Peñarol, clube
ao qual Giuseppe se afeiçoou.
Em
outras, Giuseppe teria trabalhado no mercado de carne de Montevidéu,
ausentando-se na maior parte do dia. Héctor, na prática, acabou criado por uma
irmã mais velha, pois perdera ainda bastante novo a mãe.
Carlos
Scarone, irmão 10 anos mais velho, foi a primeira referência no futebol, onde
jogava como centroavante. Carlos começou a jogar no River Plate uruguaio em
1908, passando em 1909 ao Peñarol. Teve destaque neste mesmo ano, quando
estreou pela "Seleção Uruguaia", participando até do primeiro jogo da camisa
celeste, em 1910.
Em
1911, Carlos foi jogar na Argentina pelo Racing, que fazia sua estreia na "Primeira Divisão". O uruguaio inclusive converteu o primeiro gol do clube na
elite argentina, em chute potente e baixo contra o San Isidro, mas terminou
jogando pouquíssimo no país vizinho.
Argumentou
não ter ficado por doença e não ter sido cuidado devidamente pelo Peñarol. O
rival Nacional aproveitou-se e o buscou. A insatisfação de Carlos com o
Peñarol, indiretamente, originou um dos apelidos deste clube, o de “Manya”, uma
deformação à língua espanhola de um diálogo na língua italiana com o pai
Giuseppe, sugerindo-lhe que se ficasse no Peñarol iria "comer (mangiare)
merda".
O
insulto fez-se conhecido e bastante usado por Carlos nos clássicos, e com o
tempo foi adotado pela própria torcida aurinegra. Carlos, o Scarone
"antipático", não tardou em brilhar como tricolor.
Já
Héctor, o Scarone "simpático", seguiu-o e, após uma recusa inicial
aos 15 anos de idade devido ao seu físico, estreou no time adulto do Nacional
quando ainda tinha 17 anos.
Tal
como Carlos, Héctor logo mostrou protagonismo, marcando dois gols em vitória
por 3 X 1 em clássico pela segunda rodada de um "Campeonato Uruguaio" ganho com
sete pontos de diferença para o rival, um recorde para a época, e de modo
invicto.
Héctor
Scarone também estreou pela "Seleção", convocado junto com o irmão à vitoriosa “Copa
América” daquele ano. Novos títulos vieram em 1919, com a conquista do "Campeonato Uruguaio" garantida na última rodada; e também de nova “Taça Ricardo
Aldao”, derrotando na decisão o Boca Juniors (já no ano seguinte) por 3 X 0
mesmo com os uruguaios jogando a partida inteira com um a menos em função de um
acidente prévio de um dos titulares. Héctor fez o primeiro gol.
O
Nacional foi novamente campeão uruguaio em 1920, com Scarone sendo outra vez o
artilheiro do elenco, com 19 gols, ao lado de Santos Urdinarán; e da “Taça
Ricardo Aldao”, novamente em embate com o Boca Juniors (2 X 1).
Scarone
também foi protagonista de um clássico com o Peñarol pela “Taça Fermín Ferreira”,
na qual o Nacional conseguiu uma reviravolta sem precedentes na rivalidade:
perdia de 3 X 0 e empatou, quase virando o jogo com Scarone - a jogada que
daria a vitória aos tricolores terminou em bola na trave.
Em
1922, o futebol uruguaio iniciou um cisma a durar até 1925, com o Nacional
permanecendo na liga reconhecida pela FIFA e o Peñarol, em outra, privando os
jogadores aurinegros de integrarem a seleção uruguaia.
O
Nacional, vencedor contínuo da sua liga (Scarone foi em 1923 novamente o
artilheiro do plantel, com 20 gols, formou então a base da “Celeste Olímpica”.
Nesse
ínterim, Héctor se firmou como "o principal Scarone"; enquanto o
irmão Carlos deixou em 1922 a seleção, Héctor foi um dos cinco jogadores
tricolores que em 1924 ganharam as “Olimpíadas” e um dos oito na também
vitoriosa “Copa América” daquele ano, conquistas que celebraram as bodas de
prata da fundação do Nacional.
Outrora
apelidado de “Rasquetita” em referência ao apelido de “Rasqueta” do irmão
Carlos, Héctor passou a ser apelidado de “La Borelli”, em referência à atriz
Lyda Borelli, emblema do cinema mudo italiano, devido às reações imprevisíveis
e caprichosas. Outra alcunha foi “El Mago”.
Não
houve campeonato uruguaio em 1925, um ano ainda assim marcante ao Nacional. O
clube fez uma excursão consagradora à Europa. No ano seguinte ao primeiro ouro
olímpico do futebol uruguaio e sul-americano, a viagem confirmou o valor do
futebol uruguaio.
Cerca
de 700 mil pessoas viram a equipe ao longo de 38 partidas. Foram 130 gols
marcados, somente 30 sofridos, com 26 vitórias e somente cinco derrotas.
Scarone
marcou 29 gols, convertendo-se na principal referência ofensiva após a séria
lesão nos meniscos que o centroavante Pedro Petrone sofreu contra o Barcelona. Nessa
partida, o clube catalão abriu 2 X 0 e foi de Scarone o gol do empate em 2 X 2.
Dos
outros gols que marcou, Scarone fez dois na vitória por 3 X 0 em Gênova sobre o
Genoa, dono de dois títulos italianos nas três temporadas anteriores e maior
campeão do “Calcio” naquela época.
Fez
dois em um 7 X 0 sobre a "Seleção Neerlandesa", em Roterdã; três em vitória por 5
X 1 sobre a "Seleção Belga", em Bruxelas; dois em vitória por 6 X 0 sobre a "Seleção
Francesa", em Paris; dois em 5 X 2 sobre a "Seleção Suíça", na Basileia; um em
vitória por 2 X 1 sobre a "Seleção Catalã",em Barcelona; e dois na vitória por 3
X 0 sobre o Deportivo La Coruña, na cidade do adversário.
O
desempenho contra o Barcelona, por sua vez, preponderou para que os
“Blaugranas” o contratassem em 1926. Hugo Meisl, crítico de futebol e futuro
técnico do Wunderteam austríaco, qualificou Scarone como "o melhor forward
do mundo", sendo dele o gol uruguaio em uma das poucas derrotas, um 2 X 1
para o Rapid Viena.
Scarone
não foi o primeiro nativo da América do Sul no Barcelona, nem mesmo primeiro de
seu país, pois o clube tem registros de uma partida amistosa disputada em 1903
por um uruguaio chamado Josep Mascaró.
Scarone
foi, porém, a primeira contratação que o time fez de um jogador que previamente
atuava em um clube sul-americano. Foi vista já na época como a primeira grande
transferência internacional do clube.
O
uruguaio chegou no ano de 1926 e estreou em amistoso contra o Osasuna ganho
por 5 X 1. Não marcou gols, mas foi bastante elogiado, com a revista “Fútbol
Association” relatando que “Hector terminou nos dando um curso do que deve ser
um meio-campista.
Vimos um jogador completo, de excepcionais faculdades, de
agudíssima percepção do jogo, magistral como complemento do ataque e efetivo na
colocação defensiva. O clube campeão ganhou um grande elemento".
Porém,
como chegou após o período de inscrições nas competições oficiais, só poderia
inicialmente jogar amistosos. Ao todo, entrou em campo só nove vezes. Em 21 de
março é que foi liberado pela “Real Federação Espanhola de Futebol” para atuar
oficialmente em jogos competitivos, após entraves no envio de documentos
requisitados perante a associação uruguaia.
Recebeu
então uma oferta de 50 mil pesetas para assinar contrato de cinco anos.
Scarone, porém, preferiu voltar, gerando versões de que seria boicotado por
Josep Samitier, algo desmentido por ambos.
O
uruguaio sempre justificou que o que o afastou foi o temor de não disputar as
“Olimpíadas”seguintes, pois o torneio proibia atletas profissionais. Àquela
altura, o Barcelona tornara-se um clube profissional, enquanto o futebol
uruguaio ainda era oficialmente amador:
"Eu
pensava na minha pátria, que logo viriam as “Olimpíadas” e que deveria vestir a
camisa celeste. Pensei no Nacional, clube do meu coração, e decidi não
assinar", explicou Scarone em depoimento registrado no “Libro de Oro de
Nacional”.
A
decisão aumentou sua popularidade no Uruguai. Ainda assim, o célebre goleiro
Ricardo Zamora chamou Scarone de "o símbolo do futebol". Décadas
depois, a primeira "peña" (torcida organizada) oficial do Barcelona em
Montevidéu, criada em 2008, recebeu o nome de “Héctor Scarone”, em evento com
participação de um sobrinho-neto do craque.
Scarone
voltou ao Nacional em 1926, a tempo de ser convocado à vitoriosa “Copa América”
daquele ano, da qual foi também vice-artilheiro. Ainda em virtude do cisma
encerrado em 1925, não houve em 1926 um campeonato uruguaio oficial, segundo o
clube.
Em
1927, integrou outra excursão vitoriosa, dessa vez às Américas Central e do
Norte, marcando 22 gols em 18 jogos. Dois deles vieram em duas partidas contra
a "Seleção Mexicana" (vitórias de 3 X 1 e 9 X 0) e outros dois, em vitória de 8 X
1 sobre a "Seleção Espanhola".
Desde
1924, o Nacional, porém, só voltaria a ser campeão em 1933, nem sempre por
falta de méritos: não houve campeonato em 1930 em função da primeira “Copa do
Mundo”, realizada no Uruguai e para a qual o clube foi base da seleção, com
quatro titulares na decisão e nove convocados, que seriam respectivamente cinco
e 10 se o goleiro Andrés Mazali não fosse previamente afastado uma semana antes
da estreia, por indisciplina ao abandonar a concentração de oito semanas.
Em
1928, além de novo título olímpico, Scarone voltou a enfrentar o Barcelona. Fez
o último gol da vitória por 3 X 0 no “Estádio Gran Parque Central”. Depois da “Copa
do Mundo FIFA” de 1930, já tendo mais de 30 anos, foi contratado pela
Internazionale, na época chamada "Ambrosiana", sendo colega de Giuseppe Meazza,
que sobre Scarone comentaria ser "o maior jogador que vi".
Marcou
sete vezes na temporada 1931-32, incluindo contra Lazio (os dois em triunfo de
2 X 0) e a campeã Juventus; o time de Milão terminou em sexto, mas a dois
pontos do terceiro lugar.
Após
uma temporada em Milão, passou duas no Palermo. Em ambas, o clube da Sicília
lutou para não cair. O uruguaio contribuiu com quatro gols na de 1932-33
(incluindo contra Torino e a própria "Ambrosiana") e nove na de 1933-34
(incluindo outro sobre o ex-clube).
A passagem de Scarone pela Itália não
chegou a ser brilhante, mas, para a sua idade avançada e lesões, foi
considerada digna.
Scarone
voltou uma vez mais ao Nacional em 1934. Passara a ser ponta-direita. O clube
foi campeão na última rodada, em clássico com o Peñarol no qual o empate em 1 X
1 favoreceu os tricolores, que conseguiram o resultado mesmo jogando a última
meia hora com dois jogadores a menos, expulsos.
Também
foi em 1934 que o campeonato válido por 1933 foi finalizado, mas Scarone não
pôde ser inscrito para os jogos finais. A temporada válida por 1934 foi a
última em que jogou oficialmente pelo Nacional, ainda que prosseguisse jogando
esporadicamente amistosos pelos tricolores. Em 1939, chegou a jogar pelo
Montevideo Wanderers.
Scarone
estreou pela Seleção Uruguaia em 1917 e a defendeu até 1930. Totalizou 70 jogos
e 31 gols oficiais (e 52 no total), que fizeram dele o maior artilheiro da “Celeste”
até 2011, quando foi superado inicialmente por Diego Forlán; atualmente, está
abaixo também de Edinson Cavani e Luis Suárez.
Ainda
assim, detém uma média de gols que dificilmente será superada por eles. 22 dos
seus 31 gols oficiais vieram em jogos válidos pela “Copa América”, pelo futebol
nos “Jogos Olímpicos” (quando estes eram a principal competição mundial desse
esporte) e pela “Copa do Mundo FIFA”.
Estreou
em 2 de setembro de 1917, data de vitória por 1 X 0 sobre a Argentina pela “Copa
Newton”. Meses depois, participou junto com o irmão Carlos Scarone (que
defendia a seleção desde 1909) da “Copa América” daquele ano, a primeira
realizada no Uruguai.
O
país venceu e Héctor foi vice-artilheiro com três gols, incluindo um na vitória
por 4 X 0 sobre o Brasil e o do título, o único na vitória por 1 X 0 na rodada
final contra a Argentina. Héctor terminou eleito o melhor jogador do torneio.
Na
edição seguinte, a de 1919, os irmãos perderam para o Brasil, que sediava pela
primeira vez a competição. Ainda assim, foi a muito custo e ameaçando os
anfitriões, que só conseguiram garantir a conquista após 90 minutos
regulamentares e duas prorrogações de meia hora cada uma, em uma das partidas
mais longas da história do futebol, com Arthur Friedenreich marcando no minuto
122 o único gol.
O
goleiro brasileiro Marcos Carneiro de Mendonça declararia ter feito "a
defesa de sua vida" em lance de Héctor Scarone nessa partida.
Na
“Copa América” de 1920, somente o irmão Carlos jogou. Nenhum deles esteve na de
1921, nem na de 1922, o último ano de Carlos Scarone pela seleção. Nessas
edições, o Uruguai foi campeão apenas na de 1920.
Héctor
Scarone voltou a participar na edição de 1923, marcando um gol, no 2 X 0 sobre
o Paraguai. O Uruguai voltou a ser campeão. A edição também qualificava para as
“Olimpíadas de 1924”.
A
principal referência ofensiva do Uruguai nas “Olimpíadas de Paris” foi Pedro
Petrone, artilheiro da competição. Mas Scarone também entrou nas estatísticas
daquela edição, marcando em cada jogo até a final e ficando em terceiro na
artilharia.
Fez
o segundo no 7 X 0 na estreia contra a Iugoslávia; novamente o segundo no 3 X 0
na segunda rodada, contra os Estados Unidos; os dois primeiros no 5 X 1 sobre a
anfitriã França, nas quartas-de-final; e o gol da vitória de virada, a nove
minutos do fim, no 2 X 1 contra os Países Baixos, na semifinal - um gol
polêmico, feito de pênalti no qual a bola batera na realidade no braço de
Scarone e não no de um oponente.
Após
a conquista, os uruguaios deram uma volta completa no campo, andando pela pista
lateral e acenando para a plateia, inaugurando o gesto que ficaria conhecido
como "volta olímpica", repetido por eles nas duas conquistas mundiais
seguintes e posteriormente adotado por todos os países. Ainda em 1924, Scarone
e a “Celeste” também ganharam a “Copa América” daquele ano.
O
Uruguai ausentou-se da “Copa América” de 1925, voltando a participar do torneio
na edição de 1926, da qual Scarone terminou campeão e na vice artilharia, com
seis gols. Cinco deles foram na Bolívia, um recorde individual em uma só
partida na competição.
Essa
marca de cinco gols em um só jogo de “Copa América” ainda não foi superada,
sendo posteriormente igualada pelos argentinos Juan Marvezi em 1941 (6 X 1 no
Equador) e José Manuel Moreno em 1942 (12 X 0 no Equador); e pelo brasileiro
Evaristo de Macedo em 1957 (9 X 0 na Colômbia).
Na
edição de 1927, o Uruguai foi vice-campeão. Scarone teve a artilharia da
competição, com três gols, marcando os dois gols uruguaios na derrota de 3 X 2
para a campeã Argentina na rodada final; seu segundo gol empatou em 2 X 2 a 11
minutos do fim, mas pouco depois o colega Adhemar Canavesi marcou contra. O
vice-campeonato, porém, bastou para qualificar a “Celeste” às “Olimpíadas de
1928”.
Nos
Jogos de Amsterdã, Scarone fez menos gols que em Paris, três, mas todos
decisivos: o primeiro na vitória por 2 X 0 para eliminar ainda na fase inicial
os anfitriões Países Baixos, cuja torcida passaria a vaiar e torcer contra os
uruguaios; o último da “Celeste” na vitória por 3 X 2 sobre a Itália na
semifinal; e o gol do título, no 2 X 1 sobre a rival Argentina, em notável
chute de longa distância, a 40 metros do gol adversário.
Naquelas
“Olimpíadas”, Scarone ausentou-se de algumas partidas por lesões, sendo
substituído por Héctor Castro, que, embora tenha marcado no 4 X 1 sobre a
Alemanha, sempre voltava à reserva assim que Scarone se recuperava.
Haviam
sido necessárias duas partidas contra os argentinos após o empate na primeira,
em que Castro jogou em seu lugar. Para a segunda, porém, o capitão José Nasazzi
preferiu “El Mago”.
Tornou-se
famoso o grito proferido por Nasazzi de "tua, Héctor!", quando
Scarone recebeu passe de René Borjas para marcar o gol do ouro. A frase viraria
no Uruguai sinônimo de uma entrega adequada para um companheiro ficar em
condições de definir, sendo usada para além do âmbito esportivo.
Scarone
esteve pela última vez na “Copa América”, edição de 1929, mas não jogou nenhuma
partida e o Uruguai ficou em terceiro. Ao todo, marcou 13 vezes na competição,
números que fazem dele o terceiro maior artilheiro da história do torneio, ao
lado dos argentinos Gabriel Batistuta e José Manuel Moreno e dos brasileiros
Jair da Rosa Pinto e Ademir de Menezes.
Na
altura de 1929 Scarone era o maior artilheiro - apenas posteriormente é que foi
igualado pelos outros quatro e superado por Severino Varela, Teodoro Fernández
(que somaram 15) e os recordistas Zizinho e Norberto Méndez (17). Naquele mesmo
ano, o país bicampeão olímpico foi escolhido por aclamação para sediar no ano
seguinte a primeira “Copa do Mundo FIFA”.
Scarone
não se fez presente na estreia, contra o Peru, em função de outra lesão. Tal
como nas “Olimpíadas de 1928", Héctor Castro o substituiu, inclusive marcando o
gol da vitória. Mas, também como em 1928, Castro voltou à reserva diante da
recuperação de Scarone.
A
partida, que inaugurou oficialmente o “Estádio Centenário”, foi vista com
decepção por público e crítica após vitória magra por 1 X 0 contra uma seleção
criada apenas três anos antes.
O
jornal “El País” chegou a escrever que "os Deuses estão cansados!".
Scarone voltou à titularidade na partida seguinte e o Uruguai bateu por 4 X 0 a
Romênia, marcando todos os gols nos primeiros 35 minutos. Scarone fez o segundo
deles, aos 24 minutos.
O
"eterno reserva" Castro voltou a jogar a final da “Copa”, na qual
faria o último gol, apenas porque outro titular, Peregrino Anselmo, se machucou
na semifinal.
A decisão, contra a rival Argentina, teve duas viradas no placar: o Uruguai abriu
1 X 0, mas terminou o primeiro tempo perdendo por 2 X 1. Scarone sobressaiu-se
especialmente na jogada do gol do empate, aos 13 minutos do segundo tempo:
dominou a bola fora da área, pela meia-esquerda, marcado por dois adversários,
mas sendo capaz de rolar a bola para José Pedro Cea ao vê-lo livre pelo centro.
Cea
marcou de carrinho e acabou recebendo o apelido de “El Empatador Olímpico”.
Adiante, a “Celeste” anotou 3 X 2 aos 23 minutos da segunda etapa, passando a
ser bastante pressionada e só conseguindo garantir a conquista ao marcar o
quarto (com Castro concluindo contra-ataque) já no penúltimo minuto.
A
final, travada em 30 de julho, foi seu último jogo pelo Uruguai. Dos titulares
campeões, somente Scarone havia nascido ainda na década de 1890. Além dele, o
outro único jogador vencedor de “Copa do Mundo FIFA” nascido naquela década foi
o colega Domingo Tejera, participante somente da estreia contra o Peru.
Scarone
foi o primeiro técnico do Millonarios, de Bogotá no período conhecido como
"Eldorado Colombiano", quando o campeonato da Colômbia, desfiliado
perante a FIFA, tornou-se um atrativo polo de jogadores de todo o mundo,
incluindo europeus.
O
clube, a contar com Alfredo Di Stéfano, Adolfo Pedernera, Néstor Rossi e
outros, foi a grande força nacional daquele período, conseguindo resultados expressivos
também fora do país, como na vitória sobre o Real Madrid nas comemorações dos
50 anos da equipe espanhola.
“El
Mago”, ex-jogador do Barcelona, treinou o próprio Real Madrid posteriormente,
sendo presentado com um anel com a insígnia do clube, o qual passou a sempre
carregar consigo. Outra versão aponta que na realidade tal anel seria do
Barcelona, e que Scarone não teria deixado de usa-lo mesmo enquanto treinava o
Real.
Como
treinador ou como aposentado, Scarone gostava de demonstrar suas habilidades;
um dos exercícios era, em tempos em que era comum o travessão em treinamentos
ser segurado, além das duas traves laterais, por uma terceira ao meio para
impedir que ele se curvasse, arredar a trave "central" (todas eram de
madeira naquela época) para um dos cantos - Scarone então mirava a bola com
precisão no espaço oco que deixava entre a trave lateral e a trave que havia
sido deslocada para perto deste.
Sofreu,
porém, a tragédia de perder seu filho único, que fraturou um membro enquanto praticava
“Rugby Union”, não foi devidamente engessado e acabou sofrendo uma embolia que
chegou ao coração.
Títulos.
Competições nacionais: Campeonato Uruguaio: (1916, 1917, 1919, 1920, 1922,
1923, 1924 e 1934 - todos pelo Nacional); Competições internacionais pela
Seleção Uruguaia. Copa do Mundo FIFA (1930 - 1 gol); Campeonato Olímpico: (1924
e 1928); Campeonato Sul-Americano: (1917, 1923, 1924 e 1926); Torneios
internacionais pelo Club Nacional. Copa Ricardo Aldao ou Campeonato
Rio-Platense (contra o campeão argentino): (1916, 1919 e 1920).
Foi
eleito pela “Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol”, em
rankings alusivos ao século XX, como o 21º melhor jogador sul-americano e o 40º
maior jogador do mundo. (Pesquisa: Nilo Dias)